Versão Final_Dissertação_Marcia Fumiku Itokazu

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER

MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E NOVAS


TECNOLOGIAS

MARCIA FUMIKU ITOKAZU

ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM QUALI-QUANTITATIVA EM


DISSERTAÇÕES DE MESTRADOS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO

CURITIBA
2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER
MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

MARCIA FUMIKU ITOKAZU

ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM QUALI-QUANTITATIVA EM DISSERTAÇÕES


DE MESTRADOS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO

CURITIBA
2023
MARCIA FUMIKU ITOKAZU

ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM QUALI-QUANTITATIVA EM DISSERTAÇÕES


DE MESTRADOS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação – Mestrado Profissional em
Educação e Novas Tecnologias, como parte dos
requisitos necessários para obtenção do grau de
Mestre em Educação e Novas Tecnologias.

Área de Concentração: Educação

Orientador: Prof. Dr. Luciano Frontino de


Medeiros

CURITIBA
2023
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de realização dessa etapa,


muito importante para mim, por me manter firme nas diversidades, com saúde e
confiança.
Agradeço imensamente ao meu orientador, Prof. Dr. Luciano Frontino de
Medeiros, que com sua paciência soube me acalmar nos momentos de aflição, me
conduzindo sabiamente durante todo o processo.
Agradeço também a Profa. Dr. Joana Paulin Romanowski, e Profa. Dr. Iara
Carnevale de Almeida, que com prontidão aceitaram participar dessa banca, e
generosamente fizeram contribuições valiosas para este trabalho.
Agradeço aos meus familiares e amigos que estiveram comigo durante todo o
processo, e que de alguma forma fizeram suas contribuições.
Meu muito obrigada a todos!!
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo classificar pesquisas de abordagem mista em


dissertações de mestrados profissionais com concentração em educação e
tecnologia, considerando-se os critérios metodológicos: natureza, objetivo,
procedimentos, instrumentos, resultados e análise dos dados. A fundamentação
teórica reside principalmente em Gil (2022), Moreira e Caleffe (2008), Mattar e Ramos
(2021), Creswell e Creswell (2021) e Sampieri, Collado e Lucio (2013). A pesquisa é
de natureza aplicada, exploratória e descritiva quanto aos seus objetivos, de
abordagem mista, cujo desenho pode ser classificado em sequencial explanatória.
Consiste em última instância numa revisão sistemática focalizando a metodologia de
pesquisa das dissertações em programas de mestrados profissionais. A coleta de
dados quantitativos se deu entre janeiro a março de 2022, em 13 instituições
brasileiras. No geral, foram identificadas 667 dissertações nos bancos de dissertações
destas instituições, sendo que apenas 136 (20,4%) dissertações eram caracterizadas
como abordagem mista. A etapa qualitativa consistiu em demonstrar os atributos e
conceitos dos critérios pesquisados nas dissertações na fase quantitativa. Quanto aos
resultados obtidos na classificação das pesquisas, 79 (58,1%) dissertações de
abordagem mista não mencionaram a natureza da pesquisa; quanto aos objetivos; 63
(46,3%) dissertações não descreveram qual a finalidade da pesquisa; 86 (63,2%)
apresentaram a abordagem no resumo; 69 (50,7%) utilizaram pelo menos a pesquisa
bibliográfica, no que tange aos procedimentos; 108 (79,4%) fizeram uso do
questionário como instrumento de pesquisa; 89 (65,4%) utilizaram uso de texto e
gráfico, quanto a apresentação dos resultados; 73 (53,7%) fizeram uso da análise de
conteúdo, quanto a análise dos resultados; e somente 22 (16,2%) das dissertações
mencionaram todos os sete critérios anteriores. A partir destes resultados, pode-se
concluir, preliminarmente, que as descrições dos procedimentos metodológicos no
resumo, relativo ao recorte de dissertações aqui consideradas, careceram de uma
uniformidade mínima. Esta falta de uma caracterização adequada da metodologia nos
resumos permite levantar alguns questionamentos, dentre eles se tal problema é
exclusivo do contexto dos mestrados profissionais aqui abordado.

Palavras-chave: Metodologia; Pesquisa Científica; Abordagem; Métodos Mistos;


Pesquisa em Educação.
ABSTRACT

This work aims to classify mixed-approach research in professional master's


dissertations with a concentration in education and technology, considering the
methodological criteria: nature, objective, procedures, instruments, results and data
analysis. The theoretical foundation lies mainly in Gil (2022), Moreira and Caleffe
(2008), Mattar and Ramos (2021), Creswell and Creswell (2021) and Sampieri,
Collado and Lucio (2013). The research is applied, exploratory and descriptive in terms
of its objectives, with a mixed approach, whose design can be classified as sequential
explanatory. Ultimately, it consists of a systematic review focusing on the research
methodology of dissertations in professional master's programs. Quantitative data
collection took place between January and March 2022, in 13 Brazilian institutions. In
general, 667 dissertations were identified in the dissertation banks of these institutions,
and only 136 (20.4%) dissertations were characterized as having a mixed approach.
The qualitative stage consisted of demonstrating the attributes and concepts of the
criteria researched in the dissertations in the quantitative phase. As for the results
obtained in the classification of research, 79 (58.1%) dissertations with a mixed
approach did not mention the nature of the research; regarding the objectives; 63
(46.3%) dissertations did not describe the purpose of the research; 86 (63.2%)
presented the approach in the abstract; 69 (50.7%) used at least bibliographical
research, regarding procedures; 108 (79.4%) used the questionnaire as a research
instrument; 89 (65.4%) used text and graphics for the presentation of results; 73
(53.7%) made use of content analysis, regarding the analysis of results; and only 22
(16.2%) of the dissertations mentioned all seven previous criteria. From these results,
it can be, preliminarily, concluded that the descriptions of the methodological
procedures in the abstract, relative to the cut of dissertations considered here, lacked
a minimum uniformity. This lack of an adequate characterization of the methodology in
the abstracts allows raising some questions, among them whether this problem is
exclusive to the context of professional master's degrees discussed here.

Keywords: Methodology; Scientific research; Approach; Mixed Methods; Research in


Education.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

1.1Predominância da Abordagem Qualitativa na Educação no Brasil ................... 18

1.2 Problema da Pesquisa ..................................................................................... 20

1.3 Hipóteses ......................................................................................................... 20

1.4 Objetivos .......................................................................................................... 20

1.4.1 Objetivo Geral 20

1.4.2 Objetivos específicos 21

1.5 Justificativa ...................................................................................................... 21

1.6 Organização da Dissertação ............................................................................ 22

2 A PESQUISA CIENTÍFICA E AS SUAS METODOLOGIAS ................................... 22

2.1 A Pesquisa Científica ....................................................................................... 22

2.2 Metodologia Da Pesquisa Científica ................................................................ 23

2.3 Alguns Critérios Utilizados na Pesquisa Científica ........................................... 25

2.3.1 Quanto à natureza 26

2.3.2 Quanto aos objetivos 27

2.3.3 Quanto à abordagem 29

2.3.4 Abordagem Mista ou Quali-quanti 32

2.3.6 Instrumentos utilizados na coleta de dados da pesquisa mista 71

2.3.7 Análise, interpretação e apresentação dos dados na pesquisa mista 77

3 O CAMINHO METODOLÓGICO PERCORRIDO ................................................... 88

3.1 Caracterização da Pesquisa ............................................................................ 88

3.1.1 A natureza da pesquisa 88

3.1.2 Os objetivos da pesquisa 89

3.1.3 A abordagem da pesquisa 89

3.2 O objeto de estudo ........................................................................................... 90

3.3 Instrumentos para a coleta de dados ............................................................... 91


3.4 Coleta de Dados .............................................................................................. 91

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................. 96

5 PRODUTO ........................................................................................................... 107

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 111

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 113


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quatro níveis de desenvolvimento para uma pesquisa .............................. 41


Figura 2: Tipos de dados na pesquisa e as análises apropriadas ............................. 73
LISTA DE TABELAS
Tabela 1:Elementos e implicações das visões de mundo ......................................... 42
Tabela 2: Razões para a escolha de métodos mistos ............................................... 47
Tabela 3: Principais características dos tipos de métodos mistos ............................. 54
Tabela 4: Procedimentos básicos para o uso de um projeto convergente ................ 57
Tabela 5: Pontos fortes e desafios dos projetos convergentes ................................. 58
Tabela 6: Procedimentos básicos para o uso de projetos explanatórios ................... 59
Tabela 7: Pontos fortes e desafios do método explanatório ...................................... 60
Tabela 8: Procedimentos básicos para o uso de projetos exploratórios ................... 61
Tabela 9: Pontos fortes e desafios do método exploratório ...................................... 62
Tabela 10: Exemplo de procedimentos básicos em um projeto incorporado ............ 64
Tabela 11 pontos fortes e desafios do projeto incorporado ....................................... 65
Tabela 12: Procedimentos básicos para o uso de projetos transformativo ............... 67
Tabela 13: Pontos forte e fracos do projeto transformativo ....................................... 68
Tabela 14: Procedimentos do multimétodos ............................................................. 69
Tabela 15: Pontos fortes e desafios dos projetos multifásicos .................................. 70
Tabela 16: Tipos de projetos, decisões e recomendações dos métodos mistos para a
coleta de dados ......................................................................................................... 74
Tabela 17: Procedimentos de análise de dados quantitativos e qualitativos
recomendados para o planejamento de estudos de métodos mistos........................ 82
Tabela 18: Passos e decisões na análise dos dados dos métodos mistos ............... 83
Tabela 19: Instituições por região, estados e cidades............................................... 90
Tabela 20: Formulário utilizada para a coleta dos dados quantitativos ..................... 94
Tabela 21: abordagem mistas nas instituições brasileiras pesquisadas ................... 96
Tabela 22: Abordagem mista com as instituições agrupadas por regiões ................ 97
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Tipos de abordagens encontradas nas dissertações visitadas ................. 92


Gráfico 2: Quanto a natureza .................................................................................... 98
Gráfico 3: Quanto aos objetivos ................................................................................ 99
Gráfico 4: A abordagem metodológica no resumo .................................................. 100
Gráfico 5: Quanto aos procedimentos ..................................................................... 101
Gráfico 6: Instrumentos utilizados na coleta dos dados .......................................... 102
Gráfico 7: Apresentação dos resultados ................................................................. 104
Gráfico 8: Quanto a análise dos resultados ............................................................ 105
Gráfico 9: Lacunas encontradas.............................................................................. 106
15

1 INTRODUÇÃO

A humanidade ao longo de sua história vem apresentando constantes


evoluções, as necessidades foram as principais causas das mudanças ocorridas no
decorrer dos tempos e é, por meio da pesquisa que se alcança os requisitos
necessários para que as transformações aconteçam de forma que, sejam relevantes
para a sociedade. É através da pesquisa que os avanços acontecem nas diversas
áreas do conhecimento, como na medicina, tecnologia, educação e os resultados das
pesquisas geram impactos nas melhorias nos bens de consumo e serviços. O vírus
SARS-CoV-2 é o exemplo mais recente que podemos citar, pois no dia 22/04/2022 foi
publicado no Diário Oficial da União, a portaria GM/MS nº 913, “Declara o
encerramento da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) em
decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus (2019-nCoV) e revoga a
Portaria GM/MS nº 188, de 3 de fevereiro de 2020”. No Paraná o decreto nº
10.596/2022 de 29/03/2022, tira a obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares
fechados. Para que essas decisões fossem tomadas, houve o trabalho árduo de
cientistas, que utilizando a ciência com os seus métodos e tecnologia disponíveis
chegaram aos imunizantes, pois sem as vacinas não seria possível hoje retornarmos
a nossa vida em sociedade, quase que sem restrições.
Na educação não pode ser diferente, as mudanças que até aqui ocorreram
foram objeto de estudo, cujo resultados dão suporte e requisitos para que as
transformações aconteçam de maneira mais adequada e eficiente, como diz
Guimarães e Foguel (2019) em um texto publicado na Folha de São Paulo, “Os
conhecimentos gerados nos laboratórios de pesquisas chegam mais cedo ou mais
tarde aos livros didáticos e às salas de aula”, ou seja, a pesquisa produz conteúdos
que influenciam o que hoje é ensinado nas escolas, os autores ainda complementam
que a forma como aprendemos ou somos ensinados é influenciado pelas ciências, e
a compreensão de como se dá o processo ensino aprendizagem e de como melhorá-
lo não é simples, essa compreensão deve ter vários olhares, ter abordagens e
metodologias de pesquisa. Essas pesquisadoras fazem parte da Rede Nacional de
Ciência para Educação, cujo intuito é reunir pesquisadores das diversas áreas
educacionais e difundir as pesquisas para que estas provoquem mudanças nas
16

políticas públicas e também estimulem pesquisas científicas que provoquem impacto


na sala de aula.
Segundo Moreira e Caleffe (2008) a pesquisa é sistemática, crítica, autocrítica
e deve objetivar o avanço do conhecimento, sistemática porque deve seguir uma
teoria, crítica porque esses dados coletados devem ser analisados de maneira
minuciosa pelo pesquisador, autocrítica porque considera-se que o pesquisar faça
uma análise sobre o caminho a seguir na pesquisa, analisando assim o seu próprio
método de pesquisa e o último requisito, a pesquisa deve trazer o avanço do
conhecimento, ou seja, trazer novos conhecimentos ou aperfeiçoar os já existentes,
que contribuam para a melhoria da educação.
O presente trabalho pretende fazer a classificação das dissertações de
mestrados profissionais, com área de concentração em educação e tecnologias em
instituições brasileiras, que fazem uso da abordagem mista de pesquisa em suas
metodologias, além do estudo quantitativo, fazer considerações de como essas
dissertações apresentam suas metodologias de pesquisa, considerando alguns
critérios metodológicos, citados por autores como Moreira e Caleffe (2008), Gil (2022)
e Mattar e Ramos (2021), pois não tem como falar em abordagem da pesquisa sem
considerar a metodologia utilizada, bem como trazer conceitos a respeito da
abordagem quali-quantitativa, também chamada de abordagem mista.
Em pesquisa realizada por Santos, Santos e Lima (2021), que analisaram 115
dissertações do triênio 2017, 2018 e 2019 oriundas de um programa de mestrado em
educação de uma instituição brasileira, nesta 90% eram pesquisa qualitativa e apenas
10% utilizaram a abordagem mista. Ambos os autores relataram, terem tido em suas
pesquisas, dificuldades em identificar o tipo de abordagem utilizada lendo apenas o
resumo e que na maioria das vezes, foi necessário a leitura de todo o material,
também disseram ter encontrado deslizes quanto a abordagem utilizada, mostrando
falta de conhecimento sobre os tipos de abordagens utilizadas, talvez por esse motivo
a preocupação em trazer nos trabalhos realizados sobre o tema, a importância da
pesquisa científica na área da Educação, e a caracterização das abordagens
utilizadas nas pesquisas científicas.
No Brasil ainda caminhamos devagar no que se refere ao uso da abordagem
mista em pesquisas na área educacional. Em dissertações na área da Educação,
percebe-se que estudos com abordagem qualitativa são muito superiores à
abordagem mista. Em pesquisa realizada por Oliveira, Moreira e Silva (2019) em
17

dissertações de Mestrado defendidas entre 2013 e 2018 de um programa de Pós-


Graduação em Educação, das 98 dissertações analisadas, apenas uma utilizou a
abordagem mista.
Considerando os trabalhos realizados por Oliveira, Moreira e Silva (2019),
Santos, Santos e Lima (2021) e Souza e Kerbauy (2017), nos trabalhos já realizados
sobre abordagem mista no Brasil, há sempre um desenrolar histórico a respeito de
pressupostos, conceitos e paradigmas que norteiam as abordagens quantitativa,
qualitativa e mista. Iniciando na abordagem quantitativa, com suas influências
positivistas, passando pelos sucessores que defendem a abordagem qualitativa com
influências construtivistas, até chegar na conjugação das duas onde é defendida por
alguns e criticada por outros.
Oliveira, Moreira e Silva (2019), Santos, Santos e Lima (2021) e Souza e
Kerbauy (2017), trazem em suas pesquisas o uso da abordagem mista como algo
inovador, pois se utiliza de dois métodos para analisar de maneira mais profunda e
completa os dados de um determinado objeto de estudo, mostram também a
necessidade das instituições universitárias que oferecem cursos na área da educação
organizarem seus currículos no sentido de aprofundar o tema “Pesquisa Científica” e
suas abordagens “qualitativa”, “quantitativa” e “mista” na formação do pesquisador
iniciante, o assunto é de fundamental importância para os pesquisadores,
principalmente para os inexperientes, pois são através dessas pesquisas que se
chegam à novas concepções e visões acerca do melhor para a educação, seja para
alcançar algo inédito ou para melhorar o que já é conhecido.
Para Oliveira, Moreira e Silva (2019) a literatura sobre abordagem quali-
quantitativa, é uma tendência crescente em pesquisas científicas em diversas áreas,
internacionalmente tem-se uma vasta literatura sobre o assunto. Segundo os autores
enquanto o método quantitativo trabalha estatisticamente com os dados coletados na
pesquisa, utilizando técnicas e instrumentos próprios, a abordagem qualitativa se
preocupa em compreender, de maneira profunda o objeto de pesquisa, por meio de
observações, entrevistas, ou análise de discursos, buscando fazer explicações acerca
do assunto. Cada uma delas possui aspectos positivos e limitações.
A partir dos estudos realizados por Oliveira, Moreira e Silva (2019), Santos,
Santos e Lima (2021) e Souza e Kerbauy (2017), percebe-se que há defensores de
ambas as abordagens, como também há aqueles que defendem o uso da abordagem
mista, pois dizem que esse tipo de abordagem auxilia a análise de problemas
18

complexos no setor da educação. Considerando a importância e as contribuições da


pesquisa científica para a educação, esta pesquisa pretende verificar qual a
ocorrência do uso da abordagem mista em dissertações de mestrados profissionais
em educação e tecnologias.

1.1 Predominância da Abordagem Qualitativa na Educação no Brasil

Segundo Vosgerau e Romanowski (2014), as pesquisas na área da educação


no Brasil ganharam evidência no meio acadêmico com a origem, em 1965, dos cursos
de pós-graduação, e em 1970 teve seu aumento com a fundação dos grupos de
pesquisa e formação de pesquisadores de alto nível, mas antes disso, como
mencionada por Ferreira (2008), foi no início de 1930, criado por Lourenço Filho o
Serviço de estatística e Arquivo da Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de
São Paulo; Anísio Teixeira, “ Instituto de Pesquisas Educacionais na Diretoria de
Instrução Pública do Distrito Federal, temos então no Brasil quase um século de
pesquisas na área da educação.
Antônio Chizzotti, em sua obra Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e
Sociais (2006), percebe que as primeiras manifestações de pesquisa qualitativa
acontecem já no final do século XIX com a criação da sociologia e antropologia, é
comum também o entendimento de que o enfoque qualitativo tenha se iniciado nas
décadas de 60 e 70 em oposição à visão positivista na produção do conhecimento,
considerando então o enfoque quantitativo até então dominante superficial.
Para André e Gatti (2008), a origem do método qualitativo na educação no
Brasil, foi influenciado pelos estudos desenvolvidos na área de avaliação de
programas e currículos, como também dos novos cenários para estudo da escola e
da sala de aula. Publicações como A abordagem etnográfica: uma nova perspectiva
na avaliação educacional, (André, 1978), trouxe para o Brasil grande impacto nas
pesquisas educacionais, o artigo defende o uso das abordagens qualitativas para a
educação. Outro evento que ajudou a disseminar a abordagem qualitativa foi o
Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sudeste, que aconteceu em Belo
Horizonte, em 1980, e foi na década de 80 que surgiram potentes grupos de
pesquisadores que utilizam esse tipo de abordagem em diversas instituições do Brasil.
19

André e Gatti (2008), reiteram que a expansão do método qualitativo nas


pesquisas educacionais no Brasil veio em busca de métodos alternativos aos modelos
experimentais, modelos empíricos e mensurações, daí a dicotomia existente entre os
métodos quantitativos e qualitativos, as autoras fazem a seguinte consideração:

Embora estejamos vivendo um momento de superação dessa dicotomização


em termos “do bem” e “do mal”, a produção da investigação em educação
deixou de lado análises importantes sobre a demografia educacional e suas
implicações, entre outras, retirando da formação dos educadores a habilidade
em lidar com questões que demandam um trato quantitativo e a possibilidade
da crítica qualificada em relação a esses tipos de estudos. Em que pese essa
consideração que aqui fazemos, as contribuições advindas da utilização dos
métodos qualitativos foram, e são, da maior relevância para a compreensão
de inúmeras questões ligadas à educação. (André e Gatti, 2004, p. 7)

Em um artigo de 2004, intitulado por Estudos quantitativos em educação,


Bernadette A. Gatti (2004), fala sobre a pouca frequência da abordagem quantitativa
nas pesquisas realizadas na educação no Brasil. A autora cita a falta de abordagem
desse método em formações de educadores, mestres e doutores. Além disso, a base
de dados sobre educação é pouquíssima, e isso se deve ao fato da dificuldade que
muitos educadores têm em trabalhar com números.
Gatti (2004) acrescenta que, no Brasil o uso da pesquisa quantitativa na área
educacional sempre foi bem baixo, e os estudos existentes em educação
considerando os que necessitam de uma técnica mais elaborada, sofisticada, flexível
e desenvolvida, são realizados por pessoal de outras áreas ( psicólogos, economistas,
estatísticos e outros) e não por professores, pois na análise dos dados quantitativos
deve-se considerar um conjunto de procedimentos e técnicas que auxiliam o
pesquisar e muitas vezes os professores não possuem esse conhecimento
necessário.
Segundo Dal-Farra e Lopes (2013), ao longo da década de 90 os conflitos
existentes entre o quantitativo e qualitativo começaram a reduzir, possibilitando a
mudança para que amadurecesse nos pesquisadores o uso das duas abordagens em
pesquisas na educação, para o autor a situação atual é menos qualitativa versus
quantitativa, mas entende-se que os estudos tendem a serem mais qualitativos ou
mais quantitativos. Os autores acrescentam dizendo que apesar de ainda existirem
20

algumas interrogações metodológicas e de delineamento, a pesquisa de métodos


mistos vem ganhando visibilidade. Mesmo ganhando algum espaço, ainda é bem
menos utilizada em relação ao quantitativo, é o que as pesquisas já realizadas
mostram.

1.2 Problema da Pesquisa

Com que frequência a abordagem mista vem sendo utilizada em dissertações


de mestrados profissionais no Brasil de programas com área de concentração em
educação e tecnologias?

1.3 Hipóteses

É por meio da pesquisa científica que muitas das problemáticas da sociedade


são solucionadas, os resultados obtidos dessas pesquisas são publicados em artigos
e apresentados em congressos que corroboram para melhorar os problemas
estudados, isto acontece em diversas áreas da sociedade e também na educação. A
presente pesquisa trabalha com as seguintes hipóteses:
 As pesquisas educacionais de métodos mistos é a minoria, sendo a
qualitativa a mais frequente, isso se dá ao fato de o método quantitativo
ser o menos utilizado.
 Os resumos e caminhos metodológicos das dissertações de mestrados
profissionais em educação e tecnologia no Brasil apresentam diversas
lacunas.
 Considerando os resultados encontrados na pesquisa, bem como a
necessidade de construir um material de apoio para pesquisadores
inexperientes, um blog que sirva de auxílio para a escrita de resumos.

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo Geral


21

Fazer uma listagem e classificar as pesquisas que utilizam abordagem mista


nas dissertações de mestrados profissionais, com área de concentração em educação
e tecnologia.

1.4.2 Objetivos específicos

Para satisfazer o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos se fazem


necessários:
1) Compreender os tipos de abordagem de pesquisa e, em profundidade,
critérios metodológicos.
2) Determinar as dissertações que utilizam abordagem mista.
3) Classificar as dissertações conforme critérios especificados no objetivo
específico (1).
4) Detectar dificuldades e facilidades conforme os resultados obtidos nos
objetivos específicos (2) e (3).

