Fernando pessoa

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Literatura

Fazer arte é querer tornar o


mundo mais belo, porque a Portuguesa
obra de arte, uma vez feita,
constitui beleza objectiva, Contemporâne
beleza acrescentada à que há
o mundo. Fazer arte é
aumentar a vida, porque é
a
aumentar a compreensão ou
consciência, dela.
“Começo pela parte psiquiátrica. A
origem dos meus heterónimos é o fundo
traço de histeria que existe em mim.
Não sei se sou simplesmente histérico,
se sou, mais propriamente, um histero-
neurasténico. Tendo para esta segunda
Génese dos hipótese, porque há em mim fenómenos

meus de abulia que a histeria, propriamente


dita, não enquadra no registo dos seus
heterónimo sintomas. Seja como for, a origem
mental dos meus heterónimos está na
s minha tendência orgânica e constante
para a despersonalização e para a 2
simulação.”
Fernado
Pessoa
“Desde criança tive a tendência de
criar em meu torno um mundo
Alberto Caeiro Ricardo Reis Álvaro de Campos
fictício, de me cercar de amigos e
conhecidos que nunca existiram. “pus no Caeiro todo Pus no “Ricardo Reis “pus em Álvaro de
o meu poder de toda a minha Campos toda a
[...] Essa tendência, que me vem
disciplina mental, emoção que não dou
desde que me lembro de ser um eu, despersonalização
vestida da música nem a mim nem à
dramática”
tem-me acompanhado sempre [...] que lhe é própria” vida”
me parece ter sido meu primeiro
heterónimo [...] um certo Chevalier
de Pas dos meus seis anos”
3
Alberto Caeiro, (Lisboa - 1889-1915), é
o chefe de uma pequena companha
teatral que representa sua peça no
palco da poesia. Caeiro foi mestre de
Campos, de Reis e de Pessoa. Caeiro
figura como o Pai, mestre na
supremacia intelectual tanto numa
Heterônimo capacidade criativa como especulativa.
Autodidata, substancialmente
em torno de mim um outro
s
“Esta tendência para criar
monocórdico, desprovido de sopros
mundo, igual a este mas líricos, Caeiro evidencia-se pelo seu
com outra gente, nunca me olhar sobre o mundo, pela sua
saiu da imaginação.” capacidade reflexiva, pela formulação 4

de uma filosofia que consiste numa


aparentemente simples decifração do
Ricardo Reis nasceu no Porto (1887 –
1936?) e foi educado em um colégio de
Jesuítas. Era médico, monárquico,
pertence à formação cultural sul-
africana de Pessoa, voltando-se à forma
neoclássica. Exprime o lado
tradicionalista e conservador, privilegia
Heterônimo a filosofia grega, os pré-socráticos e o
paganismo. Descreve um universo

em torno de mim um outro


s
“Esta tendência para criar congelado e imutável, ao qual os deuses
são dotados de eterna imutabilidade.
mundo, igual a este mas
com outra gente, nunca me
Sua poesia pode ser lida como uma
saiu da imaginação.” reflexão da dor da nossa miséria
5
estrutural. Sistema moral de Pessoa.
Álvaro de Campos nasceu em Tavira
(1890 – 1936?), frequentou o liceu,
estudou Engenharia Mecânica e Naval.
Viajou muito pela Europa. Foi o único
dos heterónimos a frequentar Fernando
Pessoa, segundo uma confidência do
próprio Pessoa: «A mim, pessoalmente,
Heterônimo nenhum me conheceu, exceto Álvaro
de Campos.» Álvaro é uma figura do
em torno de mim um outro
s
“Esta tendência para criar
perfeito vanguardismo do século XX,
mundo, igual a este mas manifestando uma modernolatria que
com outra gente, nunca me se traduz em uma forte polêmica ou
saiu da imaginação.” agressividade em relação à tradição 6

literária. Capítulo da Metafísica.


