Prática de Leitura Da Obra o Rapaz Do Metrô

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 80

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

Centro de Letras, Comunicação e Artes


Mestrado Profissional em Letras em Rede

PATRICIA ROMANISIO PEREIRA

PROPOSTA DIDÁTICA

PRÁTICA DE LEITURA DA OBRA O RAPAZ DO METRÔ:


POEMAS PARA JOVENS EM OITO CHACINAS OU
CAPÍTULOS, DE SÉRGIO CAPPARELLI

CORNÉLIO PROCÓPIO

2021
1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ


Centro de Letras, Comunicação e Artes
Mestrado Profissional em Letras em Rede

PATRICIA ROMANISIO PEREIRA

PROPOSTA DIDÁTICA

PRÁTICA DE LEITURA DA OBRA O RAPAZ DO METRÔ:


POEMAS PARA JOVENS EM OITO CHACINAS OU
CAPÍTULOS, DE SÉRGIO CAPPARELLI

Proposta didática apresentada ao


Mestrado Profissional em Letras em
Rede (PROFLETRAS) da
Universidade Estadual do Norte do
Paraná (UENP), como requisito
parcial à obtenção do Título de
Mestre em Letras.

Orientadora: Profª. Drª. Vanderléia de


Oliveira.

CORNÉLIO PROCÓPIO

2021
2

SUMÁRIO

1. CONVERSA COM O PROFESSOR .....................................................................03

2. METODOLOGIA DE LEITURA ...........................................................................04

3. SÉRGIO CAPPARELLI: PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE SUAS OBRAS........11

4. O RAPAZ DO METRÔ: POEMAS PARA JOVENS EM OITO CHACINAS OU


CAPÍTULOS, DE SÉRGIO CAPPARELLI...............................................................15

5. SEQUÊNCIA DIDÁTICA EXPANDIDA DE LEITURA LITERÁRIA.......................36

REFERÊNCIAS .....................................................................................................78
3

1. CONVERSA COM O PROFESSOR

Esta proposta didática é resultado de uma pesquisa desenvolvida no


Mestrado Profissional, PROFLETRAS, da Universidade Estadual do Norte do
Paraná (UENP), disponível em www.uenp.edu.br/profletras.
A proposta objetiva apresentar aos professores da rede básica de ensino uma
sequência didática de leitura literária da obra O rapaz do metrô: poemas para jovens
em oito chacinas ou capítulos, de Sérgio Capparelli, destinada a alunos do 9º. Ano
do ensino fundamental II.
O material está pautado nos pressupostos teóricos metodológicos que
embasam a sequência expandida de Leitura, proposta por Cosson (2006).
Como resultado, segue a proposta elaborada, que pode ser modificada de
acordo com o interesse do docente, contexto escolar e público alvo. Antecedendo a
sequência didática proposta, apresenta-se ao professor a metodologia de ensino
adotada e a análise da obra selecionada.
4

2. METODOLOGIA DE LEITURA

Em defesa da abordagem da leitura literária em sala de aula, Cosson parte


da perspectiva metodológica de que a aprendizagem da leitura é mais do que
somente adquirir uma habilidade, e tornar-se leitor vai além de possuir um hábito
regular. Para tanto, apender a ler e ser leitor são práticas sociais transformadoras
das relações humanas (COSSON, 2006, p.40). Nesse sentido, o autor indica três
modos de compreender a leitura como um processo linear. O primeiro grupo está
centrado no texto - o processo de extração de sentido que está nele. Passando,
assim, por dois níveis: o nível das letras e palavras que estão na superfície do
texto, e o nível do significado, caracterizando-se pelo conteúdo do texto. A leitura,
portanto, se dará a partir da extração desses aspectos. O segundo grupo apresenta
o leitor como centro da leitura - as atribuições de sentido do leitor para o texto. E,
por fim, o terceiro grupo, a igual importância do leitor e do texto, tendo como
resultado de interação: a leitura.
Desse modo, a primeira etapa, chamada de antecipação, consiste nas várias
operações que o leitor realiza antes de se aprofundar no texto. A segunda etapa, a
decifração, é o processo de leitura em que se adentra no texto através do domínio
da escrita e das palavras. E a terceira etapa, a interpretação, a atribuição de
sentido no texto pelo diálogo que envolve, leitor, autor e comunidade. Portanto, ao
se cumprir essas três etapas, completa-se o primeiro estágio de leitura.
Sendo assim, é necessário, portanto, que o ensino de literatura efetive um
movimento contínuo de leitura, partindo do conhecido para o desconhecido,
objetivando a ampliação e consolidação do repertório cultural do aluno. Para tanto,
o autor apresenta três perspectivas metodológicas: a técnica da oficina, a qual
consiste em levar o aluno a construir pela prática seu conhecimento – aprender a
fazer fazendo. Ela se faz presente na alternância das atividades de leitura e escrita,
ou seja, para cada atividade de leitura é preciso fazer corresponder uma atividade
de escrita ou registro. A segunda perspectiva é a técnica do andaime. Transferir
para o aluno a edificação do conhecimento. Nesse caso, o professor deve
sustentar as atividades a serem desenvolvidas de maneira autônoma pelos alunos.
Nesse sentido, o andaime está ligado às atividades de reconstrução do saber
literário, que envolvem pesquisas e desenvolvimento de projetos. A terceira
perspectiva é a técnica do portfólio. Essa perspectiva oferece ao aluno e ao
5

professor a possibilidade de registrar as diversas atividades realizadas durante o


curso, permitindo, assim, a comparação e avaliação dos resultados iniciais e finais
do processo da leitura.
A partir desses pressupostos metodológicos, a proposta a ser desenvolvida é
baseada no letramento literário seguindo os procedimentos da sequência expandida
de leitura: “[...] o processo de letramento que se faz via textos literários compreende
não apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também, e
sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio (COSSON, 2006, p.6).
Diante disso, entende-se a sua importância e fator diferencial na prática escolar, na
medida em que favorece ao aluno o aprimoramento da capacidade de interpretar e a
sensibilidade de ler em um texto a tecedura da cultura.
O autor apresenta duas sequências a serem desenvolvidas no âmbito da
leitura literária: a Sequência Básica, constituída por quatro etapas, sendo elas:
Motivação, Introdução, Leitura e Interpretação e a Sequência Expandida, constituída
por sete etapas: Motivação, Introdução, Leitura, Primeira Interpretação,
Contextualização, Segunda Interpretação e a Expansão. Tendo em vista que a
sequência básica está naturalmente inserida na sequência expandida, optou-se pela
expandida, a fim de desenvolver um trabalho mais denso e sistematizado,
considerando-se que ela evidencia as articulações que são propostas entre
experiência, saber e educação literários inseridos no letramento escolar,
contemplando, dessa forma, as diferentes aprendizagens do letramento literário.
Importante destacar que:

Na sequência básica se realiza a aprendizagem plena da literatura,


mas porque nela se enfatiza a experiência da interpretação como
construção do sentido do mundo, as outras dimensões do letramento
literário terminam por ocupar um segundo plano. Essa posição
secundária pode levar a um obscurecimento do lugar da literatura na
escola, sobretudo aquele dado pela tradição. A sequência expandida
vem deixar mais evidente as articulações que propomos entre
experiência, saber e educação literários inscritos no horizonte desse
letramento na escola. (COSSON, 2006, p.76).

Nesse sentido, composta por vários passos, a sequência expandida tem na


“Motivação” a sua primeira etapa, que consiste em uma atividade de preparação, de
introdução dos alunos no universo do texto literário a ser lido. Cosson (2006)
ressalta que atividades lúdicas, através da escrita ou da oralidade podem ser usadas
6

para fomentar uma discussão sobre o tema do livro selecionado. Desse modo, o
primeiro passo de montagem de uma estratégia de motivação é estabelecer o
objetivo, aquilo que se deseja trazer para os alunos como aproximação do texto a
ser lido. O autor reitera a necessidade de se ter o cuidado para não dispersar o
aluno com uma motivação muito longa, sendo que apenas uma aula é o suficiente
para desenvolver com grande eficácia essa proposta.
Como próxima etapa, a “Introdução”, Cosson destaca que uma simples e
breve apresentação do autor e da obra pode ser a atividade mais adequada nesse
momento. Considerando-se que a apresentação biográfica não deve conter dados
muito longos e descritivos e sim apenas informações básicas que sejam relevantes
aos leitores e que também sejam relacionadas à obra. Do mesmo modo, a
apresentação física da obra, além dos elementos paratextuais é uma estratégia para
justificar sua escolha, abordando sua importância e relevância para o atual contexto.
Nesse sentido, Cosson (2006, p.61) relata que “[...] as apreciações críticas
presentes nas orelhas ou na contracapa são instrumentos facilitadores da introdução
e muitas vezes trazem informações importantes para a interpretação”. Portanto, a
apresentação de várias edições da obra, leitura das primeiras páginas, prefácio,
orelhas ou até mesmo uma entrada temática, que tome a motivação como eixo,
podem ser exemplos aplicáveis na Introdução. No entanto, o professor durante essa
etapa, deve tomar o cuidado de não ultrapassar o limite de uma aula no
desenvolvimento das atividades propostas, a fim de que ela apenas possa despertar
o interesse do aluno pela obra e não a realização de sua interpretação.
Na sequência, inicia-se o procedimento da “Leitura”, que convém ser feita
prioritariamente extraclasse. Dessa maneira, o professor, junto aos alunos, deverá
se organizar na escolha da data adequada para o término da leitura. Para tanto, é
necessário que haja uma verificação da efetividade da leitura extraclasse realizada
pelos alunos, que pode ser feita por meio dos intervalos de leitura, momentos esses
de enriquecimento da leitura do texto principal, podendo, assim, utilizar-se de
outros textos – literários ou não, a fim de dialogar com a obra em diferentes
enfoques. Cosson (2006) destaca a importância desses momentos no processo de
acompanhamento de leitura:

É durante as atividades do intervalo que o professor perceberá as


dificuldades de leitura dos alunos. Esse intervalo funciona, assim,
prioritariamente, como um diagnóstico da etapa da decifração no
7

processo de leitura. Por meio dele o professor resolverá problemas


ligados ao vocabulário e à estrutura composicional do texto, entre
outras dificuldades ligadas à decifração. (COSSON, 2006, p. 64).

Passa-se, então, para a “Primeira Interpretação”. O objetivo desta etapa é que


haja uma apreensão global da obra, levando o aluno a traduzir a impressão geral do
título, tal como o impacto que ele teve sobre sua sensibilidade de leitor. A produção
de um ensaio ou depoimento são exemplos eficazes de registros dessa primeira
interpretação. Nesse sentido, é importante ressaltar que qualquer que seja o
encaminhamento escolhido pelo professor nessa primeira interpretação, convém que
ele seja feito em sala de aula ou pelo menos iniciado em sala. Essa etapa deve ser
vista, portanto, como o momento de resposta do aluno à obra após conclusão da
leitura física, expressando-se em relação aos temas abordados. Desse modo, o
papel do professor deve ser somente mediar cautelosamente a produção escrita,
sem participar dela. Portanto, não é aconselhável a realização de atividades em
grupos nesse momento, já que é o encontro individual entre o aluno e a obra,
mesmo que ele já tenha sido apresentado a ela através da motivação, introdução e
leitura.
Segue-se à “Contextualização”, que diz respeito ao movimento de ler a obra
dentro do seu contexto, ou seja, aquilo que a obra traz consigo, o que a torna
inteligível para o leitor. Entretanto, é muito comum se observar o conceito de
contexto literário num âmbito tradicional de ensino como sendo apenas uma síntese
histórica. Cosson (2006) reitera, nesse sentido, que “[...] esse tipo de relação entre a
história e a literatura tende a pecar pelo excesso de generalidade ou pela
singularidade da explicação” (COSSON, 2006, p. 85). Desse modo, o que o autor
propõe é compreender o aprofundamento da leitura através dos mais variados
contextos que a obra apresenta. Portanto, o número de contextos a serem
explorados na leitura de uma obra é ilimitado. São exemplos de contextualização:
teórica; histórica; estilística; poética; crítica; presentificadora e temática.
Na contextualização teórica explicitam-se as ideias que sustentam a obra,
verificando alguns conceitos fundamentais nela presentes. Um exemplo é o trabalho
interdisciplinar que envolveria algumas questões pertinentes à obra. Já a
contextualização histórica visa a relacionar o texto com a sociedade que o gerou ou
com a qual ele se propõe a abordar internamente. Deve-se buscar, então, a
dimensão histórica que toda obra literária possui. A contextualização estilística, por
8