1.5 Justificativa

Considerando as três abordagens metodológicas: quantitativa, qualitativa e


mista, a qualitativa é a mais utilizada em pesquisas em educação, e a abordagem
mista a menos utilizada, por ser a mais recente das abordagens e ainda faltar
conhecimento mais pormenorizado por parte dos pesquisadores iniciantes.
Considerar o uso da abordagem mista em dissertações de mestrados profissionais
com área de concentração em educação e tecnologias no Brasil, classificar o uso
dessa abordagem, bem como apontar seus pontos positivos e negativos, e as lacunas
encontradas durante a pesquisa.
A obtenção de um panorama sobre as dissertações de mestrados profissionais
com área de concentração em educação e tecnologia no Brasil, levando em
consideração o modo como os pesquisadores estão desenvolvendo o caminho
metodológico de suas pesquisas, quais os critérios metodológicos utilizados por esses
pesquisadores, as possíveis lacunas encontradas e a pouca frequência dos métodos
mistos em dissertações de mestrado, servem como justificativa para a pesquisa. Os
22

resultados obtidos nessa pesquisa, contêm informações que servem como


fundamentação para futuros pesquisadores do tema.
Os métodos mistos por se tratar de coleta e análise de dados qualitativos e
quantitativos de maneira integrada em um mesmo estudo em fases variadas,
proporciona maior solidez e confiabilidade a pesquisa, sendo bastante viável para a
área de educação, que pode, desse modo, beneficiar-se.

1.6 Organização da Dissertação

No capítulo 1 é apresentada a introdução, problema, hipótese, objetivo geral e


específicos e, justificativa. No capítulo 2 é apresentada a fundamentação teórica,
trazendo alguns autores e suas concepções a respeito de alguns temas sobre
pesquisa científica, metodologia da pesquisa científica e alguns critérios que podem
ser utilizados na pesquisa científica. No capítulo 3 é relatada a metodologia utilizada
na pesquisa juntamente com os critérios utilizados; já no capítulo 4, o resultado da
pesquisa é apresentado e no 5 e, último capítulo, as referências utilizadas; como
produto foi criado um blog que auxilie a escrita de resumos.

2. A PESQUISA CIENTÍFICA E AS SUAS METODOLOGIAS

Procurou-se abordar sobre a pesquisa científica sua metodologia a qual na


sequência encontrar-se-ão elencados e comentados sobre alguns critérios,
considerando Moreira e Caleffe (2008), Creswell e Clark (2013) e Gil (2019), autores
utilizados na pesquisa científica.

2.1 A Pesquisa Científica

Esse método de pesquisa tem como objetivo chegar a um conhecimento


elaborado e, para isso deve-se trabalhar com descrições, explicações e interpretações
com o objetivo de avançar no conhecimento (Moreira e Caleffe, 2008). Conclui-se que
a pesquisa científica deva produzir algo novo, ou alterar algo já feito e que pode ser
melhorado, para tanto estes mesmos autores supõem que a pesquisa é crítica e
23

autocrítica, é uma investigação sistemática, que tem o intuito de colaborar com o


avanço do conhecimento. Para Gil (2019, p.25) a pesquisa é: “o processo formal e
sistemático de desenvolvimento do método científico. Seu objetivo é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.
O desenvolvimento da humanidade depende das pesquisas realizadas nos
diversos segmentos da sociedade, em qualquer momento histórico as descobertas se
deram a partir da necessidade de mudança e essas ocorreram porque existiram
pessoas que desenvolveram pesquisas. Sampieri, Collado e Lucio (2013), pensam a
pesquisa sendo útil de diversas formas, pois auxilia na resolução de problemas
econômicos e sociais, avaliam se algo foi feito ou não corretamente e ainda contribui
para criação de novos sistemas e produtos, podemos dizer que isso também vale para
a educação, pois novos métodos educacionais são resultados de pesquisa realizadas,
sem elas não há progresso e, consequentemente, melhoria na qualidade da
educação. A pesquisa científica, segundo Sampieri, Collado e Lucio, é:

[...] em essência, como qualquer tipo de pesquisa, só que mais rigorosa,


organizada e realizada de maneira mais cuidadosa. Como Fred N. Kerlinger
sempre diz: é sistemática, empírica e crítica. Isso se aplica tanto a estudos
quantitativos, qualitativos ou mistos. (SAMPIERI, COLLADO e LUCIO, 2013,
p.21).

Para esses autores é sistemática porque deve-se ter uma certa disciplina na
realização da pesquisa científica, ou seja, deve-se seguir alguns critérios, é empírica,
pois os dados são coletados e analisados; e crítica porque deve ser avaliada e
aperfeiçoada constantemente.
Para Matias-Pereira (2019), a pesquisa científica deve apresentar métodos
científicos que as fazem diferentes de outras pesquisas, critérios esses que lhe darão
maior credibilidade e aceitação. Podemos dizer então, que para realizar uma pesquisa
científica considerando os requisitos citados acima, o autor da pesquisa deve ter o
conhecimento mínimo sobre metodologia da pesquisa.

2.2 Metodologia Da Pesquisa Científica


24

Antes de falar em metodologia, cabe um rápido conceito sobre o que é método,


pois, é um conjunto de métodos que compõe a metodologia. Segundo Matias-Pereira
(2019), “os métodos podem ser considerados um conjunto de técnicas, regras e
procedimentos que são adotados na realização de uma pesquisa científica.” (2019, p
42). Ainda Matias-Pereira (2019) acrescenta: “Ou seja, trata-se do critério para
obtenção do conhecimento científico, que é a própria lógica da investigação científica”.
(GARCÍA FERRANDO et al., 2000).
A metodologia da pesquisa é o conjunto de métodos que o pesquisador utiliza
no desenvolvimento de sua pesquisa, deve ser apoiado em procedimentos e técnicas
que contribuam para o alcance do objetivo proposto, a metodologia adotada pelo
pesquisador deve auxiliá-lo na construção e execução de sua pesquisa, ela normatiza
os critérios e procedimentos adotados.
Para Minayo (2007), a teoria e a metodologia andam juntas e a metodologia
deve conter instrumentos claros e coerentes, capazes de guiar a pesquisa nos
impasses da sua prática. Esta mesma autora diz que: quando há total valorização da
técnica as respostas saem estereotipadas e produz um formalismo frio, contudo,
quando há um total desprezo pela técnica, suas conclusões são improdutivas e leva
ao empirismo ilusório. A autora complementa que nada substitui a criatividade do
pesquisador, cabe a este ter o discernimento na hora de escolher a técnica ou o
critério a seguir, sabendo refazer ou desfazer quando for necessário e/ou adaptar as
técnicas utilizadas com a pesquisa que está sendo realizada.

O método, dizia o historiador Dilthey (1956), é necessário por causa da nossa


“mediocridade”. Para sermos mais generosos, diríamos, como não somos
gênios, precisamos de parâmetros para caminhar no conhecimento. Porém,
ainda que simples mortais, a critério marca da criatividade é nossa “griffe” em
qualquer trabalho de investigação. (MINAYO, 2007, p.17).

Mattar e Ramos (2021) descrevem a metodologia como sendo a bússola que


irá guiar a pesquisa, orientando sua organização e está mais ligada ao planejamento
da pesquisa. Complementam dizendo que ao escolher uma metodologia, esta, precisa
estar “alinhada com o tema, o referencial teórico, o problema, os objetivos e as
questões e/ou hipóteses definidas no seu planejamento. Por sua vez, determinarão
as estratégias de coleta e análise de dados”.
25

Fonseca (2002) define a metodologia como o estudo dos caminhos percorridos


no desenvolvimento de uma pesquisa ou estudo, ela vai além do descrever os
procedimentos utilizados, ela aponta as escolhas teóricas feitas pelo pesquisador ao
se tratar o objeto de estudo. Para Minayo (2002, p. 16), metodologia é “o caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”, sendo assim ela deve
apresentar conceitos teóricos de abordagem, ou seja, o conjunto de procedimentos
utilizados para proporcionar a construção da realidade. A metodologia, deve,
enquanto conjunto de técnicas, utilizar-se de instrumentos coerentes, claros,
elaborados, que sejam capazes de conduzir as dificuldades teóricas na estimulação
da prática.
Na sequência serão apresentados alguns critérios que foram utilizados nesta
pesquisa, esses podem ser considerados como métodos que podem compor a
metodologia de uma pesquisa. Cabe ressaltar que não temos a pretensão de dizer
qual método, ou critérios, ou instrumentos que deve conter uma pesquisa, mas sim
contribuir para os pesquisadores iniciantes interessados no assunto. Então, nas
próximas páginas serão elencados os critérios observados nas dissertações visitadas
na pesquisa, são eles: quanto à natureza da pesquisa, quanto aos objetivos da
pesquisa, quanto à abordagem da pesquisa, quantos aos procedimentos utilizados na
realização da pesquisa, quanto aos instrumentos utilizados na coleta de dados, quanto
à apresentação dos resultados obtidos e quanto à análise dos dados obtidos.

2.3 Critérios Utilizados na Pesquisa Científica

Segundo Mattar e Ramos (2021), a classificação de uma pesquisa pode se dar


de diferentes maneiras, pois vai depender dos critérios utilizados pelo pesquisador na
realização de sua pesquisa, os critérios de classificação de um pesquisa são segundo
os autores: natureza (básica e aplicada), objetivo (exploratória, descritiva ou
explicativa); tempo (transversal e longitudinal), fontes (documental, histórica,
bibliográfica, de campo, de laboratório e internet), abordagem (quantitativa, qualitativa
e mista), procedimentos (narrativa/história de vida, fenomenologia, teoria
fundamentada, estudo de caso, survey, experimental, etc.).
Nessa pesquisa os critérios considerados foram: natureza da pesquisa, objetivo
da pesquisa, abordagem utilizada, procedimentos usados, instrumentos de coleta de
26

dados, apresentação dos resultados e análise dos resultados. Para a escolha dos
critérios foram utilizados os seguintes autores: Gil (2022), Moreira e Caleffe (2008),
Mattar e Ramos (2021), Creswell e Creswell (2021) e Sampieri, Collado e Lucio
(2013).
Os critérios quanto à natureza e quanto aos objetivos são comuns nas três
abordagens e estão comentados separadamente, os outros critérios: procedimentos,
instrumentos de coleta de dados e análise dos dados, estão inclusos na abordagem
no capítulo intitulado: abordagem da pesquisa.

2.3.1 Quanto à natureza

Sobre esse aspecto a pesquisa pode ser pura ou aplicada, segundo Matias-
Pereira (2019), a pesquisa pura, também chamada de básica, é aquela que objetiva a
aquisição do conhecimento, não tendo pretensão de aplicação prática; já na pesquisa
aplicada, os conhecimentos que foram adquiridos durante a pesquisa são a utilização
em uma aplicação prática visando a solução de algum problema da sociedade.
A pesquisa pura se preocupa em contribuir com o conhecimento, adicionando
informações aos conhecimentos já adquiridos, ou seja, ela agrega informações àquilo
que já era conhecido e, não se preocupa com resultados concretos e práticos, pois
sem conhecimento nada pode ser analisado, mudado ou criado. Por sua vez, a
pesquisa aplicada procura a solução de um problema específico, ela procura
resultados concretos que possam ser aplicados na prática, ela traz resultados ao
pesquisador no sentido de sua aplicabilidade, pois tem como objeto final um produto
que pode ser utilizado. Podemos até completar dizendo que a pesquisa pura ou básica
dá ferramentas essenciais para a realização da pesquisa aplicada, pois sem o
conhecimento não há a possibilidade de produzir um produto.
Para Moreira e Caleffe (2008), tanto a pesquisa básica, quanto a aplicada são
utilizadas na pesquisa educacional, mas essa última é mais comum, pois tem a
intenção de resolver um problema, ou um produto ou até, um novo processo. Podemos
dizer que a educação precisa de pesquisas que auxiliem o processo de aprendizagem,
que possa comprovar o que está no caminho certo e mudar os processos que não
trouxeram resultados positivos, a educação precisa de pesquisa científica.
27

2.3.2 Quanto aos objetivos

Sobre esse aspecto, a pesquisa pode ser exploratória, descritiva ou explicativa.


Em uma pesquisa científica, pode-se adotar um ou dois desses objetivos, a escolha
vai depender do que o pesquisador tem em sua proposta de pesquisa, ou seja, que
tipo de contribuição para o conhecimento ele pretende produzir, pois deve estar
alinhado aos objetivos gerais e específicos, e conduzir toda a pesquisa. Gil (2019) diz
que, a classificação de uma pesquisa quanto aos seus objetivos depende da finalidade
da pesquisa, ou seja, onde o estudo pretende chegar, se apenas se familiarizar e
conhecer o tema, se em descrever o objeto estudado, ou ainda identificar os fatores
que levam a ocorrência de um determinado fato. Vamos ver um pouco mais de cada
um desses três tipos de pesquisa separadamente, considerando Gil (2019).
Exploratória, ao optar por esse caminho o pesquisador fará um estudo de
conhecimento e reconhecimento, de aprendizagem, sem muito aprofundar, este tipo
de pesquisa visa buscar explorar algo, conhecer suas características. Ainda para Gil
(2019) a pesquisa do tipo exploratória proporciona uma visão geral e mais próxima do
fato a ser estudado e deve ser escolhido quando o tema ainda foi pouco explorado ou
que ainda não foi, geralmente é usado em levantamentos bibliográfico e documental,
entrevistas não estruturadas e análise de casos.
Gil (2019) acrescenta ainda que muitas vezes a pesquisa exploratória é o início
para uma investigação mais ampla, pois se o tema escolhido for bastante genérico, é
necessário fazer esclarecimento e delimitação, e para isso deve haver uma revisão de
literatura, discussão com especialistas, assim o problema fica mais esclarecido, e a
investigação com procedimentos mais sistematizados. Segundo Mattar e Ramos
(2021), na educação, boa parte das pesquisas realizadas são exploratórias, pois
objetiva a exploração de um tema, sem adotar a obrigação de aprofundamento de
análise.
Moreira e Caleffe (2008) conceituam a pesquisa descritiva como um estudo de
status, pois seu valor se baseia em: como os problemas podem ser resolvidos e as
práticas melhoradas através da observação objetiva e detalhada, e da análise e
descrição, ainda acrescentam que várias técnicas de solução de problemas se
utilizam da pesquisa descritiva. A pesquisa descritiva é aquela que descreve ao
máximo possível as características e os conceitos do objeto estudado para na
28

sequência formular relações entre as possíveis variáveis encontradas no tema


estudado. Gil (2019) diz que algumas pesquisas descritivas vão além da existência de
relação entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação, nesse
caso, segundo o autor essa pesquisa se aproxima da explicativa.
Ainda sobre a pesquisa descritiva, Gil (2019) acrescenta que as pesquisas
desse tipo têm por objeto de estudo: 1) caracterizar um grupo (idade, sexo,
procedência, escolaridade, estado de saúde física e mental e outros, 2) nível de
atendimento de órgãos públicos (índice de criminalidade, condições de habitação dos
habitantes de uma comunidade e outros), e 3) Associações entre variáveis, como nas
pesquisas eleitorais que indicam a relação entre preferência político partidária e o nível
de escolarização ou rendimento.
Ainda acrescentam que junto à pesquisa exploratória, essas características
citadas acima, são as mais solicitadas nas instituições educacionais, empresas
comerciais e partidos políticos e outros, são realizados por pesquisadores sociais que
se preocupam com a atuação prática.
A pesquisa explicativa, busca criar um conhecimento novo para a ciência, é dos
três tipos a mais complexa, pois procura encontrar os conceitos de um fenômeno,
mostrando seus motivos, causas e efeitos, e que na maioria das vezes é a continuação
das pesquisas exploratórias, e descritivas, ou ainda exploratória-descritiva. Moreira e
Caleffe (2008), acreditam que o foco central da pesquisa explicativa é encontrar os
fatores que contribuem ou determinam um fenômeno, é o tipo que mais aprofunda o
conhecimento da realidade, pois explica a razão e o porquê das coisas, os autores
ainda dizem que o conhecimento científico está assentado aos resultados obtidos em
estudos explicativos, acrescentam ainda que esse tipo não é mais importante que os
dois anteriores, pois quase todos os estudos se constituem de etapas prévias como a
pesquisa exploratória e descritiva para se obter explicações científica.
Gil (2019) complementa dizendo que a pesquisa explicativa nas ciências
naturais se vale, principalmente, do método experimental, nas ciências sociais, utiliza-
se com frequência o observacional; os autores concluem dizendo que algumas vezes
não é possível realizar uma pesquisa rigidamente explicativa em ciências sociais,
devido ao grau de complexidade, pois a probabilidade de erro aumenta
substancialmente, sobretudo em relação à temas relacionados à área da Psicologia,
primordialmente, porque essas pesquisas utilizam um elevado grau de controle
chegando a serem designadas como experimentais.
29

Autores como Gil (2022), Mattar e Ramos (2021) e outros, classificam a


pesquisa quanto aos seus objetivos em exploratória, descritiva e explicativa, essa
classificação se dá de acordo com a profundidade que o tema é abordado na
pesquisa. Para Mattar e Ramos (2021), na educação, boa parte das pesquisas
realizadas são exploratórias, pois objetiva o aprofundamento sobre um tema, sem
adotar a obrigação de detalhamento descritivo da análise, já as pesquisas com
objetivo descritivo, abordam a descrição de situações e fenômenos respondendo à
perguntas do tipo: o quê, onde, quando e/ou como, na tentativa de dissecar por meio
de uma abordagem minuciosa determinados acontecimentos e situações; as
pesquisas explicativas, procuram explicar a ocorrência de fenômenos, respondendo à
pergunta por quê, caracterizando os motivos para determinados fenômenos.

2.3.3 Quanto à abordagem

A abordagem na pesquisa científica tem como objetivo a caracterização da


forma que será realizada a pesquisa, o como fazer, ela deve estar em conformidade
com os objetivos, faz uso de métodos e instrumentos que permitem o pesquisar, em
conhecer o objeto de estudo (Ribeiro, Cueva, Camacho e Moraes, 2013).
Considerando sua importância, a escolha correta da abordagem é
fundamental, pois nos indica de que maneira o objeto de estudo será tratado e
estudado. Segundo os autores Sampieri, Collado e Lucio (2013), ambas as
abordagens quantitativa e qualitativa, fazem uso de processos metódicos, empíricos
e cuidadosos, para gerar o conhecimento, apesar de terem características próprias.
As fases que essas abordagens compartilham são:

a) Observação e avaliação do fenômeno;


b) Criam suposições a partir das observações e avaliações do fenômeno;
c) Demonstram o quanto as suposições têm fundamentos;
d) Revisam as suposições ou ideias tendo como base as provas ou as
análises;
e) Propõem novas observações e avaliações para modificar, esclarecer e
fundamentar as ideias, ou até mesmo gerar outras suposições.
Sampieri, Collado e Lucio (2013) citam que:
30

Ao longo da História da Ciência surgiram diversas correntes de pensamento


– como o empirismo, o materialismo dialético, o positivismo, a fenomenologia,
o estruturalismo – e diversos marcos interpretativos como a etnografia e o
construtivismo, que deram origem a diferentes caminhos na busca do
conhecimento. (SAMPIERI, COLLADO e LUCIO, 2013, p.30).

Esses mesmos autores ainda completam dizendo que a partir do século XX é


que essas correntes se concentram em duas abordagens principais: o enfoque
quantitativo e o enfoque qualitativo de pesquisa. Para os autores, a abordagem de
métodos mistos teve um avanço bastante significativo no início do século XXI, onde
recebeu vários nomes, pesquisa multimétodos, pesquisa interativa, métodos
múltiplos, estudos de triangulação e pesquisa mista. Sampieri, Collado e Lucio (2013),
colocam a pesquisa de abordagem mista como um método possível de combinar ao
menos um item quantitativo com um qualitativo em um mesmo estudo.
Para Creswell e Creswell (2021), as abordagens metodológicas determinam o
planejamento e os procedimentos de pesquisa, abrangendo as decisões, a partir dos
pressupostos gerais, indo até aos métodos de coleta, de análise/interpretação dos
dados. Acrescentam que a maior decisão é sobre qual a abordagem que melhor
representa o seu estudo e que por trás dessa decisão, o pesquisador deve trazer para
o estudo pressupostos filosóficos que melhor expliquem tais procedimentos; os
desenhos de pesquisa, que são os procedimentos de investigação; e os métodos de
pesquisa específico de coleta, assim como a análise e interpretação dos dados. Estes
mesmos autores dizem que, para escolher uma abordagem de pesquisa o
pesquisador deve considerar a natureza e o problema da pesquisa, além das
experiências pessoais do pesquisador, e também o público para onde a pesquisa será
direcionada.
Creswell e Creswell (2021) apresentam três tipos de abordagem: quantitativa,
qualitativa e método misto, os autores afirmam que esses três tipos de abordagem
não são tão diferentes, quanto podem parecer num primeiro momento, ainda dizem
que, não devem ser encaradas como opositoras ou dicotômicas, e nem como rígidas
e distintas, ao contrário elas representam extremidades diferentes em um contínuo.
Para os autores, um estudo pode tender a ser mais qualitativo do que quantitativo, ou
o contrário, e que o método misto está no meio desse contínuo, pois possui elementos
das duas abordagens. Falaremos logo depois sobre cada um desses métodos
separadamente.
31

Gil (2022) classifica a pesquisa quanto aos métodos utilizados em qualitativa e


quantitativa, ele não faz menção sobre o método misto. Já Mattar e Ramos (2021) traz
os três enfoques: quantitativo, qualitativo e misto.
Na abordagem qualitativa, assim como Creswell e Creswell (2021), os autores
Gil (2022) e Mattar e Ramos (2021), se referem a abordagem como um método para
compreender os fenômenos profundamente, explorando e descrevendo-os por várias
perspectivas, ela é basicamente interpretativa, são utilizadas várias fontes, a análise,
discussão e interpretação dos dados abrange os padrões encontrados fazendo sua
comparação com o referencial teórico e a literatura. Na educação, Mattar e Ramos
(2021), consideram que a pesquisa qualitativa básica é a mais frequente.
Segundo os mesmos autores a pesquisa quantitativa tem por objetivo prever e
explicar fenômenos, para tanto procuram medir, comparar e relacionar variáveis. As
variáveis são fatores, comportamentos, efeitos ou características que podem ser
mensurados, ou seja, na pesquisa quantitativa os conceitos devem ser convertidos
em variáveis operacionais, ou seja, situações mensuráveis. As pesquisas de
abordagem quantitativa se utilizam especialmente da estatística descritiva e
inferencial.
Na abordagem mista, Mattar e Ramos (2021), considerando Creswell e
Creswell (2018) sobre a abordagem mista, consideram esta abordagem, a junção dos
métodos qualitativos e quantitativos, tendo como objetivo, produzir um entendimento
mais completo dos fenômenos estudados.
Para Creswell e Creswell (2021), existem três componentes para uma
abordagem, são eles: pressupostos filosóficos; o desenho da proposta e os métodos
ou procedimentos, e esses três componentes devem estar em conformidade com o
planejamento do estudo. Sobre as perspectivas filosóficas Creswell e Creswell (2021)
dizem que embora essas perspectivas, muitas vezes estejam implícitas na pesquisa,
elas precisam ser identificadas, pois a identificação das ideias filosóficas adotadas
ajudará a explicar o porquê da escolha do método qualitativo, quantitativo ou misto.
Para Creswell e Creswell (2021, p. 5) o termo perspectiva significa:

“( …) um conjunto de crenças básicas que guiam ações” (Guba, 1990, p. 17).


