Estudo Sobre Quem Detém o Anticristo

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Quem Detém o Anticristo?

INTRODUÇÃO
Um dos personagens mais citados na escatologia é o Anticristo, também chamado "O
Iníquo", ou "Homem da iniquidade". São muitas as especulações em torno da identidade
desse homem. Nessas discussões, um dos textos básicos é o que se encontra na
primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, no capítulo 2, versos 6 e 7. No texto, Paulo
diz "vós sabeis o que o detém", ou seja, aquele que impede a manifestação do Anticristo
que, por sua vez, desencadeará uma série de outros acontecimentos. Como está escrito,
os tessalonicenses sabiam quem ou o quê detém o Anticristo. Será que hoje alguém
sabe ou pode deduzir isso biblicamente ? Tentando responder a essa questão, nos
dedicaremos a pesquisar o tema em algumas fontes bibliográficas. Lançaremos mão do
que já foi estudado por teólogos diversos, afim de buscar uma resposta ou teses que
ajudem a esclarecer o assunto.

VÓS SABEIS O QUE O DETÉM

O agente retentor é impessoal neste verso, e pessoal no verso 7; este fato é significativo.
O apóstolo é intencionalmente vago quando escreve sobre o assunto, mas parece que foi
mais explícito no seu ensino oral em Tessalônica. Isto apóia a interpretação de o Império
Romano ser o agente retentor, desde que pode ser considerado um poder impessoal,
como uma pessoa encarnada no Imperador. Após a acusação levada contra Paulo em
Tessalônica (At.17:6 ...), qualquer alusão ao poder imperial tinha de ser vaga quanto
possível, por perigo da carta cair em mãos impróprias. "Porque já o mistério da injustiça
opera". (v.7). O princípio da rebelião contra Deus já está agindo, na oposição feita ao
evangelho em Tessalônica e noutros lugares, mas não está abertamente entronizado no
mundo, como será na breve duração do domínio do Anticristo, porque há um que agora o
detém. Neste passo, é um agente pessoal que retém o espírito de ímpia revolta,
indicando o Imperador. Outros há que consideram aquele que detém como uma figura
apocalíptica, no mesmo sentido como o Anticristo, "a anjo do abismo" de Apc.9:1 e 20:1.
Caso for assim, não haveria inconveniência em usar termos mais explícitos. Menos
plausível ainda é a sugestão de que aquele que detém seja o Espírito Santo. Se "o que o
detém" é realmente o Imperador, não precisa concluir que o Imperador Cláudio, (41-54)
então reinante, seja especificamente indicado, ou que Paulo estivesse pensando em
Nero, sucessor de Cláudio, cuja elevação se deteve enquanto Cláudio vivia. Nero tinha
apenas doze anos em 50 d.C, e Paulo escreveu os mais notáveis elogios do poder
romano após a elevação de Nero ao trono. Paulo tinha razão em mostrar-se
constantemente grato pela proteção das autoridades imperiais, que reprimiam as forças
mais hostis ao evangelho. Quando essa proteção fosse retirada, as forças do Anticristo
poderiam exercer, livremente, a sua própria vontade.

Devem ser mencionadas outras tentativas de identificar o "poder que o detém". B. B.


Warfield sugere que fosse a continuação do Estado judaico : "Logo que a apostasia
judaica se completou, e Jerusalém foi entregue aos gentios... a separação do
Cristianismo do Judaísmo, já iniciada, se tornou patente. Intensificou-se o conflito entre a
nova fé e o paganismo, cuja expressão principal era o culto ao Imperador. Foi
desencadeado o poder perseguidor do Império, inevitavelmente.

"Até que do meio seja tirado" - O sujeito desta cláusula é o retentor, mas seria
considerado sedicioso falar explicitamente da remoção do Imperador. Daí a imprecisão
de Paulo.

INFORMAÇÕES ANTERIORES

O texto evidencia que os tessalonicenses possuíam informações sobre o tema que


hoje nos são desconhecidas. Se a tarefa da exegese fosse simplesmente elucidar as
novas informações fornecidas pelo texto, seria comparativamente simples. Infelizmente
este texto é exemplo clássico de uma situação em que o leitor moderno não compartilha
das informações anteriores possuídas pelos endereçados originais da carta. O que,
exatamente, eles já sabiam ? Podia ser algo que Paulo lhes ensinara anteriormente ( quer
oralmente, quer numa carta anterior) , ou algo que sabiam pela experiência pessoal. O
verbo grego aqui usado tem sido considerado possuidor desta última nuança, embora o
que os leitores sabiam pessoalmente possa muito bem ter sido algo que reconheciam
apenas à luz do ensino anterior de Paulo.