sua vez, busca analisar o diálogo entre obra e período literário, relacionando suas
dependências entre si. A contextualização poética responde pela estruturação ou
composição da obra. Busca-se nessa contextualização analisar os princípios de
organização e estruturação da obra. A contextualização crítica trata da recepção do
texto literário, podendo ser uma abordagem histórica da edição da obra, mesmo ela
sendo contemporânea, como também a crítica em suas diversas vertentes. Em
outras palavras, ela é uma análise de outras leituras que tem por objetivo contribuir
para a ampliação do horizonte de leitura do leitor. Em relação à contextualização
presentificadora, trata-se da atualidade do texto. A identificação do leitor, seu mundo
social com a obra lida. No que se refere à contextualização temática, é sem dúvida a
maneira mais familiar de tratar uma obra para qualquer que seja o leitor. Aborda-se,
aqui, o tema ou temas que permeiam a obra. No entanto, é importante salientar que
não se pode entreter-se apenas com o tema em si, mas envolver-se na repercussão
dele dentro da obra.
A contextualização não se limita apenas às apresentadas acima, elas podem
ir além, cabe ao professor ampliá-las e adequá-las conforme a proposta a ser
realizada. Desse modo, a contextualização é uma maneira de aprofundar a leitura do
texto, na perspectiva de ampliar os horizontes de leitura de modo consistente e
consoantes aos objetivos do letramento literário. É pertinente que essa etapa seja
elaborada por meio de pesquisas, envolvendo os mais diversos procedimentos de
coleta de dados, como seminários, debates, produção de ensaios, entre outros. É
necessário, também, que as atividades propostas aqui sejam todas elaboradas em
grupo, já que o objetivo é levar a um aprofundamento compartilhado de leitura.
A próxima etapa, “Segunda Interpretação”, consiste em um aprofundamento
de um dos aspectos abordados nas contextualizações. Há uma ligação indissociável
entre contextualização e segunda interpretação, que pode acontecer de modo direto
ou indireto, articulando, dessa forma, o estudo do contexto e a leitura da obra,
integrando, assim, as duas etapas. Devem ser evitadas, nesse momento, atividades
em grupos de três ou mais alunos, podendo ser realizadas individualmente ou em
duplas. Atividades como elaboração de projetos ou ensaios são exemplos
pertinentes para realização do registro formal nessa etapa. Importante mencionar
que a pesquisa conduza a um aprofundamento da interpretação inicial e não perca a
obra como seu horizonte de leitura. Portanto, é necessário que esteja claro para o
professor que a primeira interpretação é um momento de introjecção da obra, o
9

encontro pessoal do leitor na obra, sendo que a segunda interpretação deve resultar
no compartilhamento de leitura, um saber coletivo que une a turma em um mesmo
horizonte de leitura, reconhecendo-se que a obra literária amplia e renova através
das amplas abordagens que suscita.
Encerrado o processo de leitura com a segunda interpretação, chega-se,
então, o momento de se investir nas relações textuais: a “Expansão”. Conforme o
autor apresenta: “É esse movimento de ultrapassagem do limite de um texto para
outros textos, quer visto como extrapolação dentro do processo de leitura, quer visto
como intertextualidade no campo literário, que denominamos de expansão
(COSSON, 2006, p.94). Essa etapa busca dialogar e articular com textos que
precederam a obra, contemporâneos ou posteriores a ela. Busca-se uma
intertextualidade no âmbito literário, comparando e confrontando obras a partir de
suas relações e pontos de ligação. É importante que o resultado seja registrado
pelos alunos, como fechamento da sequência, propor uma feira literária a ser
apresentada para toda a escola pode ser a melhor atividade a ser desenvolvida.
Cabe ressaltar que essa última etapa pode ser utilizada também como ponto de
partida para outras sequências, básicas ou expandidas.
Em relação à concepção de avaliação o autor reitera sobre a existência de um
consenso teórico nesse âmbito, sendo, portanto, um diagnóstico de aprendizagem e
das condições realizadas por ela, a fim de verificar a análise do desempenho dos
alunos, professores e também da própria escola. Isso porque, “[...] quando
analisados criticamente, permitem que se corrijam ou confirmem procedimentos e se
identifiquem necessidades que estão ou deveriam ser atendidas para se atingir os
objetivos” (COSSON, 2006, p.111).
Diante dessa proposição, a avaliação na perspectiva do letramento literário
deve considerar, segundo o autor, a literatura como uma experiência e não um
conteúdo a ser avaliado. Não cabe avaliar como certo ou errado e sim proporcionar
momentos para que a leitura do aluno possa ser discutida, analisada e questionada.
Nesse sentido, cabe ao professor, como mediador de leitura, validar e aceitar os
posicionamentos e as impressões de leituras dos alunos, sem a interrupção da
intervenção docente ou até mesmo do livro didático, como sendo as únicas corretas
e aceitáveis, porque esses registros são, por sua vez, resultado de uma
introspecção e junção da sensibilidade do leitor com a obra. Além disso, o autor
aponta que o engajamento do leitor com a obra, bem como a construção de sentido
10

do texto literário e o compartilhamento das interpretações constituem o maior


objetivo da avaliação, favorecendo, nessa perspectiva, sua explicitação em diversos
momentos no processo de leitura:

[...] é a leitura literária feita pelo aluno que está no centro do


processo de ensino e aprendizagem, devendo a avaliação buscar
registrar seus avanços para ampliá-los e suas dificuldades para
superá-las. O professor não deve procurar pelas respostas certas,
mas sim pela interpretação a que o aluno chegou, como ele pensou
aquilo. O objetivo maior da avaliação é engajar o estudante na leitura
literária e dividir esse engajamento com o professor e os colegas – a
comunidade de leitores. (COSSON, 2006, p. 113).

Os registros escritos e as discussões abordadas no decorrer da sequência


expandida são nomeados pelo autor como “pontos de apoio do processo de
avaliação” (COSSON, 2006, p. 114) que servem, portanto, como diagnóstico para
verificar se o objetivo da proposta foi atingido. Importante ressaltar que à medida em
que se amplia o repertório de leitura do aluno o procedimento da leitura literária vai
se aprofundando e o acompanhamento avaliativo nesse processo deve ser feito sem
imposição ou constrangimentos para o aluno. Desse modo, as negociações das
diferentes interpretações devem ser contempladas e respeitadas no processo
avaliativo, pois exercem papel fundamental na configuração do coletivo da
comunidade de leitores.
11

3. SÉRGIO CAPPARELLI: PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE SUAS OBRAS

Sérgio Capparelli nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, em 11 de julho de


1947. É o quarto dos dez filhos de Emanuele Capparelli e de Cecília Guimarães
Capparelli. Seu pai foi comerciante, caixeiro-viajante e guarda-livros. Sua mãe,
dona-de-casa. Seu pai era um homem culto, chegou até estudar em um seminário e
nunca perdeu o interesse por línguas e por filosofias. Quando ele viajava e Sérgio
não podia ouvir as histórias que seu pai contava, folheava os livros da estante, pois
não havia bibliotecas na pequena cidade de Minas Gerais. Emprestava, então, livros
de sua tia, já que a maior parte dos livros era em outra língua, uma costureira fina,
grande apreciadora de livros, que comprava de mascates que iam de cidade em
cidade.
Em 1965, quando a família precisou mudar-se para Cuiabá, o jovem decidiu
ficar em Goiás para finalizar os estudos. No entanto, não conseguiu concluí-lo por
ser membro do jornal Cria-caso, o qual abordava ideias contrárias ao regime - era a
época do golpe de 1964. Um dia, foi chamado à direção e convidado, pela diretora, a
sair da escola. Foi para Curitiba, morou numa pensão, trabalhou como datilógrafo e
terminou o curso clássico no Colégio Rio Branco, no Batel. Partiu para Porto Alegre,
optou por estudar teatro na UFRGS. Não se identificando com o curso pediu
transferência para o curso de jornalismo. Ele gostava de escrever, embora os cerca
de 200 poemas que compusera em Goiânia tenham sido queimados e deixados para
trás na sua mudança para Curitiba. Continuou morando na Casa do Estudante da
Riachuelo. Sérgio considera essa comunidade uma das mais violentas que
conheceu, porém, pela primeira vez, tinha casa e comida de graça. Antes de se
formar em jornalismo na UFRGS, Sérgio começou a trabalhar no jornal Zero Hora e
iniciou seu último ano de universidade. Então, logo depois de se formar, Sérgio
comprou uma passagem de navio, só de ida para a Europa. Em Munique trabalhou
como entregador de jornais e morou numa garagem transformada em apartamento.
Em abril de 1971, na França, inscreveu-se no Doutorado em Comunicação da
Universidade de Paris e vai trabalhar em Londres. Em novembro de 1971, voltou a
Paris. Com as dificuldades de conseguir emprego em Paris, decide conciliar o tempo
entre trabalho e estudo. Sem sucesso, resolve fazer uma viagem pelo norte da
África.
12

Volta ao Brasil com pretensão de conseguir uma bolsa de estudos para redigir
a tese e retornar à Universidade. Acaba encontrando-se novamente em Zero Hora,
mas sem perspectiva de bolsa. A partir dessa época, regressa à Europa e fica um
ano viajando de um lado para o outro, de Paris a Munique, de Munique a Lisboa, de
Lisboa a Roma, de Roma a Estocolmo e de novo a Roma e Amsterdã, Copenhague,
Frankfurt, Madri e Veneza. Decide voltar a Porto Alegre e se estabilizar: sete meses
depois, tinha ganhado um importante prêmio de jornalismo, tinha um fusca,
trabalhava na Folha da Manhã, estava casado com a jornalista Eva Oyarzábal de
Castro e havia encaminhado os papéis para a compra de um apartamento no bairro
Menino Deus. Em 1978 nasce sua filha, Lívia Capparelli. Ele, então, escreve seu
primeiro livro para crianças, intitulado Os Meninos da Rua da Praia, hoje com mais
de trinta e cinco edições e mais de 500 mil livros vendidos.
Esse primeiro livro, Os Meninos da Rua da Praia, foi publicado pela Editora
L&PM, em convênio com o Instituto Estadual do Livro. O Instituto era dirigido na
ocasião por Lígia Averbuck e tinha um programa de incentivo aos jovens escritores.
Com grande aceitação no Rio Grande do Sul e, mais tarde, no Brasil, o livro infantil o
animou a escrever. Pouco tempo depois estava publicando outros, como Boi da
Cara Preta (poesia, 1981) e Vovô Fugiu de Casa (novela, 1982), ambos premiados.
Seis anos depois havia terminado seu doutorado e já lecionava no curso de
jornalismo da Famecos, da PUCRS, e da Unisinos, mas, a partir de 1984, apenas no
curso de Jornalismo da UFRGS. Em 1983 nasce seu segundo filho, Daniel e Eva
morre três semanas depois por motivos de complicações do parto. Em 1991, decidiu
ir para o Canadá. Levou consigo os filhos e foi cursar pós-doutorado em Montreal.
Nesse período, conheceu Maria Alice e pouco tempo depois estavam casados.
Depois que seus filhos já estavam formados, Sérgio decidiu, então, dedicar-se à
literatura.
Atualmente, Sergio vive em San Vito al Tagliamento e não mais pertence ao
âmbito acadêmico, mas exerce, com afinco, a função de escritor. Conforme Camilo
(2019), a produção literária do autor é vasta, mais de 30 obras em poesia e prosa,
para adultos, crianças e jovens. Entretanto, Sérgio Capparelli se destaca no âmbito
da literatura infantojuvenil, cujas principais obras são: Os meninos da rua da praia
(1978), Vovô fugiu de casa (1981), Boi da cara preta (1981), A jiboia Gabriela
(1984), Meg Foguete (1985), As meninas da Praça da Alfândega (1994), Ana de
salto alto (1996), 33 Ciberpoemas e uma Fábula Virtual (1996), A Árvore que Dava
13

Sorvete (1999), Um elefante no nariz (2000), Minha sombra (2001), Duelo de


Batman contra a MTV (2004), Uma colcha muito curta (2007), A lua dentro do coco
(2010), A casa de Euclides (2013), O menino levado ao céu pela andorinha (2013),
O rapaz do metrô: poemas para jovens em oito capítulos ou chacinas (2014) e
Poemas para Jovens Inquietos (2019).
Capparelli é figura de relevância no cenário da literatura infantil e juvenil e
recebeu prêmios de grande importância. Entre os mais recentes estão:
 1997 Prêmio Odilo Costa Filho - Poesia para Crianças, melhor livro do ano: 33
Ciberpoemas e uma Fábula Virtual.
 1997 Prêmio Açorianos de Literatura Infantil, melhor livro infantil: 33
Ciberpoemas e uma Fábula Virtual;
 2000 Prêmio Açorianos de Literatura Infantil (melhor livro): A Árvore que Dava
Sorvete;
 2000 Láurea "Altamente Recomendável" pelo livro A Árvore que Dava
Sorvete;
 2001 Láurea Altamente Recomendável pelo livro Um Elefante no Nariz;
 2002 Láurea "Altamente Recomendável" pelo livro Poesia Visual;
 2004 Prêmio Açorianos de Literatura Infantil, melhor livro do ano, 111 Poemas
para Crianças;
 2004 Láurea "Altamente Recomendável" pelo livro 111 Poemas para
Crianças;
 2005 Prêmio Jabuti de Literatura Infantojuvenil: Duelo do Batman contra a
MTV;
 2008 Prêmio Açorianos de Literatura de Melhor Livro Infantojuvenil: Uma
colcha muito curta.
 2011 Prêmio Odylo Costa Filho, melhor livro de poesia para crianças - A lua
dentro do coco, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil FNLIJ.

