Estudo Sobre Quem Detém o Anticristo
Estudo Sobre Quem Detém o Anticristo
Estudo Sobre Quem Detém o Anticristo
INTRODUÇÃO
Um dos personagens mais citados na escatologia é o Anticristo, também chamado "O
Iníquo", ou "Homem da iniquidade". São muitas as especulações em torno da identidade
desse homem. Nessas discussões, um dos textos básicos é o que se encontra na
primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, no capítulo 2, versos 6 e 7. No texto, Paulo
diz "vós sabeis o que o detém", ou seja, aquele que impede a manifestação do Anticristo
que, por sua vez, desencadeará uma série de outros acontecimentos. Como está escrito,
os tessalonicenses sabiam quem ou o quê detém o Anticristo. Será que hoje alguém
sabe ou pode deduzir isso biblicamente ? Tentando responder a essa questão, nos
dedicaremos a pesquisar o tema em algumas fontes bibliográficas. Lançaremos mão do
que já foi estudado por teólogos diversos, afim de buscar uma resposta ou teses que
ajudem a esclarecer o assunto.
O agente retentor é impessoal neste verso, e pessoal no verso 7; este fato é significativo.
O apóstolo é intencionalmente vago quando escreve sobre o assunto, mas parece que foi
mais explícito no seu ensino oral em Tessalônica. Isto apóia a interpretação de o Império
Romano ser o agente retentor, desde que pode ser considerado um poder impessoal,
como uma pessoa encarnada no Imperador. Após a acusação levada contra Paulo em
Tessalônica (At.17:6 ...), qualquer alusão ao poder imperial tinha de ser vaga quanto
possível, por perigo da carta cair em mãos impróprias. "Porque já o mistério da injustiça
opera". (v.7). O princípio da rebelião contra Deus já está agindo, na oposição feita ao
evangelho em Tessalônica e noutros lugares, mas não está abertamente entronizado no
mundo, como será na breve duração do domínio do Anticristo, porque há um que agora o
detém. Neste passo, é um agente pessoal que retém o espírito de ímpia revolta,
indicando o Imperador. Outros há que consideram aquele que detém como uma figura
apocalíptica, no mesmo sentido como o Anticristo, "a anjo do abismo" de Apc.9:1 e 20:1.
Caso for assim, não haveria inconveniência em usar termos mais explícitos. Menos
plausível ainda é a sugestão de que aquele que detém seja o Espírito Santo. Se "o que o
detém" é realmente o Imperador, não precisa concluir que o Imperador Cláudio, (41-54)
então reinante, seja especificamente indicado, ou que Paulo estivesse pensando em
Nero, sucessor de Cláudio, cuja elevação se deteve enquanto Cláudio vivia. Nero tinha
apenas doze anos em 50 d.C, e Paulo escreveu os mais notáveis elogios do poder
romano após a elevação de Nero ao trono. Paulo tinha razão em mostrar-se
constantemente grato pela proteção das autoridades imperiais, que reprimiam as forças
mais hostis ao evangelho. Quando essa proteção fosse retirada, as forças do Anticristo
poderiam exercer, livremente, a sua própria vontade.
"Até que do meio seja tirado" - O sujeito desta cláusula é o retentor, mas seria
considerado sedicioso falar explicitamente da remoção do Imperador. Daí a imprecisão
de Paulo.
INFORMAÇÕES ANTERIORES
O advérbio agora deve provavelmente ser entendido juntamente com o verbo sabeis.
Lógica e temporalmente oferece um contraste com o versículo anterior: "Lembram-se
daquilo que lhes contei então, e agora sabem por si mesmos".
Paulo usa uma frase com o neutro: o que detém ( to katechon, o artigo com o particípio),
mas no
v.7 emprega a forma masculina como alternativa. Isto sugere que está pensando
nalguma entidade que pode ser considerada tanto um princípio quanto uma pessoa. O
significado do verbo traduzido "reter" é disputado. Normalmente o verbo significa "segurar
firme ," e pode ser usado para o constrangimento físico (Lc.8:15 Fm13) ou para guardar
coisas na memória e obedecê-las ( Lc. 4:42 I.Cor.11:2 15:2 I Ts.5:21 Hb.3:6,14 10:23).
