Literatura_e_Interpretação_Textual

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Literatura e Interpretação Textual

Prof. José Fontinelle

Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro


Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,


Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos Mulatos desavergonhados,


Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,


Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

MATOS, Gregório de. In: BARBOSA, F. (org.) Clássicos da Poesia Brasileira. RJ: Klick Editora, 1998.

1. A crítica à incapacidade dos portugueses de governar o Brasil e a consequente pobreza do


povo são temas presentes nesse poema barroco de Gregório de Matos e representam uma
característica retomada, mais tarde, pelo Romantismo.
Essa característica é
a) o sentimento nativista.
b) a preferência pelo soneto.
c) a denúncia da escravidão.
d) a tendência regionalista.
e) a volta ao passado histórico.

2. "Nasce o sol, e não dura mais que um dia,


Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria."

Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos, a principal característica do Barroco é:


a) a forte presença de antíteses.
b) o culto do amor cortês.
c) o uso de aliterações.
d) o culto da natureza.
e) a utilização de rimas alternadas.
Texto extraído de Formação da Literatura Brasileira, de Antônio Candido.

No Brasil, o homem de estudo, de ambição e de sala, que provavelmente era, encontrou


condições inteiramente novas. Ficou talvez mais disponível, e o amor por Dorotéia de Seixas o
iniciou em ordem nova de sentimentos: o clássico florescimento da primavera no outono.
Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia idade com a
menina de dezessete anos. O quarentão é o amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o
adolescente só vê o embaraçoso cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em relação
à moça em flor, um encantamento que mais se apura pela fuga do tempo e a previsão da
morte:
Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.

3. Nos versos apresentados por Antonio Candido, fica evidente que o eu lírico:
a) Reconhece a amada como única forma de não sofrer pela morte.
b) Se mostra frustrado e angustiado pela possibilidade de morrer.
c) Considera o presente desagradável, tanto quanto a morte iminente.
d) Se entrega ao amor da amada para burlar o tempo e atrasar a morte.
e) Convida a amada a aproveitar o presente, já que a morte é inevitável.

4. Leia:
Eu quero uma casa no campo
onde eu possa ficar do tamanho da paz
e tenha somente a certeza
dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras pastando


solenes no meu jardim
(Tavito e Zé Rodrix)

O fragmento anterior, extraído de uma canção popular, aborda um tema muito comum à
poesia de certa época literária no Brasil. Após identificá-la, marque a opção não condizente
com o período da Literatura a que a letra nos remete:
a) Ao campo me recolho e reconheço
Que não há maior bem que a soledade.
b) Mas morreste sem lutas, sem protestos,
Sem um grito sequer!
Como a ovelha no altar, como a criança
No ventre da mulher!
c) Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs de que me visto.
d) Sou pastor, não te nego; os meus montados
São esses que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados.
e) Aquele pastor amante,
Que nas úmidas ribeiras
Desse cristalino rio
Guiava as brancas ovelhas
5. A CRUZ DA ESTRADA

Caminheiro que passas pela estrada,


Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.

É de um escravo humilde sepultura,


Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Dentre os braços da cruz, a parasita,


Num abraço de flores se prendeu.
Chora orvalhos a grama, que palpita;
Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Caminheiro! Do escravo desgraçado


O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
(ALVES, Castro. (1883) In: LAJOLO, Marisa & CAMPEDELLI, Samira (org.) "Literatura
comentada". 2a ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 89-90.)

Nesse fragmento do poema "A cruz da estrada", observa-se um traço marcante da poesia
romântica, que é
a) o egocentrismo exacerbado revelador das emoções do eu.
b) o nacionalismo expresso na origem histórica do nosso povo.
c) o envolvimento subjetivo dos elementos da natureza.
d) a evasão do eu para espaços distantes e exóticos.
e) a idealização da infância como uma época perfeita.

6. CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar
os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz "tuim" na cabeça da gente. Tem também
muros de bloco (sem pintura, claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde
pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na
minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora
marcada. Elas não são mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é camburões, que vêm
fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição.
BONASSI, Fernando. "15 cenas de descobrimento de Brasis". In: MORICONI,
Ítalo (org). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio Janeiro: Objetiva, 2000.

Sobre o uso do nível de linguagem empregado no texto, é correto afirmar que é :


a) inaceitável, por se tratar de um texto literário, cujo nível de linguagem exigido é o culto.
b) adequado às intenções de crítica e denúncia do mundo contemporâneo.
c) inadequado para abordar o tema romântico do exílio de uma perspectiva crítica e
contemporânea.
d) aceitável por se tratar de texto literário, mas inadequado à intenção jornalística do autor.
e) inadequado porque os escritores brasileiros contemporâneos não falam nem escrevem
dessa maneira.

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