Considerando a Literatura infantojuvenil no atual contexto tecnológico, é


relevante registrar que Sérgio Capparelli se destaca, também, na perspectiva dos
novos gêneros digitais. O site1 oficial do autor e a sua página Ciber&Poemas são

1
Site: http://www.capparelli.com.br/
14

inovações nas ferramentas de abordagens de leituras virtuais. Ciberpoemas, poesia


visual e produção de poesia ganham o espaço e atraem o leitor interativo e
conectado. O ciberpoema, de acordo com Gomes, na dissertação intitulada A
recepção de ciberpoemas: experiência de navegação no site de Sérgio Capparelli na
escola, de 2017, é um exemplo de gênero digital interativo:

[...] um gênero concretizado no ambiente virtual, é um texto de


estética híbrida carregada de figuras de linguagem, ritmo, léxico
inovador e de campos semânticos que exigem relações externas ao
escrito para serem compreendidos, mas, nele, tudo isso se alia às
imagens, sons, cores, movimentos e à necessidade de interação
cognitiva e física com o computador. (GOMES, 2017, p. 50).

Posto isso, ainda é necessário ressaltar que a obra O rapaz do metrô:


poemas para jovens em oito chacinas ou capítulos (2014) chama atenção por
retratar, por meio da poesia - gênero não muito abordado no âmbito educacional, as
maiores dificuldades enfrentadas pelo público leitor juvenil. Conflitos esses que
exigem enfrentamento e resoluções, ou seja, situações que permeiam a vivência do
jovem leitor e faz com ele se identifique com os personagens, proporcionando,
assim, a introspecção psicológica e intimidade com a obra. Considera-se que a
escolha pela obra se deu exatamente pela proximidade das realidades cotidianas
entre os personagens da obra e do possível público alvo a ser desenvolvida a
proposta didática, além de proporcionar a esse público o contato com o gênero
poesia, na perspectiva do letramento literário.
15

4. O RAPAZ DO METRÔ: POEMAS PARA JOVENS EM OITO CHACINAS OU


CAPÍTULOS, DE SÉRGIO CAPPARELLI

O livro em análise é composto por poemas narrativos e expressivos inseridos


em uma macronarrativa voltada especificamente ao público juvenil, conforme
explicitado no subtítulo da obra. A história é contada em 88 poemas divididos em
oito capítulos, sob a ótica de um rapaz de dezesseis anos de idade, “quase branco”,
trabalhador, observador, vítima de uma sociedade preconceituosa, violenta e
egoísta. Morador da Zona Sul de São Paulo, o eu-lírico convive diariamente com a
realidade violenta, presenciando situações de descaso, racismo, morte, entre tantas
outras, as quais precisa enfrentar com maturidade, apesar de estar em uma idade
de transição entre a infância e a fase adulta.
Como a estrutura da obra é em poesia, encaixando-se, especificamente, em
poesia narrativa, ela apresenta uma sequenciação narrativa sob a ótica do eu-lírico
que é um narrador, com voz sobre sua história. Basicamente, o enredo apresenta a
história desse jovem, que em uma situação de grande violência, presencia o
assassinato de seus amigos e de sua amada Beatriz e, acidentalmente, acaba
registrando esse episódio, levando-o a temer por sua vida e refletir sobre suas
decisões e seus sentimentos de inconformidade frente a tal contexto.
Os poemas não seguem uma métrica específica ou rimas. São versos
brancos, possuem características peculiares e sua construção é em tom narrativo,
tematizando e percorrendo as diversas faces da violência através das linhas do
metrô, que é o fio condutor da obra. Embora composta na forma de poemas,
portanto, a obra apresenta estrutura narrativa, tais como situação inicial, conflito,
espaço, personagens e desfecho.
O aspecto gráfico visual do livro, sobretudo capa e contracapa, é também
relacionado à violência e vandalismo. As cores do título, na capa, remetem ao
sangue derramado nas várias chacinas narradas no decorrer da história, além da
grafia e posição das letras do título e subtítulo, assemelhando-se a carimbos. Da
mesma forma, as imagens de pichações no metrô demostram a total falta de zelo em
meio a um cenário perturbador e caótico. O texto escrito na contracapa, também em
letras na cor vermelha, assemelha-se às escritas datilografadas ou carimbadas,
lembrando, assim, os “Boletins de Ocorrências” que são feitos nas delegacias
16

policiais. Tal como à página 05, em que o título da obra “O rapaz do metrô” se
assemelha a estrutura de um carimbo. Ou seja, situações de um contexto que
envolve crimes, depoimentos e afins.

Capa do livro O rapaz do metrô


17

Contracapa

Embora a proposta voltada se vincule à violência urbana, o texto da


contracapa – sinopse - traz uma mensagem convidativa à leitura do livro, abordando
e alertando o leitor com uma linguagem metafórica em relação ao “vão” entre o trem
e a plataforma, o que seria a fase de transição entre a infância e a juventude,
período repleto de sonhos e desafios, necessitando, portanto, de maturidade e
sabedoria para enfrentá-los e realizá-los:

Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma. Ou seria o vão entre


o sonho e a possibilidade de realizá-lo? Embarque neste trem e
18

descubra em meio as paradas, descritas com força poética, mazelas


e belezas de uma vida marcada pela luta e pela discriminação.
(CAPPARELLI, 2014).

Página 5
19

Páginas 6 e 7 – Primeiro Sumário


20

Página 16 – Imagem abertura do capítulo 1

Nesse sentido, já na primeira página e também no primeiro sumário as


imagens se assemelham ao mapa metroviário da cidade de São Paulo, porém
contendo os títulos dos poemas de cada capítulo no lugar das respectivas estações,
21

relacionando o eu-lírico (protagonista) ao submundo, obscuro, do qual faz parte. Isso


porque a obra possui um fio narrativo que conduz os poemas pelas linhas do metrô.
O sumário, portanto, identifica o desenrolar da história.
Cabe mencionar, também, sobre a importância do posfácio para a
contribuição da leitura e sua ampla compreensão. Composto por dois textos,
intitulados “Direitos Humanos e Aplicação da Lei” e “O respeito aos Direitos
Humanos dificulta o trabalho da polícia?” sendo, o primeiro expositivo e o segundo
argumentativo (retirado do próprio código de conduta proposto na Dinamarca e
também baseado no guia das Nações Unidas), o posfácio, nessa perspectiva, instiga
o leitor a uma reflexão ao discutir sobre os direitos humanos ligados às práticas
policiais e aplicação da lei.
Entre os sumários uma imagem, como se fosse uma placa, chama a atenção,
pois traz a letra de uma canção infantil de ninar “Tutu Marambá”, porém a última
palavra é substituída da letra original – “voltar” por “matar”, refletindo mais uma vez a
violência presente até mesmo no universo infantil:

Tutu Marambá,
Não venha mais cá,
Que o pai do menino
Te manda matar.
(CAPPARELLI, 2014, p.9).
22

Página 9 – Placa com a canção Tutu Marambá.

A obra apresenta oito imagens em preto e branco, uma em cada capítulo,


antecedendo os poemas dos respectivos capítulos, referindo-se às mortes e aos
diversos contextos violentos presenciados pelo eu-lírico, sugerindo e antecipando ao
jovem leitor as possíveis leituras e abordagens temáticas.
23

Percebo que, além do conteúdo ser voltado ao público juvenil, o aspecto


gráfico visual da obra chama a atenção do leitor, por exemplo, pois a apresentação
do livro se destaca, refletindo as mais difíceis situações relacionadas à violência em
meio a um cenário urbano e a luta para sobrevivência e superação ante a
discriminação tão presente nesse contexto. Pela leitura dos poemas, o leitor é
envolvido em uma narrativa carregada de subjetividade, o eu-lírico apresenta os
seus conflitos interiores, traumas, anseios e seus enfrentamentos diante da brutal
violência, a qual o protagonista convive diariamente.
O primeiro poema inicia apresentando uma cena de crime, a primeira chacina.
Composto por uma linguagem impactante, intitulado de “Os cavaleiros”, traz à tona a
frieza e crueldade nos atos violentos dos possíveis assassinos:

Os cavaleiros

Chegaram quatro
Em cavalos de gelo.
Portavam dois deles
Fuzis de brinquedo.

De negros capuzes.
Os olhos cegos.
Ou vesgos. E atiraram.
Cada bala, um beijo.

Então se contorceram
Bonecos e titeriteiros.
E de cada peito jorrou
Um sangue vermelho.

Foram-se os cavaleiros
Por entre ruelas e becos.
Rubras, as suas mãos,
Com sangue já velho.
(CAPPARELLI, 2014, p. 17)

Composto por quatro quartetos de versos curtos - quatro a oito sílabas


poéticas e sem rimas, a pontuação também recebe um destaque diferenciado. A
preferência pela utilização de pontos finais na grande maioria dos versos denota a
rapidez na sequência da narração das ações trágicas e frias. Com uma linguagem
muito objetiva, os versos são carregados de violência e frieza, sobretudo os últimos
verso dos quartetos: “Fuzis de brinquedo”, “Cada bala, um beijo”, “Um sangue
vermelho”, “Com sangue já velho”. Esses versos denotam a indiferença em relação
24

à vida, a utilização das armas como se fossem brinquedos, para cada bala ou morte
assim, recorrente, beijos. Considerando-se que o beijo é sinônimo de amor, um
paradoxo com a própria morte, que é dor e tristeza, marcado, assim, pela forte
presença da cor vermelha relacionada ao sangue derramado por mãos que já se
acostumaram a tal ato. Além disso, já no próprio título “Os cavaleiros” chama a
atenção pela imponência presente, simbolizando o poder sobre os mais vulneráveis.
Camilo (2019) reitera a forte menção ao Apocalipse, último livro da Bíblia, presente
no título do poema:

No que se refere aos cavaleiros, nota-se a clara referência aos


quatro cavaleiros do apocalipse: Peste, Guerra, Fome e Morte; os
cavaleiros chegariam montados em seus cavalos e teriam o poder de
executar sua missão na terra que se finda. Do mesmo modo, os
cavaleiros citados no poema são os responsáveis por levar dor e
insegurança para os moradores da periferia onde vive o rapaz do
metrô. Assim, o eu narrativo se vale de referências também da
religião para compor os poemas que apresentam as chacinas,
conciliando tradição e conhecimento popular. (CAMILO, 2019, p. 55).

A apresentação do eu-lírico com o poema “Quem eu sou” ameniza a


agressividade na linguagem e mostra ao leitor quem realmente é o “rapaz do metrô”.
Entre tercetos e duetos, com estrutura bastante irregular é apresentado ao leitor, o
protagonista. Com apenas dezesseis anos, o jovem trabalhador se diz bem
responsável, pois trabalha na manutenção do sistema de freios. Os dois últimos
versos do poema chamam a atenção do leitor: “Entre a casa e o trabalho, /Entre a
escola e os amigos”, pois demostram a oscilação do comportamento juvenil, ora
adulto demais com as particularidades do trabalho, ora criança (infantilidade), com a
ligação entre a escola e amigos somente. A irregularidade na estrutura do poema
remete às inconstantes características do eu-lírico, características, essas, bem
típicas do público infantojuvenil:

Quem eu sou

Dezesseis anos
Bem distribuídos.

Boa parte nos braços


Boa parte em abraços
Em todos os sentidos.
25

II

Já fui saco de pancada


Mas não sou mais.

Quando me irrito,
Solto fogo pelas ventas.

Eu tô que tô
E, se quiser provar, Tenta.

Mas me contenho.
Ah, como me contenho,

(Estou sempre ocupado


Com a manutenção do sistema de freios.)

Quanto aos infortúnios,


Bato-os todos de frente.

E faço viagens. Muitas viagens.


Fitando o teto de meu quarto.
Escapulo.

Logo volto à razão


De anos bem vividos,

Entre a casa e o trabalho,


Entre a escola e os amigos.
(CAPPARELLI, 2014, p.19).