Pode, também significar ocupar um lugar (Lc. 14:9) ou manter uma pessoa ou uma coisa
presa (Rm.1:18 7:6). No passivo, o verbo pode ser usado para ficar "preso" por um poder
sobrenatural, num estado de inspiração ou êxtase religioso.
Tentativas têm sido feitas para sugerir um pano de fundo semítico para o uso que Paulo
faz da palavra grega aqui. O . Betz : "Der Katechon", pensou que era o equivalente do
hebraico tamak, usado em 1Q27, e R.D. Aus, sugeriu o hebraico ãsar, usado em Is.66:9
para fechar a madre; a força da proposta depende de se a alegação de Aus de que Is.66
fornece outros elementos de pano de fundo para esta passagem for achada convincente.
Três possibilidades principais de tradução têm sido propostas : 1) A maioria dos
comentaristas traduz "deter, restringir," e, daí: "atrasar". 2) Frame, págs. 258, 264, e
Best, pág. 299, entendem o verbo intransitivamente como: "manter domínio". 3) Giblin,
págs. 167-242, o entende ativamente como "agarrar", no sentido de progressão espiritual
por uma força demoníaca, pseudo-profética que estava cativando os leitores. Esta
opinião foi adequadamente refutada por Best, págs.298-9, que nota que o uso ativo do
verbo com este significado é incomum, e que em I Ts. 5:21 Paulo usa o verbo num bom
sentido ao invés de num mal sentido (como aqui).
Talvez uma objeção mais forte ache-se nas palavras "para que ele seja revelado
somente em ocasião própria". Esta frase expressa propósito, e, a despeito das objeções
de Giblin, págs.204-10, parece impossível privá-la de um conteúdo proposital e ligá-la
com "sabeis" de modo que a "ligação... é pouco mais do que uma expressão de
conseqüência temporal entre a presente experiência de uma força análoga ao
e a manifestação futura desta última figura no momento
determinado". Pelo contrário, o que Paulo está dizendo é que os leitores sabem o que
está retendo o homem da iniqüidade a fim de que este seja revelado somente em
ocasião própria e não antes disso ( a palavra somente em ARA indica esse sentido.
Nossa exposição toma por certo que ele, que será revelado, é o rebelde como no v.3; as
tentativas de interpretar "ele" como sendo Jesus ou o poder que retém são mal-
orientadas. Em ocasião própria (ARA, seguindo a variante de UBS, lit. "seu próprio
tempo") é o tempo destinado para seu aparecimento por Deus, cujo propósito está no
processo do cumprimento (At.1:7). A questão daquilo que está atrasando seu
aparecimento será melhor examinado depois de termos considerado o v. 7
O passo seguinte de Paulo é explicar o significado daquilo que seus leitores já sabem. A
conjunção "com efeito" demonstra que está explicando como é que o rebelde não será
revelado até o tempo certo: embora seja verdade que o ministério da iniqüidade já opera,
está sujeito a restrição por enquanto. O efeito do contraste entre as duas partes do
versículo é fazer com que a primeira cláusula tenha uma força concessiva. A primeira
consideração, portanto, é que o aparecimento do homem da iniqüidade é precedido pela
operação atual da iniqüidade; note como a iniqüidade tem seus aspectos pessoais e
impessoais, assim como a força que retém. O mistério da iniqüidade dificilmente pode
significar "o segredo acerca da iniqüidade", a despeito da analogia doutros trechos onde
"mistério" refere-se a um segredo divino agora revelado ao povo de Deus acerca dalgum
aspecto do seu propósito salvífico (Mc.4:11 Rm.11:25 I Cor.4:1). Deve referir-se, pelo
contrário, à atividade sigilosa e oculta da iniqüidade, "não alguma coisa incompreensível,
mas alguma coisa escondida". O paralelo exato desta expressão acha-se em Jos.Bel
1.470 que descreve a vida de Antípater como sendo "iniqüidade secreta" (literalmente
"um mistério da iniqüidade") e não na frase "os mistérios do pecado" nos textos de
Cunrã. Como no v.3, entendemos iniqüidade no sentido mais geral de rebelião contra
Deus. O verbo opera é melhor entendido como uma forma grega do médio (intransitivo) e
não como um passivo ( "é causado a operar, sc, por Deus").