Outros têm os chamados paradigmas (Lincoln, Lynham e Guba, 2011;
Mertens, 2010), epistemologia e ontologia (Crotty, 1998) ou metodologia de
pesquisa amplamente concebidas (Neuman, 2009).
32

Os autores acrescentam que as perspectivas são orientações filosóficas em


relação ao mundo e a natureza da pesquisa, sendo assim as perspectivas se
desenvolvem com base nas orientações de sua disciplina, nos seus orientadores e
comunidades de pesquisa, pois as crenças que o pesquisador defende irão conduzi-
lo a escolha de uma das abordagens. Destacaremos quatro dessas perspectivas ou
crenças, que são amplamente discutidas na literatura, são elas: pós-positivista,
construtivista, transformativa e pragmática.
Sobre o segundo componente da abordagem, os desenhos da pesquisa, os
autores acreditam que não selecionamos apenas um método, mas sim escolhemos
um tipo de pesquisa, os desenhos de pesquisa são tipos de investigações dentro das
abordagens qualitativa, quantitativa e mista que ajudam a direcionar de maneira
específica os procedimentos de um estudo, podem também ser chamados de
estratégias de investigação.
Os três elementos citados por Creswell e Creswell (2021) formam a abordagem
de pesquisa. As perspectivas, os desenhos e os métodos, contribuem para que uma
abordagem de pesquisa se incline a ser quantitativa, qualitativa ou mista. Nesta
pesquisa a atenção está voltada para a pesquisa de métodos mistos, onde se deu
maior atenção, sem esquecer que esta abordagem se utilizada da abordagem
quantitativa e qualitativa, desta maneira essas duas últimas abordagens estão
contempladas na abordagem de métodos mistos.

2.3.4. Abordagem Mista ou Quali-quanti

Para os métodos mistos, Creswell e Creswell (2021), consideram que alguns


pesquisadores se apoiam nos pressupostos filosóficos na perspectiva transformativa,
essa surgiu nas décadas de 80 e 90 com pessoas que acreditavam que os
pressupostos pós-positivistas estabeleciam leis e teorias que não eram adequados
aos indivíduos da nossa sociedade, em relação às questões de poder e justiça social,
ou à discriminação e opressão, porém esses temas deveriam ser abordados. Não há
uma literatura padronizada na perspectiva transformativa, e sim grupos de
pesquisadores da teoria crítica, os escritores transformativos têm se baseado nas
obras de Marx, Adorno, Marcuse, Habermas e Freire (Neuman, 2009). Fay (1987),
33

Heron e Reason (1997), Kemmis e Wilkinson (1998), Kemmis e McTaggart (2000) e


Mertens (2009, 2010) são os mais recentes nessa perspectiva.
Esses pesquisadores creem que os construtivistas não foram longe o bastante
na defesa de ações para os grupos marginalizados. A perspectiva transformativa
defende a ideia da pesquisa interligada com a política e um plano de mudança política
que vá contra a opressão social, em todos os seus níveis, essa perspectiva propõe
ações que visem transformar a vida dos participantes, as instituições que eles
trabalham, onde vivem. Os temas trabalhados são específicos e relacionados à
questões sociais atuais, como desigualdade, empoderamento, alienação, dominação
e supressão, essa perspectiva também pressupõe que o investigador vai trabalhar
colaborando com os participantes, para não os marginalizar ainda mais, ela dá voz
aos participantes, pois ela está concentrada nas necessidades dos grupos e dos
indivíduos em nossa sociedade que possam estar privados de privilégios, ou
marginalizados.
Sobre a perspectiva pragmática, Creswell e Creswell (2021) dizem que essa
vem das obras de Peirce, James, Mead e Dewey ( Cherryholmes, 1992), Murphy
(1990), Patton (1990) e Rorty (1990), para muitos essa perspectiva surge das ações
realizadas e das suas consequências; nessa perspectiva o objetivo está no problema
e na solução de pesquisa ( Patton, 1990) e no uso de todas as abordagens disponíveis
(Rossman e Wilson, 1985) para entendê-lo. Aparece como uma base filosófica para
o estudo dos métodos mistos, autores como Morgan (2007), Patton ( 1990) e
Tashakkori e Teddlie (2010) se concentram no problema que utilizam abordagens
pluralistas.
Considerando a perspectiva de Cherryholmes (1992) e Morgan (2007) o
pragmatismo não está vinculado a nenhuma filosofia ou realidade, no caso, pesquisa
de métodos mistos que se apoiam muito em pressupostos quantitativos e qualitativos,
para eles a verdade é o que funciona no momento, e ela não é única e absoluta, o
pesquisador tem a liberdade de escolher qual o método que melhor se enquadra no
seu problema de pesquisa. Eles estão voltados para o quê da pesquisa e para o como
pesquisar, considerando onde querem chegar com a investigação; eles concordam
que a pesquisa ocorre sempre em contextos sociais, históricos e políticos, sendo
assim os estudos de métodos mistos pode assumir uma característica pós-moderna,
com enfoque teórico que pense em justiça social e políticos.
34

Os desenhos de métodos mistos são a combinação da pesquisa qualitativa com


a quantitativa, conjuntamente com seus dados coletados. Nos métodos mistos, há os
predeterminados ou emergentes. Aqui, as perguntas podem ser abertas ou fechadas,
admitindo múltiplas formas para obtenção dos dados, baseando-se em todas as
possibilidades e os dados são interpretados através de análise estatística e de texto
e interpretação entre bases de dados.
Creswell e Creswell (2021), consideram que esta abordagem de pesquisa como
hoje a conhecemos, teve início na metade até o final da década de 1980, mas suas
origens são mais antigas; já em 1959, Campbell e Fisk utilizavam vários métodos para
estudar traços psicológicos, embora os dados serem apenas quantitativos estimulou
outros pesquisadores a coletarem dados de formas múltiplas, como observação e
entrevistas, que são dados qualitativos com levantamentos tradicionais, nesse caso
(sieber, 1973). A denominação métodos mistos teve seu início baseado na ideia de
que todos os métodos têm seus pontos fracos e que a junção dos dados quantitativos
e qualitativos podia neutralizar as fraquezas encontradas nesses dois métodos (Jick,
1979).
No início da década de 90 o método misto se interessou pela interação
sistemática dos dados quantitativos e qualitativos, e assim originaram várias maneiras
de fazer a combinação desses dados, esses diferentes modos de interação foram
bastante discutidos em um manual lançado em 2003 e reeditado em 2010 (Tashakkori
e Teddlie, 2010). Esses desenhos de pesquisas foram sendo melhorados e foi
acrescentada uma notação para entendê-los melhor, surgindo assim os desafios para
o emprego destes desenhos (Creswell e Plano Clark, 2011, 2018). Ainda hoje há
muitas discussões sobre o bom uso dos métodos mistos na pesquisa, e a expansão
dos métodos mistos para outras disciplinas e países. Embora haja muitos desenhos
de pesquisas mistas, Creswell e Creswell (2021) citam três: Métodos mistos
convergentes, Método misto sequencial explanatório e Método misto sequencial
exploratório.
Sampieri, Collado e Lucio (2013) conceituam a abordagem mista como uma
pesquisa multimétodos, com desenhos: concomitantes, sequenciais, de
transformação, e de interação, onde o pesquisador define no desenho escolhido o
número de etapas, qual o enfoque que terá o maior peso (qualitativo ou quantitativo),
ou ainda dar peso igual aos dois enfoques, no caso deste último, define as funções
de cada um, e se pode ou não contar com a perspectiva teórica a qual pertence.
35

Creswell e Clark (2013) definem a abordagem mista como a combinação de


métodos, de filosofia e de orientação do projeto de pesquisa. Eles acreditam que
certas características são essenciais para descrever uma pesquisa de métodos
mistos, na utilização de métodos mistos o pesquisador deve:

a) Coletar e analisar rigorosamente os dois tipos de dados: quantitativo e


qualitativo.
b) Integrar os dois tipos de dados paralelamente, misturando sequencialmente,
vinculando um ao outro.
c) Dar preferência a uma ou ambos os tipos de dados.
d) Usar ambos os procedimentos em um único estudo, ou nas várias fases do
estudo.
e) Estruturar os procedimentos, considerando as visões teóricas e filosóficas,
combinando os dois procedimentos em projetos específicos de pesquisa
direcionando o desenho do estudo.

Creswell e Clark (2013), descrevem que o uso dos métodos mistos em


pesquisas deve ser bem justificado, pois nem todas as situações comportam o uso
dessa abordagem, como por exemplo em uma pesquisa do tipo levantamento, a
abordagem quantitativa é a mais adequada, do mesmo modo que a etnografia se
ajusta melhor a estudos qualitativos. Para o uso dos métodos mistos, os problemas
de pesquisa mais apropriados são os que apresentam a necessidade de apresentar
fontes de dados diferentes, ou seja, o uso de um único tipo de dado não é suficiente
para explicar o estudo, sendo então necessário um segundo tipo de dado que
complementa e enriquece o primeiro. Para os autores o uso de métodos mistos de
pesquisa é pertinente quando:
a) Uma fonte de dado é insuficiente, onde as limitações de um método podem
ser compensadas pelas potencialidades do outro.
b) A necessidade de explicar os resultados iniciais, às vezes o resultado de
algum estudo pode dar uma compreensão incompleta do problema
estudado, havendo a necessidade de mais elucidações. Nesses casos o
método misto é usado na segunda base de dados, ajudando a explicar a
primeira base de dados.
36

c) A necessidade de generalizar achados exploratórios, quando os


pesquisadores desconhecem as questões que precisam ser criadas, as
teorias que precisam orientar o estudo e que variáveis devem ser medidas,
nesses casos o uso da abordagem mista é ideal, podendo o pesquisador
iniciar uma pesquisa com dados qualitativos e depois complementar esse
estudo quantitativamente tentando generalizar os dados qualitativos.
d) A necessidade de melhorar um estudo com um segundo método, nesse
caso o segundo método colabora com o melhor entendimento de alguma
fase da pesquisa, uma pesquisa quantitativa pode ser enriquecida
somando dados qualitativos, da mesma maneira que uma pesquisa
qualitativa pode ser melhorada adicionando dados quantitativos.
e) A necessidade de empregar melhor uma postura teórica, ocorre em
situações nas quais a teoria necessita da coleta de dados qualitativa e
quantitativa em uma pesquisa mista, os dados devem ser coletados
simultaneamente ou em uma sequência.
f) A necessidade de se entender um objeto de pesquisa por meio de múltiplas
fases da pesquisa, isso ocorre em projetos que abrangem vários
componentes e que duram diversos anos, nesses casos os pesquisadores
precisam associar vários métodos para atingir o objetivo geral, são projetos
que envolvem equipes de pesquisadores que trabalham juntos durante
diversas fases do projeto.

Segundo Creswell e Clark (2013), para a escolha de métodos mistos de


pesquisa o pesquisador não deve conhecer apenas a natureza e definição desses
métodos, mas também precisa saber quais as vantagens que esse método traz para
a pesquisa. Para estes autores a pesquisa de métodos mistos, apresenta pontos fortes
que suprem os pontos fracos das pesquisas quantitativas e qualitativas. Ela apresenta
maior validação para o estudo de um problema de pesquisa, além disso auxiliam em
respostas de questões que não podem ser respondidas pelas abordagens qualitativa
e quantitativa.
Para esses mesmos autores o uso de métodos mistos atua como uma ponte
que liga os métodos qualitativos e quantitativos, muitas vezes vistos como métodos
incompatíveis, ela se utiliza de diferentes visões de mundo ou paradigmas, não só as
associadas à pesquisa qualitativa e quantitativa. A pesquisa de métodos mistos para
37

Creswell e Clark (2013), é prática, pois o pesquisador é livre para utilizar todos os
métodos possíveis em um problema de pesquisa, também é considerada prática, pois
faz uso do método indutivo e dedutivo, de números e palavras para resolver um
determinado problema, sendo natural o seu uso para entender o mundo.
Para Creswell e Clark (2013), existem alguns desafios no uso dos métodos
mistos, pois o uso destes métodos requer certas habilidades, recursos e tempo para
vasta coleta e análise de dados, o desafio, talvez o mais importante, seja, “educar e
convencer os outros da necessidade de empregar um projeto de métodos mistos para
que o estudo de métodos mistos de um pesquisador seja aceito pela comunidade
acadêmica”.
a) A questão da habilidade, os autores sugerem que o uso da abordagem
mista aconteça após os pesquisadores terem familiaridade com os métodos
quantitativos e qualitativos, ele deve estar acostumado com os métodos de
coleta de dados quantitativos, com o uso de instrumento de mensuração e
as escalas de atitudes com questões fechadas, os pesquisadores devem ter
conhecimento de lógica, testagem de hipóteses, análises estatísticas,
procedimentos descritivos e inferenciais acessíveis em softwares
estatísticos, incluindo ainda entender questões como validade,
confiabilidade, generalizabilidade e controle experimental. Do mesmo modo
o pesquisador deve estar familiarizado com o processo de coleta de dados
qualitativos, o uso de perguntas abertas e observações qualitativas, deve
ter habilidades básicas para analisar dados de textos qualitativos,
codificação de textos, softwares de análise qualitativas, deve compreender
as questões essenciais da pesquisa qualitativa, como credibilidade,
confiabilidade e estratégia comum de validação.
b) A questão do tempo e dos recursos, nesse quesito Creswell e Clark (2013)
apontam que um estudo de método misto pode requerer tempo, esforços
amplos e recurso do pesquisador, por isso a necessidade de na fase de
planejamento verificar se o método possível. A necessidade então de
consideras as seguintes questões: Há tempo suficiente para coletar e
analisar os dois tipos de dados? Os recursos são suficientes para coleta e
análise dos dados quantitativos e qualitativos? Antes de iniciar um estudo
misto é necessário se atentar a essas questões para que o pesquisador
38

tenha certeza e que o uso de métodos mistos será oportuno para a


pesquisa.
c) Por ser uma pesquisa relativamente recente, as pessoas podem não estar
convictas sobre os métodos mistos, ou ter objeções filosóficas desta
abordagem, outros por não quererem deixar as abordagens que já
conhecem, não estando dispostos a possibilidade da pesquisa mista. Uma
boa maneira de reverter a situação é buscar na literatura já existente
exemplos de uso dessa abordagem, Creswell e Clark complementam
dizendo que encontrar esses estudos na literatura não é fácil, pois só
recentemente o termo abordagem mista começou a ser utilizado, os termos
usados para pesquisa em banco de dados podem ser: métodos mistos,
multimétodos, quantitativo AND qualitativo, pesquisa de levantamento AND
entrevista.

Os autores Creswell e Clark (2013), citam que antes de optar pelo método misto
de pesquisa, o pesquisador não deve considerar apenas seu problema de pesquisa,
mas também ter o conhecimento sobre o método. O pesquisador deve conhecer o
suficiente para referenciar trabalhos significativos que indicaram essa abordagem, e
não apenas definir métodos mistos e suas principais características. Para esses
autores os pesquisadores devem ter conhecimento acerca das bases históricas e
filosóficas dos métodos mistos, bem como conhecer os principais teóricos que podem
ser utilizados na pesquisa de método misto. Na sequência será feito um breve
apanhado das bases histórica, filosófica e teórica dos métodos mistos segundo a ótica
de Creswell e Clark (2013).

2.3.4.1 Bases históricas dos métodos mistos

Segundo Creswell e Clark (2013) os métodos mistos tiveram início no final dos
anos de 1980, com publicações de diversos autores direcionadas a definir e descrever
o que hoje conhecemos por métodos mistos. Autores de disciplinas e países diversos
chegaram ao mesmo tempo em uma mesma ideia, podendo citar na sociologia
(Brewer e Hunter, 1989) dos Estados Unidos e (Fielding e Fielding, 1986) do Reino
Unido, na disciplina de avaliação (Greene, Caracelli e Graham, 1989) dos Estados
Unidos, (Bryman, 1988) de administração no Reino Unido, na área da enfermagem
39

(Creswell, 1994) nos Estados Unidos e na área da educação (Morse, 1991) do


Canadá. Todos esses autores tiveram publicações no final da década de 80 e início
da 90 sobre um tipo de abordagem que ia além dos métodos quantitativos e
qualitativos, eles consideravam a possibilidade de vincular esses métodos.
Esses precursores da abordagem mista discutiam maneiras de fazer a
integração entre os métodos qualitativos e quantitativos, Bryman (2006) reuniria anos
mais tarde essas abordagens integradas, Creswell e Plano Clark (2007) listariam as
classificações dos tipos de projeto, Morse (1991) deu atenção especial as notações
abreviadas que se referiam a esses projetos, Reichardt e Rallis (1994) nos Estados
Unidos explicariam a filosofia por trás desse método.
Creswell e Clark (2013) enfatizam que os métodos mistos ganharam maior
abrangência no final da década de 80 início de 90, mas que no início de 1959,
Campbell e Fiske já defendiam o uso de múltiplas fontes de informação qualitativa
para validar traços psicológicos, Denzin (1978) e outros apoiavam o uso de dados
qualitativos e quantitativos para guiar estudos acadêmicos. Já Campbell (1974) e
Cronbach (1975), defendiam a integração de dados qualitativos em pesquisas
experimentais quantitativas, Seiber em 1973, escrevia sobre a comparação entre
dados em pesquisa de levantamento e de trabalho de campo. Patton em 1980 propôs
no campo da avaliação “misturas metodológicas”, em projetos naturalísticos e
experimentais.
Para Creswell e Clark (2013), os métodos mistos surgiram devido as
complexidades dos problemas de pesquisas requererem mais do que números
(sentido quantitativo), ou palavras (sentido qualitativo). Os autores acreditam que a
combinação de duas formas de dados permite uma análise mais completa do
problema. Para esses mesmos autores as duas formas de dados são necessárias
hoje. Eles acreditam que os pesquisadores quantitativos já reconhecem que os dados
qualitativos enriquecem os dados quantitativos, e da mesma forma os pesquisadores
qualitativos compreendem que somente os dados qualitativos não são capazes de
generalizar achados para muitos indivíduos.
Creswell e Clarck (2013) descrevem a história dos métodos mistos em cinco
estágios:
Período formativo: teve seu início na década de 1950 e foi até a década 1980,
teve como interesse inicial o uso de mais de um método em um estudo.
40

Período de debate do paradigma: o debate do paradigma da história dos


métodos mistos ocorreu durante as décadas e 70 e 80, nesta época os pesquisadores
qualitativos se achavam firmes de que teorias diferentes pudessem proporcionar
bases de dados qualitativos e quantitativos.
Período de desenvolvimento dos procedimentos: foi durante a década de 80
que o debate se voltou para o desenvolvimento de procedimentos dos métodos
mistos, onde os autores se concentraram na coleta de dados, análise de dados,
propósitos para condução dos estudos e planos de pesquisa.
Período de defesa e expansão: a história da expansão e defesa dos métodos
mistos ocorreram nos últimos anos, seu crescimento se deu a partir da publicação em
2003 do Hand- book of Mixed Methods in Social & Behavio- ral Research (Tashakkori
e Teddlie, 2003a). Creswell e Clark afirmam que, o uso dos métodos mistos aumentou
bastante como apontavam alguns periódicos em 2010, além disso o interesse
internacional por esse método tem expandido bastante com publicações em países
como Sri Lanka (Nastasi et al., 2007), Alemanha (Bernardi, Keim e von der Lippe,
2007), Japão (Fetters, Yoshioka, Gre- enberg, Gorenflo e Yeo, 2007) e Reino Unido
(O’Cathain, Murphy e Nicholl, 2007).
Período reflexivo: esse período se baseia em três discussões que auxiliam
verificar em que estágio se encontra os métodos mistos: Creswell (2008a, 2009b),
Greene (2008) e Tashakkori e Teddlie, (2003b). Este período é caracterizado por dois
tópicos: fazer uma avaliação atual do campo e olhar para o futuro, e críticas
construtivas que provocam a emergência dos métodos mistos e no que eles se
transformaram.

2.3.4.2 Bases filosóficas dos métodos mistos

Além de bases históricas os métodos mistos também têm seus fundamentos


filosóficos, que são as visões de mundo que fundamentam o estudo. Creswell e Clark
(2013) acreditam que as suposições filosóficas é explicar os elementos da visão de
mundo e relacioná-los à procedimentos próprios de um projeto de métodos mistos.
Eles acham necessário pensar em uma estrutura onde a filosofia se ajuste ao
planejamento de um estudo misto e se utilizam do conceito de Crotty (1998), para
situar a filosofia dentro de um estudo mistos.
41

Figura 1: Quatro níveis de desenvolvimento para uma pesquisa

Fonte: Creswell e Clark (2013, p.45).

Essas suposições filosóficas dizem qual postura teórica o pesquisador deve


adotar para o estudo. Essa postura traz informações sobre a metodologia (estratégia,
plano de ação, ou projeto de pesquisa), e pôr fim a metodologia agrega os métodos
(técnicas e procedimentos), usados para reunir, analisar e interpretar os dados.
a) As suposições filosóficas nos métodos mistos são um aglomerado de
crenças e teorias que conduzem a pesquisa, pode-se dizer que essas
suposições são visões de mundo, ou paradigmas, sendo então o conjunto
de valores, crenças e generalização de um grupo de especialistas. Creswell
e Clark (2013) citam quatro visões de mundo, são elas: pós-positivista,
construtivista, participativa e a pragmática, ainda dão algumas das
principais características de cada uma destas visões de mundo.
b) Visão de mundo pós-positivista, tem como características o determinismo,
o reducionismo, observação e mensuração empírica e verificação da teoria.
Essa visão de mundo está relacionada à abordagem quantitativa.
c) Visão de mundo construtivista, nessa visão de mundo as características
principais são o entendimento, múltiplos significados do participante,
construção social e histórica e geração de teoria. A abordagem qualitativa
está associada a esta visão de mundo.
d) Visão de mundo participativa, possui característica política, capacitação e
orientação para a questão, colaborativa e orientada para a mudança, essa
42

visão é mais associada aos métodos qualitativos do que quantitativos,


embora muitas vezes essa associação não ocorra.
e) Visão de mundo pragmática, temos nessa visão de mundo as seguintes
características: as consequências das ações concentrada no problema,
pluralista e orientada para a prática do mundo, está mais associada aos
métodos mistos.
Visões de Ontologia Epistemologia Axiologia Metodologia Retórica (qual é
mundo (natureza da (relacionament (qual o papel (qual é o a linguagem da
realidade) o entre o dos valores) processo da pesquisa)
pesquisador e o pesquisa)
que é
pesquisado)
Pós- Realidade Distância/ Não Dedutivo (testam Estilo formal
positivista singular Imparcialidade tendencioso uma teoria a (usam definições
(rejeitam ou não (coletam os (checam para priori) de acordo com as
as hipóteses) dados eliminar viés) variáveis)
objetivamente)
Construti- Realidades Proximidade (o Tendencioso (o Indutivo (iniciam Estilo informal
vista múltiplas pesquisador pesquisador com as visões (utilizam escrita
(citações sobre visita os fala sobre o seu dos participantes literária
diferentes participantes viés e e depois fazem informal)
perspectivas para a coleta de interpretação) generalizações
dados)
Participa- Realidade Colaboração Negociado (os Participativo (os Defesa e
tismo política (os (pesquisadores pesquisadores participantes são mudança (são
achados são envolvem os negociam seus envolvidos em empregados
negociados com participantes vieses com os todas as etapas estilos formais e
os participantes) ativamente) participantes) da pesquisa e na informais de
revisão cíclica escrita)
dos resultados)

Pragmatis- Realidades Praticidade Posturas Combinatista (a Formal e


mo singulares e (coletam os múltiplas coleta de dados informal (há o
múltiplas dados pelo que (utiliza são tanto emprego de
(testam “funciona”, e perspectivas quantitativas escrita formal e
hipóteses e assim lidar com o tendenciosas e quanto informal)
apresentam problema de não qualitativas)
múltiplas pesquisa) tendenciosas)
perspectivas)

Tabela 1:Elementos e implicações das visões de mundo


Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

Segundo Creswell e Clark (2013), muitos autores de métodos mistos têm se


dirigido para a identificação da “melhor” visão de mundo para os métodos mistos,
aquela que permita uma fundamentação para estes métodos. Vários autores de
métodos mistos têm utilizado como visão de mundo o pragmatismo. O pragmatismo é
formado por ideias estruturadas por várias pessoas, desde personalidades históricas
43

até contemporâneas. É baseado em várias ideias e usando “o que funciona”,


considera o objetivo e também o subjetivo, usando diferentes abordagens.
Para Creswell e Clark (2013), Tashakkori e Teddlie (2003a), ligaram totalmente
o pragmatismo aos métodos mistos, alegando os seguintes benefícios:

 Todos os métodos de pesquisa quantitativo e qualitativo podem fazer


parte de um mesmo estudo.
 A questão da pesquisa deve ser de fundamental importância (mais do
que a visão de mundo e o método.
 A dicotomia da escolha forçada (pós-positivismo e construtivismo) deve
ser deixada para trás.
 Devem ser abandonados conceitos metafísicos como “verdade” e
“realidade”.
 A metodologia deve ser guiada por uma filosofia prática e aplicada.