O “metrô” também pode ser entendido numa linguagem metafórica como uma
representação da “vida” – no qual pessoas embarcam e desembarcam
constantemente, deixando apenas lembranças. E ele, o rapaz, tendo o metrô como
seu primeiro emprego, fica responsável por sua manutenção. Tal como na vida real,
ele acaba presenciando situações violentas que o deixam horrorizado e que
demandam sábias atitudes para enfrentamento e resolução de questões, nas quais
está inserido. No entanto, muitas vezes acaba se deparando com sentimentos como
os de revolta, medo e angústia, refletindo, dessa forma, o típico comportamento
juvenil, que aparenta maturidade ou infantilidade diante dos problemas e
dificuldades enfrentados pelos jovens em geral.
No poema intitulado “No dia seguinte”, ainda no primeiro capítulo, há a
descrição da manhã, após uma violenta chacina:
26

No dia seguinte

No dia seguinte
À chacina
A vila acordou
Horrorizada.

Quem eram?
Um dos bilhões
Na contabilidade,
Caixa dois?

Um matador
Do tráfico, Para servir
De exemplo?

Mas certo,
O trem não para
Ou avança
Fora da linha,

Comer, dormir e estudar


Comer, dormir e estudar
Comer, dormir e estudar

E se ouve, bem cedo,


De janela a janela:
Começou de novo
A matança, vizinha!
(CAPPARELLI, 2014, p. 25).

Composto por quatro quartetos e apenas dois tercetos, o poema sinaliza a


constante repetição das violentas cenas descritas. Sobretudo nos dois últimos
versos “Começou de novo / A matança, vizinha!” remetendo assim, a banalização da
presença da violência e mortes naquele contexto. Outro elemento que chama a
atenção no poema, é a linguagem policial utilizada, ao mencionar os possíveis
responsáveis pela tragédia: “bilões, “Caixa dois”, conforme os autores ressaltam no
artigo Leitura de Poesias para Jovens: A lírica do metrô de Sérgio Capparelli:

Tratando de uma realidade bem específica de uma comunidade que


está em constante conflito com policiais e criminosos milicianos e do
tráfico de drogas, há a presença de um vocabulário próprio dessas
relações, tendo, inclusive, uma nota de rodapé explicando alguns
termos que o autor chama de gírias policiais. (ALVES; BARBOZA,
2020, p.37).
27

No que diz respeito ao sentimento de revolta em relação à discriminação


racial, o poema “Vergonha” traz à tona a questão. Com uma estrutura fixa de cinco
quartetos, o poema se relaciona amplamente com as constantes situações de
descaso e discriminação, as quais permeiam o contexto do eu-lírico de um modo fixo
e permanente. Além desses aspectos, há também uma referência à obra
Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, ao se deparar com uma situação de ter
que se tornar branco para ser aceito e reconhecido em uma sociedade
preconceituosa e racista. Conforme aponta Camilo (2019, p. 63):

Macunaíma precisa banhar-se para ficar branco e assim poder


sobreviver na cidade, para ter o seu “passe livre” para o sucesso de
sua empreita, tal qual o rapaz do metrô que, naquele dia, estava livre
da batida policial por ter um tom de pele diferente do que era
buscado no dia.

O fato do eu-lírico se considerar um “quase branco” e se envergonhar pela


maneira que são tratados baseados apenas na cor de sua pele, faz com que a
revolta de presenciar esse descaso tome conta de seus pensamentos. A cor escura
de seu pai o faz enaltecer ainda mais a necessidade de valorização de sua etnia.
Desse modo, os versos narrados no poema demonstram a total inconformidade com
as agruras decorrentes. Como se pode perceber no poema:

Vergonha

Passo ou não passo? No espelho


Minha imagem confirmou que passaria.
Eu era branco e a força-tarefa, armada,
Triava apenas os negros e os pardos.

Estava na ordem do dia. Abordagem


De pessoas de cor parda ou negra.
E eu era quase branco. E como branco
Bati a porta e fui para a rua, tranquilo.

Neste momento senti a vergonha.


De ser gente. De ser homem. De ter
Um passe baseado na cor da pele.
E súbito quis também ser negro

Como papai, e mostrar que insurgia


Contra a triagem étnica ou de raça
No país em que vivia e tanto amava:
Refiz meus passos com um nó na garganta.
28

E expliquei, pai, não aguento, pai,


E ali, fiquei a examiná-lo, e papai
Tinha uma cor mais escura,
Feita de raça, de suor e de trabalho.
(CAPPARELI, 2014, p. 46).

No capítulo dois, especificamente no décimo primeiro poema, “Praça Benedito


Calixto”, há a apresentação de um poema descritivo, as cenas e as imagens que
contemplam detalhadamente a caracterização do local, transmite ao leitor a
sensação de prazer e felicidade, fugindo, dessa forma, do contexto e da linguagem
violenta contemplada nos demais poemas. Com descrições e fortes referências
intertextuais - Descartes, Manuel Bandeira, entre outras, o poema traz um momento
de alegria em meio a um cenário caótico, apresentando, também, a personagem
Beatriz ao leitor:

Praça Benedito Calixto

Hoje fui conhecer


A Praça Benedito Calixto
Não sozinho, com Beatriz,
De quem gosto, logo existo.

E nós cantamos
E nós dançamos
E nós comemos.

Cheia, que nem sardinha


Uma vizinha pergunta aqui
E a outra ali, descabelada,
Diz que não sabia de nada.

Rádios antigos, virtuais,


Balangandãs, penduricalhos
Turíbulo e turiferário
E a promessa do paraíso

E nós cantamos
E nós dançamos
E gargalhamos.

A dentadura de Napoleão,
A Nau Capitânia de Cabral
Mais um diploma de doutor
Embrulhado num jornal

E nós cantamos
E nós dançamos
29

E nós comemos.

Com os olhos e a boca,


Aipim, charque, acarajé,
Máscaras de carnaval
E até uma pipa colorida.

E nós cantamos
E nós dançamos
E gargalhamos.
(CAPPARELLI, 2014, p. 48).

Entre tantos elementos intertextuais, Dante Alighieri se sobressai, como um


resgate de Capparelli ao Clássico em referência à obra A Divina Comédia. A
personagem Beatriz, aqui apresentada, e que tem a afeição do protagonista, é o
elemento principal que rege a trama, além do fato de fazer referência à musa
inspiradora, tendo ambas um trágico e triste destino. Assim como no poema
clássico, em O Rapaz do Metrô, também o personagem mantem um amor platônico
por Beatriz e ambos os protagonistas necessitam seguir um trajeto, uma jornada,
seja num barco ou num metrô, em busca de certezas e verdades. A busca pela
amada e o Paraíso em Dante seria a luta pelos direitos humanos, em Capparelli.
O protagonista, ao longo dos capítulos, se depara com muitas perdas,
pessoas queridas, amigos, amores, que se vão tragicamente, tragados pela morte,
sem motivo ou direito de se defender e restam-lhe apenas lembranças,
inconformidade e revolta. Nesse sentido, a forte presença de denúncia social é
acentuada em alguns poemas específicos. Alves e Barboza (2020, p.37) reiteram
essa questão: “O livro é composto por 88 poemas que assumem, mediante um
contexto, um caráter de denúncia social”. A exemplo dessa proposição temos o
poema Grafitti ao lado do Bello Bello. Um poema composto por apenas um quarteto,
com versos curtos e linguagem objetiva, o eu-lírico se posiciona claramente contra o
sistema corrompido e corrupto que direciona às ações criminosas e ainda se
mantém no poder:

Grafitti ao lado do Belo Belo

A coisa está preta, Bello,


Ninguém sabe quem é o bandido
Se quem mata a céu aberto
Ou quem mata escondido.
(CAPPARELLI, 2014, p.51).
30

A descrição da trágica morte de Beatriz e o incidente com o registro da cena


do crime dão início ao terceiro capítulo ou terceira chacina. A partir desse episódio, o
eu-lírico sofre a dor da perda de seu grande amor e as incansáveis perseguições por
testemunhar o terrível e triste momento:

Kiko, Nando, Du e José

Não tenho câmera, explico,


Pega a minha, diz Beatriz.
Onde está? Você sabe, na cômoda,
E atravesso a rua, pois queria
Registrar toda a nossa alegria.
Fácil fácil ser alegre, me disse,
Bastam uns amigos, um amor
E rompe-se a casca do ovo
Em todo o seu resplendor.

E abri a porta, Dona Antônia,


O quê, quis saber ela, a máquina
Da Beatriz, ela riu, você ainda
Vai ser meu genro, brincou,
Ah, Dona Antônia, somos amigos
E subo a escada, janela aberta,
A luz difusa do fim de tarde,
Transfigurada, serena até,
Sobre as sacadas dos cortiços
E sobre tantas velhas casas.

E clique, pego mamãe na praça,


Clique, um mendigo, clique, clique,
A sacada descascada do armazém,
Clique, pombas brancas nos galhos
Da extremosa e, meu Deus, aquele
Que ali passa não é seu Carvalho,
Clique, clique e inclinado na janela
Saúdo-o, pronto, continuo a lida
De imortalizar a vida pequena.

Absorto em panorâmicas,
Closes, cliques, portas da padaria
Eu registro, clique, Beatriz
Reentrando no Bar, Beatriz,
Com um copo cheio na mão,
Nando que se dirige ao balcão
Kiko que encena os trejeitos
Do artista Charlie Chaplin.

Aciono o botão de cinema


E filmo, sou agora um diretor
Conhecido, Glauber Rocha,
Clint Eastwood, Tornatore
31

Ou aquele francês, Resnais,


Ou Ang Lee, já não sei qual,
Do quarto obscuro de Beatriz
Para a fama internacional.

A cena então se imobiliza


Pois já chegam os matadores,
Quero gritar, mas não consigo
E os filmo, acertam Beatriz,
Depois o Kiko, Du, Nando,
Que sangra, mãos no peito,
Por que fez isso comigo,
Pergunta, e então desaba.

Eis que um dos matadores


Vira-se, touca ninja acima da boca,
E por intuição, zelo ou dúvida
Olha em volta, depois para cima
E me vê, olhares que se cruzam
Os meus, de câmera fria, digital,
E o outro, de fúria jamais vista
Dentro desse reino animal.
(CAPPARELLI, 2014, p.56).

Instaura-se, portanto, o principal conflito da narrativa. De expectador dessa


triste realidade, o protagonista passa a ser o alvo principal, ou seja, a possível
próxima vítima. Dos momentos narrados de alegria com os amigos, agora somente
dor, tristeza e medo. Nesse sentido, o poema em questão possui sete estrofes que
variam entre oito, nove e dez versos, prevalecendo os de oito versos. Não há,
portanto, uma regularidade na metrificação do poema, a pontuação também se
destaca, uma vez que é utilizado o ponto final no término de cada estrofe,
proporcionando a ideia de movimento e velocidade com a narração das sequências
das cenas. Com uma linguagem descritiva, o eu-lírico transmite a sensação de
euforia e felicidade antes do ocorrido – até a quinta estrofe. Já nas duas últimas o
terror e o medo se destacam entre os versos e o leitor é, então, envolvido
sobremaneira para dentro dessa narrativa, compartilhando as emoções e tormentos
que guiam o pensamento do eu-lírico. Esse é sem dúvida um dos poemas mais
longos e mais importantes de toda a narrativa.
O poema “Claro que estou louco!”, ainda no terceiro capítulo, demonstra a
expressividade do eu-lírico após ter presenciado tamanha violência e crueldade
diante dos seus olhos através das lentes da câmera de Beatriz. Em apenas uma
32

longa estrofe composta de 30 versos o eu-lírico traz à tona a dor e indignação pelas
vidas ceifadas, sobretudo a de Beatriz. A forte presença de metáforas, comparando-
o a um retrato pálido ou a um oceano denotam a solidão que o corrompe e
atormenta cruelmente seus pensamentos. Também a certeza permeada de revolta,
no último verso “um dia tem de acabar!”, posicionando-se, assim, a lutar e seguir em
frente, ainda com o coração doloroso, mas tal qual o metrô, que faz algumas
paradas, entregando cada um a seu caminho - ou cada um seguindo sua jornada,
segue cumprindo o seu propósito:

Claro que estou louco!

Depois da morte da Beatriz


Foi cada um por si e a dor
Por todos, naquela ânsia
De estar sozinho, no burburinho
Das coisas ao redor, aparente
Náufrago depois do naufrágio
Ou melhor, bêbado sem ter bebido,
À beira da voragem, em círculos
Me espiralo, me redemunho
No que sinto, pronto, estou louco,
Tenho certeza, sim, sou agora
Uma lembrança, um retrato pálido
Do que fui, do que acreditei e fiz,
Acabou-se, cara, estou louco,
Não era isso que queriam?
Mas olha agora a onda mínima,
Que se ergue no mar, calma,
Como quem não quer nada,
Ou melhor, quer e não quer,
E que de repente se levanta,
E impetuoso, súbito desabo,
Borrasca, tormenta, cólera,
E tudo isso sou eu, oceano
Em que me debato, quero e exijo
Todas as vidas que nos tiraram,
A de Beatriz e a dos outros,
Cada dia, um pouco, todo dia,
Em cada esquina, em cada bar
Porque esse extermínio de jovens,
Cara, um dia tem de acabar!
(CAPPARELLI, 2014, p. 60).