DISCUSSÕES SOBRE A TERMINOLOGIA DE PAULO

O advérbio agora deve provavelmente ser entendido juntamente com o verbo sabeis.
Lógica e temporalmente oferece um contraste com o versículo anterior: "Lembram-se
daquilo que lhes contei então, e agora sabem por si mesmos".
Paulo usa uma frase com o neutro: o que detém ( to katechon, o artigo com o particípio),
mas no
v.7 emprega a forma masculina como alternativa. Isto sugere que está pensando
nalguma entidade que pode ser considerada tanto um princípio quanto uma pessoa. O
significado do verbo traduzido "reter" é disputado. Normalmente o verbo significa "segurar
firme ," e pode ser usado para o constrangimento físico (Lc.8:15 Fm13) ou para guardar
coisas na memória e obedecê-las ( Lc. 4:42 I.Cor.11:2 15:2 I Ts.5:21 Hb.3:6,14 10:23).
Pode, também significar ocupar um lugar (Lc. 14:9) ou manter uma pessoa ou uma coisa
presa (Rm.1:18 7:6). No passivo, o verbo pode ser usado para ficar "preso" por um poder
sobrenatural, num estado de inspiração ou êxtase religioso.

Tentativas têm sido feitas para sugerir um pano de fundo semítico para o uso que Paulo
faz da palavra grega aqui. O . Betz : "Der Katechon", pensou que era o equivalente do
hebraico tamak, usado em 1Q27, e R.D. Aus, sugeriu o hebraico ãsar, usado em Is.66:9
para fechar a madre; a força da proposta depende de se a alegação de Aus de que Is.66
fornece outros elementos de pano de fundo para esta passagem for achada convincente.
Três possibilidades principais de tradução têm sido propostas : 1) A maioria dos
comentaristas traduz "deter, restringir," e, daí: "atrasar". 2) Frame, págs. 258, 264, e
Best, pág. 299, entendem o verbo intransitivamente como: "manter domínio". 3) Giblin,
págs. 167-242, o entende ativamente como "agarrar", no sentido de progressão espiritual
por uma força demoníaca, pseudo-profética que estava cativando os leitores. Esta
opinião foi adequadamente refutada por Best, págs.298-9, que nota que o uso ativo do
verbo com este significado é incomum, e que em I Ts. 5:21 Paulo usa o verbo num bom
sentido ao invés de num mal sentido (como aqui).

Talvez uma objeção mais forte ache-se nas palavras "para que ele seja revelado
somente em ocasião própria". Esta frase expressa propósito, e, a despeito das objeções
de Giblin, págs.204-10, parece impossível privá-la de um conteúdo proposital e ligá-la
com "sabeis" de modo que a "ligação... é pouco mais do que uma expressão de
conseqüência temporal entre a presente experiência de uma força análoga ao
e a manifestação futura desta última figura no momento
determinado". Pelo contrário, o que Paulo está dizendo é que os leitores sabem o que
está retendo o homem da iniqüidade a fim de que este seja revelado somente em
ocasião própria e não antes disso ( a palavra somente em ARA indica esse sentido.
Nossa exposição toma por certo que ele, que será revelado, é o rebelde como no v.3; as
tentativas de interpretar "ele" como sendo Jesus ou o poder que retém são mal-
orientadas. Em ocasião própria (ARA, seguindo a variante de UBS, lit. "seu próprio
tempo") é o tempo destinado para seu aparecimento por Deus, cujo propósito está no
processo do cumprimento (At.1:7). A questão daquilo que está atrasando seu
aparecimento será melhor examinado depois de termos considerado o v. 7

