Admin, Gerente Da Revista, 960-3431-1-CE
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RESUMO: Esse texto apresenta a análise da produção escrita de dois alunos brasiguaios bilíngües.
Busca-se destacar, em um dos textos, as marcas de bilingüismo português/espanhol e, no outro, marcas
do multilingüismo português/espanhol/alemão. A análise realizada revela a existência de conflitos lingüísticos
manifestados no registro dos processos psicológico e cognitivo dos falantes brasiguaios quando utilizam
seus códigos lingüísticos, misturando-os. Considerações teóricas sobre interferências/transferências e
inferências lingüísticas serviram de base para análise dos textos produzidos pelos alunos brasiguaios.
ABSTRACT: This research presents the analysis of writing product of two brasiguaios’ students
bilinguals. Show up, in one of these texts, the marks of Portuguese/Spanish bilingualism and, in the
other, marks of Portuguese/Spanish/German multilingualism. The analysis exposes the existence of
linguistics conflict manifest in the register of psychologist and cognitive process of brasiguaios speakers
when they use their linguistics codes, mixing. Theoretical considerations of linguistics interference/
transfer serve of base to analyze brasiguaios’ writing product.
PALAVRAS INTRODUTÓRIAS
1 Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (campus de Cascavel). Este estudo faz parte da
dissertação de mestrado intitulada “A (re)construção da identidade do aluno brasiguaio”, defendida em 2004, sob
orientação do professor Dr. Ciro Damke.
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momento da coleta de dados, os mesmos se encontravam em fase de
adaptação à realidade escolar brasileira e à aprendizagem da língua
portuguesa na modalidade escrita.
Embora a língua espanhola não se constitua em língua materna dos
alunos cujos textos apresentaremos, é a primeira língua de sua escolarização
e, portanto, a primeira referência em modalidade escrita que conhecem e
que servirá de apoio para a transferência de conhecimentos para a
aprendizagem da escrita da L2 (segunda língua) que corresponde à língua
portuguesa. Krashen (1981), ao tratar sobre a aquisição das línguas, afirma
que os aprendizes podem se basear na L1 (primeira língua) para iniciar sua
fala quando não conseguem fazê-lo em L2. Corder (1978), por sua vez,
postula que a L1 do aprendiz pode facilitar a aprendizagem da L2, ajudando-
o a progredir rapidamente pelo percurso universal no caso de existirem
semelhanças entre L1 e L2.
Por serem o português e o espanhol línguas românicas muito
próximas, a transferência de conhecimentos de uma para outra pode chegar
idealmente a mais de 90% (PESSINI, 2003, p. 76). Tal semelhança justifica
empréstimos, interferências ou transferências da língua espanhola para a
língua portuguesa no momento em que os alunos brasiguaios passam a
adquirir o código português escrito, principalmente nos períodos iniciais
dessa aquisição que corresponde aos momentos de adaptação à escola
brasileira. Portanto, nas produções escritas aqui apresentadas para análise,
pode-se notar marcas de bilingüismo português/espanhol no texto
produzido por um aluno bilíngüe em português e espanhol, e de bilingüismo
português/espanhol/alemão no texto de uma aluna falante de português,
espanhol e alemão, o que revela conflitos lingüísticos manifestados no
registro dos processos psicológico e cognitivo dos falantes brasiguaios
quando utilizam esses códigos, misturando-os.
Assim, apresenta-se, nesse texto, num primeiro momento, a
contribuição dos estudos da sociolingüística e etnografia escolar para
pesquisas sobre variantes lingüísticas. A seguir, apresentam-se as
considerações teóricas sobre interferências/transferências e inferências
lingüísticas que servirão de base para análise dos textos produzidos pelos
alunos brasiguaios.
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característica individual que pode ocorrer em graus variáveis, desde uma
competência mínima até um domínio complexo de mais de uma língua”,
relativiza o conceito de bilingüismo ao considerar que este envolve questões
de grau, função, alternância e interferência. É sob essa perspectiva que se
estuda o bilingüismo situacional.