E assim a narrativa prossegue, permeada pelo medo, indignação, revolta,


solidão, ameaças. Além do eu-lírico sofrer com as terríveis lembranças e ainda
conviver com as contínuas chacinas no bairro em que vive, agora é alvo de
33

perseguição, pelo fato de ter testemunhado e gravado a mais terrível das chacinas,
pois ali estavam seus amigos e Beatriz. O poema “Encontro na Angélica” apresenta
em tom totalmente narrativo, numa longa estrofe de vinte versos, a descrição do
encontro com o possível culpado e, em seguida, apenas uma única estrofe com um
verso finaliza deixando muitas informações implícitas:

Encontro na Angélica

Vinha vindo pela Angélica,


Rumo à Consolação, para chegar à Paulista,
Quando, perto da banca de revista, uma moto preta
Kawasaki, acho, ou Fuji, não entendo de marcas,
Mas foi um coturno que vi primeiro.
O coturno de um homem alto e troncudo.
Ergo os olhos e vejo que ele me examina.
No canto da boca tem uma verruga.
Acho que estremeço, não sei, mas me contenho,
Enquanto ele, erguendo as mãos,
Cria com o indicador, pressiona o botão
Do obturador, como se fotografasse,
E de novo me contenho, calma, cara, ele quer te testar,
Saber se você esteve um dia na janela de Beatriz
E viu o inferno no bar. Desguio e prossigo.
Atrás de mim, o pipocar da moto.
Eu, na calçada; ele, na faixa de asfalto,
Move-se devagar, me olha como se eu fosse extraterrestre.
E depois acelera em ponto morto uma, duas, três vezes,
Com tal estrondo que os vidros dos edifícios
Trepidam, luzes são acesas, gente vem à janela
E assim mesmo prossigo pela Angélica
Até o metrô e depois até Água Amarela.

Instantes depois, também lentamente, passa a ronda.


(CAPPARELLI, 2014, p. 66).

Ao findar da narrativa, na resolução desse principal conflito, em que a


perseguição o assombra e a morte se aproxima, o aprendiz se depara com um
promotor. O medo e a dúvida de não saber ao certo em quem confiar, entregar ou
não o vídeo que registra a chacina, fazem com que o jovem tema sobre essa
decisão. A desconfiança perpetua em sua mente, dificultando a possível resolução
do impasse, como se vê no poema “O Senhor vende sentenças?”:
34

O Senhor vende sentenças?

Eu quero saber se não é daqueles


Que saem por aí vendendo sentenças,
Aqueles que embolsam os bolsos alheios.

Para começo de conversa, disse ele,


Não sou juiz, sentença não vendo nem dou:
Eu sou apenas um promotor público.

Mas por que desconfia do que digo?


Não tenho mais tempo a perder,
Me dá o vídeo e estamos resolvidos.

E se eu não der, o que pretende fazer?


Vai me prender. Vai me dar um soco.
Vamos, me diz, o que pretende fazer?

Logo no início, ouvindo suas insolências!


Uns tabefes, caso tivesse perdido a cabeça:
Uns tabefes bem dados, se quer saber!

E por quê? Por causa das insolências!


Depois, pensando na nossa conversa,
Descubro que não é bem assim:

E agora (falo como se fosse seu pai)


Te daria um abraço e perguntaria
Qual o pavor que te faz ficar assim?

Suspirou fundo, o Promotor Público.


Sabe, disse ele, já tive um filho,
Se vivo, teria pouco mais que sua idade.

E onde ele está? Morreu. Como?


Numa abordagem policial, como tantas,
Quando voltava para casa à noite.

Acho que por causa da cor.


Não do carro, claro, claro, mas da pele
Porque era um filho adotado.

Negro, em resumo. Quis explicar.


Mas não o ouviram. E ainda disseram:
Negro com carro novo, só se for ladrão.

É isso, filho, a decisão é sua!


(CAPPARELLI, 2014, p.117).

Nesse sentido, percebe-se no poema a razão óbvia pelo promotor querer


fazer justiça. A situação descrita sobre a morte do filho e a intolerância diante dos
35

fatos ocorridos, emociona o eu-lírico, tal como o próprio leitor, que interage e
mergulha na profundidade da narrativa. Com uma estrutura fixa de onze tercetos e
apenas a última estrofe com somente um verso, o poema permite essa interação,
pois a angústia de decidir pelo certo ou pelo errado também atinge o próprio leitor.
Desse modo, a narrativa segue ao fim e o jovem rapaz faz justiça e entrega,
portanto, o tão temido vídeo revelado no poema “Aleluia”. Com uma estrutura fixa de
oito tercetos, no próprio título já se percebe a concepção de alívio e de ter feito a
escolha correta, no entanto, no poema são apresentados também os dois lados:
aqueles que se sentem aliviados e cantarolam a vitória e aqueles que se entristecem
– comparados pelo eu-lírico como “urubus em revoada”, pois os consideravam como
amigos:

Aleluia

O ônibus seguia lotado


Quando alguém anunciou:
Prenderam os assassinos.

Que pena! Crocitaram


Os urubus em revoada:
Eles eram nossos amigos.

E toda a Vila das Belezas


A seguir cantarolou:
Prenderam os assassinos.
[...]
(CAPPARELLI, 2014, p. 136).

Embora as situações de violência e preconceito narradas ao longo da obra


causem impacto no leitor, a poesia com sutileza mostra a triste realidade de muitos
jovens no contexto atual. A luta diária de uma vida repleta de responsabilidade,
desilusões, desafios e sobrevivência em meio a um cenário cruel e egoísta, permeia
a realidade dos nossos jovens leitores, proporcionando a eles a identificação com a
obra. Nesse sentido, pela leitura de obras como a de Capparelli eles podem refletir e
se tornarem mais críticos e conscientes.
36

5. SEQUÊNCIA DIDÁTICA EXPANDIDA DE LEITURA LITERÁRIA

Sequência Expandida
O rapaz do metrô: poemas para jovens em oito chacinas ou capítulos

TURMA: 9º ANO A – Colégio Estadual João Turin – Ensino Fundamental, Médio e


Profissional.

DURAÇÃO: 23 Aulas
OBRA: CAPPARELLI, Sérgio. O rapaz do metrô: poemas para jovens em oito chacinas ou
capítulos. Rio de Janeiro: Galera, 2014.

PRIMEIRA ETAPA: MOTIVAÇÃO

MOTIVAÇÃO
DURAÇÃO: 1 Aula
OBJETIVO: Preparar o aluno, instigando-o e provocando-o, por meio de atividade
lúdica e motivadora, a fim de que ele venha a se interessar pela leitura da obra,
motivado pela leitura de uma reportagem e a realização de um quiz em relação a
curiosidades e conhecimentos sobre o Metrô de São Paulo.

Professor, inicia-se, aqui, a proposta didática a ser desenvolvida, baseada nos


procedimentos didáticos da sequência expandida de leitura (COSSON, 2006). É
importante lembrar que todas as atividades deverão ser elaboradas e impressas
antecipadamente, para que não haja nenhum contratempo durante a aplicação da
sequência. Do mesmo modo, cabe salientar que todas as atividades realizadas
pelos alunos serão armazenadas em pastas, como portfólios.

A utilização do gênero reportagem para iniciar essa etapa faz-se de extrema


relevância, uma vez que, em homenagem aos 50 anos do Metrô da cidade de São
Paulo, ocorrido no ano de 2018, apresenta informações que contemplam dados
históricos, além de comparações muito úteis e de fácil compreensão para o universo
37

do aluno. É importante mencionar que o professor deverá, antes da leitura da


reportagem, instigar os alunos – oralmente - em relação a seus conhecimentos
prévios sobre o assunto a ser abordado na reportagem.
Para finalizar a presente etapa, após feita a leitura e discussão do assunto, é
proposta aos alunos a mesma orientação que é apresentada no término da
reportagem: um quiz interativo, contendo dez questões no intuito de testar
conhecimentos sobre o meio de transporte abordado. Considera-se que o quiz, além
de testar conhecimentos, amplia o universo do aluno contemplando imagens
atrativas e conteúdos significativos.

 ATIVIDADE 1: Leitura de reportagem e realização do quiz


Professor, organize a turma em um único círculo, para que assim seja formada uma
roda de conversa para as discussões propostas. Lembre-se de fazer indagações,
instigando os alunos sobre seus conhecimentos prévios em relação ao meio de
transporte abordado, antes da realização da leitura da reportagem. O conteúdo
deverá ser acessado pelo site https://patiosaobento.com.br/metro-sao-paulo-50-
anos-quiz/.
Seguem alguns exemplos de questionamentos orais a serem realizados:
- Você já utilizou um Metrô?
- Possui algum conhecimento sobre o Metrô de São Paulo?
- Já viu alguma notícia ou reportagem relacionada ao Metrô de São Paulo?
Após a realização desse momento de diálogo e questionamentos, acesse ao site e
projete em datashow a reportagem aos alunos, além de entregar-lhes uma cópia
impressa.
Feito isso, divida os alunos em cinco grupos para a realização do quiz, de forma
que sejam atribuídas duas questões por grupo a serem respondidas. Ao término
dessa atividade, os grupos que obtiverem maior pontuação receberão algum tipo de
premiação, como balas ou chocolates.
38

REPORTAGEM
39

QUIZ
40
41
42
43
44
45
46
47
48


49

SEGUNDA ETAPA: INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO
Duração: 2 aulas
Objetivo: Apresentar aos alunos uma breve biografia do autor e oportunizar o
contato físico com a obra.

Professor, é importante que a apresentação do autor não seja permeada de


detalhes como datas e outras características que não estejam relacionadas à
obra, especificamente. Sendo assim, ofereça apenas informações básicas ligadas
ao texto.

 ATIVIDADE 2: Apresentação do autor


Serão apresentadas aos alunos a imagem do autor e algumas informações
pessoais de maior relevância, como também dados sobre suas principais obras.
Desse modo, o professor deverá apresentar as informações em slides projetados em
Datashow e os alunos poderão acompanhar com cópias impressas:

– APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Sérgio Capparelli

Fonte: http://literaturainfantojuvenil-poesia.blogspot.com/2016/05/sergio-capparelli.html
50

Escritor de literatura infanto-juvenil, professor universitário e jornalista, Sérgio


Capparelli nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, em Julho de 1947. Formou-se pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Jornalismo; Na França fez
doutorado em Comunicação na Universidade de Paris e pós-doutorado pela
Universidade de Grenoble. Ele viveu e já trabalhou em diversas cidades, por
exemplo em: Porto Alegre, Pará de Minas, Curitiba, Goiânia, Munique, Londres,
Paris, Montreal, Grenoble. Em 2005 decidiu viver em Beijing, China, onde trabalhou
na agência de notícias Xinhua News Agency - uma das maiores do país.
Atualmente, Sergio vive em San Vito al Tagliamento e não mais pertence ao âmbito
acadêmico, mas exerce, com afinco, a função de escritor.
A produção literária do autor é vasta, mais de 30 obras em poesia e prosa,
para adultos, crianças e jovens. Entretanto, Sérgio Capparelli se destaca no âmbito
da literatura infantojuvenil, cujas principais obras são: Os meninos da rua da praia
(1978), Vovô fugiu de casa (1981), Boi da cara preta (1981), A jibóia Gabriela
(1984), Meg Foguete (1985), As meninas da Praça da Alfândega (1994), Ana de
salto alto (1996), 33 Ciberpoemas e uma Fábula Virtual (1996), A Árvore que Dava
Sorvete (1999), Um elefante no nariz (2000), Minha sombra (2001), Duelo de
Batman contra a MTV (2004), Uma colcha muito curta (2007), A casa de Euclides
(2013), O menino levado ao céu pela andorinha (2013), O rapaz do metrô: poemas
para jovens em oito capítulos ou chacinas (2014) e Poemas para Jovens Inquietos
(2019).
Ganhador de inúmeros prêmios, Sérgio é um autor importante para a
literatura infantil e juvenil. Em seu blog Capparelli apresenta uma coleção de textos
originais, desde prosa a poesia, explorando a cultura chinesa e a dinâmica virtual
para compor imagens e arte.
51

Principais obras do autor


(1978) (1981) (1981)

(1984) (1985) (1994)

(1996) (1996) (1999)


52

(2000) (2001) (2004)

(2007) (2013) (2014)

(2019)
53

 ATIVIDADE 3: Apresentação da obra


Professor, a apresentação física da obra, além dos elementos paratextuais é uma
estratégia para justificar sua escolha, abordando sua importância e relevância
para o atual contexto. Cosson (2006, p.61) afirma que “[...] as apreciações críticas
presentes nas orelhas ou na contracapa são instrumentos facilitadores da
introdução e muitas vezes trazem informações importantes para a interpretação”.
É importante que, ao apresentar as imagens da obra, questões sobre o aspecto
gráfico visual sejam amplamente exploradas, a fim de propor indagações sobre a
possível temática do livro e o público alvo.
Exemplos:
1. O que podemos inferir sobre as imagens apresentadas na capa do livro?
2. As cores presentes nas imagens podem estar relacionadas a algum elemento
da obra?
3. O que o título possivelmente pode sugerir em relação à temática que será
abordada?
4. O estilo das letras (fontes) utilizado na grafia das palavras pode estar associado
a algum elemento para a composição da obra?
5 – A qual faixa etária essa obra é direcionada?