O passo seguinte de Paulo é explicar o significado daquilo que seus leitores já sabem. A
conjunção "com efeito" demonstra que está explicando como é que o rebelde não será
revelado até o tempo certo: embora seja verdade que o ministério da iniqüidade já opera,
está sujeito a restrição por enquanto. O efeito do contraste entre as duas partes do
versículo é fazer com que a primeira cláusula tenha uma força concessiva. A primeira
consideração, portanto, é que o aparecimento do homem da iniqüidade é precedido pela
operação atual da iniqüidade; note como a iniqüidade tem seus aspectos pessoais e
impessoais, assim como a força que retém. O mistério da iniqüidade dificilmente pode
significar "o segredo acerca da iniqüidade", a despeito da analogia doutros trechos onde
"mistério" refere-se a um segredo divino agora revelado ao povo de Deus acerca dalgum
aspecto do seu propósito salvífico (Mc.4:11 Rm.11:25 I Cor.4:1). Deve referir-se, pelo
contrário, à atividade sigilosa e oculta da iniqüidade, "não alguma coisa incompreensível,
mas alguma coisa escondida". O paralelo exato desta expressão acha-se em Jos.Bel
1.470 que descreve a vida de Antípater como sendo "iniqüidade secreta" (literalmente
"um mistério da iniqüidade") e não na frase "os mistérios do pecado" nos textos de
Cunrã. Como no v.3, entendemos iniqüidade no sentido mais geral de rebelião contra
Deus. O verbo opera é melhor entendido como uma forma grega do médio (intransitivo) e
não como um passivo ( "é causado a operar, sc, por Deus").

A segunda parte do versículo diz literalmente: "somente aquele que agora detém até que
ele seja afastado." Pode ser compreendida de duas maneiras principais: 1) Segundo M.
Barnouin, o sujeito da cláusula subordinada é igual ao objeto do particípio: alguém detém
não é removido do cenário. Esta interpretação, no entanto, deixa a sentença sem um
verbo principal e dá uma tradução duvidosa da frase "que seja afastado." 2) É melhor,
portanto, entender a forma da sentença à luz do estreito paralelo em Gl.2:10 , onde
temos um caso semelhante de elipse da cláusula principal (a ser suprida a partir do
contexto anterior) e a colocação da cláusula subordinada antes da conjunção. Assim,
temos a tradução: "(está operando) somente até que seja afastado aquele que agora o
detém." A força refreadora agora é pessoal (particípio masculino) e agora significa "no
presente momento", com um indício, talvez, de limitação temporal (cf. I Ts. 3:6). R. D.
Aus, sustenta que a expressão é um hebraísmo baseado em Dn.11:31 e 12:11 (onde sûr
é usado para a remoção do holocausto contínuo) . A frase tem paralelos em I Cor.5:2 e
Col.2:14, onde significa a remoção do cenário da atividade, ou o banimento. H..W.Fulford
aduziu paralelos de Plutarco que demonstram que a frase pode significar "retirar do
cenário". Uma vez que o poder detentor tenha sido removido, a rebelião já não ocorrerá
de um modo oculto; haverá uma manifestação aberta do mal.

Devemos agora procurar determinar o que Paulo quer dizer com "o poder que detém"
e o "rebelde" (lit. "o homem da iniqüidade"). É necessário distinguir entre a origem e o
caráter da sua linguagem, e aquilo que porventura quis dizer com ela.

Há algum precedente na apocalíptica judaica para a idéia de refrear um poder maligno.


Dois grandes monstros, Beemote e Leviatã, são conservados, até ao tempo em que o
Messias começará a ser revelado, para alimentar os que sobreviverem até então. Em
Apc.7:1-3 os ventos são conservados, seguros até que os servos de Deus tenham sido
selados. Talvez haja sinais do mesmo tema em Jó 7:12. Temos também, o pensamento
de Satanás sendo preso durante o milênio, em Apc.20:1-3, idéia esta que tem alguma
história prévia em Is.24:21-22, Tob.8:3, onde lemos acerca de demônios, anjos caídos,
Mastema e Satanás sendo atados e aprisionados por períodos temporários. Contra este
pano de fundo Dibelius argumentou que o ensino paulino depende, em última análise, de
um mito em que um ser celestial refreia as forças do mal. Best, págs.296-7, ofereceu
algumas críticas desta teoria, em especial porque deixa de identificar de modo
satisfatório a força redentora e a natureza da sua atividade. O impacto principal do seu
argumento, no entanto, parece ser que a teoria não vai suficientemente longe. Lança luz
sobre a linguagem figurada mas não explica como Paulo estava usando. Em resumo, em
termos da distinção feita supra, temos aqui uma teoria da origem e do caráter da
linguagem de Paulo. Ainda falta determinar como Paulo a usava, e o que queria transmitir
com ela.