Outra visão de mundo considerada “melhor” para as pesquisas de métodos


mistos é a visão transformativa-emancipatória de Mertens (2003). Mertens (2003),
sugeriu uma estrutura chamada de “transformativa”, é uma perspectiva emancipatória,
que considera a visão de mundo e o valor contido em uma pessoa, esses
conhecimentos individuais não é neutro e sim tem influência dos interesses humanos.
O conhecimento representa o poder e as relações sociais dentro de uma sociedade,
e seu propósito é auxiliar as pessoas a melhorar a sociedade. Questões como
opressão e dominação são importantes para o estudo.
Outra perspectiva que vem sendo debatida como possível colaboradora para
os métodos mistos é a realista crítica, essa perspectiva apoia tanto os fundamentos
da abordagem quantitativa, quanto os da qualitativa. No realismo crítico foi discutido
(Maxwell e Mittapalli, no prelo), a integração de uma ontologia realista (existe um
mundo real independente de nossas teorias, percepções e construções), junto a uma
epistemologia construtivista (nosso entendimento de mundo, é a construção das
nossas próprias visões de mundo e perspectivas).
Creswell e Clark (2013) ainda apontam o uso de múltiplas visões de mundo nos
métodos múltiplos, esse ponto de vista “dialético”, considera que pontos de vista
distintos podem proporcionar ideias contraditórias e argumentos questionados.
44

Segundo os autores essas contradições mostram as diferentes maneiras de valorizar


e perceber o mundo social.
Creswell e Clark (2013), adotam uma postura de que mais de uma visão de
mundo seja adotada, para eles essas visões de mundo estão relacionadas ao tipo de
projeto misto que será realizado, e que frequentemente essas visões de mundo
desenham como o pesquisador de métodos mistos elabora seus procedimentos de
pesquisa; na opinião dos dois autores as visões de mundo se ligam aos diferentes
tipos de projetos, complementam dizendo que essas visões de mundo podem mudar
durante o estudo e que podem estar ligadas a diferentes fases do projeto; os
pesquisadores por sua vez devem se honrar e mencionar as visões de mundo que
norteiam seu estudo.

2.3.4.3 Bases teóricas dos métodos mistos


O alicerce teórico nos métodos mistos é a postura adotada, a qual Creswell e
Clark (2013), chamam de “lente” ou “ponto de vista”; e que o pesquisador utiliza,
dando-lhe a direção para as muitas fases do estudo misto. Os autores orientam o uso
de uma teoria da ciência social (teoria de liderança, econômica, teoria de mudança
comportamental, marketing, etc.). Esta teoria deve proporcionar uma estrutura como
uma revisão de literatura, um modelo conceitual, ou uma teoria que ajude o
pesquisador a explicar o que ele procura em seu estudo.
Segundo Creswell e Clark (2013) o ato de pesquisar por meio dos métodos
mistos pode incluir uma lente teórica da ciência social em um estudo misto, seguindo
alguns passos:
- Coloque a teoria no início do artigo, como um organizador à priori, afim de que
guie as questões de estudo.
- Ao redigir a teoria coloque primeiro o nome da teoria usada, descrevendo na
sequência as principais variáveis da teoria, fale sobre estudo que já fizeram uso da
teoria e finalize dizendo como a teoria vai tratar os procedimentos e questões no
estudo moderno dos métodos mistos.
- Apresente um diagrama da teoria que mostre o caminho dos vínculos causais
da teoria, bem como seus conceitos principais ou variáveis da teoria.
- Construa uma estrutura que permita que a teoria sustente tanto a coleta de
dados quantitativos quanto qualitativos do estudo.
45

Creswell e Clark (2013), fazem referência a um outro tipo de teoria que se


diferencia da teoria social, mas que também faz um direcionamento aos estudos
mistos, a “teoria emancipatória”, essa teoria apresenta uma postura teórica em prol de
grupos marginalizados, como uma teoria ética, racial, feminista, de incapacidade ou
orientação sexual, invocando mudança. Os autores relatam um estudo recente feito
em 13 trabalhos de pesquisa com métodos mistos, realizado por Sweetman, Badiee
e Creswell em 2010, que utilizaram a lente emancipatória. Neles, foram encontradas
seis lentes teóricas diferentes usadas nesses estudos, sendo a mais comum a da
teoria feminista, em segundo lugar a socioeconômica, seguido pelos temas:
incapacidade, ecologia humana e gênero em geral.
Após analisarem os estudos esses pesquisadores listaram algumas sugestões
para o uso da teoria emancipatória em estudos mistos.
- Incluir a lente emancipatória no início do trabalho.
- Utilizar essa teoria ao debater o problema de pesquisa.
- Apontar a teoria nas questões da pesquisa, com discurso de defesa e
emancipatório.
- Fazer a discussão da coleta de dado de modo que não segregue a
comunidade.
- Estabelecer a posição do pesquisador no estudo.
- Apresentar um plano de ação ou mudança para finalizar o estudo.

2.3.4.4 Projetos de pesquisas de métodos mistos

Segundo Creswell e Clark (2013), os projetos de pesquisa são esquemas


utilizados na coleta, análise, interpretação e relato dos dados. São diferentes
modelos para realização de uma pesquisa, eles recebem nomes e procedimentos
variados.
Eles auxiliam o pesquisador na escolha e decisões sobre os métodos do estudo
que podem seguir. A partir do momento que o pesquisador identificou que sua
pesquisa precisa de uma abordagem de métodos mistos, e se espelhou em bases
filosóficas e teóricas do estudo, a fase seguinte é optar por um projeto de pesquisa.
Cabe ao pesquisador buscar informações sobre os projetos de pesquisas
mistas existentes. Creswell e Clark (2013), deixam claro que cada projeto tem seu
propósito, história, considerações, pontos fortes, procedimentos, desafios, variantes e
46

suposições filosóficas. O pesquisador ao optar por uma pesquisa de métodos mistos


deve saber que tratará de:
a) Princípios para projeto de estudo de métodos mistos: esse processo pode
ser desafiador para o pesquisador, devido à complexidade que os projetos
de métodos mistos requerem, dois projetos de métodos mistos jamais serão
iguais. Há vários princípios fundamentais que o pesquisador precisa
considerar para trilhar o desenvolvimento de projetos emergentes/fixos, afim
de identificar uma abordagem para o mesmo, que tenha compatibilidade
com o problema, com as questões e propósitos da pesquisa, deixando claro
a razão pela utilização dos métodos mistos.
b) Reconhecer que os projetos de métodos mistos podem ser fixos ou
emergentes: cabe ao pesquisador ter conhecimento da abordagem que está
utilizando e sempre considerar a melhor alternativa para a situação. Nos
projetos fixos de métodos mistos os dados quantitativos e qualitativos são
planejados e pré-determinados no início do estudo e os procedimentos são
executados como planejado. Já os projetos emergentes surgem quando as
questões de pesquisa pedem o uso dos métodos mistos, geralmente
acontece quando uma segunda abordagem é adicionada quando o estudo
já está em andamento, para completar um método que foi considerado
insuficiente.
c) Identificar uma abordagem para o projeto: há vários tipos de abordagem
utilizadas nos métodos mistos, mas elas incidem em duas classes, as
baseadas na tipologia e as dinâmicas. A abordagem baseada na tipologia
possui uma série de classificação de tipos de projetos de métodos mistos,
ela se baseia na classificação de métodos mistos úteis, bem como a escolha
e adequação de um projeto particular, às questões e finalidade do estudo.
Já as abordagens dinâmicas se centram em um planejamento considerando
e relacionando múltiplos elementos do projeto de pesquisa, não se
preocupando em selecionar uma tipologia de projeto já existente. Creswell
e Clark (2013) sugerem para os pesquisadores inexperientes que estão
iniciando uma pesquisa de métodos mistos, optarem pela abordagem
baseada na tipologia, pois ela possui uma série de proposições bem
definidas para serem usadas.
47

d) Compatibilizar o projeto com os problemas, propósito, e as questões de


pesquisa, o princípio básico de uma pesquisa de métodos mistos está
centrada nas questões e problemas da pesquisa, se baseando nas bases
pragmáticas para guiar a pesquisa de métodos mistos, onde se considera
que “o que funciona” aplica-se bem à escolha do método que melhor
“funciona”. O pesquisador deve analisar atentamente seus problemas e
questões de pesquisa para que consiga fazer a escolha de um projeto de
pesquisa que harmonizam os problemas e questões de pesquisa.
e) Ser explícito sobre as razões para misturar os métodos, a combinação
dos métodos quantitativos e qualitativos não é uma tarefa fácil, por essa
razão, é muito importante, deixar claro por que razão os métodos mistos
foram escolhidos. Temos hoje na literatura sobre métodos mistos várias
discussões sobre as razões do uso de métodos mistos. O quadro abaixo
discute as razões para a escolha de métodos mistos segundo Greene,
Caracelli e Graham em 1989, e Bryman 2006.
Tabela 2: Razões para a escolha de métodos mistos
Greene, Caracelli e Graham (1989) Bryman (2006)

 Triangulação: busca a  Triangulação ou maior validade: faz


correspondência dos resultados dos referência a combinação dos métodos
diferentes métodos. quantitativos e qualitativos, a triangulação
 Complementariedade: busca dos achados serve para mutuamente se
esclarecer os resultados de um fortalecerem.
método usando os resultados do  Compensação: refere-se ao fato de que a
outro. combinação das abordagens qualitativa e
 Desenvolvimento: busca utilizar os quantitativa permite compensar seus
resultados de um método para pontos fracos e aproveitar os pontos fortes.
informar ou desenvolver o outro,  Completude: deve-se ao fato que o uso de
onde o desenvolvimento é ambas as abordagens permite ter um
construído incluindo a amostragem, panorama mais amplo da área de
implementação, mensuração e investigação.
decisões.  Processos: quando o estudo quantitativo
 Iniciação: busca descobrir a possibilita um relato da vida social e a
contradição, novas estruturas, qualitativa dá um sentido ao processo.
reformulação das questões e  Questões de pesquisa diferentes: se
resultados do outro método. refere a argumentação de que as
 Expansão: busca expandir a pesquisas quantitativas e qualitativas,
importância e a extensão da podem responder diferentes questões de
investigação como o uso de métodos pesquisa.
distintos para diferentes elementos  Explanação: quando uma é usada para
da investigação explicar os achados da outra.
 Resultados inesperados: refere-se ao
fato de que as pesquisas qualitativas e
quantitativas podem ser produtivas quando
os resultados surpreendentes de um
48

método, são podem ser compreendidos


fazendo o uso de outro.
 Desenvolvimento do instrumento:
acontece quando a pesquisa qualitativa é
usada para desenvolver itens de um
questionário em escala.
 Amostragem: situações onde um método
é usado para ajudar na amostragem dos
correspondentes ou dos casos.
 Credibilidade: o uso das duas abordagens
aumenta a seriedade dos achados.
 Contexto: quando a combinação de
métodos qualitativos proporciona o
entendimento relacionado aos achados
generalizáveis “externamente válidos ou
relacionamentos amplos entre as variáveis
reveladas em uma pesquisa de
levantamento”.
 Ilustração: uso de dados qualitativos para
ilustrar dados quantitativos.
 Utilidade ou melhoria da utilidade dos
achados: sugere que artigos que combina
as duas abordagens ganha destaque em
relação aos que utilizam apenas uma
abordagem.
 Confirmação e descoberta: refere-se ao
uso da abordagem qualitativos para criar
hipóteses e a quantitativa para testa-las em
um estudo isolado.
 Diversidade dos pontos de vistas:
integra dois fundamentos diferentes,
considera a visão dos pesquisadores e
participantes, mostrando a relação entre as
variáveis por meio da pesquisa
quantitativa, revelando o significado ente
os participantes através da pesquisa
qualitativa.
 Melhoria ou construção dos achados
quantitativos e qualitativos: se refere ao
extrair mais ou aperfeiçoar os achados
qualitativos e quantitativos do que usando
as abordagens quantitativa ou qualitativa.

Fonte: adaptada de Creswell e Clark (2013).


Com base nos quatro princípios citados anteriormente, o pesquisador deve
fazer as escolhas que definem o projeto de métodos mistos que utilizará em seu
estudo. Essas decisões são sobre as diversas maneiras que os itens das duas
abordagens estão se relacionando. Para Creswell e Clark (2013), um estudo de
métodos mistos deve apresentar pelo menos um elemento quantitativo e um elemento
qualitativo. Ao escolher um projeto de métodos mistos para ser usado em um estudo,
o pesquisador deve tomar quatro importantes decisões:
49

1) Determinar o nível de interação entre os elementos quantitativos e


qualitativos: isso significa determinar até onde os elementos estão
mantidos independentes ou interagindo um com o outro, Greene (2007)
destaca duas opções: nível de interação independente, nessa opção os
elementos quantitativos e qualitativos são realizados separadamente e só
se misturam no final para fazer a interpretação geral; já no nível de
interação interativo, os elementos se misturam antes da interpretação final,
ocorrendo de diferentes maneira e fases da pesquisa.
2) Determinar a prioridade dos elementos quantitativos e qualitativos: essa
decisão faz referência ao momento certo de usar os elementos
quantitativos e qualitativos, o mais importante é que essa decisão retrata a
ordem adotada pelos pesquisadores ao usarem os resultados dos dois
conjuntos de dados. Creswell e Clark (2013), consideram três maneiras de
classificar o momento certo: combinação simultânea, os dois elementos
estão combinados em uma única fase; o momento certo sequencial,
quando os elementos são interpretados em fases diferentes, um ocorrendo
após o outro; e o momento certo da combinação multifásica, esse momento
acontece quando o pesquisador usa várias fases que incluem o a
combinação simultânea/ e ou o momento certo sequencial.
3) Determinar onde e como misturar os elementos quantitativos e qualitativos:
a mistura dos elementos é a correção dos elementos quantitativos e
qualitativos, é a interação e combinação desses dois elementos, é nesse
momento que o pesquisador implementa o processo independente ou
interativo de um estudo misto. Nesse momento dois conceitos devem ser
considerados: o ponto de interface e as estratégias de mistura, o ponto de
interface é o ponto onde os elementos quantitativos e qualitativos são
misturados, também pode ser chamado de estágio de interação. Creswell
e Clark (2013) conceituam mistura como algo que ocorre em quatro
momentos possíveis durante uma pesquisa: interpretação, análise de
dados, projeto e coleta de dados.
 A mistura durante a interpretação: acontece na fase final da pesquisa,
misturando os dados qualitativos e quantitativos é o único meio de mesclar
os dados para os projetos mistos com elementos independentes.
50

 A mistura durante a análise de dados: nesse caso a mistura ocorre quando


o pesquisador está analisando os dois tipos de dados coletados, fazendo a
combinação dos dados quantitativos com os qualitativos de forma
interativa.
 A mistura durante a coleta de dados: acontece quando a mistura entre os
dados quantitativos e qualitativos acontecem na fase da coleta de dados,
geralmente acontece quando os resultados obtidos na coleta de um
elemento, leva a coleta de dados de um segundo elemento.
 A mistura durante o projeto: ocorre quando a mistura dos elementos
qualitativos e quantitativos acontecem em grande parte da pesquisa. Essa
mistura ocorre quando o projeto de pesquisa qualitativo ou quantitativo
apresenta uma teoria emancipatória, uma teoria da ciência social ou um
objetivo geral do programa. A mistura de projeto os pesquisadores utilizam
três estratégias: mistura incorporada (é utilizado para fazer ajustes na maior
estrutura do projeto quantitativo ou qualitativo), mistura baseada na
estrutura teórica (a mistura dos dois métodos ocorre em uma organização
transformativa ou substantiva em uma perspectiva teórica), mistura
baseada na estrutura objetiva do programa (a mistura ocorre dentro de um
objetivo geral do programa que direciona os estudos múltiplos em um
projeto multifásico ou a união de projetos).

2.3.5 Procedimentos utilizados na pesquisa mista

Podemos dizer que os procedimentos escolhidos para realizar uma pesquisa


científica é toda a técnica, método ou mecanismo que será utilizado pelo pesquisador
no decorrer de sua pesquisa. São vários os procedimentos metodológicos usados nas
pesquisas científicas, uns mais e outros menos usados, o tipo de procedimento
escolhido vai depender da abordagem de pesquisa utilizada. Para a abordagem mista
Creswell e Creswell (2021), apontam 3 tipos de procedimentos utilizados:
Métodos mistos convergentes: nesse caso o pesquisador faz a fusão dos
métodos quantitativos com o qualitativo, para obter uma análise mais ampla dos
problemas de pesquisa, nesse tipo de desenho o pesquisador faz normalmente a
coleta de dados de ambas as formas, mais ou menos ao mesmo tempo e, na
sequência faz a interação entre esses dados ao interpretar os resultados. Nesse tipo
51

de desenhos as contradições são explicadas ou investigadas de maneira mais


aprofundada.
Método misto sequencial explanatório: esse desenho de pesquisa é aquele
que o pesquisador realiza primeiro a pesquisa quantitativa, analisa os dados e se
utiliza dos resultados encontrados para então explicá-los mais profundamente com a
pesquisa qualitativa. Explanatório, pois os dados quantitativos iniciais são na
sequência explicados em detalhes com os dados qualitativos, é sequencial porque a
fase quantitativa é seguida pela qualitativa esse desenho é mais encontrado em
pesquisas com forte orientação quantitativa.
Método misto sequencial exploratório: é o inverso da sequência
explanatória, esse desenho a pesquisa qualitativa acontece primeiro, explorando o
ponto de vista dos participantes, os dados então, são analisados e deles extraídas as
informações que serão usadas na fase quantitativa. A fase qualitativa pode ser
utilizada na construção de um instrumento mais apropriado para a amostra que está
sendo estudada e também identificar instrumentos mais apropriados para o
desenvolvimento da fase quantitativa.
Para Sampieri, Collado e Lucio (2013), os métodos misto possuem desenhos
próprios com trabalhos únicos, claro que os desenhos mistos podem ser identificados
por características gerais, onde combinam os métodos quantitativo e qualitativo e esse
desenho geral característico dos métodos mistos é que orienta a escolha do desenho
específico de determinada pesquisa (Hernández Sampieri e Mendoza, 2008), dessa
maneira o pesquisador opta por um desenho misto geral e a partir dele chega-se ao
desenhos específico.
Para se chegar no melhor desenho misto para uma pesquisa o pesquisador
antes precisa fazer uma análise dos objetivos que pretende alcançar, bem como qual
a prioridade da sua pesquisa, quantitativa ou qualitativa, ou ambas, se têm o mesmo
peso e outras questões que envolvem o desenvolvimento da mesma, como qual a
sequência que a pesquisa seguirá. Os autores classificam os desenhos mistos em:
desenho exploratório sequencial, desenho explicativo sequencial, desenho
transformador sequencial, desenho de triangulação concomitante, desenho
incrustado concomitante de modelo dominante, desenho incrustado dominante de
vários níveis, desenho transformador concomitante e desenho de integração múltipla.
 No desenho exploratório sequencial o início acontece com a coleta de
dados qualitativos e na sequência ocorre a coleta de dados quantitativos,
52

podemos ter nesse desenho duas modalidades: a) derivativa: os dados


quantitativos são analisados a partir dos resultados qualitativos. Esse
método é mais usado em pesquisas onde se procura testar elementos de
uma teoria, ou desenvolver um instrumento padronizado; b) comparativa:
os dados qualitativos são coletados e analisados, gerando uma base de
dados, na sequência os dados quantitativos são coletados e analisados,
originando outra base de dados, mas ao contrário da derivada os dados
quantitativos não é inteiramente construída a partir dos qualitativos, mas os
resultados iniciais são apenas considerados: erros na escolha dos tópicos,
áreas difíceis de explorar e outros. As revelações de cada fase são
comparadas e ajustadas em um relatório de estudo.
 Já o desenho explicativo sequencial inicia com a coleta e análise dos
dados quantitativos seguido da segunda fase, coleta e análise de dados
qualitativos, aqui a combinação ocorre quando os dados quantitativos
colaboram com os qualitativos, sem esquecer que a segunda fase acontece
levando em consideração os resultados da primeira, no final ambas as
descobertas são integradas em um relatório do estudo. Nesse desenho a
preferência pode ser tanto ao quantitativo quanto ao qualitativo, ou até o
mesmo peso, sendo o mais comum priorizar o quantitativo. Um dos
objetivos desse modelo é fazer uso dos dados qualitativos para auxiliar nas
descobertas iniciais da pesquisa qualitativa. Se caso a prioridade for dada
à qualitativa o estudo pode ser utilizado para caracterizar casos por meio
de traços relacionados com a formulação do problema, sendo assim os
dados quantitativos servem para orientar a definição de uma amostra
levada por interesses ou finalidade teórica.
 O desenho transformador sequencial também possui duas fases de
coleta de dados, onde a prioridade pode ser dada tanto a qualitativa quanto
a quantitativa, pode-se também dar o mesmo peso às duas e começar por
uma delas. Os resultados das duas etapas são agregados durante a
interpretação, o diferencial desse desenho é que a pesquisa é guiada por
uma perspectiva teórica extensa, como por exemplo, a teoria da adaptação
social, o feminismo, o enfoque das inteligências múltiplas, etc. Os autores
colocam que segundo Creswell e colaboradores (2008), essa teoria é mais
valiosa no sentido de guiar a pesquisa do que como um método. O objetivo
53

maior desse desenho é colaborar com visão teórica do pesquisador, deve


sempre considerar a opinião de todos os participantes em ambas as fases
da pesquisa.
 Já o desenho de triangulação concomitante é considerado o mais
frequente para aprovar e reforçar os resultados, e efetuar a validação
cruzada entre os dados qualitativos e quantitativos, assim como minimizar
os pontos fracos de cada método, como também valorizar os fortes. A
coleta dos dados quantitativos e qualitativos se dão simultaneamente e a
análise quase na mesma hora, a conclusão e explicação dos dois
resultados são realizados durante a análise e discussão dos mesmos,
normalmente comparando os dados. Segundo Sampieri, Collado e Lucio
(2013), Creswell denomina esse processo de comentar os resultados de
“lado a lado”, ou seja, os dados estatísticos de cada variável ou hipótese
quantitativa são colocados e depois categorias e segmentos qualitativos,
como na teoria fundamentada, confirmando os achados quantitativos.
 No desenho incrustado concomitante de modelo dominante, a coleta
de dados também se dá simultaneamente como na triangulação
concomitante, mas aqui o método dominante é que conduz o projeto,
podendo ser o quantitativo ou o qualitativo, sendo assim o método
secundário é colocado no método prioritário. Segundo Creswell e
colaboradores (2008), essas duas bases de dados podem trazer diferentes
visões do problema em questão. Aqui, os dados coletados em ambos os
métodos, são misturados e confrontados na fase da análise,
proporcionando uma visão mais ampla do problema, como exemplo: os
dados quantitativos podem ser usados para melhorar os dados qualitativos.
A vantagem desse desenho é que o pesquisador pode ter uma visão mais
abrangente do objeto de estudo, pois os dados da pesquisa são coletados
simultaneamente. Já o desafio é fazer a transformação dos dados
qualitativos e quantitativos para que possam ser analisados em conjunto,
para isso é necessário que o pesquisador tenha um conhecimento
profundo.
 Já no desenho incrustado concomitante de vários níveis os dados
quantitativos e qualitativos não são coletados simultaneamente, mas sim
em níveis diferentes e as análises são variadas em cada um deles, ou em
54

um nível acontece a análise e a coleta dos dados quantitativos e, em outro


nível a coleta e análise dos dados qualitativos e assim por diante. Um dos
objetivos desse desenho é buscar diferentes informações em variados
grupos e/ou níveis de análise.
 No desenho transformador concomitante há a combinação de vários
elementos dos desenhos anteriores, a coleta dos dados qualitativos e
quantitativos se dá ao mesmo tempo, podendo dar mais peso ao
quantitativo ou qualitativo. As coletas de dados são guiadas por uma visão,
teoria, ou pelo desenho quantitativo ou qualitativo como acontece no
desenho transformador sequencial, segundo Creswell (2009) esses
desenhos podem ser incrustados ou de triangulação, tem por intuito alinhar
as pesquisas qualitativa e quantitativa para uma mesma direção.
 O último, o desenho de integração múltipla, classificado como um
desenho de pesquisa avançado onde há a combinação do quantitativo com
o qualitativo, os autores colocam como um método complexo, pois tem que
ter total domínio sobre os métodos, mas por outro lado, oferece as
vantagens de cada um dos métodos, sendo que a pesquisa varia entre o
indutivo e o dedutivo. Nesse tipo de pesquisa os dados são coletados em
vários níveis da pesquisa, podendo ser em sequências diferentes ou ao
mesmo tempo. A análise dos dados qualitativos e quantitativos se dá
durante toda pesquisa, nesse tipo de desenho, outros desenhos podem ser
incluídos, há interação no processo e os resultados são relatados ao final,
podendo haver no relatório durante, são utilizados em estudos com
problemas complexos e os resultados podem ser gerais, podendo ainda
produzir uma teoria emergente e até mesmos explorar e testar hipóteses.