A segunda parte do versículo diz literalmente: "somente aquele que agora detém até que
ele seja afastado." Pode ser compreendida de duas maneiras principais: 1) Segundo M.
Barnouin, o sujeito da cláusula subordinada é igual ao objeto do particípio: alguém detém
não é removido do cenário. Esta interpretação, no entanto, deixa a sentença sem um
verbo principal e dá uma tradução duvidosa da frase "que seja afastado." 2) É melhor,
portanto, entender a forma da sentença à luz do estreito paralelo em Gl.2:10 , onde
temos um caso semelhante de elipse da cláusula principal (a ser suprida a partir do
contexto anterior) e a colocação da cláusula subordinada antes da conjunção. Assim,
temos a tradução: "(está operando) somente até que seja afastado aquele que agora o
detém." A força refreadora agora é pessoal (particípio masculino) e agora significa "no
presente momento", com um indício, talvez, de limitação temporal (cf. I Ts. 3:6). R. D.
Aus, sustenta que a expressão é um hebraísmo baseado em Dn.11:31 e 12:11 (onde sûr
é usado para a remoção do holocausto contínuo) . A frase tem paralelos em I Cor.5:2 e
Col.2:14, onde significa a remoção do cenário da atividade, ou o banimento. H..W.Fulford
aduziu paralelos de Plutarco que demonstram que a frase pode significar "retirar do
cenário". Uma vez que o poder detentor tenha sido removido, a rebelião já não ocorrerá
de um modo oculto; haverá uma manifestação aberta do mal.
Devemos agora procurar determinar o que Paulo quer dizer com "o poder que detém"
e o "rebelde" (lit. "o homem da iniqüidade"). É necessário distinguir entre a origem e o
caráter da sua linguagem, e aquilo que porventura quis dizer com ela.
2) Posto que o Império Romano não chegou ao fim da maneira que acaba de ser
contemplado, alguns comentaristas têm procurado salvar a reputação de Paulo como
Profeta fidedigno por meio de argumentar que a força que o retém não é do Império
Romano propriamente dito, mas, sim, o princípio da lei e da ordem que foi tipificado por
ele, e que ainda continua na forma doutros sistemas políticos. Segundo esta opinião, a
força recebe uma personificação literária no verso 7.
3) B.B. Warfield identificou o estado judaico como sendo o poder que retém. Uma vez
que o judaísmo tivesse efetivamente cessado de existir, e o cristianismo já não pudesse
abrigar-se na proteção daquele, este último seria exposto à plena força da perseguição
por Roma. Em especial, Tiago de Jerusalém era a personificação desta força retentora.
Esta hipótese não parece ter conseguido seguidores.
4) Frame considera que a força que mantém domínio não é outra senão a de Satanás,
cuja influência já está no mundo como "o mistério da iniqüidade". Quando chegar o
tempo determinado por Deus, Satanás será afastado do caminho, de modo que o rebelde
possa ocupar o palco. Frame viu uma possível alusão a este papel limitado de Satanás
no logion Freer, uma variante textual de Mc.16:14 na Códice Washington ou Freer: "O
termo de anos para o poder de Satanás já foi cumprido, mas outras coisas terríveis se
aproximam;" sugeriu que sua remoção talvez correspondesse ao tempo em que foi
atirado do céu para a terra em Apc.12. Esta opinião requer que o verbo katecho seja
traduzido "manter domínio". Uma opinião requer um pouco semelhante é sustentado por
Best, que pensa que o poder que mantém domínio, "o poder hostil ocupante," é um
agente mau (mas não o próprio Satanás) que se colocará de lado quando o rebelde
aparecer.