Mário de Sá-
É na arte que projeta o seu
Carneiro
sonho de beleza, o sonho de
chegar “além” de que fala
num dos seus mais
conhecidos poemas.
Nasceu em Lisboa, foi um dos
financiadores da revista Orpheu.
Tinha amizade profunda com
Fernando Pessoa. Inadaptado à
vida, Mário não se sentia realizado;
buscava o equilíbrio, fugia de ser
quase; narcísico, acabou por
Mário de Sá- desprezar-se em versos de
Carneiro agressiva brutalidade. Sua poesia
se joga no confronto entre o
(1890-1916) excesso narcísico e o desencanto
de um destino por cumprir. 8
Ao ver escoar-se a vida
humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.

Partida Afronta-me um desejo de fugir


Ao mistério que é meu e me seduz.
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam refletir.

A minh’alma nostálgica de além,


Cheia de orgulho, ensombra-se
entretanto, 9
Aos meus olhos ungidos sobe um
pranto
Que tenho a força de sumir também.
Porque eu reajo. A vida, a natureza,
Que são para o artista? Coisa alguma.
O que devemos é saltar na bruma,
Correr no azul à busca da beleza.

Partida
É subir, é subir além dos céus
Que as nossas almas só acumularam,
E prostrados rezar, em sonho, ao Deus,
Que as nossas mãos de auréola lá
douraram.

É partir sem temor contra a montanha


Cingidos de quimera e d’irreal;
Brandir a espada fulva e medieval, 10
A cada hora acastelando em Espanha.
É suscitar cores endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção d’alma ampliada,
Viajar outros sentidos, outras vidas.

Partida
Ser coluna de fumo, astro perdido,
Forçar os turbilhões aladamente,
Ser ramo de palmeira, água nascente
E arco de ouro e chama distendido…

Asa longínqua a sacudir loucura,


Nuvem precoce de subtil vapor,
Ânsia revolta de mistério e olor,
Sombra, vertigem, ascensão — Altura! 11
E eu dou-me todo neste fim de tarde
À espira aérea que me eleva aos cumes.
Doido de esfinges o horizonte arde,
Mas fico ileso entre clarões e gumes!…

Partida
Miragem roxa de nimbado encanto —
Sinto os meus olhos a volver-se em
espaço!
Alastro, venço, chego e ultrapasso;
Sou labirinto, sou licorne e acanto.

Sei a distância, compreendo o Ar;


Sou chuva de ouro e sou espasmo de luz;
Sou taça de cristal lançada ao mar, 12
Diadema e timbre, elmo real e cruz…
………………………………………………………
…….
………………………………………………………
…….
O bando das quimeras longe assoma…

Partida
Que apoteose imensa pelos céus!
A cor já não é cor — é som e aroma!
Vêm-me saudades de ter sido Deus…
*
**
Ao triunfo maior, avante pois!
O meu destino é outro — é alto e raro.
Unicamente custa muito caro:
A tristeza de nunca sermos dois… 13
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

Dispersão
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,


Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem. 14
(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Dispersão
Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias…


Tu sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias. 15
A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Dispersão
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro


Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro —
Não me acho no que projeto. 16
Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.

Dispersão
Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.

Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi… mas recordo 17
A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.

Dispersão
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!…)

E sinto que a minha morte —


Minha dispersão total —
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital. 18
Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.

Dispersão
Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas…
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas…

Tristes mãos longas e lindas


Que eram feitas pra se dar…
Ninguém mas quis apertar…
Tristes mãos longas e lindas… [...] 19
Dilatação do eu – dividido entre sonho e
realidade;
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
O outro funciona como projeção do eu e
do objeto de seu desejo, traduzindo uma
Dispersão e noção de incompletude, tanto artística
quanto existencial.
fragmentaçã A Confissão de Lúcio, Mário projeta na
o do eu personagem Ricardo de Loureiro um
desejo de pacificação, uma solução
balsâmica encontrada na morte. 20

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