Creswell e Clark (2013) apresentam quatro projetos básicos para a pesquisa


de métodos mistos: projeto paralelo convergente, projeto sequencial explanatório,
projeto sequencial exploratório e projeto incorporado, e além desses projetos básicos
os autores ainda citam outros dois tipos de projetos que reúnem vários componentes
do projeto: projeto transformativo e projeto multifásico.

Tabela 3: Principais características dos tipos de métodos mistos


55

Tipos de Projeto Projeto Projeto Projeto Projeto Projeto


projetos convergente explanatório exploratório incorporado transforma multifásico
tivo
Definição Coleta de Os métodos Os métodos A coleta pode Coleta de A coleta de
dados são são ser simultânea dados dados é uma
quantitativos executados executados ou sequencial simultânea combinação
e em em dos dados de ou concomitante
qualitativos, sequência, sequência, apoio, sendo a sequencial ou
a análise dos na fase 1 iniciando análise dados dos sequencial
dados acontece a com a coleta separada, o conjuntos de de grupos de
acontece coleta e e análise de uso dos dados dados dados
separada, e análise dos dados de apoio pode qualitativo e quantitativos
fusão dos dados qualitativos ser antes, quantitativo, e qualitativos
dois tipos de quantitativos, na fase 1, durante ou considerand sobre
dados seguida pela seguido pela depois dos o uma múltiplas
fase 2 com a coleta e principais estrutura fases de um
coleta e análise dos métodos teórica que programa de
análise dos dados utilizados direciona as estudo
dados quantitativos decisões
qualitativos na fase 2, dos métodos
que se que se dá a
produz partir da fase
considerando 1
a fase 1
Propósito Precisa de Tem a Possui a Tem a Exige Precisa
do projeto uma necessidade necessidade exigência de conduzir implementar
compreensã de explicar de medir, ou fazer a uma múltiplas
o mais os resultados testar exploração pesquisa fases para
completa de quantitativos achados antes de um reconhece lidar com um
um tópico exploratórios teste e desafie programa
qualitativos experimental as objetivo,
Precisa (sequencial/ injustiças como um
validar ou antes) sociais programa de
reforçar avaliação ou
escalas Precisa de desenvolvi-
quantitativas uma mento
compreensão
mais completa
de um teste
experimental,
como o
processo e o
resultado
(simultânea/
durante)

Precisa de
explicações
de
acompanham
ento após um
teste
experimental
(sequencial/
depois)
Paradigm Pragmatismo 1ª fase Pós- 1ª fase A principal Visão de Se
a como uma positivista Construtivista abordagem mundo simultâneo a
filosofia pode ser o transformati visão de
abrangente 2ª fase 2ª fase Pós- retrato da va como
Construtivista positivista
56

visão de filosofia mundo é o


mundo abrangente pragmatismo

Se for Para o
sequencial elemento
para o qualitativo a
componente visão de
qualitativo a mundo é a
visão é a pós- construtivista
positivista, , para o
para os dados elemento
qualitativos a quantitativo,
visão é a o pós-
construtivista positivismo,
se
sequencial
Interação Independent Interativo Interativo Interativo Interativo Interativo
e
Prioridade Ênfase igual Ênfase Ênfase Ênfase Ênfase Ênfase igual
dos quantitativa qualitativa quantitativa ou igual para
membros qualitativa os
enfoques
quantitativo
se
qualitativos
Momento Simultâneo Sequencial Sequencial Simultânea ou Simultânea Combinação
dos quantitativo qualitativo sequencial ou multifásica
elementos primeiro primeiro sequencial
Ponto Interpretação Coleta dos Coleta de Nível do Durante o Durante o
principal independent dados dados projeto projeto projeto
de e
conexão
para a Análise
mistura interativa
Principais Fusão dos Conexão dos Ligação dos A Mistura Mistura
estratégia dois dois dois incorporação com uma dentro de
s mistas elementos: elementos: elementos: de um estrutura uma
elemento em teórica: estrutura
Após a Parte da Análise dos um projeto é objetiva do
análise análise dos dados baseada no Fusão, programa:
separada dados qualitativos conexão ou
outro tipo de
dos dados quantitativos para a coleta incorporaçã Conexão e
elemento:
para a coleta dos dados o dos provavelment
Com mais dos dados quantitativos Antes, durante elementos e fusão e, ou
análises, qualitativos ou depois de consideran incorporação
quando Utilização do uma partindo de
um elemento
houver Há o uso dos dos dados lente um objetivos
comparações qualitativos importante programático
dados teórica
ou quantitativos para tomar Os resultados transformati
transformaçõ para a decisões secundários va
es de tomada de sobre a serve para
resultados decisão de amostragem melhorar, ou
como se dará e coleta de explicar os
a dados primeiros
amostragem quantitativos resultados
e coleta de na fase 2
dados
57

qualitativos
na 2ª fase
Variantes Bando de Explanações Desenvolvi- Experimento Lente Desenvolvi-
comuns dados de mento da incorporado. feminista mento do
paralelos acompanha- teoria programa
mento Projeto Lente escala e
Transformaç Desenvolvi- correlacional incapacitad avaliação de
ão dos dados Seleção dos mento do incorporado. o projetos
participantes instrumento
Validação Estudos de Lente da Estudos
dos dados caso dos classe estaduais
métodos social multiníveis
mistos. econômica
Estudos de
Pesquisa métodos
narrativa dos mistos
métodos isolados que
mistos combinam
tanta a fase
Etnografia dos simultânea
métodos quanto a
mistos sequencial

Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

Na sequência será feita a consideração dos tipos de projetos mistos


considerando Creswell e Clark (2013):
O projeto convergente, já foi conhecido como triangulação simultânea (Morse,
1991), estudo paralelo (Tashakkori e Teddlie, 1998), modelo da convergência
(Creswell, 1999), e triangulação corrente (Creswell, Plano Clark et al., 2003). Esse
modelo de projeto tem o propósito de obter dados diferentes que se complementem
em um mesmo tópico para obter uma compreensão mais ampla do problema de
pesquisa. Segundo Creswell e Clark (2031), o projeto convergente possui
procedimento formado por quatro passos principais como mostra a tabela abaixo:

Tabela 4: Procedimentos básicos para o uso de um projeto convergente


1º PASSO

Projetar o elemento quantitativo: Projetar o elemento qualitativo:


 Estabelecer a abordagem quantitativa  Estabelecer a abordagem qualitativa e as
e as questões da abordagem questões da abordagem qualitativa.
quantitativa. Coletar os dados qualitativos:
Coletar os dados quantitativos:  Conseguir permissões
 Conseguir permissões  Observar a amostra qualitativa
 Observar a amostra quantitativa  Fazer a coleta de dados com protocolo
 Fazer a coleta de dados fechados
usando instrumentos
2º PASSO
58

Analisar os dados quantitativos: Analisar os dados qualitativos:


 Fazer uso da estatística descritiva e  Uso específico da abordagem qualitativa, e
inferencial e tamanhos de efeitos para procedimentos do desenvolvimento do tema
a análise dos dados quantitativos na análise dos dados qualitativos
3º PASSO

Usar estratégias para ligar os dois conjuntos de resultados:


 Verificar as áreas dos temas retratadas nos dois conjuntos de dados, comparar, confrontar/ou
organizar os dados em uma tabela ou uma discussão
 Verificar os contrastes em um conjunto de resultados com base nas dimensões dentro do outro
conjunto e explorar as diferenças em uma amostra organizada pelas dimensões
 Desenvolver métodos para converter um tipo de resultado no outro tipo de dado (transformar
os temas em números)
 Dirigir análises extras para associar os dados transformados com os outros dados (guiar
análises estatísticas que contemplem as contagens temáticas)
4º PASSO

Interpretar os dados fundidos:


 Interpretar e resumir os resultados separados
 Argumentar em que extensão e de que modos os dois tipos de dados concordam, discordam, se
confrontam um com o outro/ou produzem um entendimento mais completo
Fonte: Baseado em Creswell e Clark (2013).

Considerando ainda os autores, os projetos convergentes possuem alguns


pontos fortes e apesar de ser o mais comum dos projetos mistos ele apresenta certos
desafios como mostra a tabela abaixo:

Tabela 5: Pontos fortes e desafios dos projetos convergentes


PONTOS FORTES DESAFIOS
 O projeto cria um sentido intuitivo, os  São necessários muito empenho e perícia,
novos pesquisadores usualmente isso pela coleta de dados simultânea e o
escolhem esse método, ele foi o peso dos dois dados são iguais,
primeiro a ser debatido na literatura necessitando de membros que possuem
(Jick 1979), tornando-se conhecida habilidades na pesquisa qualitativa e
no conceito de pesquisas de quantitativa, bem como membros com
métodos mistos experiências em comitês de pós-
 É um projeto eficiente, onde os dois graduação, ou treinando pesquisadores
tipos de dados são coletados quase isolados em pesquisas dos dois tipos
que ao mesmo tempo durante uma  Os pesquisadores devem considerar os
fase da pesquisa efeitos produzidos por terem dois conjuntos
 Os dois tipos de dados podem ser de dados, com diferentes amostras e
coletados e analisados separados e tamanho de amostras, os diferentes tipos
independente do outro, usando de amostra acontecem porque os dados
técnicas tradicionais de cada quantitativos e qualitativos geralmente são
método, facilitando a pesquisa em coletados para diferentes finalidades
grupo, onde cada grupo pode incluir (generalização versus descrição da
indivíduos com experiências profundidade, respectivamente)
quantitativas e qualitativas  O desafio de trabalhar com dois dados
muito diferentes e seus resultados, isso
requer planejamento dos pesquisadores,
para que os dois tipos de dados lidem com
os mesmos conceitos
 Pode ser que os pesquisadores tenha a
questão de os dois tipos de dados não
59

coincidirem, e essas contradições podem


produzir outras percepções sobre o tema,
precisando até realizar novas coletas de
dados ou fazer uma nova análise dos
dados anteriormente coletados qualitativos,
quantitativos ou ambos
Fonte: Baseada em Creswell e Clarck (2013).

Creswell e Clarck (2013) ainda falam sobre algumas variantes do projeto


convergente. As variantes dizem respeito à variação existente no emprego dos
principais projetos pelos pesquisadores. A literatura traz três variações existentes para
o projeto convergente:

a) Variantes de base de dados paralelas: o pesquisador faz uso dos dois tipos
de dados para analisar as características do fenômeno e os resultados
independentes são resumidos ou confrontados.
b) Variante da transformação dos dados: essa variante ocorre quando é dado
maior ênfase ao dado quantitativo e utiliza um processo de fusão da
transformação dos dados. Após a análise inicial dos dados os
pesquisadores utilizam meios para quantificar os dados qualitativos.
c) Variante da validação dos dados: é utilizada, quando o pesquisador usa
questionários com questões abertas e fechadas, sendo utilizado os
resultados das questões abertas para validar os resultados das questões
fechadas.
Os projetos sequenciais explanatórios são bastantes destacados na maioria
dos escritos sobre métodos mistos, podendo ser chamados de modelo sequencial
(Tashakkori e Teddlie, 1998), triangulação sequencial (Morse, 1991), e projeto de
interação (Greene, 2007). O projeto sequencial explanatório tem o propósito de utilizar
os resultados qualitativos para explicar os resultados quantitativos iniciais. Para
Creswell e Clark (2013) os projetos explanatórios são os mais práticos dos projetos
mistos e descrevem esse tipo de projeto em quatro etapas, conforme tabela abaixo:

Tabela 6: Procedimentos básicos para o uso de projetos explanatórios


1º PASSO

Planejar e implementar o elemento quantitativo


 Determinar a abordagem quantitativa e estabelecer as questões quantitativas
 Conseguir permissão
 Reconhecer a amostra quantitativa
60

 Colher dados fechados com instrumento


 Fazer a análise dos dados quantitativos através da estatística descritiva e inferencial, e a
dimensão do resultado para responder as questões quantitativas e facilitar as escolhas dos
participantes para a segundo fase
2º PASSO
Usar estratégias para o acompanhamento dos resultados quantitativos
 Estabelecer que resultados serão explicados:
- Resultados significativos
- Resultados não significativos
- Resultados discrepantes ou
- Diferenças de grupo
 Usar os resultados quantitativos para:
- Apurar as questões quantitativas e dos métodos mistos
- Apontar quais participantes farão parte da amostra qualitativa e
- Planejar os protocolos de coleta de dados qualitativos
3º PASSO
Planejar e implementar o elemento qualitativo
 Determinar a abordagem qualitativa e estabelecer as questões da pesquisa qualitativa que
acompanham os resultados quantitativos
 Conseguir permissão
 Escolher intencionalmente uma amostra qualitativa que consiga auxiliar a explicar os dados
quantitativos
 Colher dados abertos com o protocolo dos resultados informados pelos resultados
quantitativos
 Analisar os dados qualitativos utilizando as estratégias de desenvolvimento do assunto e os
específicos da abordagem qualitativa para responder às questões qualitativas e da pesquisa
mista.
4º PASSO
Interpretar os resultados conectados
 Sintetizar e explicar os resultados quantitativos
 Sintetizar e explicar os resultados qualitativos
 Argumentar em que proporção e de que modo os resultados qualitativos auxiliam a explicar os
resultados quantitativos
Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

Creswell e Clark (2013) colocam diversas vantagens para o método


explanatório, por considera-lo o mais prático dos métodos mistos, mas também
apontam alguns desafios específicos desse método, a tabela abaixo retrata esses
desafios e pontos fortes do método explanatório:
Tabela 7: Pontos fortes e desafios do método explanatório
PONTOS FORTES DESAFIOS
 Inicia com uma forte orientação  Precisa de bastante tempo para aplicar as
quantitativa, por isso frequentemente duas fases do método, o pesquisador deve
atrai pesquisadores quantitativos saber que a implementação da fase
 Sua organização de duas fases permite qualitativa precisa de mais tempo do que a
uma implementação direta, pois o fase quantitativa
pesquisador guia os dois métodos em  Pode ser difícil assegurar o conselho de
fases separadas e coleta apenas um revisão institucional, a aprovação do projeto,
tipo de dado em um momento, a aprovação do projeto, pois os
podendo ser realizado por um pesquisadores não podem especificar quem
pesquisador sozinho, sem necessidade serão os membros selecionados na segunda
de uma equipe fase até os dados da primeira fase serem
 O relato final escrito pode ser feito em coletados
seção quantitativa seguida de uma
61

seção qualitativa, deixando um  Cabe ao pesquisador decidir quais resultados


entendimento claro para os leitores quantitativos devem ser melhor explicados,
 O projeto serve para as abordagens após terminada a primeira fase quantitativa
emergentes, onde a segunda fase é  O pesquisador também deve decidir quem
guiada pela fase quantitativa inicial amostrar na segunda fase e quais métodos
serão adotados na escolha dos participantes
Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

Como no método convergente, os métodos explanatórios também possuem


algumas variações, segundo Creswell e Clark (2013) são:

a) Variante do acompanhamento das explanações: é a abordagem mais


comum no método explanatório, onde a prioridade é dada para a fase
quantitativa no início, seguido da segunda fase qualitativa para auxiliar na
explicação dos dados quantitativos.
b) Variante da seleção dos participantes: é menos comum e acontece quando
o pesquisador dá prioridade a segunda fase qualitativa, e não a
quantitativa. É usada quando o pesquisador está focado em explorar o
fenômeno qualitativamente, mas com a necessidades de se coletar dados
quantitativos antes, para identificar e escolher os melhores participantes.

O projeto sequencial exploratório, como o sequencial explanatório também é


sequencial com duas fases, mas no projeto sequencial exploratório o pesquisador
inicia os estudos investigando os tópicos qualitativamente e depois parte para a fase
dois, que é quantitativa.
A intenção geral do projeto é generalizar, considerando alguns indivíduos da
fase um, para uma amostra maior a ser realizada na fase dois. No projeto exploratório
de duas fases o propósito é que a fase dos resultados qualitativos auxilie a segunda
fase que é quantitativa. Segundo Creswell e Clark (2013) os procedimentos do projeto
sequencial exploratório é constituído de quatro passos principais, conforme tabela
abaixo:

Tabela 8: Procedimentos básicos para o uso de projetos exploratórios


1º PASSO

Planejar e implementar o elemento qualitativo


 Determinar a abordagem qualitativa e as questões da pesquisa qualitativa
 Conseguir permissão
 Caracterizar a amostra qualitativa
62

 Colher dados abertos com protocolo


 Fazer a análise dos dados qualitativos usando procedimentos específicos da abordagem
qualitativa e procedimentos de desenvolvimento do tema para responder as questões
qualitativas da pesquisa e coletar informações necessárias para o desenvolvimento da fase dois
2º PASSO
Usar estratégias para construir sobre os resultados qualitativos
 Refinar as questões e hipóteses de pesquisa quantitativa e também dos métodos mistos
 Estabelecer como os indivíduos serão selecionados para a amostra quantitativa
 Organizar e executar um teste piloto utilizando instrumento de coleta de dados quantitativos
considerando os dados qualitativos
3º PASSO
Planejar e implementar o elemento quantitativo
 Determinar as hipóteses ou questões da pesquisa quantitativa que se constrói à partir da
pesquisa qualitativa e apontar a pesquisa quantitativa
 Conseguir permissão
 Escolher uma amostra quantitativa que consiga generalizar ou testar os dados qualitativos
 Colher dados fechados com instrumentos próprios considerando os resultados qualitativos
 Fazer a análise dos dados quantitativos usando estatística descritiva e inferencial e tamanho do
efeito para respondendo as questões quantitativas e as questões do método misto
4º PASSO
Interpretar os resultados conectados
 Sintetizar e explicar os resultados qualitativos
 Sintetizar e explicar os resultados quantitativos
 Argumentar em que proporção e de que modo os resultados quantitativos auxiliam a explicar
os resultados qualitativos
Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

Como os dois projetos anteriores Creswell e Clark (2013) pontuam alguns


pontos fortes e desafios para os projetos sequencial exploratório, conforme tabela
abaixo:

Tabela 9: Pontos fortes e desafios do método exploratório


PONTOS FORTES DESAFIOS
 Por ter fases separadas o projeto  A implementação de um projeto de duas
exploratório fica mais simples fases precisa de um tempo considerável,
descrever, implementar e relatar. inclusive para elaborar um novo
 Ainda que esse tipo de projeto priorize instrumento.
o método qualitativo, a inclusão de  É complicado determinar os procedimentos
elementos quantitativos, torna o da fase quantitativa ao aplicar a validação
método qualitativo mais aceitável para inicial da IRB (institutional review board).
os adeptos quantitativos.  O pesquisador deve procurar usar
 Esse tipo de projeto é adequado intencionalmente amostras pequenas na fase
quando a partir da primeira fase qualitativa e grandes na fase quantitativa,
qualitativo, surge a necessidade de evitando questões de viés no elemento
uma segunda fase quantitativa. quantitativo.
 Há a possibilidade de o pesquisador  Caso um instrumento for gerado entre as
produzir um instrumento novo como fases, o pesquisador deve decidir que dados
potencial produto do processo de usar considerando a fase qualitativa para
pesquisa. construir o instrumento quantitativo e saber
usar esses dados para gerar elementos
quantitativos.
63

 Técnicas devem ser usadas para que garanta


que as pontuações obtidas pelo instrumento
sejam confiáveis e válidas.
Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).

As variantes do projeto exploratório, como nos projetos explanatórios, possuem


duas principais variantes, essas variantes são diferenciadas pela prioridade dos dois
elementos, são elas:

a) Variante do desenvolvimento da teoria: nessa variante a fase qualitativa é


priorizada na fase inicial, seguida pela fase quantitativa que tem papel
secundário. Os dados qualitativos são usados no desenvolvimento de uma
teoria emergente, ou uma taxonomia ou ainda um sistema de classificação.
Creswell e Clark (2013) pontuam, que, contudo, os pesquisadores que
utilizam a abordagem exploratória, enfatizam a segunda fase, quantitativas.
b) Variante do desenvolvimento do instrumento: a fase inicial qualitativa
desempenha papel secundário com o intuito de coletar informações para a
elaboração de instrumento quantitativo, que seja necessário para a fase
priorizada quantitativa.

O Projeto Incorporado, segundo Creswell e Clark (2013), é uma abordagem dos


métodos mistos que o pesquisar une a coleta e análise dos dois tipos de dados,
quantitativo e qualitativo, em um projeto tradicional de pesquisa qualitativa ou em um
projeto tradicional de pesquisa quantitativa. A coleta e análise dos dados pode
acontecer antes, durante ou após a execução da técnica utilizada na coleta e análise
dos dados ligado ao projeto maior. A ideia inicial desse projeto é que um único tipo de
dado não é o bastante para explicar um fenômeno, onde diferentes questões
necessitam ser respondidas e que cada questão precisa de um tipo de dado. Esse
método é usado quando o pesquisador precisa incluir dados qualitativos para
solucionar uma questão secundária dentro de um estudo predominantemente
quantitativo.
Creswell e Clark (2013) colocam que ao se pensar nos procedimentos
utilizados no projeto incorporado, é se concentrar na coleta e análise de dados
complementares referente aos elementos principais do estudo e porque somá-los aos
dados suplementares. Sandelowski (1996), foi quem introduziu a ideia de elementos
64

suplementares acontecendo antes, durante ou após do primeiro elemento e Creswell


e Clark (2013) corroboram com essa ideia e acreditam ser adequada ao pensar em
um projeto incorporado, não importando qual abordagem será colocada como
principal. Pode ter uma ou duas fases e, os procedimentos retratam os
questionamentos importantes para a natureza sequencial ou simultânea da sua
execução. Os passos gerais dos procedimentos de um projeto incorporado segundo
Creswell e Clark (2013) são:

a) Delinear o experimento geral e definir os motivos por que os dados


qualitativos precisam ser incluídos;
b) Colher e analisar os dados qualitativos para aperfeiçoar o projeto
experimental;
c) Colher e analisar os dados quantitativos para os grupos experimentais;
d) Analisar como os resultados qualitativos melhoram os métodos
experimentais e/ou compreender os resultados experimentais.