Segundo Borstel 2 (2003) em estudos sociolingüísticos pode-se
compreender, além da variação regional, social, estilística e pragmática que
se manifesta no interior de um mesmo sistema lingüístico em comunidades
de línguas em contato, a etnografia da comunicação de fenômenos de
variação bidialetal (Bortoni-Ricardo, 1993) e bilíngues (Cavalcanti, 1999)
em contextos de interação lingüística em sala de aula.
De acordo com Erickson (1987), a escola deve estar atenta às
diferenças da cultura lingüística dos alunos e encontrar formas alternativas
e efetivas de conscientizá-los sobre as diferenças. O autor (2001) reforça
que as pesquisas etnográficas e microetnográficas auxiliam na descoberta
da natureza interacional dos ambientes da aprendizagem num nível de
especificidade analítica que pode sugerir maneiras de mudar e melhorar as
práticas pedagógicas a fim de compreendê-las e descrevê-las como aparecem
no momento.
Os cenários em sala de aula em contextos bilíngües mostram que as
questões lingüísticas e sociolingüísticas confrontam-se e conflitam-se com
a “visão monolíngüe” adotada pelo país. Porém, sob uma visão sócio-
pragmática e sociolingüística, todas as línguas são suficientemente “boas”
desde que sirvam aos propósitos comunicativos de seus usuários. Portanto,
deve-se respeitar e preservar o uso da língua materna das minorias étnicas
como meio de manutenção da dignidade e do respeito próprio do indivíduo
sem deixar, no entanto, de promover o ensino da língua da maioria da
população como é desenvolvida a prática pedagógica em estudos de educação
bilíngüe em que as crianças vão entender o processo cognitivo do sistema
de uma segunda língua se adquirirem este processo primeiramente em
sua língua materna.
Embora o espanhol não se constitua em língua materna dos sujeitos
brasiguaios focalizados neste estudo, trata-se da primeira língua de sua
escolarização e, portanto, a sua primeira referência enquanto língua escrita.
Com base nesses pressupostos pretende-se, pois, investigar como ocorre
o letramento da linguagem escrita em língua portuguesa por adolescentes
brasiguaios que conforme explicitado nas palavras introdutórias, possuem
sua escrita caracterizada por transferências orais e estratégias de registro
ortográfico como resultado de suas inferências sobre a língua portuguesa.
Para tal propósito, entretanto, algumas especificidades
sociolingüísticas precisam ser levadas em consideração: a situação lingüística
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dos alunos brasiguaios que estudam nas escolas brasileiras é heterogênea;
sua língua materna geralmente é o português ou outra língua estrangeira,
tal como o alemão ou o italiano, entre outras; a modalidade oral de língua
portuguesa usada pelos alunos brasiguaios não corresponde à variedade
lingüística contemplada pela instituição escolar. A variação lingüística implica
na ocorrência de uma situação dialetal, muitas vezes, invisibilizada, em
sala de aula.
É possível notar tanto em eventos orais como em eventos escritos,
textos produzidos por alunos brasiguaios com fortes manifestações da
variedade rurbana. Segundo Bortoni-Ricardo (1984:10), a variedade
“rurbana” conserva traços dos dialetos rurais, principalmente no que
concerne à simplificação do sistema flexional da língua portuguesa. Na fala
desses alunos podem ser encontrados, além de traços graduais que
caracterizam o repertório de praticamente todos os brasileiros dependendo
apenas do grau de formalidade que conferem à sua fala, também traços de
estratificação “descontínua” e que caracterizam, por sua vez, o “repertório
lingüístico dos grupos mais isolados”, cujas raízes são rurais e, por isso,
fortemente estigmatizados. Entre alguns exemplos podem ser citados: “nóis
vai”, “nóis fumu”, “muié”, “fiiú (filho)”. No excerto abaixo que corresponde
a um evento de letramento oral ocorrido com um aluno brasiguaio3 , pode-
se presenciar a ocorrência de interferência fonológica da língua espanhola
sobre a língua portuguesa através da palavra “tebe”, bem como a ocorrência
das palavras “crebou” e “percisava” que se caracterizam como traços
descontínuos da língua portuguesa:
3 Por uma questão ética, adotamos um pseudônimo para o aluno brasiguaio envolvido no evento comunicativo.
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O FENÔMENO DAS TRANSFERÊNCIAS FONOLÓGICAS
DE L1 PARA L2
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uma unidade sócio-cultural do discurso-língua. Ela é dinâmica e dotada de
tudo o que é próprio da cultura e das significações cognitivas e psicológicas
do indivíduo. O indivíduo não pode, dessa forma, simplesmente despir-
se de toda cultura adquirida até então, de sua identidade ou de todas as
influências lingüísticas que têm recebido. Nesse sentido, a língua escrita é
marcada pelos gêneros do discurso, ou seja, pelos gêneros secundários
(institucionalizados) e pelos gêneros primários (linguagem familiar,
cotidiana, dentre outras). Os discursos, enquanto textos escritos, não
surgem in vácuo, mas são produzidos e lidos pelos usuários em situações
específicas, nas quais eles constroem uma representação não só do texto
pelos elementos lingüísticos, mas também de um contexto pragmático-
social da produção escrita.
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falada em questão não é atuante em nenhum contexto comunicativo, a não
ser em alguns momentos durante as interações familiares desses indivíduos.
Mesmo que estes traços de transferências do oral para o escrito estejam
presentes, não podem ser vistos como intrínsecos ao texto enquanto
artefato lingüístico, isto é, como uma evidência possível de ser identificada
por qualquer leitor em qualquer situação, mas como um efeito que se
verifica, ou não, na leitura, em função do conjunto das práticas de
letramento em que se dá a interlocução mediada pela escrita.
A base empírica desta discussão é constituída de textos escritos,
produzidos por alunos brasiguaios de sétima série do ensino fundamental
em suas tentativas de comunicação de escrita institucionalizada.
A sua própria escrita é percebida e não é desvinculada de uma situação
real de comunicação social e, portanto, de uso de uma prática sócio-
discursiva e cognitiva específica. Os textos que vão nortear esta reflexão
foram produzidos em sala de aula, como resposta a uma atividade proposta
pela professora de Língua Portuguesa.
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pegou no tapa ai a guera estava declarada entanto a profesora entrou e viu
nos duas brigando entan no lebou a direçãon la rolou o maior baraca com
o diretor nos hicemos as pases o diretor falou um monte de barbaridades
y nos féis dar as mons ela non estava a fin demorou um tempo i ela
concordou en fazer as pases o diretor falou que ia jamar nosos pais ela
ficou com medo porque o pai dela era munto bravo entan eu falei que non
era presiso a jente ia voltar a amisade y foi asin eu debolvei as minhas
coisas para ela y, ela para min. E boltei a ser amiga na cuarta série. Na Esc:
Nº5.466 la eu entra na escola con muitos companheiros y amigo é glaro
que todos que estaban nas escolas eran meus amigos eu conhesi un pia o
Adilson ele nãon era meu namorado ele ia na 6 série todos os visinhos ian
na quela escola e o Adilson ele y a erman dele sofreron muito porque os
pais deles morerãn ficaran sosinhos más o Adilson era maior de idade ele
tinha 19, anos ele ficou responsabel por tudo os pais ele eran munto ven
de vida tinha muita tera eles 2 ficaran erderos de tudo que os pais posuian
os pais moreran porque um caminhon bateu na trasera do caro dos 2 onde
eles cairon fora numa curba que tinha um moro muito fundo para baijo i o
asidente aconteseu porque eles nõn tinhãn sinto de segurança. A mulher
moreu ja cuando estava no hospital tebe uma parada cardíaca eu nõn quis ir
no intero dos pais do Adilson i da Ana Paula que tinha 6 anos. I cuase no
fim do ano o profesor que au mesmo tempo tamben era diretor sempre
falaba para mim que eu ia tirar o premio de melhor aluna más ele me
subornou eu tinha as melhores notas no Bolitin o pai de uma aluna deu
dinheiro para o diretor para que a sua filha tirase o premio eu fiquei jocada
com oque aconteseu, eu ajo que fiquei doente pelo joque, de do dia nunca
mais fui para cara do profesor. Bem eu pasei a cuarta série.