Talvez uma hipótese coerente seria uma versão modificada da opinião 6, de acordo com
a qual será Deus, em última análise, que permitirá que o rebelde seja manifestado
somente quando a presente oportunidade para pregar e ouvir o evangelho for levada ao
fim pelo afastamento da figura angelical que agora está no comando. Depois, o poder do
mal, que tem operado secretamente no mundo, mas não menos eficazmente por causa
disto, será abertamente manifesto para produzir a confrontação final.
8) Uma vez que a força que detém ou que ocupa está fora do caminho, ocorre a etapa
final do drama apocalíptico. Então contrasta-se com "agora" no v.7; mas a frase é comum
em profecias de uma série de eventos apocalípticos (Mc.13:21,26,27). O iníquo é a frase
grega normal para a pessoa descrita como "o homem da iniqüidade" de modo hebraico
no verso 3. Em contraste com a operação secreta do mal no presente tempo, será
revelado abertamente (cf.vv3,6 ). Paulo, portanto, chegou de volta no mesmo ponto do
tempo que no verso 3, depois do parêntese nos vv. 6-7. Foi cumprida a condição para o
aparecimento do Senhor Jesus. Não somos informados por quanto tempo o rebelde agirá
abertamente e sem impedimento; pelo contrário, toda a atenção é concentrada na sua
queda, que ocorre na ocasião da manifestação da vinda do Senhor, e como resultado
dela. Esta frase está no dativo, e expressa instrumentalidade, e aqui, pela primeira vez,
Paulo coloca lado a lado com a palavra parousia outro termo, epiphaneia, para descrever
o aparecimento do Senhor (I Tm.6:14 II Tm.4:1 Tt.2:2:13; em II Tm.1:10 é usado para
descrever a encarnação de Jesus). A palavra tem o mesmo significado básico que
parousia, tanto assim que alguns comentaristas pensam que Paulo está simplesmente,
amontoando palavras visando o efeito retórico. Mas a palavra era usada no Antigo
Testamento uma epifania ou revelação de Deus, especialmente, mas não
exclusivamente, num sentido hostil (II Sm.7:23 ); e também era usada no grego helenista
para visitas por imperadores e outros dignitário. Algo destes significados bem
possivelmente pode estar presente enquanto Paulo enfatiza o caráter poderoso e
soberano do aparecimento do Senhor.
CONCLUSÃO
No Texto em análise, o apóstolo Paulo faz afirmações vagas sobre "aquele que o detém".
Foram utilizados vocábulos pessoais e impessoais. Em conseqüência disso, muitas têm
sido as hipóteses levantadas para explicar a frase, conforme estudamos nesse trabalho.
A lacuna é tão grande, que as teorias vão de um extremo a outro. Há quem diga que
quem detém o Anticristo é Satanás. Outros, em grande número, defendem que aquele
que o detém é o Espírito Santo. Em posições intermediárias, alguns votam a favor do
Império Romano ou do Estado Judaico, das leis romanas ou dos falsos profetas. Há
quem afirme que o poder detentor é a proclamação do evangelho, o propósito divino ou
mesmo um anjo de Deus. Nas raias do absurdo encontramos quem defenda que tal
personagem é o profeta Elias. Há opiniões para todos os gostos.
Fazer afirmação categórica sobre a questão é algo bem temerário. Se Paulo não disse a
quem se referia, é bem difícil concluirmos quem possa ser tal pessoa ou fator,
principalmente por não haver outro texto bíblico que nos auxilie nesse empreendimento.
A hipótese de que seja o Espírito Santo, é a mais aceita. Por certo, muitos são os pontos
que dão força a essa idéia. Embora o texto não afirme isso, é bem difícil encontrarmos
candidato melhor para tal função, haja vista a envergadura do desafio aí envolvido.
BIBLIOGRAFIA