Tabela 10: Exemplo de procedimentos básicos em um projeto incorporado


65

QUALITATIVO INTERVENSÃO QUALITATIVO


ANTES EXPERIMENTAL DEPOIS

QUALITATIVO
DURANTE

Implementar o elemento Implementar o elemento Implementar o elemento


qualitativo antes do qualitativo durante o qualitativo antes do
experimento experimento experimento
 Argumento sobre o  Argumento sobre o  Argumento sobre o
porquê do uso do porquê do uso do porquê do uso do
elemento qualitativo. elemento qualitativo. elemento qualitativo.
 Determinar as questões  Determinar as questões  Determinar as questões
da pesquisa qualitativa e da pesquisa qualitativa e da pesquisa qualitativa e
sua abordagem. sua abordagem. sua abordagem.
 Conseguir permissões.  Conseguir permissões.  Conseguir permissões.
 Determinar a amostra  Determinar a amostra  Determinar a amostra
qualitativa. qualitativa. qualitativa.
 Colher dados abertos.  Colher dados abertos.  Colher dados abertos.
 Estudar os procedimentos  Estudar os dados  Estudar os dados
usando dados qualitativos qualitativos usando os qualitativos usando os
do desenvolvimento do procedimentos do procedimentos do
tema e também os desenvolvimento do tema desenvolvimento do tema
específicos da e também os próprios da e também os próprios da
abordagem qualitativa abordagem qualitativa. abordagem qualitativa.

Usar o elemento qualitativo Usar o elemento qualitativo Usar o elemento qualitativo


para planejar o para entender o para explicar o
experimento: experimento: experimento:
 Elaborar os  Detalhar as experiências  Relatar porque os
procedimentos de dos participantes com a resultados ocorreram.
recrutamento. intervenção.  Relatar como os
 Apresentar a mensuração  Detalhar o processo. participantes respondem
dos resultados.  Detalhar a autenticidade aos resultados.
 Desenvolver a do tratamento  Relatar que efeitos de
intervenção longo prazo são
experienciados.

Fonte: Adaptada de Creswell e Clark (2013).


As vantagens e os desafios encontrados nos projetos incorporados segundo
Creswell e Clark (2013) estão na tabela abaixo:
Tabela 11 pontos fortes e desafios do projeto incorporado
66

PONTOS FORTES DESAFIOS


 Pode ser usado quando o pesquisador  O pesquisador precisa ser competente nos
não tem tempo, ou meios suficientes métodos mistos e em projetos quantitativos e
para garantir a coleta de dados qualitativos utilizados.
qualitativos e quantitativos amplos,  O pesquisador precisa detalhar o porquê de
por que é dada maior peso a um tipo coletar dados qualitativos (ou quantitativos),
de dado do que o outro. como parte de um estudo quantitativo (ou
 A soma de dados complementares é qualitativo) maior.
capaz de melhorar o projeto maior.  O pesquisador precisa decidir em que
 Esse tipo de projeto trabalha com momento do estudo experimental (antes,
diferentes métodos e estes trabalham durante ou depois), os dados qualitativos
com questões diferentes, favorecendo relacionados a intervenção serão coletados.
o trabalho em equipe, onde os  Pode ser complicado incorporar os dois
membros podem se dedicar em métodos, uma vez que cada um está
questões que são de seu interesse ou respondendo questões diferentes da
competência. pesquisa, mesmo que a intensão não seja
 Os resultados dos dois tipos de dados fundir os dados.
podem ser publicados separadamente,  A coleta de dados qualitativos pode originar
pois focam em questões diferentes. viés de procedimento potencial que afeta os
 O foco principal do projeto é um resultados do experimento.
projeto quantitativo ou qualitativo
tradicional, esse projeto pode ser
interessante para agências de
financiamento que não estão
familiarizadas com os métodos mistos.

Fonte: Baseada em Creswell e Clark (2013).

O projeto incorporado segundo Creswell e Clark (2013), do ponto de vista


conceitual apresenta duas variações apoiada em se um método é incorporado como
um complemento para o projeto maior ou se os dois são incorporados combinando
em um projeto maior, sendo assim essas variantes são:

a) Variante prototípica de um projeto incorporado: ocorre quando o


pesquisador incorpora um conjunto de dados complementares para
trabalhar com diferentes questões dentro de um projeto maior.
b) Variante de projetos híbridos: estudiosos têm discutido sobre esses tipos
de projetos, onde o pesquisador agrega tanto dados qualitativos e
quantitativos em um projeto de procedimentos tradicionais, originando as
variantes estudo de caso de métodos mistos, pesquisa narrativa dos
métodos mistos e etnografia dos métodos mistos.

O projeto transformativo para Creswell e Clark (2013), vai adiante dos quatro
projetos de métodos mistos, acontece quando a pesquisa de métodos mistos utiliza
uma estrutura de base teórica, cuja a visão de mundo é transformativa, esse tipo de
67

visão de mundo pressupõe as necessidades das populações marginalizadas. Seu


propósito é guiar uma pesquisa que vise a transformação e procure prever os motivos
da injustiça social. Os procedimentos no projeto transformativo dependendo das
situações individuais, o pesquisador pode acabar usando qualquer um dos quatro
tipos de projetos anteriores, a diferença é o que esse olhar transformativo ou, a lente
teórica usada pelo pesquisador tem influência provocativa durante toda a pesquisa.
Mertens (2003) menciona as maneiras que esta visão motiva em cinco passos
do processo de pesquisa:

a) Estabelecer o problema e pesquisar na literatura;


b) Reconhecer o projeto de pesquisa;
c) Reconhecer as fontes de dados e escolher os participantes;
d) Reconhecer ou produzir instrumentos e métodos de coleta de dados;
e) Examinar, interpretar, descrever e usar os resultados.

Plano Clark e Wang (2010), constataram examinando os trabalhos publicados


por 11 pesquisadores de métodos mistos, várias maneiras de se conduzir pesquisas
de métodos mistos pluricultural e competente, esses autores sugerem uma síntese,
alguns itens que os pesquisadores de métodos mistos transformativos devem
considerar para planejar seus procedimentos de pesquisa.
Tabela 12: Procedimentos básicos para o uso de projetos transformativo

1º PASSO
Definir um problema e fazer uma busca na literatura
 Procurar intencionalmente na literatura as inquietações de diversos grupos e tópicos sobre
discriminação e opressão.
 Acolher a definição do problema que nasce da comunidade de interesse.
 Criar confiança com os integrantes da comunidade.
 Persistir às estruturas teóricas com base na carência.
 Produzir questões equilibradas de pesquisa – negativas e positivas.
 Apresentar questões que levem à respostas transformativas, podem ser questões com
concentração na autoridade e nas relações de poder nas comunidades e instituições.
2º PASSO
Identificar o projeto de pesquisa
 Utilizar métodos mistos para compreender as dificuldades do problema e responder as diversas
carências das partes interessadas.
 Garantir que o projeto de pesquisa respeite o modo de pensar e o modo de pensar dos
participantes.
 Não negar tratamento a nenhum do grupos, no caso de procedimentos experimentais.
3º PASSO
Identificar as fontes de dados e selecionar os participantes
68

 Focar nos participantes dos grupos associados que sofrem discriminação ou são oprimidos.
 Fugir de rótulos estereotípicos aos participantes.
 Identificar dentro da população alvo as diversidades.
 Utilizar métodos de amostragem que melhoram a introdução da amostra para expandir as
chances de que os grupos marginalizados sejam apropriadas e primorosamente apresentada.
4º PASSO
Identificar ou construir instrumentos e métodos de coleta de dados
 Refletir como os resultados e o processo de coleta de dados vão favorecer a comunidade
estudada.
 Utilizar métodos que assegurem que os achados da pesquisa serão possíveis para essa
comunidade.
 Utilizar métodos de coleta de dados que sejam sensíveis aos ambientes culturais da comunidade.
 Programar a coleta de dados para que essa dê acesso à participação no processo de mudança
social.
5º PASSO
 Analisar, interpretar, relatar e usar os resultados
 Estar receptivo a resultados que gerem novas hipóteses.
 Explorar subgrupos, para verificar os diferentes impactos nos diferentes grupos.
 Organizar os resultados para esclarecer e ajudar na compreensão das relações de poder.
 Apresentar os resultados de modo que auxiliem a mudança e ação sociais.
Fonte: Da autora.
Creswell e Clarck (2013), colocam algumas vantagens e alguns desafios sobre
o projeto transformativo.
Tabela 13: Pontos forte e fracos do projeto transformativo
PONTOS FORTES DESAFIOS
 O pesquisador situa a pesquisa dentro  Há poucas orientações na literatura que auxilie
de uma organização transformativa, na implementação dos métodos mistos
ou de uma visão de mundo defensiva e transformativos, a possibilidade é recorrer a
autônoma. estudos publicados sobre métodos mistos que
 O pesquisador auxilia a preparar os usam uma visão transformativa.
indivíduos criar mudança e ação.  O pesquisador talvez deva explicar o uso do
 Os componentes normalmente método mi
desempenham papel participativo e  sto transformativo, conversando sobre as
ativo na pesquisa. bases teóricas e filosóficas como parte da
 O pesquisador é preparado para usar proposta ou e do relato do estudo.
um conjunto de métodos que  O pesquisador precisa criar confiança e ser
estabelecem resultados que são úteis capaz de guiar a pesquisa de modo
para os sujeitos da comunidade e culturalmente sensíveis.
também são vistos como merecedores
de créditos para os formadores de
política e financiadores.
Fonte: Da autora.
As variantes no projeto transformativo acontecem mais pelas diversas
estruturas teóricas do que pelas diferentes decisões do método, são três as possíveis
variantes deste projeto:

a) Variante transformativa da lente feminista: o pesquisador utiliza uma lente


teórica feminista.
69

b) Variante transformativa da lente da incapacidade: o estudo é estruturado


pelo pesquisador usando uma lente teórica da incapacidade.
c) Variante transformativa da lente da classe econômica: o estudo é
estruturado pelo pesquisador usando uma lente teórica da classe
socioeconômica.

Creswell e Clark (2013) falam também sobre o projeto misto multifásico, ele
acontece quando uma equipe de pesquisadores ou apenas um pesquisador explora
um problema por meio da relação entre os dados quantitativos e qualitativos,
sequencialmente alinhados.
Os projetos mistos multifásicos atualmente combinam métodos simultâneos e
sequenciais e são mais utilizados em estudos grandes fundamentados, com várias
questões sendo investigadas para prosseguir com um objetivo programático. Tem
como objetivo lidar com questões de pesquisa impulsionais que progridem um objetivo
de pesquisa programático. Os procedimentos gerais dos projetos mistos multifásicos
permitem que cada estudo cuide de um conjunto específico de questões de pesquisa
que se fortalecem para cuidar de um objetivo maior do programa, o pesquisador
precisa esclarecer metodicamente, em cada fase, as questões de pesquisa,
evidenciando o que contribui para o programa geral de investigação quanto parte do
que foi aprendido nas fases anteriores nos procedimentos criados considerando os
achados anteriores.

Tabela 14: Procedimentos do multimétodos

Objetivo geral Informar o Informar o Continuar como


do programa Estudo I objetivo geral Estudo II objetivo geral Estudo III requerido
do programa do programa

 Definir os pontos da  Definir os pontos da  Definir os pontos da pesquisa


pesquisa que levam ao pesquisa que levam ao que levam ao objetivo geral e os
objetivo geral. objetivo geral e os resultados do estudo I e II.
resultados do estudo I.
 Organizar, guiar e analisar um
 Organizar, guiar e analisar  Organizar, guiar e analisar estudo quantitativo, qualitativo,
um estudo quantitativo, um estudo quantitativo, ou de métodos mistos, para
qualitativo, ou de métodos qualitativo, ou de métodos tratar as questões da pesquisa.
70

mistos, para tratar as mistos, para tratar as


questões da pesquisa. questões da pesquisa.  Descrever os resultados do
estudo III.
 Descrever os resultados  Descrever os resultados
do estudo I. do estudo II.
Fonte: Adaptado de Creswell e Clark (2013)

Os pontos fortes e desafios dos projetos multimétodos, segundo Creswell e


Clark (2013), seguem na tabela abaixo:

Tabela 15: Pontos fortes e desafios dos projetos multifásicos


PONTOS FORTES DESAFIOS
 Contém a flexibilidade necessária  O pesquisador deve prever as dificuldades
para usar componentes dos projetos geral ligadas às abordagens individuais
de métodos mistos exigidos para simultâneas e sequenciais nas fases
tratar as questões de pesquisa individuais e subsequentes.
relacionadas.  São necessários tempo, recursos e
 As publicações de estudos esforços na implementação com sucesso
individuais podem ser feitas pelos das várias fases durante muitos anos.
pesquisadores, e ainda continuar a  O pesquisador deve ajudar concretamente
colaborar com a avaliação geral, ou com uma equipe de pesquisadores com o
com o programa geral de pesquisa. propósito do projeto.
 Esse tipo de projeto se ajusta a  O pesquisador deve refletir sobre como
conduta típica da avaliação e relacionar de modo significativo os estudos
desenvolvimento do programa. individuais, como também mesclar estudos
 Esse projeto pode ser utilizado para quantitativos e qualitativos dentro das
oferecer uma estrutura geral para fases.
guiar os estudos variados e  O enfoque prático de vários projetos
interativos durante muitos anos. multimétodos para o desdobramento do
programa requer que o pesquisador
considere como passar os achados da
pesquisa para a prática, por meio do
desenvolvimento de materiais e programas.
 Talvez haja a necessidade de submeter a
novos, ou modificados protocolos ao IRB
em cada fase do programa.
Fonte: Produção própria

As variantes dos projetos multifásicos citadas por Creswell e Clark (2013), para
os autores são apenas o início de um pensamento em como classificar essas
variantes, pois são difíceis de identificar e, normalmente, são publicadas em diferentes
periódicos com diferentes métodos. Os autores citam alguns como:

a) Variantes de projetos de desenvolvimento e avaliação do programa de


larga escala: os mais comuns, são projetos que normalmente são
71

programas de pesquisa com auxílio monetário federal, como pesquisa em


saúde e educação.
b) Estudos multifásicos estaduais: usam diferentes fases e métodos para
estudar diferentes níveis de um sistema, onde cada nível requer um método
diferente.
c) Estudos de métodos mistos individuais que combinam fases simultâneas e
sequenciais: há a combinação de um estudo sequencial com estudo
simultâneo.

2.3.6 Instrumentos utilizados na coleta de dados da pesquisa mista

Para o método misto os instrumentos de coleta de dados foram discutidos por


Creswell e Creswell (2021) dentro de cada uma das abordagens, vamos ver cada uma
delas, separadamente:
Para a abordagem dos métodos mistos convergentes, geralmente os dados
qualitativos podem assumir a forma de entrevistas, observações, registros e
documentos, os quantitativos podem ser listas de verificação observacional, dados
instrumentais, registros numéricos como dados de senso, o intuito é que os dois tipos
de dados sejam coletados levando em consideração o mesmo conceito, um exemplo
dado pelos autores é que se o conceito autoestima está sendo medido na coleta de
dados quantitativos, esse mesmo conceito deve ser averiguado na coleta de dados
qualitativos.
Nesse tipo de abordagem o planejamento se dá em uma única fase: partindo
da coleta e análise dos dados quantitativos e qualitativos - união dos resultados -
interpretação dos dados para comparação.
Nas abordagens de métodos mistos sequenciais explanatórios a coleta de
dados se dá em duas etapas diferentes, primeiramente com uma rigorosa
amostragem quantitativa e na segunda fase a amostragem qualitativa; o intuito é que
a coleta de dados qualitativos se baseia nos dados quantitativos coletados. O
acompanhamento (follow-up) qualitativo pode ser separado em grupos aos
correspondentes à fase quantitativa em diferentes categorias e assim realizar a coleta
dos dados qualitativos com os indivíduos que representam cada um desses grupos. A
abordagem sequencial explanatória, o planejamento, acontece em duas fases: a
72

primeira fase é a coleta e análise dos dados quantitativos - identificação dos resultados
para follow-up, a segunda fase é a coleta e análise dos dados qualitativos -
interpretação dos resultados, como o qualitativo explica o quantitativo.
Na abordagem de métodos mistos sequenciais exploratórios a coleta de dados
se dá em dois momentos: a coleta de dados inicial é qualitativa e o teste da
característica quantitativa acontece na terceira fase do projeto. A dificuldade se dá em
como usar a informação qualitativa da fase inicial na elaboração ou constatação da
característica quantitativa. Na abordagem sequencial exploratória o planejamento
acontece em três fases: na primeira coleta e análise de dados qualitativos, na segunda
fase identificação da característica para testagem (os autores citam como exemplo,
novo instrumento, novas atividades experimentais, nova variável) e na terceira fase, a
testagem quantitativa da característica designada - interpretação dos resultados, com
o teste, melhora os resultados.
Nos métodos mistos Sampieri, Collado e Lucio (2013) citam a necessidade do
pesquisador ter bem definido e especificado o tipo de dado que será coletado, isso
deve ser definido no instante da proposta, embora saibamos que, em se tratando dos
dados qualitativos, não é possível saber com antecedência o número de dados e
casos que serão coletados, sem esquecer que o momento da coleta de dados ser
finalizada é aquele onde há um grande número de categorias e essas dão o
entendimento desejado do problema estudado. Hoje, devido aos avanços dos
métodos mistos, há programas que fazem as análises dos métodos quantitativos e
qualitativos, os dados coletados podem hoje, serem codificados como números e
também serem sua análise em forma de texto. Sem esquecer que no relatório deve
constar quais tipos de dados e instrumentos foram utilizados para a coleta de dados.
73

Figura 2: Tipos de dados na pesquisa e as análises apropriadas

Fonte: Tabela construída por Creswell (2009) e citada Sampieri, Collado e Lucio (2013)

Sampieri, Collado e Lucio (2013) ainda colocam exemplos de dados que podem
ser analisados como texto ou ainda codificados numericamente, são elas: pesquisas
de levantamento (questionário com questões abertas); entrevistas não estruturadas
ou semiestruturada, registros de documentos e registros históricos, observações e
grupos focais. Acrescentam que o tipo de instrumento e dados deve ser determinados
pela caracterização da pesquisa.
Creswell e Clark (2013) apresentam diversas orientações na coleta de ambas
as formas de dados na pesquisa de métodos mistos, são elas:

 O pesquisador não pode perder de vista que o propósito da coleta de dados


em um estudo misto é encontrar respostas para as questões da pesquisa.
 O pesquisador deve estar familiarizado com a coleta de dados quantitativos
e qualitativos.
 É permitido ter uma forma aleatória e combinada de amostragem
(quantitativa) e intencional (qualitativa).
 Há pouco material escrito, principalmente, sobre a coleta de dados na
pesquisa mista, com exceção às discussões de Teddlie e Yu (2007), que
afirmaram não ter um tipo totalmente aceito de estratégia de amostragem
dos métodos mistos.
74

 O destaque para a importância em detalhar os procedimentos de coleta de


dados na metodologia de um estudo misto, isso ajuda outros pesquisadores
a entenderem sobre esse método.
 Há diferentes tipos de projetos mistos, e esses necessitam de tipos
específicos de questões e decisões para o procedimento da coleta de
dados, e as decisões estão relacionadas especialmente à amostragem e
às estratégias de amostragem.
A tabela mostra questões para a coleta de dados de cada um dos tipos de
projetos mistos:
Tabela 16: Tipos de projetos, decisões e recomendações dos métodos mistos para a
coleta de dados
Tipos de projetos de Decisões a serem tomadas Sugestões para a estruturação de um
métodos mistos na coleta de dados estudo de método misto
Projeto convergente Ambas as amostras incluirão Use os mesmos indivíduos caso o
indivíduos diferentes ou os propósito seja comparar os conjuntos de
mesmos indivíduos? dados.

As amostras terão tamanhos Reflita que opção usar, como precisar que
iguais? não é um empecilho ter tamanhos
diferentes, optar por amostras de
tamanhos iguais, ou optar que tamanhos
desiguais é um problema para o estudo.

Produza questões simultâneas para a


A mesma ideia será coleta de dados quantitativos e
analisada qualitativa e qualitativos.
quantitativamente?
Apure dados quantitativos e qualitativos
Dados coletados de uma independente de duas fontes.
única fonte ou de fontes de
dados independentes?
Projeto explanatório Nas duas amostras serão Os indivíduos que participaram da fase
usados os mesmos quantitativa devem também participar da
indivíduos ou indivíduos fase qualitativa.
diferentes?

As amostras serão de A fase quantitativa tem amostra um pouco


tamanhos iguais? maior que a fase qualitativa.
75

Quais resultados Estude variadas maneiras dependendo o


quantitativos serão acompanhamento necessário.
assistidos?
A seleção dos participantes do
Como será a escolha dos acompanhamento deve levar em
participantes do consideração os resultados iniciais
acompanhamento? quantitativos

Relate a fase do acompanhamento como


Como deve ser descrita a tentativa e adicione um anexo, se for
fase de acompanhamento necessário.
emergente para aprovação
do IRB?
Projeto exploratório Quantos e quais serão os Para a fase quantitativa utilize uma
indivíduos que irão participar amostra diferente da fase qualitativa, para
da fase de acompanhamento tornar a amostra maior.
quantitativo?
Caracterize a fase de acompanhamento
Como a fase de como uma tentativa e acrescente um
acompanhamento de ser anexo, caso necessário.
caracterizada para
aprovação do IRB? Utilize temas, códigos e citações para
auxiliar a planejar o instrumento ou
Quais resultados qualitativos taxonomia.
serão utilizados para
comunicar a coleta dos dados
quantitativos? Utilize um esquema para comunicar os
diversos passos nesse processo.
Como você transmite a
precisão do planejamento do
instrumento?
Projeto incorporado Quando e por que os dados Ofereça razões para integrar os dados e
incorporados devem ser reflita o momento oportuno para a
utilizados no estudo? incorporação.

A integração de um segundo Faça a coleta do segundo conjunto de


conjunto de dados introduzirá dados discretamente (ex: diários durante o
viés? experimento)
76

Caso um procedimento ou Considere que procedimentos e projetos


projeto for utilizado para unir têm sido utilizados na pesquisa de
dados qualitativos e métodos mistos.
quantitativos qual será ele?

Quais questões de coleta de Procure a literatura para os tipos de


dados podem ser questões ligada ao procedimento ou
antecipadas? projeto escolhido.
Projeto Quais rótulos serão dados Os rótulos usados para referenciar os
transformativo para referenciar os participantes devem ser respeitáveis.
participantes?
Planeje um procedimento de amostragem
que favoreça os possíveis participantes
Como a abrangência deve
ser determinada no estudo? Abracem os participantes como
participantes colaborativos (ex: comitê
consultivo).
Como colher dados que
serão merecedores de
créditos para a comunidade Determine medidos sensíveis para os
que está sendo estudada? participantes do estudo.

Quais tipos de instrumentos


devem ser utilizados para que
sejam sensíveis aos Construa maneiras de compensar a
participantes? comunidade (ex: compartilhamento e
encaminhamento dos achados)
Como a coleta de dados será
receptível à comunidade de
estudo?
Projeto multifásico Quais procedimentos de Utilize estratégias de amostragem que se
estratégias múltiplas serão adaptem às fases ou projetos de estudo
utilizados nos projetos ou (ex: níveis, amostragem qualitativa e
fases? quantitativa.

Iguale as estratégias da amostragem às


Acontecerá tanto a necessidades dos projetos ou fases.
amostragem sequencial
quanto a simultânea?
77

De que maneiro o projeto Pense nas abordagens emergentes


tratará com as questões de conectando os indivíduos e planejamento
perda pessoal e de a perda de pessoal.
mensuração?

Que objetivo geral ( ou Aponte um único objetivo para a linha de


direcionamento teórico) unirá investigação formada de múltiplas fases
os projetos ou as fases? ou projetos.
Fonte: adaptada de Creswell e Clark (2013).