TESES DIVERSAS PARA A QUESTÃO

1) Uma interpretação antiga da passagem acha a força refreadora no Império Romano,


personificado no próprio Imperador. Esta opinião é muito recomendável, por dar uma
explicação convincente da mistura de gêneros, e por fazer uso da própria experiência de
Paulo do Império como sendo uma força que contribui para a lei e a ordem. A atitude de
Paulo para com Roma é geralmente favorável; a administração era basicamente justa,
ainda que houvesse bastantes governadores e oficiais injustos. Não é nenhuma objeção
a esta opinião dizer que Roma não desempenha este papel na apocalíptica judaica;
Paulo pode muito bem ter inovado aqui. Uma dificuldade maior é se Paulo poderia ter
imaginado o Imperador ( ou o Império) sendo removido para dar lugar ao rebelde. Se a
passagem fosse pós-paulina, alguma consideração poderia ser dada ao mito do Nero
redivivo, segundo o qual acreditava-se que Nero não morrera, mas, sim , ocultara- se no
oriente entre os partas, pronto para comandá-los numa invasão contra Roma. Sinais
deste mito talvez estejam presentes em Apc.13:13-14. Segundo este ponto de vista, o
que detém seria o Imperador reinante, e o rebelde seria Nero na sua volta. Este mito,
porém, surgiu tarde demais para ter influenciado o próprio Paulo, e até mesmo o medo
dos partas não era um fator importante na década de 50 d.C. Tem sido objetado ,
também, que o rebelde parece ser mais um sedutor religioso do que um tirano político,
mas certamente não são desconhecidos casos de tiranos políticos reivindicarem honras
divinas para si mesmos.

2) Posto que o Império Romano não chegou ao fim da maneira que acaba de ser
contemplado, alguns comentaristas têm procurado salvar a reputação de Paulo como
Profeta fidedigno por meio de argumentar que a força que o retém não é do Império
Romano propriamente dito, mas, sim, o princípio da lei e da ordem que foi tipificado por
ele, e que ainda continua na forma doutros sistemas políticos. Segundo esta opinião, a
força recebe uma personificação literária no verso 7.

3) B.B. Warfield identificou o estado judaico como sendo o poder que retém. Uma vez
que o judaísmo tivesse efetivamente cessado de existir, e o cristianismo já não pudesse
abrigar-se na proteção daquele, este último seria exposto à plena força da perseguição
por Roma. Em especial, Tiago de Jerusalém era a personificação desta força retentora.
Esta hipótese não parece ter conseguido seguidores.

4) Frame considera que a força que mantém domínio não é outra senão a de Satanás,
cuja influência já está no mundo como "o mistério da iniqüidade". Quando chegar o
tempo determinado por Deus, Satanás será afastado do caminho, de modo que o rebelde
possa ocupar o palco. Frame viu uma possível alusão a este papel limitado de Satanás
no logion Freer, uma variante textual de Mc.16:14 na Códice Washington ou Freer: "O
termo de anos para o poder de Satanás já foi cumprido, mas outras coisas terríveis se
aproximam;" sugeriu que sua remoção talvez correspondesse ao tempo em que foi
atirado do céu para a terra em Apc.12. Esta opinião requer que o verbo katecho seja
traduzido "manter domínio". Uma opinião requer um pouco semelhante é sustentado por
Best, que pensa que o poder que mantém domínio, "o poder hostil ocupante," é um
agente mau (mas não o próprio Satanás) que se colocará de lado quando o rebelde
aparecer.

5) Uma opinião diametralmente oposta é que a força detentora é o próprio Deus, na


