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A Necessaria Conexao Entre Biologia e Etica

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Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo

Ângelo/RS
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo Ângelo/RS
26 a 29 de abril de 2006

A NECESSÁRIA CONEXÃO ENTRE BIOLOGIA E ÉTICA


PARA A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NO SÉCULO XXI

Neusa Maria John Scheid


URI / Santo Ângelo/RS e PPGECT – UFSC
neusas@urisan.tche.br

Palavras-chave: bioética, formação de professores, novas biotecnologias.

A produção e a utilização crescente de novas biotecnologias vêm estabelecendo


sérios desafios de natureza epistemológica e ética ao campo do conhecimento biológico.
Aliados a isso, os movimentos ambientalistas contemporâneos têm exigido a ação de
técnicos que controlem indústrias e empresas na busca de um desenvolvimento
sustentável. Como afirma Ayres (2005), para entender e realizar as transformações que
vêm ocorrendo na natureza, o biólogo precisa, além dos conhecimentos advindos da
Biologia stricto sensu, de conhecimentos de bioética, uma novíssima área que precisa
integrar os currículos de sua formação. Seus estudos, tratamentos e soluções propostas
devem considerar os princípios da autonomia e da beneficência nas decisões e nas
operações da área (CLOTET, 2000).

Isso tudo repercute sobre a formação de professores de Biologia que precisa


atender, agora, um aspecto que, se para a sociedade não é algo inédito, na prática
docente surge como algo novo em termos de magnitude e complexidade: a busca de
relações entre Ciência e Ética (KAWASAKI, 2005). Para que isso ocorra, tanto na
escola quanto na universidade, não deverão ser enfocados apenas os conceitos
científicos fundamentais para entender as novas biotecnologias, mas também deverão
ser discutidos os aspectos éticos a eles relacionados.

Atualmente, observa-se que a preocupação com as questões éticas e morais


decorrentes da utilização do conhecimento científico, principalmente a partir do advento
da Biologia Molecular, alterou também a relação existente entre os cientistas e a
sociedade. A biotecnologia do DNA recombinante disponibilizou aos cientistas a
possibilidade de produzir alterações no genoma dos seres vivos. Muitas dessas
alterações representam oportunidades para se tratar doenças genéticas pela substituição
de genes defeituosos por genes normais. No entanto, pouco ainda se sabe sobre os
limites que se pode impor a essa biotecnologia. Há, ainda, entre os próprios cientistas,
algumas dúvidas em relação ao domínio sobre a biotecnologia.

De acordo com uma pesquisa realizada por Massarani e colaboradores (2003), a


Genética e suas aplicações são, hoje, um dos principais assuntos na cobertura de Ciência
na mídia. No entanto, uma das principais conclusões, extraídas dos dados coletados
pelos autores, é a observação de que a atitude presente nas matérias dos grandes jornais
brasileiros analisados ressalta, fundamentalmente, aspectos positivos, associados à
Genética contemporânea e às suas aplicações. Questões éticas, morais e de riscos têm
pouco destaque e, em geral, surgem associadas a áreas específicas como a transgenia em
alimentos e a clonagem de seres humanos. Quando são mencionados riscos relacionados
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às novas tecnologias e aplicações mal sucedidas, isso é feito de forma superficial e sem
uma reflexão mais aprofundada, afirmam os autores.

Mais recentemente, nós brasileiros vivenciamos a discussão em torno da


aprovação da Lei de Biossegurança – Lei 11.105, de 24 de março de 2005. Ouvem-se,
freqüentemente, posicionamentos que denotam uma considerável falta de domínio do
conteúdo básico que possibilita o entendimento dessas novas tecnologias. A mídia, pela
forma como divulga os acontecimentos, cria a expectativa de que todos os problemas da
humanidade estarão resolvidos, principalmente os da vida mais longa e livre de doenças.
No entanto, a certeza que se tem é que todo esse avanço do conhecimento genético
poderá ajudar a entender melhor e mais rapidamente como funciona o ser humano.

A questão que se põe é que a aprovação do atual texto da Lei de Biossegurança


Nacional não encerrou a discussão sobre a caracterização do início da vida. E, havendo
vida, a partir de que momento se considerará a existência de um indivíduo a quem serão
atribuídos direitos?

Existem dúvidas quanto à possibilidade de um controle social e ético sobre os


conhecimentos científicos e os avanços tecnológicos em geral, mas Archer e
colaboradores (1996) alertam que a sociedade precisa participar das decisões sobre as
tecnologias que lhe convêm. Essa participação poderá se dar em termos muito amplos,
como, por exemplo, na votação em referendos, na avaliação da opinião pública por meio
de enquetes e grupos de debate, bem como, na representação do cidadão em comitês
consultivos ou de planejamento e, inclusive, na participação em atividades de protesto.
No entanto, não é por ser majoritária que uma opinião é necessariamente verdadeira.
Decorre disso a necessidade de instrumentalizar a sociedade para que, possuindo um
nível cultural mais elevado, com as facilidades e a rapidez da informação e com a
perspectiva democrática do poder, ela possa exercer seu direito nas decisões políticas
que precisam ser tomadas.