Nesse momento será apresentada aos alunos a obra física, assim como deve
ser realizada a leitura dos elementos paratextuais que compõem a obra.
Primeiramente, serão abordadas a partir da capa: imagens, cores, fontes, título e
subtítulo; após, explanada a leitura da contracapa e possíveis inferências em relação
ao texto. Segue-se, então, com as leituras dos textos que compõem as orelhas
(síntese da obra e dados do autor) e a parte interna do livro como sumários, as
imagens que abrem cada capítulo, bem como o posfácio, o qual traz uma reflexão
ao discutir a temática dos direitos humanos e aplicação da lei, assunto amplamente
abordado no conteúdo da obra. Importante ressaltar que cada aluno terá seu
exemplar em mãos para iniciar a leitura individual da obra e em cada etapa serão
instigados a manifestar criticamente e reflexivamente seus posicionamentos em
relação ao exposto.
54

– APRESENTAÇÃO DA OBRA

Capa do livro Contracapa

Orelha 2
Orelha 1
55

Primeiro Sumário
56

Página 9 – Placa com a canção Tutu Marambá.

Página 16 – Imagem de abertura do capítulo 1


57

TERCEIRA ETAPA - LEITURA

LEITURA
Duração: 1 aula
Objetivo: Negociar com os alunos os prazos de finalização da leitura.

Professor, a leitura da obra deverá ser realizada prioritariamente extraclasse.


Dessa maneira, é importante que seja organizada com os alunos um cronograma
de leitura, indicando-se a data adequada para o término.
É necessário que haja um acompanhamento do processo de leitura pelo professor
a fim de auxiliar e orientar as possíveis dificuldades encontradas pelos estudantes,
assim como a verificação da efetividade da leitura extraclasse realizada pelos
alunos, que pode ser feita por meio dos intervalos de leitura, momentos esses de
enriquecimento da leitura do texto principal, podendo, assim, utilizar-se de outros
textos – literários ou não, com o propósito de dialogar com a obra em diferentes
enfoques. Cosson (2006) destaca a importância desses momentos no processo de
acompanhamento de leitura: “É durante as atividades do intervalo que o professor
perceberá as dificuldades de leitura dos alunos, diagnosticando problemas ligados
ao vocabulário e à estrutura composicional do texto, entre outras dificuldades
ligadas à decifração. (COSSON, 2006, p. 64)”.

A obra foi dividida para três intervalos de leitura. Após a leitura do primeiro e
segundos capítulos – 1º Intervalo; Leitura do terceiro e quartos capítulos – 2º
Intervalo; Leitura do quinto e sextos capítulos - 3º Intervalo; e, então, leitura final dos
dois últimos capítulos. Nesse momento, é importante oferecer ao aluno o diário de
leitura, para que ele possa anotar possíveis dúvidas, alguns trechos importantes,
vocabulários, impressões pessoais, conforme a progressão da leitura da obra, bem
como o acompanhamento, orientação e auxílio do professor.

1º INTERVALO
Duração: 2 aulas
Objetivo: Verificar a compreensão de leitura dos primeiros capítulos (páginas 15 a
58

51). Refletir sobre as relações intertextuais presentes na obra e os efeitos de


sentido gerados por este recurso expressivo.

Professor, lembre-se de que nos intervalos poderão ser sanadas as dúvidas e


dificuldades com as quais os alunos se deparam enquanto fazem a leitura da obra
extraclasse e a partir do que registraram em seus diários de leitura. Cabe
mencionar que todas as atividades registradas nessa etapa serão armazenas em
pastas destinadas ao portfólio.

 ATIVIDADE 4: Assistir ao videoclipe “Canção Infantil – Cesar MC.


Feat. Crystal”

Professor, o vídeo pode ser acessado pelo seguinte endereço:


CESAR MC. FEAT CRYSTAL. Canção Infantil. Disponível em: https://youtu.be/Ri-
eF5PJ2X0
Apresente, também, aos alunos o conceito sobre Intertextualidade.
Seguem algumas atividades para serem realizadas, por escrito, após os alunos
terem assistido e discutido sobre o vídeo.

– VÍDEO
Link: https://youtu.be/Ri-eF5PJ2X0
59

CONCEITO DE INTERTEXTUALIDADE

“A intertextualidade acontece quando um texto retoma uma parte ou a totalidade de


outro texto – o texto fonte. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados
fundamentais em uma determinada cultura. A intertextualidade é, portanto, uma
forma de diálogo entre dois ou mais textos. Importante destacar que a
intertextualidade pode ocorrer entre textos de mesma natureza ou de naturezas
diversas, como músicas, poemas, ou obras de arte, por exemplo. Tais textos podem
estar distantes no tempo e no espaço, contudo, dialogam entre si.” (GONÇALVES,
2020, p.104)

Conforme descreve Pinheiro (2020, p. 90), a letra do rap é uma releitura dos
contos de fadas. Tendo a escola e o teatro como componentes formadores do
espaço, o conjunto de elementos abordados demonstra a caracterização simbólica
de imagens metafóricas carregadas de novos significados imaginários, num
propósito de buscar respostas diante da complexidade do sentido da vida atrelada
às constantes ameaças e a perseguição diária do mal. Nesse sentido, “[...] a
intertextualidade constitutiva da letra traz várias referências aos contos de fadas e
canções infantis, que associadas ao audiovisual, configuram um mito de heroísmo
moderno, em que a arma é a palavra e a redenção é o amor (PINHEIRO, 2020,
p.89).
60

Nesse momento, os alunos poderão perceber, além dos elementos


intertextuais, algumas semelhanças entre o videoclipe e a obra que está sendo lida.
Os conflitos vivenciados pelos protagonistas, a luta e o descaso social em meio a
um cenário perturbador e a indignação pelas mortes ocorridas por tamanha
brutalidade, são visivelmente perceptíveis aos jovens leitores, uma vez que esse
público possui notável familiaridade com o gênero rap, o que facilita a compreensão
contextual abordada no gênero. Nesse sentido, é oportuno proporcionar aos alunos
o conhecimento sobre as narrativas estruturadas em versos, que compõem os
chamados poemas narrativos. Conforme apresenta Salles:

O poema narrativo voltado para o leitor infanto-juvenil explorou


igualmente as criações clássicas, e populares, porém segundo as
novas concepções e projetos burgueses. Do código retórico clássico,
rígido formalmente e conservador ideologicamente, aproveitou
determinados costumes do herói, transformando sua sagacidade em
virtudes como a fidelidade ao lar, à família e à pátria. Sua coragem e
peculiaridades guerreiras transformaram-se em valorização do
conhecimento científico e do amor ao trabalho. Da balada, do
romance medieval e suas fontes populares e folclóricas, identificam-
se os heroísmos de camponeses, de mulheres simples e abnegadas,
além dos temas mais pitorescos ou trágicos, como morte de criança,
prisão injusta de inocente, seguida de reparadora conquista da
liberdade. (SALLES, 2012, p. 137).

Ainda, cabe abordar sobre o diálogo com a tradição poética, resgatando,


dessa forma, o tema do clássico de Dante Alighieri, propiciando, assim, o contato do
jovem leitor com a poesia a partir da tradição e o texto poético, por meio da odisseia
que vive o personagem. Além disso, pensar e refletir sobre a violência
contemporânea tendo a poesia como âncora.

 ATIVIDADE 5: Refletir sobre as principais ideias contidas na letra


da música, bem como suas inferências intertextuais
1) A música “Canção Infantil”, de CESAR MC. FEAT CRYSTAL, faz referência à
canção infantil “A casa”, de Vinícius de Moraes/Sergio Bardotti. Qual sentido
podemos observar nesse diálogo? Compare os fragmentos abaixo e responda:

“Era uma casa muito engraçada “Era uma casa não muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada Por falta de afeto não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não Até tinha teto, piscina, arquiteto
61

Porque na casa não tinha chão Só não deu pra comprar aquilo que faltava
Ninguém podia dormir na rede Bem estruturada, às vezes lotada
Porque na casa não tinha parede Mas memo lotada uma solidão
Ninguém podia fazer pipi Dizia o poeta, o que é feito de ego
Porque penico não tinha ali Na rua dos tolos gera frustração...”
Mas era feita com muito esmero (...)
Na rua dos bobos, número zero “...Yeah, havia outra casa, canto da quebrada
Mas era feita com muito esmero Sem rua asfaltada, fora do padrão
Na rua dos bobos, número zero” Eternit furada, pequena, apertada
Mas se for colar tem água pro feijão
Fonte: Musixmatch Se o mengão jogar, pode até parcelar
Compositores: Vinicius De Moraes / Sergio Vai ter carne, cerveja, refri e carvão
Bardotti As moeda contada, a luz sempre cortada
Letra de A casa © Universal Music Publishing Mas fé não faltava, tinham gratidão.”
Mgb Spain S.a
Canção Infantil, CESAR MC. FEAT CRYSTAL

2) No trecho da música “Canção Infantil”, o autor aponta duas realidades


contextuais. Em que se diferem essas realidades e qual seu posicionamento em
relação às considerações abordadas na música?
“Era uma casa não muito engraçada “...Yeah, havia outra casa, canto da quebrada
Por falta de afeto não tinha nada Sem rua asfaltada, fora do padrão
Até tinha teto, piscina, arquiteto Eternit furada, pequena, apertada
Só não deu pra comprar aquilo que faltava Mas se for colar tem água pro feijão
Bem estruturada, às vezes lotada Se o mengão jogar, pode até parcelar
Mas memo lotada uma solidão Vai ter carne, cerveja, refri e carvão
Dizia o poeta, o que é feito de ego As moeda contada, a luz sempre cortada
Na rua dos tolos gera frustração...” Mas fé não faltava, tinham gratidão.”

3) Por que, na sua opinião, o autor compara a vida a uma “Canção Infantil” e quais
elementos ele utiliza para exemplificar tal posicionamento?
“A vida é uma canção infantil
É, sério, pensa, viu?
Belas e feras, castelos e celas
Princesas, pinóquios, mocinhos e...
É, eu não sei se isso é bom ou mal
Alguém me explica o que nesse mundo é real
O tiroteio na escola, a camisa no varal
O vilão que tá na história ou aquele do jornal”
(...)

4) Em que sentido o autor faz um alerta ao universo infantil, em que a imaginação e


brincadeiras lúdicas são tão presentes nessa fase?
“Eu brincava de polícia e ladrão um tempo atrás
Hoje ninguém mais brinca, ficou realista demais
As balas ficaram reais perfurando a eternit
Brincar nós ainda quer, mas o sangue melou o pique
O final do conto é triste quando o mal não vai embora
O bicho-papão existe, não ouse brincar lá fora”.
5) Leia o primeiro poema do capítulo 1, “Os cavaleiros”, da obra O rapaz do metrô:
poemas para jovens em oito chacinas ou capítulos, de Sérgio Capparelli, e reflita
62

sobre quais elementos presentes nesse poema dialogam com a música “Canção
Infantil”?

Os cavaleiros

Chegaram quatro Então se contorceram


Em cavalos de gelo. Bonecos e titeriteiros.
Portavam dois deles E de cada peito jorrou
Fuzis de brinquedo. Um sangue vermelho.

De negros capuzes. Foram-se os cavaleiros


Os olhos cegos. Por entre ruelas e becos.
Ou vesgos. E atiraram. Rubras, as suas mãos,
Cada bala, um beijo. Com sangue já velho.
(CAPPARELI, 2014, p. 17).