[...]
No ano de 2002 tinha um profesor muinto bom – sinho por primera
vês eu tirei o premio de melhor aluna da sala de aula eu me esforsei de
mais entan de tanto estudar eu fiquei com um tumor na cabesa y con
comeso de menegite meus pais me troseron a qui no hospital daí uma
vensedera que me curou la da farmasia Conseisãon de Itaipulândia, eu
fiquei doente vem no dia do aniversario do meu erman minha main me
trose para ca, no dia 20 de maio foi isso i as aulas comesaron no dia 15 de
feberero, deis do dia 20 ate agora tenho que fazer cada meis uma reconsulta
y tomografia eu sofri muito e consegui superar, au longo do ano eu ainda
sai melhor aluna consegi superar o inposibel poriso de tanto minha main
se preicupar com migo ela esta nesse estado com o problema de corazon.
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pegava os pintio e matava e ponhava nua bousinha y a la aonde que o meu
pai tava i falava pai que me compra esses pintinho. dai o pai pegava uma
sinta e me batia la nos tinha un cavalo y eu gostava de andar no cavalo eu
amuntei y dai eu amuntei y fui pa da uma voltinha mas cuando eu tava
saindo ele pulo ime derubo y me machuquie.
O que eu gosto de facer na mia vida eu gosto de estudar y jogar
futbol e comversar sobe as coisas das escola. de antes eu gostava de brigar
com os colegas de aula y agora que eu to mais grande eu não brigo mais.
la no Paraguai nos tinha uma cacha y daí nos tinha de tudo que era
animal y daí no imverno era rui de levanta sedo pra i trata dos animal i daí
eu não queria levantar sedo y dai o meu pai pegava una sinta ia la na mia
cama y ele falava vai levanta o vai apanha.
O meu hermão crebou a perna fais 2 años atras.
- Troca da consoante oclusiva velar vozeada por desvozeada [g] > [k]
na palavra “glaro”;
- Uso da vibrante simples em contextos da vibrante múltipla, tais
como nos vocábulos: “baraca”, “guera”;
- Troca da fricativa alveopalatal desvozeada pela vozeada [ ∫] > [ ],
ocorrendo, dessa maneira, a substituição das letras “x” e “ch” pela
letra “j” em vocábulos como: “baijo”, “jocada”, “ajo”, “joque”,
“jamavan”;
- Troca da fricativa labiodental vozeada [v] pela oclusiva bilabial
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vozeada [b] nos vocábulos como: “berdade”, “imaginaba”, “pensaba”,
“lebou”, “feberero”. Esse fato pode ser explicado pelo fato de que a
oclusiva bilabial vozeada [b] é a pronúncia do que se escreve em
espanhol com as letras “v” e “b”. Embora em espanhol não haja uma
diferença na pronúncia, na escrita não se pode trocar uma letra pela
outra.
- Registro de palavras conforme a pronúncia que resulta em trocas de
vogais: “i” ao invés de “e”, e/ou omissão das mesmas. Exemplo: “sere”;
- Substituição da nasal ortográfica “-ão” por “-on”: “non”, “mons”;
- Uso da variedade não-padrão de língua portuguesa para a escrita:
“deis”, ao invés de “desde”.