Na preparação da sociedade para essa importante participação, é essencial que


haja espaços onde se possa exercer essa atividade vital para a cidadania plena. Qualquer
que seja a forma escolhida pela sociedade, ela deverá contemplar uma participação dos
cidadãos leigos, um processo de aprendizado significativo, com a orientação de
especialistas no assunto, uma avaliação do que se deve saber sobre determinada questão
e uma divulgação satisfatória que contribua para uma alfabetização científica de um
maior número de cidadãos (EINSIEDEL, 2003).

O papel que cabe à Educação não é o de competir com a mídia, mas o de


proporcionar, tanto na educação formal quanto na informal, os aportes necessários para
que os cidadãos tenham condições de compreender as informações veiculadas por ela.
As instituições educativas devem assumir os desafios postos por essa abordagem
especial da Genética na atualidade e devem possibilitar a todos os indivíduos uma sólida
formação e uma ampla informação, fornecendo-lhes fundamentos éticos, critérios e
princípios, ajudando-os, dessa forma, a exercer plenamente sua cidadania.

Diante desse contexto urge que se efetive a conexão entre Biologia e Ética. Para
que isso ocorra será necessário criar fóruns especiais para uma discussão, o que implica
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na busca de espaços para estudos e debates interdisciplinares, pois uma área sozinha não
dá mais conta de todas as respostas. Lembrando que Levinson (2001) estimula
colaboração entre os professores de Ciências e os das áreas humanas, penso que será
necessária a aproximação da Biologia com a Filosofia, a Psicologia, o Direito, a
Teologia, entre outras disciplinas.

Na Universidade e na Escola algumas atividades curriculares podem ser as


responsáveis por criar formas de integração, objetivando a viabilização da
interdisciplinaridade. Entre as formas de aproximação, destacam-se: i) Organização de
mesas-redondas ou painéis sobre um assunto polêmico reunindo diversos especialistas
de áreas e opiniões diversas; ii) Leitura e discussão de artigos de outras áreas sobre o
assunto em pauta; iii) Realização de pesquisas sobre o entendimento que têm as pessoas
de diferentes formações acadêmicas sobre um determinado assunto, análise e discussão
desses resultados.

Enfim, são amplas e variadas as formas que podem ser adotadas com a
finalidade de proporcionar uma integração entre diferentes áreas do conhecimento, mas
com um ponto de convergência comum. Todas, certamente, demandarão muito
envolvimento e ação. Urge reconhecer as implicações do conhecimento atual com seus
limites e fraturas, que se constrói de maneira transdisciplinar, em que participam e se
transformam reciprocamente personagens e cenário: homem, sociedade, conhecimento e
cultura (ABREU JR, 1996). Porém, essas dificuldades só poderão ser superadas, se
conseguirmos articular os professores das diferentes áreas do conhecimento na
constituição de novas organizações curriculares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU JUNIOR, L. Conhecimento Transdisciplinar: o cenário epistemológico da
complexidade. Piracicaba: Unimep, 1996.
AYRES, A. C. M. As tensões entre a Licenciatura e o Bacharelado: a formação dos
professores de Biologia como território contestado. In: MARANDINO, M. et al. (org.).
Ensino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói: Eduff, 2005, p.
182-197.
CLOTET, J. Bioética como ética aplicada e genética. In GARRAFA, Volnei ; COSTA,
Sérgio F. C. (org.) A Bioética no século XXI. Brasília: Ed. Universidade de Brasília,
2000. p. 109-128.
EINSIEDEL, E. Vozes dos cidadãos: participação pública na área da biotecnologia.
Ciência & Ambiente, Santa Maria, n. 26, p. 115-128, 2003.
KAWASAKI, C. S. Ensino de Biologia e Ética: a conexão possível. In: MARANDINO,
M. et al. (org.). Ensino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa. Niterói:
Eduff, 2005, p. 76-81.
LEVINSON, R. As Ciências ou as Humanidades: quem deve ensinar as controvérsias
em Ciências? Pro-Posições, Campinas, v. 12, n. 1, p. 62-72, mar 2001.
MASSARANI, L.; MAGALHÃES, I.; MOREIRA, I. C. Quando a ciência vira notícia:
um mapeamento da Genética nos jornais diários. Ciência & Ambiente, Santa Maria,
n.26, p. 141-148, 2003.

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