6) Compare o trecho da música ao poema “Vergonha”, da obra acima, e responda:


Como o poeta aborda a questão do desrespeito e do preconceito racial?
“Tem algo errado com o mundo, não tire os olhos da ampulheta
O ser humano em resumo é o câncer do planeta
A sociedade é doentia e julga a cor, a careta
Deus escreve planos de paz, mas também nos dá a caneta
E nós, nós escrevemos a vida, iphones, a fome, a seca
Os homi, os drone, a inveja e a mágoa
O dinheiro, a disputa, o sangue, o gatilho
Sucrilhos, mansões, condomínios e guetos
Tá tudo do avesso, faiamos no berço
Nosso final feliz tem a ver com o começo
Somente o começo, somente o começo.”

Vergonha

Passo ou não passo? No espelho


Minha imagem confirmou que passaria.
Eu era branco e a força-tarefa, armada,
Triava apenas os negros e os pardos.

Estava na ordem do dia. Abordagem


De pessoas de cor parda ou negra.
E eu era quase branco. E como branco
Bati a porta e fui para a rua, tranquilo.

Neste momento senti a vergonha.


De ser gente. De ser homem. De ter
Um passe baseado na cor da pele.
E súbito quis também ser negro

Como papai, e mostrar que insurgia


Contra a triagem étnica ou de raça
No país em que vivia e tanto amava:
Refiz meus passos com um nó na garganta.
63

E expliquei, pai, não aguento, pai,


E ali, fiquei a examiná-lo, e papai
Tinha uma cor mais escura,
Feita de raça, de suor e de trabalho.
(CAPPARELI, 2014, p. 46)

INTERVALO 2
Duração: 2 aulas
Objetivo: Verificar a compreensão de leitura dos capítulos 3 e 4 (páginas 53 a 86).
Analisar a imagem e fazer inferências dialogando com a obra que está sendo lida.

 ATIVIDADE 6: Analisar a imagem

Professor, é necessário apresentar a imagem (Charge) aos alunos por slide em


Datashow, para que eles possam acompanhar e analisar os detalhes com maior
efetividade. No entanto, cabe também entregar cópias impressas para que essas
sejam arquivadas nas pastas, juntamente com os demais registros das atividades
propostas.

É importante ressaltar que o professor deve instigar os alunos a dialogar e


interagir oralmente com os demais sobre as possíveis interpretações abordadas no
gênero. Questões relacionadas à escolha das cores, expressões faciais, o estilo das
roupas, as pessoas envolvidas na imagem, entre outros aspectos, deverão ser
contempladas e explanadas nesse momento.
64

- IMAGEM

Fonte: https://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/sp-no-diva/e-se-a-policia-federal-entrasse-
de-vez-no-combate-aos-grupos-de-exterminio-no-brasil/

ATIVIDADE 7: Interpretar a imagem comparando os elementos textuais


contemplados na obra O rapaz do metrô: poemas para jovens em oito chacinas
ou capítulos, de Sérgio Capparelli

1) Leia os poemas e aponte as possíveis abordagens relacionadas à imagem


analisada. Sobretudo, no que diz respeito ao cuidado e proteção dos filhos pelos
pais.
Ronda Entrevista com a mãe que perdeu o filho

Quando cheguei mais tarde, perto das onze, As mortes


Em Campo Limpo, uma viatura da ronda Doem em nós
Me seguiu. Fui pelo meu caminho. Só podia, Muito mais
Porque olhar um deles, de frente ou de banda, Que nos jornais!
É considerado afronta a um obscuro código (CAPPARELLI, 2014, p. 40).
De honra. Duzentos metro mais adiante,
A viatura acelerou e sumiu numa esquina.
Dessa me salvei, pensei, mas até quando?
Porque meu pai e minha mãe não aguentavam
Ver um filho sair sem saber se iria voltar.
Queriam que eu deixasse a escola. O trabalho.
65

Queriam me proteger. Sei não. Sou novo,


Mas é impossível retornar à casca do ovo.
(CAPPARELLI, 2014, p.81)

INTERVALO 3
Duração: 4 aulas
Objetivo: Verificar a compreensão de leitura dos capítulos 5 e 6 (páginas 87 a
117). Apresentar aos alunos elementos que configurem uma narrativa policial
através da leitura do conto “Os Crimes da Rua Morgue”, de Edgar Allan Poe.

 ATIVIDADE 8: Leitura do Conto “Os Crimes da Rua Morgue”, de Edgar


Allan Poe”
Professor, antes de iniciar a leitura do conto “Os Crimes da Rua Morgue”, de
Edgar Allan Poe, é necessário que apresente aos alunos um vídeo explicativo que
contempla algumas curiosidades sobre o texto, tais como abordagem temática,
detalhes informativos sobre o autor, contexto de produção, dentre outros aspectos
favoráveis à compreensão do texto.
66

OS CRIMES DA RUA MORGUE – APRESENTAÇÃO

https://youtu.be/yldMiGdTfFc

Professor, por se tratar de um conto extenso, convém que a leitura seja feita
durante as aulas destinadas para essa finalidade e também que seja mediada pelo
docente. O texto pode ser encontrado no endereço:
https://www.ufmg.br/centrocultural/wp-content/uploads/2020/05/8-Os-Crimes-da-
Rua-Morgue-Edgar-Allan-Poe.pdf

Edgar Allan Poe, além de ser conhecido com seus contos de horror, também
foi um dos precursores das histórias policiais. Na narrativa não há elementos
sobrenaturais, mas sim elementos que configuram uma literatura policial. Nesse
sentido, o leitor assume a posição de um detetive e vivencia as emoções narradas
na história, o que faz, de certa forma, com que o conto dialogue com a obra O
Rapaz do Metrô, em se tratando de elementos que retratam situações de contextos
policiais.
67

Meirelles (2019) destaca que o conto é apresentado sob a ótica de um


narrador anônimo, que conhece Monsieur Dupin em uma livraria e acabam se
tornando amigos. O narrador aluga uma mansão deserta e eles concordam em
morar juntos pelo tempo em que o narrador ficar em Paris. Monsieur Dupin é um
homem muito inteligente com um enorme talento analítico. Através da leitura de um
jornal tomam conhecimento sobre um trágico assassinato, de mãe e filha, na rua
Morgue, uma viela deserta de Paris. Os assassinatos são violentamente cruéis e
sem razão aparente. Com a má eficiência policial, Dupin acredita que pode ajudar a
liberar o suspeito e encontrar o verdadeiro assassino. Investiga, assim, a cena do
crime e chega a um desfecho. A grande diferença nesta história é que, apesar de
ser considerada a primeira história policial moderna e de ter todos os elementos
para isso, o criminoso é um animal irracional e não pode ser responsabilizado por
seus atos.

ATIVIDADE 9: Responder às questões, por escrito, a propósito do conto


1. No que concerne à temática sobre violência X contexto policial apresentada no
conto de Poe, quais elementos dialogam com a obra O rapaz do metrô, de Sérgio
Capparelli?
2. Quais as principais características das personagens do conto e qual sua relação
com o crime apresentado na narrativa?
3. Considerando que “narrador” se faz presente em narrativas, tais como contos,
romances, entre outros, e “eu-lírico” é a voz lírica em textos poéticos, podemos,
então, perceber que a obra de Capparelli, mesmo sendo produzida em versos,
possui um tom narrativo – uma poesia narrativa. Desse modo, podemos identificar
na obra todos os elementos de uma narrativa (Situação inicial, Conflito, Lugar,
Personagens, Desfecho). Sendo assim, em que sentido podemos diferenciar e
caracterizar o narrador do conto considerando o poema “Quem sou eu”, de O
rapaz do metrô: de Capparelli? Faça um paralelo entre os narradores,
caracterizando cada um deles:
Quem eu sou

Dezesseis anos
Bem distribuídos.

Boa parte nos braços


Boa parte em abraços
Em todos os sentidos.
68

II

Já fui saco de pancada


Mas não sou mais.

Quando me irrito,
Solto fogo pelas ventas.

Eu tô que tô
E, se quiser provar, Tenta.

Mas me contenho.
Ah, como me contenho,

(Estou sempre ocupado


Com a manutenção do sistema de freios.)

Quanto aos infortúnios,


Bato-os todos de frente.

E faço viagens. Muitas viagens.


Fitando o teto de meu quarto.
Escapulo.

Logo volto à razão


De anos bem vividos,

Entre a casa e o trabalho,


Entre a escola e os amigos.
(CAPPARELLI, 2014, p.19)

4. Podemos perceber no conto elementos que compõem a narrativa, tais como:


enredo, narrador, personagens, tempo e espaço. No que se refere ao espaço,
apresente características que distinguem o conto de Poe da obra de Capparelli.
5. Em quais aspectos podemos perceber uma aproximação temática entre o
poema “Timóteo e seus três filhos”, de Capparelli, com o conto?
Timóteo e seus três filhos

Ali, naquela esquina,


Assassinaram Timóteo e seus três filhos.

Assim, de repente,
Uma moto, a mesma moto,
E dois motoqueiros.

O garupa deu os tiros


Como quem acende um fósforo
Ou atiça um braseiro.

E os corpos que ali ficaram


De sangue rubro,
Se aqueceram.
(CAPPARELLI, 2014, p.89).
69

Professor, para finalizar essa etapa, como síntese integradora, após terem sido
respondidas e discutidas as questões acima, é importante que os alunos registrem
seus posicionamentos, justificando em um parágrafo a relação entre os textos e
suas respectivas especificidades.

QUARTA ETAPA: PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO

PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO
Duração: 2 aulas
Objetivo: Levar o aluno a traduzir uma impressão geral da obra, considerando o
impacto resultante de sua sensibilidade enquanto leitor, produzindo, assim, uma
resenha sobre ela.

Professor, é necessário nesse momento que as características do gênero resenham


sejam explanadas aos alunos antes de iniciar o processo de produção textual.
Convém que essa atividade seja feita em sala de aula, com o acompanhamento do
professor e que seja realizada individualmente, pois, conforme aponta o autor, é
“[...] um momento de resposta à obra, o momento em que, tendo sida concluída a
leitura física, o leitor sente a necessidade de dizer algo a respeito do que leu, de
expressar o que sentiu em relação às personagens e àquele mundo feito de papel”
(COSSON, 2006, p.84).

A resenha é um gênero textual sucinto, cuja principal característica é


discorrer, de maneira breve, uma crítica sobre determinado assunto. É
composta não apenas pela crítica direta, mas também por momentos de
descrição, seja de um livro ou um filme a qual está sendo apresentado. Sendo
assim, o objetivo da resenha não é descrever o conteúdo de forma resumida, mas
dar a conhecer ao leitor a proposta apresentada, influenciando assim a sua escolha.
70

– MODELO DE RESENHA

Resenha: Assassinatos na rua Morgue


Título original: Murder in the rue
Morgue end other stories
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: L & PM
Páginas: 160
Ano Lançamento: 2010

Sinopse: O personagem central deste conto, o francês Monsieur C. Auguste Dupin, poderia ser
Sherlock Holmes e o narrador poderia ser o Dr. Watson. O fascinante personagem de Poe,
através de um sistema próprio de dedução baseado na sua profunda capacidade de observação
dos fatos, é capaz de ler os pensamentos do seu interlocutor e desvendar um dos mais
intrincados e misteriosos casos de assassinato já enfrentado pela polícia francesa: o bárbaro
duplo assassinato de mãe e filha num apartamento na rua Morgue. Meio século depois, Conan
Doyle tomou emprestada a alma de Dupin para criar seu Sherlock. A partir daí o gênero caiu no
gosto do público e os grandes personagens se multiplicaram.

O livro reúne alguns contos de Poe e esse pequeno livro mostra o indiscutível
talento de Edgar Alla Poe e todo o universo do suspense e mistério. O principal
conto é o qual leva o título do livro, uma história de suspense do qual mãe e filha
são assassinadas brutalmente em uma casa na rua Morgue. A polícia e alguns
detetives investigaram e não chegaram a lugar nenhum.
Assassinatos na rua Morgue foi publicado pela primeira vez em 1841 e nesta
edição que a editora L & PM lançou, podemos conhecer um pouco sobre Edgar. O
livro é edição de bolso e mesmo assim é de uma excelente qualidade, livro muito
bem diagramado.
Antes mesmo de apresentar a obra, vale ressaltar que Poe foi inspiração
para outros grandes autores mundiais como Conan Doyle e até mesmo Aghata
Christie. A obra é dividida em outros contos dos quais: O demônio da perversidade,
Hop – Frog ou os oito orangotangos acorrentados, os fatos que envolveram o caso
de Mr. Valdemar, e etc. Alguns desses contos são muitos sombrios e misteriosos, a
partir dos contos menores conhecemos ainda mais a essência da escrita de Poe,
sendo bem refinado e detalhista, outro ponto em questão são as tramas muito bem
desenvolvidas, sendo que o leitor só vai encontrar a solução nas últimas páginas.
Para todos os leitores e amantes de romances policiais esse é o livro que
super recomendo para se ler, já os que tem curiosidade em ler romances policiais e
conhecer todo esse universo, esse é o livro que vocês devem iniciar. Na rede social
Skoob o livro recebeu avaliação de 4.0
Fonte: http://www.livreando.com.br/2015/09/resenha-assassinatos-na-rua-morgue.html
71

 ATIVIDADE 10: Elaboração da resenha


1. Primeiramente, apresente aos alunos as características de uma resenha.
2. Lembre-os de que é necessário rever os elementos que compõem a
narrativa, tais como autor, título, editora, ano de publicação etc..
3. Na parte descritiva, cabe salientar que é importante descrever a estrutura
da narrativa, de modo breve e com uma linguagem objetiva, elementos como divisão
dos capítulos, foco narrativo, personagens, espaço, enredo, entre outros.
4. Por fim, a tão necessária argumentação, ou seja, a construção de sentidos
proporcionadas pelo texto. É exatamente nessa etapa que o aluno leitor apresenta
seus posicionamentos em relação à obra.
Cabe ressaltar que o professor fará a leitura e revisão das resenhas para
posterior devolução aos alunos.