pessoa do Espírito Santo; é Ele quem adia a revelação final em toda a sua plenitude.
Esta opinião foi especialmente desenvolvida por Strobel. Trilling, argumenta que a força
que detém é simplesmente a demora da parusia que os leitores estavam experimentando
e que, em última análise era devida ao próprio Deus. Trilling argumenta que não há
nenhuma diferença essencial entre as formas neutra e masculina da expressão, embora
reconheça que é Deus quem fica por detrás da ação adiadora. É surpreendente que
Trilling não faça tentativa alguma no sentido de responder às críticas que Best, já fizera
contra esta interpretação. Best argumenta que esta é uma maneira muito estranha de
referir-se à ação de Deus, que a teoria requer que "ser afastado" signifique "retirar-se"
(mas veja supra para esta possibilidade), e que entender katchõ no sentido de atrasar é
anormal.
6) Uma opinião correlata é que o fator que detém é a proclamação do evangelho (neutro)
pelos missionários cristãos e em especial pelo próprio Paulo (masculino); quando Paulo
estiver "fora do caminho," então virá o Fim (O . Cullmann). A teoria sugere que Paulo
cristianizou o princípio de que todo Israel deve arrepender-se antes do Fim poder vir.
Best argumenta contra esta opinião de que Paulo não está especialmente consciente da
sua posição apostólica como missionário aos gentios nestas Epístolas; mas esta não é
uma consideração de peso tendo em vista a evidência de I Ts. 1-2 . Uma objeção muito
mais forte é que Paulo, conforme I Ts.4:13-18, contava com a possibilidade da sua
própria sobrevivência até à parusia (Whiteley), e esta objeção deve ser pronunciada fatal
para a teoria nesta forma. É, também, muito duvidoso se Paulo, embora insista na sua
posição de apóstolo aos gentios, via-se como fator essencial no plano salvífico de Deus
em prol da humanidade.

7) Finalmente, conforme vimos, Giblin entende katechõ no sentido de "agarrar" e


argumenta que falsos profetas estavam enganando os tessalonicenses; eram liderados
por um indivíduo específico que, segundo Paulo acreditava, deveria ser expulso antes da
manifestação do rebelde e a destruição deste pelo Senhor ocorrer. Esta opinião é
filologicamente improvável, e deixa de explicar porque a remoção de falsos profetas
numa só igreja local deveria ocupar uma posição tão crucial no desenvolvimento do plano
de Deus.

Agora já examinamos as opiniões principais acerca desta passagem, e podemos dizer


com segurança que nenhuma delas está livre de dificuldades. A opinião de que o poder
que detém ou que ocupa é bom ao invés de mau no seu caráter parece essencial a fim
de dar sentido à passagem. Uma luta entre duas forças malignas em oposição parece
muito improvável, e a idéia de uma força maligna desaparecer para dar lugar a outra
parece improvável também. Se for assim, podemos excluir as opiniões 4 e 7. Se Paulo
considerava Roma como o poder que detém, ficamos com o problema de achar um
candidato para o homem da iniqüidade. Segundo esta opinião, dificilmente poderia ter
sido um Imperador Romano, embora os paralelos de Pompeu e Calígula decerto teriam
apontado nitidamente naquela direção. Esta consideração contraria as opiniões 1 e 2.
Somos levados de volta à opinião de que o próprio Deus está envolvido na detenção.
Assim como o rebelde é uma figura apocalíptica, acerca de cuja identidade e natureza
Paulo não especula, assim também a força detentora é de dimensões sobrenaturais, e
deve ser considerada divina na sua origem. A opinião que vê a pregação do evangelho a
todas as nações (Mc. 13:10) como sendo o fator que leva Deus a refrear o irrompimento
final do mal é atraente, na condição de não ser ligada à atividade de qualquer indivíduo
isolado, tal qual o próprio Paulo. É possível que Paulo tivesse em mente alguma figura
angelical que estava conservando o mal sob restrição durante o período da pregação até
sua manifestação final e aberta; se for assim, não é muito difícil pensar nesta figura
"afastando-se" mediante a ordem de Deus , no tempo determinado.

Talvez uma hipótese coerente seria uma versão modificada da opinião 6, de acordo com
a qual será Deus, em última análise, que permitirá que o rebelde seja manifestado
somente quando a presente oportunidade para pregar e ouvir o evangelho for levada ao
fim pelo afastamento da figura angelical que agora está no comando. Depois, o poder do
mal, que tem operado secretamente no mundo, mas não menos eficazmente por causa
disto, será abertamente manifesto para produzir a confrontação final.

