Eduardo Lourenço

Um novo livro da colecção «Obras de Eduardo Lourenço» que a Gradiva tem vindo a editar e que desta vez entra pelo mundo da arte, com a pintura em destaque. O percurso de Eduardo Lourenço na descoberta da arte é uma viagem abrangente, em que apresenta uma multiplicidade de pontos de vista e de abordagens, numa obra organizada em três secções: Estética, Exposições, Pintores.
Tendo a pintura como pano de fundo, o filósofo revela uma enorme sensibilidade, uma elevadíssima capacidade de observação e de reflexão, um imenso talento para estabelecer analogias.
No texto inicial («Eduardo Lourenço, um olhar sem fim»), Barbara Aniello refere: «Todavia não é apenas de crónica diarística, de pinceladas traçadas na mais silenciosa intimidade, que as páginas que se seguem são amostra reveladora. […] Repletas de sabedoria e de experiência, estas considerações nascem de uma abordagem à arte filtrada pela cultura do pensador que, ao contrário do espelho da música, mergulha aqui num mundo ‘outro’ com todas as ferramentas da sua erudição.»
Esta obra contém material maioritariamente inédito.

In the present dissertation, we will be looking at the profile and identitary path of Bloom, the (non) hero of Uma Viagem à Índia, a twenty-first century counterepic text, written and published in 2010 by the portuguese author Gonçalo M. Tavares. This absolutely unique literary adventure establishes a peculiar connection between classica epic tradition, the heritage and spirit of the modern age and the vision of postmodernity. The aim of Tavares’s text is to draw the attention to the question of the lack of epic and heroic tradition in the twenty-first century, by questioning the very nature of the epic in contemporary age. This paper thus intends to analyse the transfiguration fo the epic in postmodernity in the context of Uma Viagem à Índia by drawing on a comparative analysis in which we will look at the parodic, parodical and subversive characteristics of some of the works that directly or indirectly establish a connection with Tavares’s work. From this analysis of the parodic appropriation of the epic in postmodernity, we will be lookng at man’s relationship with contemporary reality in light of the idea of the fall of metanarratives, privileging the analysys of the concepts of fall, chaos and emptiness, as well as the notions of individualism in postmodernity in the study of the character Bloom as the figure of the tourist, vagabond, fugitive and chased.

(Finalista Prémio PEN CLUBE Português 2019 na Categoria Ensaio)

Este estudo traça uma reflexão sobre o orientalismo português ilustrada pela obra Jornadas, de Tomás Ribeiro, uma narrativa de viagem de meados do século XIX, hoje praticamente caída no esquecimento. Ao longo do mesmo, invocam-se, entre outras, as «vozes» de Camões, Luís Fróis, João de Barros, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Lopes Mendes, Eça de Queirós, Guilherme de Vasconcelos Abreu, Wenceslau de Moraes, David Lopes e Fernando Pessoa. Propõe ainda a noção de hiperidentidade portuguesa, de Eduardo Lourenço, para analisar o discurso dos portugueses acerca do Oriente.
[Disponíveis: Sumário, Introdução, Capítulos 3 e 4, Bibliografia]

A coordenação assindética é a que admite o genial pesponto de um “nada” potencialmente já fora da ortopedia musical do verso endecassilábico, pois se trata de um verso em que colidem ou chocam, indecidivelmente, a inscrição grafemática ou gramatical e o sobre-esforço vocálico e sónico de obsidiantes sinalefas. Seja como for, estas aposições gongorinas decorrem, e ocorrem, ainda, num marco de ‘adequação’, isto é, de domínio tanto do ‘sema’ como do ‘soma’ da língua: “A aposição é a forma sintática externa de densidade e subordinação; torna possível a colisão e a ligação puramente acidental de ideias que são basicamente estranhas umas às outras” (Spitzer, 1963: 99; tradução minha). Góngora dispõe a aceleração adensadora de ‘colisão’ e ‘ligação’.

Ao notar a importância do elemento " Saudade " na constituição lírica dos grandes autores portugueses Camões, Garret, Pessoa e Brandão, este trabalho visa problematizar a construção não só da estória e sim da História de Portugal viabilizada pela riqueza mitológica do país. Para tanto, utilizaremos como base para análise o mito Sebastianista e o mito Inesiano, onde o leitor poderá perceber a importância destas narrativas dentro da poesia dos quatro autores já citados e observar que a memória gloriosa trazida pela Literatura através dos séculos fortalece a chamada " Saudade " , a qual produz tantas significações que, inclusive, acaba por fazer parte da identidade deste povo. Introdução Se, com tempo, lêssemos algumas obras portuguesas de diferentes épocas encontraríamos em grande parte delas vestígios dos mais diversos mitos que compõem a construção deste país tão cheio de heróis chamado Portugal. Se para nós brasileiros, estes mitos parecem algo tão incompreensíveis acredite: como uma vez colônia, hoje ainda encontramos os resquícios deste colonizador aqui, inclusive vestígios de seus mitos como o Sebastianismo e o próprio Cristianismo que foram trazidos para cá. Um mito que para muitos não é um mito, o cristianismo ascendeu em Portugal de uma maneira absoluta, a qual vemos através do meio literário que resguarda a memória nacional. Sendo a religião que baseia grande parte da história portuguesa, vemos suas vertentes inclusive no mito de D. Sebastião, onde temos o rei como um Messias, o qual deveria salvar o povo português de todos os males. Além disso, trago também como exemplo, a épica Os Lusíadas, de Camões, onde encontramos navegantes que se intrigam em sua jornada conturbada, na qual apenas Deus poderia os encaminhar ao destino final. O mito tende a adequar-se a realidade das experiências de um ser e/ou de uma determinada comunidade, onde podemos notar que o que é real mescla-se com o não real e produz uma estória que possibilita a todos os envolvidos uma nova perspectiva de pensamento que se submete a própria cultura. Sendo assim, espera-se que um mito faça parte da vida e da identidade de determinado povo.