QUINTA ETAPA: CONTEXTUALIZAÇÕES

CONTEXTUALIZAÇÃO PRESENTIFICADORA
Duração: 2 aulas
Objetivo: Buscar a correspondência da obra com o presente da leitura.

Esse é um momento designado para ser abordada a atualidade da


obra: “O aluno é convidado a encontrar no seu mundo social elementos de
identidade com a obra lida, mostrando assim a atualidade do texto”
(COSSON, 2006, p.89). Para tanto, faz-se necessário analisar o conteúdo do
vídeo proposto e relacioná-lo com a obra lida, através de discussões e
socialização dos grupos.

Professor, para o desenvolvimento dessa etapa é necessário que apresente aos


alunos, os quais deverão estar divididos em cinco grupos, um vídeo (documentário
sobre os 5 anos após a maior chacina de São Paulo), com duração de 5 minutos e
pode ser encontrado no endereço: https://youtu.be/dfZda8g3vYY
72

- VÍDEO

https://youtu.be/dfZda8g3vYY

ATIVIDADE 11: Assistir ao vídeo e discutir oralmente sobre o exposto


Espera-se que nessa atividade os alunos, em grupos, sejam capazes de
argumentar e refletir criticamente sobre a violência que se faz tão presente no
contexto contemporâneo.

 ATIVIDADE 12: Pesquisa sobre acontecimentos recentes que


envolvam violência e mortes de jovens inocentes
Os alunos irão pesquisar por meio da Internet, notícias recentes em sites e
jornais locais ou regionais sobre situações de violência e morte envolvendo jovens
inocentes. Após a pesquisa, cada grupo desenvolverá um cartaz anexando a notícia
e elaborando frases que contemplem a valorização dos direitos humanos. Assim
sendo, ao término dessa atividade será formado um painel contendo todos os
cartazes confeccionados pelos grupos.
73

Professor,
Para o desenvolvimento da atividade 12, é necessário providenciar os materiais
com antecedência, tais como: cartolina, régua, cola, canetinha colorida, papel
craft, papeis coloridos, dentre outros.

CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA
Duração: 2 aulas
Objetivo: Refletir, por meio do exercício de uma produção textual de poesia, sobre
as fortes emoções e dificuldades vivenciadas pelo eu-lírico, através da ótica do
próprio leitor sendo o protagonista.

 ATIVIDADE 13: Produção de um poema


Produzir um poema, entre o primeiro “Kiko, Nando, Du e José” e o segundo
poema “Cena do Crime”, do capítulo três. Momento em que o eu-lírico/narrador
testemunha a morte de seus amigos e de sua amada Beatriz. Espera-se que nesta
atividade o aluno seja capaz de transmitir suas emoções e sentimentos adquiridos
enquanto leitor para uma mudança de papeis, pois agora ele será o próprio eu-lírico
e explicitará todas as suas indignações e revoltas por presenciar tamanha
crueldade. Importante destacar que deve contemplar também nessa produção a
influência que Beatriz exercia na vida do rapaz.

Professor, cabe ressaltar que, conforme COSSON (2006, p.91), “[...] é conveniente
que o professor tenha em mente que a contextualização é uma atividade destinada
a grupos de alunos e que o grupo do eu sozinho deve ser evitado, já que o objetivo
é levar um aprofundamento compartilhado de leitura”. Desse modo, os alunos
deverão estar em grupos para o desenvolvimento da atividade proposta. Após a
escrita e reescrita dos textos, esses deverão ser anexados em um painel e também
serem apresentados com uma leitura em voz alta para os demais alunos e grupos.

CONTEXTUALIZAÇÃO POÉTICA
Duração: 2 aulas
Objetivo: Observar a estruturação e organização da obra
74

Professor, é importante salientar que essa etapa busca compreender como a obra
está estruturada, quais os princípios de sua organização: “É a leitura da obra de
dentro para fora, do modo como foi constituída em termos de sua tessitura verbal”
(COSSON, 2006, p.88).

 ATIVIDADE 14: Análise dos elementos que constituem a obra


Solicitar que os alunos respondam às seguintes questões, por escrito:
01. Quem são os personagens apresentados na obra e como são
caracterizados?
02. Como podemos perceber a influência do espaço descrito na obra com
relação às chacinas?
03. Quais características podemos atribuir ao eu-lírico?
04. Como são divididos os capítulos?
05. Em relação à linguagem utilizada na obra, como podemos perceber os
aspectos ligados ao contexto policial, as gírias utilizadas , por exemplo?
06. Quais seus posicionamentos em relação aos textos apresentados no
Posfácio ao discutir sobre os direitos humanos e as práticas policiais?

SEGUNDA INTERPRETAÇÃO

Duração: 2 aulas
Objetivo: Identificar a leitura aprofundada da obra, sobretudo no âmbito do
relacionamento entre o protagonista e Beatriz.

Cosson (2006, p. 92) apresenta essa etapa como “[...] uma viagem guiada ao
mundo do texto, a exploração desse enfoque. Ela pode estar centrada sobre uma
personagem, um tema, um traço estilístico, uma correspondência com questões
contemporâneas, questões históricas, outra leitura, e assim por diante [...].”
O enfoque nesse momento é analisar a influência que a personagem Beatriz
exerce na jornada que o rapaz deve percorrer, além das questões que o atormentam
após presenciar sua trágica morte. Para tanto, o desenvolvimento dessa atividade se
dará por meio de produção de um ensaio individual.
75

ATIVIDADE 15: Ler o poema “Beatriz”, de Chico Buarque, e um


fragmento do Canto II, da obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri
O aluno fará leitura dos textos e verificará a possível temática amorosa
relacionada ao nome da personagem Beatriz.

BEATRIZ CANTO II
Olha
Será que ela é moça Depois da invocação às Musas, Dante,
Será que ela é triste considerando a sua fraqueza, duvida de
Será que é o contrário aventurar-se na viagem. Dizendo-lhe, porém,
Será que é pintura Virgílio, que era Beatriz quem o comandava, e
O rosto da atriz que havia quem se interessava pela sua
Se ela dança no sétimo céu salvação, determina-se segui-lo e entra com o
Se ela acredita que é outro país seu guia no difícil caminho.
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida [...]

Olha “Sou Beatriz, que envia-te ao que digo,


Será que é de louça De lugar venho a que voltar desejo:
Será que é de éter Amor conduz-me e faz-me instar contigo.”
Será que é loucura
Será que é cenário [...]
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel Fonte:
E se eu pudesse entrar na sua vida https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/4/o/divinacomedia.pdf

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida
Chico Buarque
Fonte: https://www.escritas.org/pt/t/5344/beatriz

 ATIVIDADE 16 – Produção de um ensaio individual


É necessário que o professor, após apresentar a proposta, explique as
características de um ensaio:
 É um gênero discursivo argumentativo e expositivo.
 Apresenta considerações de reflexão crítica e subjetiva.
 Pressupõe interpretação e análise sobre um determinado aspecto.
 Problematiza algumas questões sobre determinado tema ou assunto.
76

 Apresenta conclusões, expondo ideias e impressões pessoais.


 Realiza uma avaliação sobre determinado tema.

 ATIVIDADE 17 – Seminário para compartilhamento dos resultados


finais
Professor, após a escrita e reescrita dos textos, eles deverão ser apresentados em
um seminário para exposição aos demais alunos do Colégio e Professores,
através de slides e/ou cartazes.

ETAPA FINAL: EXPANSÃO

Duração: 1 aula
Objetivo: Destacar as possibilidades de diálogo com outras obras.

Apresentar aos alunos uma adaptação da obra A Divina Comédia, de Dante


Alighieri, um clássico da literatura mundial, que inspirou a obra O rapaz do metrô:
Poemas para jovens em oito chacinas ou capítulos, de Sérgio Capparelli.

 ATIVIDADE 18: Apresentação da adaptação da obra A Divina


Comédia, de Dante Alighieri.

A obra, composta em versos, é dividida em três partes: Inferno, Purgatório e


Paraíso. Cada uma delas possui exatamente 33 cantos. O protagonista (eu-lírico)
de A Divina Comédia percorre uma viagem entre o Inferno, o Purgatório e o
Paraíso. Beatriz, musa inspiradora, paixão platônica de Dante durante a
adolescência, teve uma morte repentina e exerce forte influência na narrativa. Na
história, Beatriz é símbolo do amor divino e responsável por guiar o poeta ao céu.
Nesse sentido, o professor, além de apresentá-la pode incentivar aos alunos
a buscarem a relação intertextual no texto lido: “O trabalho de expansão é
essencialmente comparativo. Trata-se de colocar as duas obras em contraste e
confronto a partir de seus pontos de ligação” (COSSON, 2006, p. 95).
77

ALIGHIERE, Dante, 1205 - 1321, A Divina Comédia/Dante Alighiere - adaptações em


português de Cecília Casas. SP - 2ª Edição - Editora Scipione. 1997 - Série Reencontro.
78

REFERÊNCIAS

ALIGHIERI, D. A Divina Comédia. EbooksBrasil. 1955. Disponível em:


https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/4/o/divinacomedia.pdf Acesso em 22 de Abril de
2021.

ALIGHIERE, D. 1205 - 1321, A Divina Comédia/Dante Alighiere - adaptações em


português de Cecília Casas. SP - 2ª Edição - Editora Scipione. 1997 - Série
Reencontro.

ALVES, J.E.P; BARBOSA, L. M. O. Leitura de poesia para jovens: A lírica do metrô


de Sérgio Capparelli. Interdisciplinar, São Cristovão, UFS, v.33, jan.-jun., p.30-47,
2020.

CAMILO, S. Poesia e violência: O rapaz do metrô, de Sérgio Capparelli. Dissertação


de Mestrado. Universidade Estadual de Maringá, 2019. Disponível em:
<http://www.ple.uem.br/defesas/pdf/scamilo.pdf > Acesso: 10 de Novembro de 2019.

CAPPARELLI, S. O rapaz do metrô: poemas para jovens em oito chacinas ou


capítulos. Rio de Janeiro: Galera, 2014.

GOMES, R.G. A recepção de ciberpoemas: experiências de navegação no site de


Sérgio Capparelli na escola. Dissertação de Mestrado. Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – Curitiba. 2017. Disponível em:
http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/2841 Acesso em: 15 de Novembro de
2019.

GONÇALVES.I.A. Leitura Literária nas séries finais do Ensino Fundamental: do


canônico ao contemporâneo. Dissertação de Mestrado, UENP, Cornélio Procópio.
2020.

COSSON, R. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.


79

MEIRELLES, J.B. Os Assassinatos da Rua Morgue: Uma tradução gamificada da


obra de Edgar Allan Poe. Darandina revista eletrônica – Programa de Pós
Graduação em Letras – Estudos Literários – UFJF. V.01.12-N.2. 2019. Disponível
em: https://www.ufjf.br/darandina/files/2019/11/Artigo-Juliana-Bellini-Meireles.pdf
Acesso em 22 de Abril de 2021.

PINHEIRO, Z.D. A vida é uma canção infantil: Um estudo mitocrítico do videoclipe de


“Canção Infantil” de César MC.Feat Crystal. Travessias Revista. V 14. N , 2020.
Disponível em http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/24187
Acesso em 15 de Abril de 2021.

POE, E.A. Os Crimes da Rua Morgue. Lelivros: e-book. Disponível em


https://www.ufmg.br/centrocultural/wp-content/uploads/2020/05/8-Os-Crimes-da-
Rua-Morgue-Edgar-Allan-Poe.pdf . Acesso em 22 de Abril de 2021.

SALLES, J. B. O poema narrativo na infância. In: AGUIAR, V; CECCANTINI, J.


Poesia infantil e juvenil brasileira: uma ciranda sem fim. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2012.

Você também pode gostar