As vantagens deste ponto de vista são :

a. Reconhece a natureza essencialmente apocalíptica da linguagem de Paulo.

b. Liga o ensino de Paulo com outros fios de apocalíptica no Novo


Testamento, e em especial faz uso da única condição claramente expressa
que deve ser cumprida antes do fim, a saber, a pregação do evangelho ( 2
Ped.3:9 Apc.14:6-7).
c. Evita os problemas causados por considerarem Paulo como a
personificação da força que detém, e também evita falar no próprio Deus
como tendo sido "afastado."

d. Fornece um modo de entender a passagem que se encaixará na sua


origem paulina. Já que Paulo revela conhecimento do ensinamento
apocalíptico sinótico, nada há aqui que é incompatível com I
Tessalonicenses. Se, porém, a passagem não for de Paulo, somos
confrontados pela dificuldade insuperável de que o autor se expressava de
uma maneira que teria sido quase incompreensível para seus leitores,
especialmente porque o v.5 não pode referir-se agora à instrução prévia
dada aos leitores.

e. Sem forçar a linguagem da passagem, descobrimos que a exegese mais


provável dela dá uma interpretação que ainda pode ser válida hoje, sem
dúvida depois de um período mais longo do que Paulo pode ter
contemplado.

8) Uma vez que a força que detém ou que ocupa está fora do caminho, ocorre a etapa
final do drama apocalíptico. Então contrasta-se com "agora" no v.7; mas a frase é comum
em profecias de uma série de eventos apocalípticos (Mc.13:21,26,27). O iníquo é a frase
grega normal para a pessoa descrita como "o homem da iniqüidade" de modo hebraico
no verso 3. Em contraste com a operação secreta do mal no presente tempo, será
revelado abertamente (cf.vv3,6 ). Paulo, portanto, chegou de volta no mesmo ponto do
tempo que no verso 3, depois do parêntese nos vv. 6-7. Foi cumprida a condição para o
aparecimento do Senhor Jesus. Não somos informados por quanto tempo o rebelde agirá
abertamente e sem impedimento; pelo contrário, toda a atenção é concentrada na sua
queda, que ocorre na ocasião da manifestação da vinda do Senhor, e como resultado
dela. Esta frase está no dativo, e expressa instrumentalidade, e aqui, pela primeira vez,
Paulo coloca lado a lado com a palavra parousia outro termo, epiphaneia, para descrever
o aparecimento do Senhor (I Tm.6:14 II Tm.4:1 Tt.2:2:13; em II Tm.1:10 é usado para
descrever a encarnação de Jesus). A palavra tem o mesmo significado básico que
parousia, tanto assim que alguns comentaristas pensam que Paulo está simplesmente,
amontoando palavras visando o efeito retórico. Mas a palavra era usada no Antigo
Testamento uma epifania ou revelação de Deus, especialmente, mas não
exclusivamente, num sentido hostil (II Sm.7:23 ); e também era usada no grego helenista
para visitas por imperadores e outros dignitário. Algo destes significados bem
possivelmente pode estar presente enquanto Paulo enfatiza o caráter poderoso e
soberano do aparecimento do Senhor.

CONCLUSÃO

No Texto em análise, o apóstolo Paulo faz afirmações vagas sobre "aquele que o detém".
Foram utilizados vocábulos pessoais e impessoais. Em conseqüência disso, muitas têm
sido as hipóteses levantadas para explicar a frase, conforme estudamos nesse trabalho.
A lacuna é tão grande, que as teorias vão de um extremo a outro. Há quem diga que
quem detém o Anticristo é Satanás. Outros, em grande número, defendem que aquele
que o detém é o Espírito Santo. Em posições intermediárias, alguns votam a favor do
Império Romano ou do Estado Judaico, das leis romanas ou dos falsos profetas. Há
quem afirme que o poder detentor é a proclamação do evangelho, o propósito divino ou
mesmo um anjo de Deus. Nas raias do absurdo encontramos quem defenda que tal
personagem é o profeta Elias. Há opiniões para todos os gostos.

Fazer afirmação categórica sobre a questão é algo bem temerário. Se Paulo não disse a
quem se referia, é bem difícil concluirmos quem possa ser tal pessoa ou fator,
principalmente por não haver outro texto bíblico que nos auxilie nesse empreendimento.
A hipótese de que seja o Espírito Santo, é a mais aceita. Por certo, muitos são os pontos
que dão força a essa idéia. Embora o texto não afirme isso, é bem difícil encontrarmos
candidato melhor para tal função, haja vista a envergadura do desafio aí envolvido.

BIBLIOGRAFIA

NOVO COMENTÁRIO DA BÍBLIA

Shedd, Russel P. - Edições Vida Nova

I E II TESSALONICENSES - INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO

I. Howard Marshall - Editora Mundo Cristão

O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSÍCULO POR VERSÍCULO

Champlin, Russel Norman - Editora Milenium

Estudo Elaborado por: Antonio Carlos Lopes Vargas

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