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- Uso da velar oclusiva surda [k] representada pela letra “c” quando
seguida de “u”, nos casos em que o fonema [k] deveria ser grafado por
“q” seguido de “u”, nas palavras de língua portuguesa. Exemplos:
“cuando”, “cuarta”, “cuase”;
- Uso da letra “z” que, em espanhol, representa a fricativa alveolar
surda [s] no lugar do que ocorreria, em língua portuguesa, o uso de
“ç”: “licenza”, “corazon”;
- Juntura: embora seja um fato também muito freqüente entre os
alunos brasileiros alfabetizados em português, o bilingüismo parece
contribuir para acentuar sua reincidência e mantê-la, na escrita, por
um período mais longo de escolaridade: “oque” ao invés de “o que”,
“ia Irma” ao invés de “e a Irma”;
- Separação indevida: em oposição à juntura, aparecem as separações
indevidas, marcando uma flutuação da regra ortográfica - “com migo”
ao invés de “comigo”, “bom sinho” ao invés de “bonzinho”;
- Interferência lexical do vocábulo espanhol “hacer” como hipótese
para o registro da correspondente em português “fazer”: “hicemos”.
- Interferência lexical de língua espanhola na palavra “debolvei”
para representar “devolvi”. O morfema modo-temporal de muitos
verbos de primeira pessoa do singular no tempo passado do indicativo
possui a desinência –ei, como por exemplo, “comesei” em verbos da
primeira conjugação, cujo infinitivo, portanto, é terminado em –ar.
O verbo “devolver”, no entanto, pertence à segunda conjugação. Tal
erro justifica-se como conflito lingüístico vivenciado pela garota no
momento do registro da palavra “debolvei”.
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representar a fricativa vozeada alveolar [z] pela letra “s” (tal como na
palavra “mesa”), são comuns hipóteses lançadas pela aluna quanto ao
uso dessa letra no lugar do que seria correto o uso da letra “z”:
“amisade” ao invés de “amizade”; “pase” ao invés de “pazes”;
- Omissão da letra “u” precedida do fonema [g] e seguido do [e] ou [i]:
“algen”, “consegi”. A construção dessa hipótese se fundamenta no
não reconhecimento do grupo “gu” para representar o fonema [g]
neste contexto. Segundo Santos (1999) o grupo “gu” pertence a um
grupo problemático porque esta forma gráfica tem valores fonológicos:
[gu] em apazigúe, [gw] como em água e [g] como em guerra.
- Troca da letra “g” por “j”, uma vez que ambas podem representar,
ortograficamente, a fricativa vozeada palato-alveolar [ ]: “bobajens”,
“jente”, “jinasio”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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respeitadas e valorizadas, além de sua língua materna, sua herança cultural
e lingüística. Ao lado do respeito atribuído à variedade lingüística do
indivíduo, a escola deve promover o ensino da língua da maioria da
população conforme propõe a prática pedagógica.
No trabalho com a escrita, considera-se importante trabalhar com
os fenômenos das variedades lingüísticas, com as diferenças lingüísticas
em relação à norma a fim de alcançar práticas de ensino que possam
solucionar as dificuldades existentes nas produções escritas e orais.
Concorda-se com Borstel (2002) quando afirma que os alunos vão entender
o processo cognitivo do sistema de uma segunda língua se adquirirem
primeiro este processo em sua língua materna. No caso específico dos
alunos brasiguaios, este entendimento deve partir de sua primeira língua
de escolarização, ou seja, o espanhol, de modo que o fenômeno das
mudanças fônicas, por exemplo, possam ser explicadas como alteração de
fenômenos articulatórios ou de percepção. Para que isso de fato ocorra, as
variedades lingüísticas dos alunos devem ser acolhidas e respeitadas pela
escola, ou no dizer de Bagno (2001, p. 157) “a escola deve dar espaço ao
máximo possível de manifestações lingüísticas, concretizadas no maior
número possível de gêneros textuais e de variedades da língua”.
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