2.3.7 Análise, interpretação e apresentação dos dados na pesquisa mista

Na abordagem mista de pesquisa Creswell e Creswell (2021) falam de cada um


dos tipos de abordagem e suas análises dos resultados, separadamente e, assim
faremos agora colocando como ocorrem a análise e integração dos dados, sua
interpretação e validade.
Nos métodos mistos convergentes a análise e integração dos dados se dão em
três fases: primeiro a análise do banco de dados qualitativos fazendo a codificação
dos dados e os dividindo em temas amplos, em segundo vem a análise estatística dos
dados quantitativos e em terceiro lugar a análise dos dados mistos agregando os dois
bancos de dados, a fusão dos resultados pode ocorrer de diversas maneiras:

a) Comparação lado a lado (o pesquisador primeiro descreve os dados


quantitativos e na sequência os dados qualitativos que refutam ou confirmam os dados
estatísticos. Há também a possibilidade de começar com os dados qualitativos e
compará-los com os quantitativos. Essa abordagem é assim chamada porque primeiro
se analisa um resultado e depois o outro comparando-os.
b) Também pode ocorrer a fusão dos dois bancos de dados transformando os
temas (códigos) qualitativos em variáveis quantitativas, fazendo a contagem desses
dados, provavelmente, agrupando-os, conseguindo assim, medidas quantitativas e
então fazendo a combinação dos dados quantitativos.
c) Outro procedimento, que pode ser usado na análise dos dados em pesquisas
mistas convergentes, é a fusão dos dois bancos de dados, podendo ser um gráfico ou
quadro. Esse procedimento é chamado de apresentação conjunta dos dados e podem
apresentar variadas formas. Pode ser um quadro que engloba os temas no eixo
78

horizontal e uma variável categórica (ex. diferentes tipos de profissionais da escola,


como professores, secretárias, pedagogas, merendeiras etc.). O conceito desse
procedimento é que o pesquisador consiga em um único recurso visual fornecer as
duas formas de dados juntas.
Na abordagem mista sequencial explanatória a análise dos dados quantitativos
e qualitativos se dá separadamente, só depois é que os dados são agregados pelo
pesquisador, essa agregação segundo Creswell e Creswell (2021) se dá “por meio da
integração denominada conexão dos resultados quantitativos à coleta dos dados
qualitativos”. Nessa abordagem os dados quantitativos são utilizados para criar um
follow-up qualitativo. Essa abordagem se torna mais fácil do que a convergente, pois
trabalha com análise de dados independentes, sendo assim adequado para pesquisas
de estudantes, pois um banco de dados esclarece o outro e as coletas de dados
podem ter um espaço de tempo entre elas.
Em uma seção destinada à discussão do estudo, o pesquisador faz o relato da
interpretação do follow-up. Nessa abordagem a primeira fase é a análise dos dados
quantitativos, a segunda fase é a análise dos dados qualitativos, e a terceira fase é de
que maneira os resultados qualitativos podem explicar os dados quantitativos, mas os
dados não são agregados. A ideia da abordagem mista sequencial explanatória e que
a interpretação qualitativa dê maior profundidade e entendimento dos resultados
quantitativos. Nessa abordagem como em todas de abordagem mista o pesquisador
deve determinar a validade dos resultados qualitativos, Creswell e Creswell (2021)
recomendam que os pesquisadores examinem todas as opções para a determinação
dos resultados a serem estudados antes de definir uma abordagem, caso contrário a
precisão dos resultados pode ficar comprometida, pois o pesquisador não considerou
todas as opções para o follow-up.
Já na abordagem mista sequencial exploratória o pesquisador faz a análise dos
dois bancos de dados separadamente, o pesquisador se utiliza dos resultados
qualitativos exploratórios para assim planejar a fase quantitativa. Sendo assim o
pesquisador desenvolve uma primeira fase exploratória de dados qualitativos e em
uma segunda fase que analisa e cria um padrão a ser testado (os autores citam como
exemplo: procedimentos experimentais, um site da internet, novas variáveis, etc.) e
na terceira fase, a quantitativa, a qual testa essa característica, é importante que o
pesquisador preste muita atenção quando estudar os dados qualitativos para assim
escolher quais resultados serão utilizados.
79

Os resultados devem ser relatados em uma seção destinada a isso e o


pesquisador deve iniciar sua interpretação pelos dados qualitativos, na sequência
fazer desenvolver ou criar a característica que será testada e por fim realizar os testes
quantitativos, a ideia dessa abordagem é verificar se os resultados qualitativos
encontrados na primeira fase podem ser propagados para uma amostra maior. Aqui
como na abordagem anterior o pesquisador deve examinar a validade dos dados
qualitativos, além dos dados quantitativos. Creswell e Creswell (2021) complementam
citando que a preocupação é que o pesquisador pode não usar os passos apropriados
para desenvolver um bom instrumento psicométrico, outro ponto preocupante é que o
pesquisador pode criar um instrumento ou medida que utilize toda a riqueza dos dados
qualitativos.
No caso das diversas abordagens de métodos mistos complexos, elas
envolvem mais procedimentos e passos do que as três anteriores, por isso
“complexos”, isso não quer dizer que são mais avançadas.
Para Sampieri, Collado e Lucio (2013) a análise dos dados em uma pesquisa
de métodos mistos está relacionada com o desenho e os meios escolhidos para a
realização da pesquisa, onde o pesquisador se utiliza de métodos padronizados
quantitativos (estatística inferencial e descritiva) e qualitativa (avaliação temática e
codificação), acreditando nesses procedimentos. Abaixo serão apresentados alguns
exemplos colocados pelos autores considerando o desenho escolhido e seus
possíveis procedimentos de interpretação e análise dos dados:

a) Concomitantes (triangulação, incrustado e transformadores), os


procedimentos para este tipo de desenhos podem ser: 1) quantificar dados
qualitativos (os dados qualitativos são codificados e atribuído número a
essa codificação, realizando a análise descritiva de frequência); 2)
qualificar dados quantitativos (os dados numéricos são analisados levando
em consideração o significado que eles trazem, desses significados são
criados assuntos que retratam esses dados. 3) comparar diretamente os
resultados da coleta de dados quantitativos com os resultados obtidos na
coleta de dados qualitativos; 4) consolidar dados, combinando dados
quantitativos e qualitativos para formar novas variáveis ou conjunto de
dados; 5) criar uma matriz, conciliar os dados qualitativos e quantitativos
em uma mesma matriz.
80

b) Sequenciais (exploratório, explicativo, transformadores), para esses


desenhos mistos os autores sugerem: 1) aprofundar a explicação dos
resultados, fazer comparações entre duas amostras e após algum tempo,
fazer entrevista para verificar os motivos das diferenças e ou semelhança
entre eles; 2) desenvolvimento de tipologias, um conjunto de categorias
substantivas são produzidas, considerando que a análise de um
determinado dado gera uma tipologia; c) identificar instrumentos de coleta
de dados, faz-se a coleta dos dados qualitativos identificando seus temas
e categorias, sendo estas utilizadas como base na localização de
instrumentos padronizados; d) apresentar um instrumento, podendo
procurar instrumentos disponíveis que possam ser modificados, para ficar
de acordo com o que foi encontrado na fase exploratória qualitativa; e)
formar dados categóricos, fazer a contextualização das características
obtidas em uma indução etnográfica; f) estudar vários níveis
continuamente, os resultados obtidos em uma situação auxilia na coleta e
análise do próximo; g) fazer a análise de casos extremos, isso ocorre
quando um caso é analisado por métodos diferentes, procurando
aprofundar a primeira análise.

Com as análises quantitativas, qualitativas e mistas prontas o pesquisador deve


então fazer as inferências, seus comentários e conclusões sobre o estudo. As
inferências podem ser qualitativas, quantitativas e mistas, essa última é chamada de
metainferência. O pesquisador pode fazer o relatório colocando, primeiramente, a
inferência de cada método e na sequência em conjunto, ou ainda colocar cada tipo de
inferência por área de resultado. Sampieri, Collado e Lucio (2013) citam Tashakkori e
Teddlie (2008), os quais afirmam que as inferências devem obter consistência
interpretativa: congruência entre si e entre elas e os resultados da análise dos dados.
Os autores acrescentam ainda que as inferências devem estar de acordo com
o tipo de evidência apresentada e que o nível de intensidade deve representar a
seriedade dos eventos ou os resultados descobertos. Além disso as inferências e
metainferências devem estar de acordo com as teorias dominantes com maior apoio
empírico como também os achados de outras pesquisas. Sobre como devem ser os
relatórios mistos, os autores mencionam não ter uma regra determinada como nas
pesquisas qualitativas e quantitativas, mas citam algumas diretrizes que foram
81

desenvolvidas levando em consideração o trabalho de diversos autores e também de


publicações em revistas como o Journal of Mixed Methods Research. As diretrizes
recomendadas em um relatório de pesquisa mista são:

a) O relatório deve conter tanto a pesquisa qualitativa como a quantitativa,


devem ser coladas as coletas, análises dos dados de ambas as
abordagens, bem como suas inferências (Creswell e Tashakkori, 2007);
b) O relato deve mostrar uma evolução no conteúdo estudado, ou seja, deve
somar um item a literatura atual ou ainda uma questão ignorada (Creswell
e Tashakkori, 2007);
c) Deve apresentar os métodos de validação qualitativos e mistos
(triangulação, auditoria, checagem com os participantes, etc.);
d) A abordagem mista deve ligar e relacionar os estudos qualitativos e
quantitativos e não os mencionar separadamente. Espera-se que ao final
dos estudos os resultados das duas abordagens sejam integrados dando
maior entendimento sobre o estudo (Creswell e Tashakkori, 2007);
e) Uma outra qualidade dos métodos mistos é que acrescenta elementos que
preenchem “buracos de conhecimento”, adicionando novos pontos de
vistas à literatura sobre a pesquisa mista no segmento onde estamos
trabalhando (Hernández Sampieri e Mendoza, 2008);
f) O que realmente importa no relatório misto é que ele permita uma
compreensão detalhada e plausível do significado do fenômeno (Creswell
e Tashakkori, 2008), podendo até em alguns momentos ter uma nova visão
sobre ele (Hernández Sampieri e Mendoza, 2008).

Para Creswell e Clarck (2013), a análise dos dados em projetos mistos


constitui-se em analisar os dados separadamente, usando métodos quantitativos para
analisar os dados quantitativos e métodos qualitativos para analisar os dados
qualitativos. Os passos e decisões para a análise dos dados dependem do tipo de
projeto misto adotado, programas de computador podem auxiliar na análise
quantitativa, qualitativa e mista.
Nas análises dos dados quantitativos e qualitativos os pesquisadores seguem
um conjunto de passos semelhantes, como: preparar os dados para a análise, explorar
os dados, reproduzir os dados, interpretar a análise, legitimar os dados e a
82

interpretação, o quadro abaixo mostra os diferentes procedimentos ligados a cada


passo para a pesquisa quantitativa e qualitativa.

Tabela 17: Procedimentos de análise de dados quantitativos e qualitativos


recomendados para o planejamento de estudos de métodos mistos
Procedimentos rigorosos da análise Procedimentos Procedimentos persuasivos da análise
dos dados quantitativos gerais na análise dos dados qualitativos
dos dados
 Catalogar os dados Preparação dos  Preparar os documentos e
atribuindo valores dados para a dados visuais.
numéricos. análise  Reproduzir um texto.
 Organizar os dados para  Organizar os dados para a
análise com um programa análise em um programa de
de computador. computados.
 Limpar o banco de dados.
 Fazer nova codificação ou
computar variáveis novas
para análise por
computados.
 Determinar um conjunto de
códigos.
 Examinar os dados Exploração dos  Ler através dos dados.
visualmente. dados  Registrar anotações.
 Dirigir análises descritivas.  Desenvolver um livro de
 Examinar as distribuições e códigos qualitativos.
tendências.
 Optar por um teste Análise dos dados  Codificar os dados.
estatístico apropriado.  Conferir rótulos aos códigos.
 Examinar os dados para  Agregar os códigos e temas,
testar as hipóteses e ou categorias.
responder as questões da  Relacionar os temas, ou
pesquisa. categorias, ou ainda sintetizar
 Esclarecer os testes para um conjunto menor de
inferenciais, os intervalos temas.
de confiança e a extensão  Fazer uso de programas de
dos efeitos. computador de análise de
 Utilizar programas de dados qualitativos.
computador estatístico
quantitativo.
83

 Expor os resultados em Representação das  Expor os resultados nas


declarações dos análises dos dados discussões de temas ou
resultados. categorias.
 Exibir os resultados em  Exibir modelos visuais, tabelas
figuras e tabelas. e/ou figuras.
 Esclarecer de que maneira Interpretação dos  Examinar como foram
os resultados lidam com as resultados respondidas as questões da
questões ou hipóteses da pesquisa.
pesquisa.  Confrontar os achados com a
 Confrontar os resultados literatura.
com a literatura usada na  Meditar sobre o sentido
pesquisa, as teorias ou pessoal dos achados.
explanações anteriores.  Determinar questões novas à
partir dos achados.
 Utilizar padrões externos. Validação dos  Utilizar os modelos do
 Legitimar e conferir a dados e dos pesquisador, do examinador e
confiabilidade dos escores resultados dos participantes.
pelo uso do instrumento no  Utilizar técnicas de validação
passado. como, checagem do membro,
 Demonstrar a validade e triangulação, evidências não
confiabilidade dos dados confirmadoras e examinadores
atuais. externos.
 Analisar a validade externa  Verificar a precisão do relato.
e interna dos dados.  Usar procedimentos limitados
para verificar a confiabilidade.
Fonte: Adaptada de Creswell e Clarck (2013).

A análise dos dados dos métodos mistos para Creswell e Clarck (2013) é um
conjunto de técnicas analíticas aplicadas aos dados qualitativos e aos dados
quantitativos, sendo também uma combinação das duas formas de dados simultânea
e sequencial em um projeto multifásico ou isolado. A interpretação dos métodos
mistos, deve olhar para os achados quantitativos e analisar como as informações
lidam com as questões dos métodos mistos no estudo, ou seja, extrair “inferências” e
“metainferências”, como são chamadas essas informações por Teddlie e Tashakkori
(2009). Creswell e Clarck trazem alguns passos e decisões que devem ser
consideradas na análise dos dados dos métodos mistos que serão descritos na tabela
abaixo:
Tabela 18: Passos e decisões na análise dos dados dos métodos mistos
84

Tipo de Tipo de Passos da análise dos dados Decisões da análise dos


projeto de análise de no projeto dados
métodos dados dos
mistos métodos
mistos
Projeto Associação 1. Coleta dos dados
convergente das análises quantitativos e qualitativos
dos dados simultaneamente.
para 2. Análise independente da
comparar os análise quantitativa dos
resultados dados, da análise
quantitativa e qualitativa
dos dados quantitativos,
usando abordagem mais
crítica e apropriadas para
os dados quantitativos e
qualitativos.
3. Detalhar a proporção pelos Determinar como os dois
quais confrontam os dois conjuntos de dados serão
bancos de dados. comparados.
4. Detalhar quais informações
serão confrontadas entre
as dimensões.
5. Concluir as análises
quantitativas e/ou
qualitativa elaboradas para
criar as informações de
comparações necessárias.
6. Representar as Determinar como representar
comparações. ou apresentar a análise
7. Interpretar como os combinada.
resultados juntos Determinar se é necessária
respondem as questões mais análise.
qualitativas e dos métodos
mistos.
Projeto Combinar a 1. Fazer a coleta dos dados
convergente análise dos quantitativos e qualitativos
dados através simultaneamente.
da 2. Examinar separadamente
transformação os dados quantitativos,
85

dos dados quantitativamente e os


(ex: qualitativos
quantificação qualitativamente usando
dos dados abordagens minuciosas
qualitativos) adequadas para as
questões de pesquisa
quantitativa e qualitativa.
3. Determinar uma variável Determinar de que maneira
quantificada, considerando será quantificado os dados
os resultados qualitativos, e qualitativos.
criar uma rubrica para
caracterizar os resultados
qualitativos.
4. Caracterizar
minuciosamente os
resultados qualitativos para
definir a variável
quantificada.
5. Analisar os dados Determinar sobre as
quantitativos, englobando a estatísticas que serão usadas
variável quantificada, quando os dois conjuntos de
usando qualitativamente as dados forem relacionados.
abordagens analíticas que
mais se adequam às
questões da pesquisa de
métodos mistos.
6. Interpretar de que maneira
os resultados combinados
respondem as indagações
qualitativas, quantitativas e
dos métodos mistos.
Projeto Análise dos 1. Fazer a coleta dos dados
explanatório dados quantitativos.
interligados 2. Analisar os dados
para explicar quantitativos,
os resultados quantitativamente, fazendo
uso de técnicas próprias
para as questões de
abordagem quantitativa.
86

3. Baseado nos dados Definir quais participantes


quantitativos, organizar os acompanhar e quais resultados
dados qualitativos. necessitam ser explicados.
4. Fazer a coleta dos dados
qualitativos.
5. Analisar qualitativamente os
dados qualitativos, usando
técnicas próprias para as
questões de pesquisa
qualitativa e de métodos
mistos.

Projeto Análise dos 1. Fazer a coleta dos dados


exploratório dados qualitativos.
conectados 2. Analisar qualitativamente os
para dados qualitativos, usando
generalizar os abordagem crítica e
achados próprias para as questões
dos métodos qualitativos.
3. Com base nos dados Definir quais dados podem ser
qualitativos, organizar os utilizados no acompanhamento
dados quantitativos. quantitativo.
4. Desenvolver e usar um Definir a melhor maneira de
teste piloto do instrumento avaliar a qualidade
novo ou do novo tratamento psicométrica do instrumento.
de intervenção.
5. Fazer a coleta dos dados
quantitativos.
6. Fazer a análise dos dados
quantitativos,
quantitativamente, usando
abordagem crítica, próprias
para as questões próprias
dos métodos quantitativos e
dos métodos mistos.
7. Interpretar de que maneira
os dados interligados Definir de que maneira os
respondem as questões resultados quantitativos
qualitativas, quantitativas e constrói ou expandem os
dos métodos mistos. achados qualitativos.
87

Projeto Análise dos 1. Estudar o conjunto de


incorporado dados dados principais para
misturados ou responder as questões
interligados, principais da pesquisa.
dependendo 2. Fazer a análise dos dados Definir com os dados dos
se o projeto é secundários (qualitativos ou resultados secundários serão
simultâneo ou quantitativos) onde forem utilizados.
sequencial incorporados dentro do Definir quando os dados
projeto principal, fundindo secundários serão adicionados
ou se conectando, fazendo ao conjunto dos dados
uso dos passos principais.
relacionados aos projetos
convergente, explanatório
ou exploratório.
3. Interpretar de que maneira Definir como dos dados
os resultados primários e secundários validam ou
secundários, respondem as melhoram os dados primários.
perguntas qualitativa,
quantitativa e dos métodos
mistos.
Projeto Análise dos 1. Estudar os dados Definir as análises que mais
transformativo dados qualitativos e quantitativos promoverão evidências para as
fundidos ou misturando ou ligando, lentes transformativas.
conectados usando os passos próprios Escolher pelas decisões de
dependendo dos projetos convergentes, análise de dados que
de o projeto explanatório ou correspondem a ligação ou
ser exploratório. conexão dos procedimentos de
simultâneo ou análise dos dados projetados
sequencial convergentes, explanatório e
exploratório.
2. Interpretar como os Decidir em que amplitude os
achados respondem as resultados mostram iniquidade
questões quantitativas, e necessitam de mudança.
qualitativas e dos dados
mistos.
Projeto Análise de 1. Examinar os dados para Definir sobre a aplicabilidade
multifásico dados cada projeto no programa da análise de dados misturados
fundidos ou geral. ou conectados, ou alguma
conectados
88

para cada combinação para cada fase do


fase ou 2. Usar estratégia para projeto.
projeto no análise misturada e Definir a melhor maneira de
projeto conectada quando ditar o combinar as análises dos
multifásico momento oportuno do dados de todos os projetos no
projeto. estudo para lidar com os
3. Interpretar como os objetivos comuns da pesquisa.
achados respondem às Definir em que amplitude os
questões do projeto de resultados avançam o objetivo
pesquisa e contribuem do programa.
para o objetivo geral.
Fonte: adaptada de Creswell e Clark (2013).

3 O CAMINHO METODOLÓGICO PERCORRIDO

3.1 Caracterização da Pesquisa

Para a caracterização da pesquisa vamos considerar os autores Gil (2022) e


Mattar e Ramos (2021), levando em consideração que no capítulo sobre os critérios
utilizamos os autores Creswell e Creswell (2021) e Sampieri, Collado e Lucio (2013)
foram os utilizados.

3.1.1 A natureza da pesquisa

O trabalho aqui apresentado é de natureza aplicada, e segundo Gil (2019) esse


tipo de pesquisa tem por característica a aplicabilidade, a utilização e os efeitos
práticos do conhecimento; nesse estudo além de classificar as dissertações de
mestrados profissionais em Educação quanto a suas metodologias, e com que
frequência ocorre o uso da abordagem mistas nestas dissertações, tem-se também a
preocupação de fornecer informações que possam colaborar com as pesquisas
científicas na área da Educação, tentando mostrar a importância de um trabalho
pautado em critérios bem definidos, para tanto o produto deste estudo é um guia para
escrita de resumos acadêmicos.
89

3.1.2 Os objetivos da pesquisa

No caso desta pesquisa, sua classificação quanto aos objetivos é exploratória


e descritiva, pois o estudo visa conhecer, explorar como as dissertações de mestrados
profissionais com área de concentração em Educação e tecnologias, estão fazendo
uso da abordagem mista, bem como quais os critérios utilizados nas metodologias
dessas dissertações, a partir dos dados obtidos no levantamento feito nestas
dissertações, foi possível verificar a ocorrência de determinadas características a
serem consideradas a respeito das metodologias e seus critérios de pesquisa,
podendo estas serem descritas.

3.1.3 A abordagem da pesquisa

A pesquisa realizada trata-se de um estudo de revisão sistemática, pois


segundo Vosgerau e Romanowski (2014, p. 176), “buscam identificar pesquisas que
utilizam fontes primárias que procuraram responder o mais próximo possível da
questão formulada pelo pesquisador”; que foi dividida em duas fases. Na primeira
parte da pesquisa após mapear as instituições que ofertam cursos de mestrados
profissionais em educação e tecnologias no Brasil, foi realizado o levantamento das
dissertações em mestrados profissionais com área de concentração em educação e
tecnologias, que fizeram uso do método misto em sua abordagem. Na segunda parte
da pesquisa, foram classificadas as dissertações de métodos mistos, nesta fase
qualitativa aconteceu ao classificarmos as dissertações de abordagem mista, com a
leitura de material bibliográfico pertinente ao assunto. Portanto, a pesquisa
classificada como um estudo de abordagem mista, cujo desenho se identifica como
sequencial explanatório, pois uma fase quantitativa é seguida por uma fase qualitativa.
Para tal classificação foi considerada o conceito de Creswell e Clark (2021, p.
80), “O propósito geral desse projeto é usar um elemento qualitativo para explicar os
resultados quantitativos iniciais.”. Na fase quantitativa foi utilizado como procedimento
a pesquisa do tipo levantamento e para a fase qualitativa, o procedimento utilizado foi
o bibliográfico e documental.
90

3.2 O objeto de estudo

Visando compreender como a metodologia acontece em dissertações de


mestrados profissionais em Educação e tecnologia, em especial, com que frequência
a abordagem mista de pesquisa é utilizada nestas dissertações, consideramos para o
estudo os bancos de dissertações de duas instituições particulares, uma instituição
pública e 10 Institutos Federais que oferecem mestrados profissionais com
concentração em Educação e tecnologias. Segue abaixo quadro com as 13
instituições pesquisadas e suas respectivas regiões, estado e cidade.

Tabela 19: Instituições por região, estados e cidades


Instituição Região Cidade Estado
A Sul Curitiba Paraná
B Sudeste Rio de Janeiro Rio de Janeiro
C Sudeste Uberaba Minas Gerais
D Sul Curitiba Paraná
E Sul Florianópolis Santa Catarina
F Norte Palmas Tocantins
G Sudeste Sertãozinho São Paulo
H Nordeste Fortaleza Ceará
I Nordeste Aracaju Sergipe
J Norte Rio Branco Acre
K Norte Manaus Amazonas
L Sul Santa Maria Rio Grande do Sul
M Nordeste Salvador Bahia
As dissertações não foram lidas na íntegra, apenas o resumo e o capítulo que
descreve a metodologia utilizada pelo pesquisador, além do tipo de abordagem outros
critérios foram considerados, como: a natureza, quanto aos objetivos, a abordagem,
procedimentos utilizados, instrumentos de coleta de dados, apresentação dos
resultados e análise do dado, tornando possível observar algumas características,
lacunas e também equívocos cometidos. Foram vistas um total de 667 dissertações
nos períodos de janeiro a março de 2022, considerando apenas as dissertações dos
últimos três anos das instituições pesquisadas.
91

3.3 Instrumentos para a coleta de dados

Para a coleta dos dados quantitativos foi criado um formulário no Google Forms
com os critérios observados nas metodologias das dissertações de abordagens
mistas, para cada um desses critérios foram colocadas alternativas a serem
assinaladas, a cada dissertação de abordagem mista visitada os critérios foram
assinalados.
Pode-se dizer que os instrumentos utilizados foram a análise de materiais e
documentos, que no caso foram as dissertações, com uso do formulário para
organizar os dados quantitativos obtidos na pesquisa, e para os dados qualitativos
foram feitas análises de materiais bibliográficos sobre o tema, considerando diversos
autores da atualidade.

3.4 Coleta de Dados

As coletas de dados quantitativos e qualitativos ocorreram da seguinte maneira:

a) Como o foco da pesquisa são as dissertações de mestrados profissionais


em Educação e tecnologia, inicialmente ocorreu a busca pelas instituições
brasileiras que ofertam mestrados profissionais com foco em Educação e
tecnologia no Brasil. Para isso foram utilizadas em site de busca (GOOGLE)
as palavras-chave: “mestrado profissional, educação e tecnologia”. O
resultado da busca foram 13 instituições brasileiras que ofertam mestrados
profissionais com foco em Educação e tecnologias, sendo 10 institutos
federais, 2 instituições privadas e 1 instituição pública. As instituições serão
tratadas com letras do alfabeto (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L e M),
localizadas nas seguintes regiões brasileiras: 3 estão na região norte (F, J
e K), 3 na região nordeste (H, I e M), 3 na região sudeste (B, C e G) e 4 na
região sul (A, D, E e L).
b) Com as instituições definidas, foi iniciada a primeira parte da pesquisa
quantitativa, ou seja, o levantamento das dissertações de abordagem mista,
para isto foi iniciada a leitura de cada uma das 667 dissertações, a leitura
se deu a partir do resumo, passando para a metodologia, caso os itens
procurados não fossem encontrados no resumo. As dissertações
92

pesquisadas, estavam disponíveis na biblioteca da instituição (A, B, C, F, H,


K, L e M), ou em links disponibilizados pelas instituições, que encaminham
para a Plataforma Sucupira (D, E, G, I e J). Foram consideradas para a
leitura as dissertações dos últimos três anos de cada uma das instituições.

Gráfico 1: Tipos de abordagens encontradas nas dissertações visitadas

Fonte: Elaboração própria (Google Forms), 2022.

O gráfico mostra que das 667 dissertações, 412 (61,8%), utilizaram a


abordagem qualitativa, apenas 18 (2,7%) dissertações disseram ter usado a
abordagem quantitativa, do restante 136 (20,4%) dissertações mencionaram o uso da
abordagem mista e 102 (15,3%) dissertações, não fizeram menção a nenhuma das
três abordagens.
c) Com o resultado dessa primeira etapa quantitativa o estudo foi limitado
somente às dissertações de abordagem mista. Nesta fase as 136
dissertações mistas foram classificadas segundo os critérios já
mencionados anteriormente, no capítulo 2.3, para isso foi construído um
formulário no Google Forms, que serviu como um banco de informações.
Esse formulário, compostos por questões com caixa de seleção, para que
fosse possível marcar mais de uma alternativa.
93

d) Após a coleta dos dados quantitativos, foram então realizadas a coleta de


dados qualitativos, buscando autores e obras que discorrem sobre o tema
em questão, o foco desta fase qualitativa da pesquisa, foi mostrar os
aspectos, qualidades e atributos de cada critério utilizado na pesquisa
quantitativa, para isso os autores como Creswell e Creswell; Creswell e
Clarck; Sampieri, Collado e Lucio, Minayo, Gil, Mattar e Ramos, e outros,
foram os utilizados, sendo os três primeiros com maior frequência, pois suas
obras retratam os métodos mistos, que é o foco desta pesquisa.
94

Tabela 20: Formulário utilizada para a coleta dos dados quantitativos


95
96

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

São apresentados a seguir os resultados encontrados em cada etapa


quantitativa da pesquisa. A tabela abaixo mostra os resultados obtidos na primeira
etapa da pesquisa quantitativa, “fazer o levantamento das dissertações mistas” nas
667 dissertações observadas por instituição e região a que pertence (Tabela 21).

Tabela 21: abordagem mistas nas instituições brasileiras pesquisadas


Instituição/Região Dissertações Dissertações com
observadas abordagem mista
A/ Sul 64 7
B/ Sudeste 109 23
C/ Sudeste 21 5
D/ Sul 51 14
E/ Sul 50 5
F/ Norte 22 13
G/ Sudeste 38 13
H/ Nordeste 31 10
I/ Nordeste 35 17
J/ Norte 22 2
K/ Norte 35 4
L/ Sul 49 7
M/ Nordeste 140 16
Total 667 136
Fonte: Elaboração própria, 2023

Para proporcionar uma análise apropriada, os resultados foram agrupados por


instituição e por região, conforme a tabela 22.
97

Tabela 22: Abordagem mista com as instituições agrupadas por regiões


Região/Instituição Total de dissertações Total de dissertações
observadas mistas
Norte (F, J E k) 79 19
Nordeste( H, I e M) 206 43
Sudeste (B, C e G) 168 41
Sul (A, D, E e L) 214 33
Total 667 136
Fonte: Elaboração própria, 2023.

Pode-se observar que das 667 dissertações visitadas 214 (32,1%) do total das
dissertações pesquisadas, são de instituições da região Sul (A, D, E e L), seguida de
206 (30,9%) da região Nordeste (H, I e M), 168 (25,2%) da região Sudeste (B, C e G)
e 79 (11,8%) da região Norte (F, J e K). Pensando somente nas 136 dissertações de
métodos mistos observa-se que na região Norte das 79 dissertações, 19 (24%), são
de abordagem mista, a região Nordeste teve 43 (20,9%) de abordagens mistas do
total de 206, já o Sudeste de um total de 168 dissertações, 41 (24,4%) das suas
dissertações usam métodos mistos e, por fim a região Sul de um total de 214
dissertações visitadas apenas 33 (15,4%) utilizaram a abordagem mista.
Na segunda etapa da pesquisa quantitativa, “classificação das dissertações
mistas”, considerando os critérios do capítulo 2.3, os resultados serão apresentados
utilizando os gráficos gerados no formulário Google Forms.

1) Quanto a natureza da pesquisa:


98

Gráfico 2: Quanto a natureza

Fonte: Google Forms, 2023.

O gráfico 2 mostra que, das 136 dissertações que mencionaram ter usado a
abordagem mista, apenas 1 (0,7%) se classificaram como básica, 56 (41,2%)
disseram ser uma pesquisa aplicada e a maioria 79 (58,8%) não mencionaram a
natureza da pesquisa, talvez o motivo de não mencionar a natureza da pesquisa se
dê ao fato das dissertações pesquisadas serem de mestrados profissionais, e esses
tipos de mestrados apresentam um produto no final.
Segundo Moreira e Caleffe (2008), tanto a pesquisa pura, também chamada de
básica, ou aplicada, são utilizadas em pesquisas educacionais, sendo esta última a
mais comum. Enquanto a pesquisa básica se preocupa com o conhecimento a
aplicada está focada na solução de um problema específico, talvez o motivo desta
última ser a mais utilizada na Educação, pois ela auxilia na obtenção de resultados
concretos que possam ser aplicados, pois ela chega a um novo produto ou processo
enriquecendo o processo de ensino. Os resultados encontrados estão de
conformidade com o que disse Moreira e Caleffe (2008), mesmo considerando que
das 136 dissertações 58,1%, ou seja, 59 dissertações não mencionaram qual a
natureza da pesquisa.
99

2) Quanto aos objetivos:

Gráfico 3: Quanto aos objetivos

Fonte: Google Forms, 2023

Quanto aos objetivos, das 136 dissertações visitadas a maioria não classificou
a dissertação quanto aos objetivos, foram um total de 63 (46,3%) do total, do restante
45 (33,1%) foram classificadas como exploratória, 32 (23,5%) descritiva e 7 (5,1%)
como explicativa, 11 dissertações se classificaram como exploratória e descritiva, e
foram computadas em cada uma delas (Gráfico 3).
Para Gil (2019) a classificação de uma pesquisa quanto aos seus objetivos
depende de sua finalidade, do quanto você vai aprofundar o elemento estudado.
Mattar e Ramos (2021) acreditam que a maior parte das pesquisas em Educação são
exploratórias, pois procuram conhecer um tema sem muito aprofundamento, sem
descrever as características dos elementos (descritiva) e nem se aprofundar em
explicações do porquê das coisas (explicativa).
Verifica-se que nos resultados encontrados nesta pesquisa, a maioria das
dissertações que mencionou qual o objetivo da pesquisa, se declararam exploratória
45 (33,1%) das dissertações, como acreditam Mattar e Ramos (2021). Mas do total
100

das dissertações de abordagem mista 136, quase metade 63 (46,3%) não citou a
classificação quanto aos objetivos.

3) Trouxe a abordagem metodológica no resumo:

Gráfico 4: A abordagem metodológica no resumo

Fonte: Google Forms, 2023.

O resumo de uma dissertação é a apresentação da pesquisa, segundo a ABNT,


o resumo é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento”, sendo
assim pode-se afirmar que, o resumo de um trabalho científico, indica as principais
características da pesquisa científica desenvolvida, ao ler o resumo de uma
dissertação o leitor opta ou não pela leitura da mesma, no caso das dissertações
visitadas das 136 de abordagem mista, 86 dissertações, ou seja, 63,2% mencionaram
a abordagem utilizada no resumo do trabalho, sendo que 50, ou seja , 36,8% não
colocaram no resumo o tipo de abordagem utilizada (Gráfico 4).
Para Felipe Asensi e Diego Moneratti, em “Guia essencial de como escrever
um resumo acadêmico”, publicado em 2019 (CAED-jus/artigos), os autores
descrevem que um resumo acadêmico deve apresentar elementos que permitam que
o leitor saiba sobre suas características antes da leitura. Para esses autores a
metodologia é um dos elementos que todo resumo deve conter. O tipo de abordagem
101

de uma pesquisa é um dos itens da metodologia utilizada, portanto segundo Asensi e


Moneratti (2019) devem estar contemplados nos resumos dos trabalhos acadêmicos.
Portanto não é o que o resultado desta pesquisa mostra, pois das 136 pesquisas de
abordagem mista, 50 (36,8%) não citam qual a abordagem foi utilizada no trabalho
realizado.

4) Quanto aos procedimentos utilizados

Gráfico 5: Quanto aos procedimentos

Fonte: Google Forms, 2023.


Quanto aos procedimentos utilizados (Gráfico 5), as mais citadas foram a
pesquisa bibliográfica, de caso, documental e de campo, e as menos mencionadas
foram as de levantamento, com Survey, experimental e outras, mas das 136
dissertações de pesquisas mistas observadas, 8 ou seja 5,9% não citou o
procedimento utilizado no resumo, nem na metodologia e introdução, ou realmente
não fez alusão a esse critério. Na análise desse critério não foram mencionados
números e nem porcentagens em cada procedimento, pois na maioria das
dissertações os pesquisadores fizeram uso de mais de um desses procedimentos.
Creswell e Creswell (2021) a abordagem quantitativa, para os autores
chamados de desenhos quantitativos, se utilizada dos procedimentos da pesquisa
102

experimental e pesquisa de levantamento. Já a abordagem qualitativa, chamada pelos


autores de desenhos qualitativos, utilizam como procedimentos os desenhos:
narrativa, fenomenológica, teoria fundamentada, etnografia e estudo de caso.
Creswell e Clarck (2013), pontuam os procedimentos como sendo algo que
deve ser previamente definido pelo pesquisador, ou seja, que introduza em sua
pesquisa procedimentos persuasivos para a pesquisa qualitativa e procedimentos
rigorosos para a pesquisa quantitativa.
Para Creswell e Clarck (2013), a pesquisa mista se dá unida a uma pesquisa
quantitativa completa com uma pesquisa qualitativa completa. Então conclui-se que
em uma pesquisa mista, há o uso de procedimentos qualitativos e quantitativos. Nesta
pesquisa observa-se que o uso dos procedimentos utilizados em pesquisas
qualitativas é muito superior ao uso dos procedimentos comumente usados nas
pesquisas quantitativas, pois as pesquisas experimentais, de levantamento e com
Survey foram as menos utilizadas entre as 136 pesquisas mistas.

5) Instrumentos utilizados na coleta dos dados:

Gráfico 6: Instrumentos utilizados na coleta dos dados

Fonte: Google Forms, 2023.


103

Quanto aos instrumentos utilizados na coleta de dados (Gráfico 6), os três mais
utilizados foram em ordem decrescente: questionário, análise de materiais ou
documentos e entrevistas, seguidos do uso de formulário, observação e observação
participantes, dos instrumentos listados no gráfico o menos usado foi o grupo focal,
nesse critério duas dissertações não mencionariam como os dados foram coletados.
Aqui, como no critério dos procedimentos utilizados, os números e porcentagens não
foram utilizados, pois as dissertações em sua maioria utilizaram mais de um desses
instrumentos para a coleta de dados.
Creswell e Clarck (2013), distinguem os dados quantitativos e qualitativos e
seus instrumentos de coleta de dados da seguinte maneira: os dados qualitativos são
obtidos usando perguntas abertas, sem restrições de respostas; já os dados
quantitativos com perguntas fechadas, com base em respostas predeterminadas e
escalas. Nas pesquisas qualitativas os dados coletados são mais amplos do que na
pesquisa quantitativa, a permanecem constante com o passar do tempo.
Nesta pesquisa é claramente perceptível que a preferência dos pesquisadores
na hora da coleta dos dados quantitativos e qualitativos foi optarem por questionários
(abertos e fechados), 108 (79,4%) fizeram uso de pelo menos esse instrumento,
lembrando que a maioria das dissertações utilizaram mais de um instrumento para
coleta de dados. Outro ponto interessante neste critério, é que em apenas 2 (1,5%)
dissertações não foi possível verificar qual instrumento foi utilizado na coleta de dados.
104

6) Quanto a apresentação dos resultados

Gráfico 7: Apresentação dos resultados

Fonte: Google Forms, 2023.

Após a coleta dos dados, é o momento de representar os dados coletados, eles


podem ser feitos utilizando texto, gráfico e tabela, pode também utilizar duas dessas
três maneiras de representação, ou até mesmo os três tipos de representação. Os
dados coletados nesta pesquisa estão representados no gráfico acima e demonstram
que 89 das 136 dissertações de abordagem mista, ou seja, 65,4%, usaram texto e
gráfico para representar os resultados obtidos, 12,5%, ou seja, 17 dissertações
usaram somente texto na apresentação dos resultados, 17 dissertações, ou seja
12,5% fizeram uso dos três tipos de representação, texto, gráfico e tabela, 12 ou 8,8%
das dissertações usaram texto e tabela, apenas 1, ou seja, 0,7% das dissertação usou
tabela e gráfico, e nenhuma das 136 dissertações usaram para representar os
resultados obtidos somente gráficos, ou somente tabelas (Gráfico 7).
Para Sampieri, Collado e Lúcio (2013), os resultados encontrados em uma
pesquisa quantitativa podem ser apresentados através de tabelas, gráficos e
diagramas, modelos estatísticos com a apresentação dos dados padronizada. Já os
resultados encontrados na pesquisa qualitativa são apresentados utilizando,
narrativas, fragmentos de texto, fotografias e mapas, vídeos e áudios, matrizes,
105

diagramas e modelos conceituais, a variação de formato acontece praticamente em


cada estudo.
O resultado encontrado nesta pesquisa, não está distante do que os autores
utilizados nesta pesquisa relatam sobre a apresentado dos resultados, ela demonstra
que o uso concomitante de textos e gráficos foi o mais utilizado nas dissertações de
abordagem mista. Nenhuma dissertação fez o uso somente gráficos ou tabelas, mas
17 (12,5%) dissertações apresentaram os dados da pesquisa utilizando somente
texto, número igual às dissertações que utilizados gráficos, tabelas e textos.

7) Quanto a análise dos resultados:

Gráfico 8: Quanto a análise dos resultados

Fonte: Google Forms, 2023.

Quanto à análise dos resultados, através do gráfico 8 é possível ver que a


análise de conteúdo foi a mais utilizada, seguida da estatística descritiva, vale aqui
ressaltar que grande parte das dissertações lidas usavam esses dois tipos de análise,
apenas 5 dissertações das 136, ou seja 6,8% desse total utilizaram a triangulação na
análise, 1 ou 0,7% do total, dissertação citou o uso da Hermenêutica dialética, 7
dissertações, ou 5,1% citaram outros tipos de análise de dados e 48, ou seja 35,2%,
infelizmente não citaram como os dados foram analisados, se citaram não ficou claro
106

o bastante para ser reconhecido. Vale deixar claro que as porcentagens citadas no
texto são diferentes do gráfico, pois a maioria das dissertações utilizaram mais de um
tipo de análise.
Para Creswell e Creswell (2021), uma interpretação quantitativa, é aquela em
que o pesquisador chega as suas conclusões considerando os resultados estatísticos
encontrados das questões, ao passo que a interpretação qualitativa deve vir de textos
e imagens gerados na coleta dos dados. Nesta pesquisa os resultados apontam que
a técnica mais usada na análise dos dados é a análise de conteúdo, bem próxima a
ela o uso da estatística descritiva, que seriam as formas mais comuns de análise dos
dados qualitativos e quantitativos. Mas em contrapartida tem-se 43 (35,3%) das
dissertações mistas não citaram como os dados foram analisados.

8) Lacunas encontradas:

Gráfico 9: Lacunas encontradas

Fonte: Google Forms, 2023.

Chama-se de lacuna um espaço, uma falta, a omissão de algo. No caso do


critério analisado, as lacunas são a falta de citação dos critérios observados nesta
pesquisa. Das 136 dissertações de abordagem mista, as duas menos citadas foram,
quanto à natureza, quanto aos objetivos, seguidas do critério quanto análise dos
107

dados e quanto a abordagem, dos critérios utilizados, quanto aos procedimentos e


quanto aos instrumentos utilizados foram os mais mencionados nas dissertações, e
de 136 dissertações somente 22, ou 16,2% descreveram todos os critérios elencados
no gráfico. No caso da análise das lacunas deixadas, não foram usamos quantidades
e nem porcentagem, exceto às 22 dissertações que apresentaram todos os critérios,
pois a maioria das dissertações apresentaram mais de uma lacuna (Gráfico 9).

5 PRODUTO

Os resultados obtidos na pesquisa demonstram a falta de uniformidade


existente entre os resumos acadêmicos apresentados nas dissertações pesquisadas,
evidenciando a importância de um resumo bem estruturado, que dê ao leitor as
informações básicas do trabalho. Segundo a Norma Técnica (NBR 6028) da ABNT,
um bom resumo deve conter as seguintes descrições: objetivos (geral e específico),
metodologia, resultados e conclusão. Como o foco desta pesquisa foi a metodologia
utilizada, esperava-se encontrar nos resumos lidos todos os critérios pesquisados,
mas das 136 dissertações mistas, somente 48 (35,3%) trouxeram a abordagem
utilizada descrita no resumo, em diversas dissertações os resumos não apresentavam
de maneira explícita a sua metodologia, sendo necessário fazer leituras
complementares em busca dos critérios metodológicos utilizados.
Pensando na importância do resumo para o trabalho científico, como
demostrado no resultado da pesquisa realizada, foi criado um blog, “Guia de resumos
acadêmicos”, que pode servir de material de apoio para a escrita de resumos. O blog
está composto por: início (apresentação da autora), resumo, introdução,
desenvolvimento, conclusão e referências, conforme as imagens abaixo:
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https://helpservicesgustav.wixsite.com/marciamestradoresumo.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma pesquisa científica deve ser baseada em critérios metodológicos que


tragam solidez e veracidade a mesma. Na área da Educação, das dissertações
visitadas a maior preocupação dos mestrandos foi em descrever o passo a passo
realizado, ou seja, o caminho percorrido, claro que isso é muito importante, pois
permite compreender como a pesquisa foi desenvolvida e aplicada, mas os critérios
metodológicos utilizados no desenvolvimento da pesquisa nem sempre foi
mencionado pelos pesquisadores, das 136 dissertações mistas, 114 (83,8%),
deixaram de mencionar pelo menos um dos critérios metodológicos científicos
considerados nesta pesquisa, ou seja, se escreve detalhadamente a pesquisa com
todos os passos seguidos, desde sua construção, aplicação e análise, mas mesmo
com todos esses detalhes não se cita em que critérios o trabalho foi ancorado. Claro
que também foram encontradas dissertações que traziam em sua metodologia todos
os critérios descritos e explicados em detalhe, mas infelizmente uma minoria.
Nos casos das dissertações sem o capítulo destinado à metodologia foi
complicado verifica se tinham ou não citados os critérios já elencados acima, algumas
vezes esses critérios estavam no resumo, mas quando isso não acontecia esses
critérios eram assinalados como não mencionados, pois não foi impossível ler as
dissertações em sua íntegra. Também haviam dissertações que possuíam um capítulo
sobre a metodologia, mas não citavam quais os critérios metodológicos a pesquisa
havia sido baseada, apenas descreviam como a pesquisa foi desenvolvida, nesse
caso foi utilizada a ferramenta localizar, para ver se com palavras chaves pudessem
ser encontrava os critérios pesquisados.
Vale destacar que a intenção da pesquisa não está em fazer uma análise dos
critérios utilizados, mas sim, fazer um levantamento do que foi utilizado segundo os
autores dessas dissertações. Na busca por esses critérios me deparei com algumas
lacunas como por exemplo, dizer que a natureza da pesquisa é qualitativa, em outros
casos, o uso dos instrumentos de coletas de dados foram citados como procedimentos
utilizados. Outro fato muito importante constatado é que das 667 dissertações 412
foram classificadas quanto à abordagem como qualitativa, 18 como quantitativas e
156 como mistas, mas quando vamos comparar esses dados com os dados dos
instrumentos de análise de dados verificamos que houve um total de 271 dissertações
112

que utilizaram gráficos com porcentagens, ou seja, fizeram uso da estatística


descritiva para sistematizar os dados obtidos.
Foi possível observar que não há um caminho único para se realizar uma
pesquisa pautada em critérios metodológicos, os caminhos são diversos, cabe ao
pesquisador em conjunto com o seu orientador, elaborarem a melhor estratégia para
sua pesquisa, seja ela qualitativa, quantitativa ou mista. O que ficou notável neste
trabalho foi, que nem todos os critérios que o pesquisador utilizou foram mencionados
de forma explicita no resumo, que é o ponto de partida para a leitura do trabalho, e
muitas vezes também não estavam acessíveis na abordagem.
Conclui-se que os resumos de trabalhos científicos têm grande importante para
os leitores, pois é a partir dele que o leitor decide se vai ou não fazer a leitura do
trabalho.
113

7 REFERÊNCIAS

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