A obra Verklärte Nacht de Schoenberg ocupou um lugar privilegiado no cânone musical pessoal de Eduardo Lourenço. Refere-se a esta obra, e também à Música para cordas, percussão e celesta de Bartók, como a sua alma verdadeira em termos sonoros e cita-a diversas vezes no seu 'diário musical', Tempo da música, música do tempo, publicado recentemente. Enquanto as discussões de Lourenço sobre o sexteto de Schoenberg são altamente poéticas e elusivas, este ensaio aborda a obra na direcção oposta, desenvolvendo o discurso técnico da teoria musical transformacional. Este artigo procura explorar a dialética metodológica que Lourenço esboça entre o compreender e o sentir na experiência musical, relacionando estas ideias com o debate musical académico anglo-americano sobre a inefabilidade musical e a eficácia (ou ineficácia) ou o discurso em torno da música. Em última análise, este artigo pretende demonstrar que o discurso sobre música-seja através da veia poética de Lourenço, ou em termos técnicos da teoria musical mais recente-é melhor compreendido como o resultado do encontro entre o sujeito que interpreta, a música e a linguagem, do que como uma explicação racional da experiência musical.

Textos da contracapa:

«A arca, vi-a pela primeira vez no início dos anos 60, ainda cheia de manuscritos. Revi-a, há pouco tempo, mais de quarenta anos depois, completamente vazia. A transformação desta massa informe de papéis numa obra universalmente reconhecida a para mim a dupla metáfora do destino póstumo de Pessoa, que o livro aqui apresentado ilustra perfeitamente. Neste sarcófago estava a figura do poeta, alterado em si próprio, enfim, pela eternidade. O espólio era o seu próprio ser, que ele nos deu para consumir, para sempre, numa ardente comunhão espiritual, em memória dele.»
Robert Bréchon

«À medida que se avança na edição do espolio pessoano – usando a metáfora que serve de titulo a este conjunto de ensaios: A Arca de Pessoa –, mais evidente se torna que a obra do poeta lança desafios editoriais e interpretativos que mobilizam uma pluralidade de perspectivas e de disciplinas, ao mesmo tempo que obrigam a rever a tradição critica que se formou e se foi estabelecendo em fases ainda recuadas da divulgação dos inéditos. O contributo de um grande numero de especialistas de várias nacionalidades e bem distintos tanto em termos metodológicos e científicos como nas áreas de interesse (e daí a organização do volume em seis grupos: Cultura e sociedade, Historia e biografia, Filosofia e esoterismo, Literatura e poética, Desassossego e hermenêutica e Desafios editoriais) permite desde logo perceber que estes Novos Ensaios pessoanos, resultantes de um encontro realizado na Universidade de Leipzig em Setembro de 2005, assinalando os setenta anos da morte de Pessoa e a passagem do espolio para o domínio publico, respondem as necessidades de revisão critica e de exploração de áreas que, sobretudo devido as conhecidas circunstancias editoriais, têm permanecido ocultas.»
António Guerreiro

O filósofo Eduardo Lourenço revela nestas páginas diarísticas até agora inéditas a sua sensibilidade aos estados de alma dos trechos musicais e a sua imensa erudição, que torna possível o estabelecimento de relações surpreendentes entre as várias formas de expressão artística. Da pintura à literatura, são invocados contrapontos e analogias pertinentes e iluminadores da essência musical e da alma humana.

Texto escrito "a quatro mãos" com Margarida I.Almeida Amoedo e lido na cerimónia de entrega do Prémio Eduardo Lourenço 2014 realizada na Guarda 3 de Julho desse ano. Texto publicado na revista "Iberografias", nº 10, Centro de Estudos Ibéricos, 2014: 124-127.

Durante o seu exílio brasileiro (de 1954 até julho de 1972, data em que morre), Adolfo Casais Monteiro levou a cabo duas tarefas. Por um lado, por meio da atividade docente e da colaboração na imprensa (sobretudo em O Estado de S. Paulo), desempenhou um papel importante na divul­gação de autores portugueses. Por outro lado, mesmo afastado de Portugal, Casais Monteiro continua a desempenhar um influente papel — por vezes subterrâneo, mas nem por isso menos relevante — na cena literária portuguesa (o famoso ensaio de Eduardo Lourenço sobre a Presença como contrarrevolução do nosso modernismo, por exemplo, foi pela primeira vez publicado integralmente na Revista do Livro graças a Casais Monteiro). Que papel foi esse e como pode ser hoje avaliado?

Visa-se neste ensaio indagar os motivos pelos quais Eduardo Lourenço não dedicou à poesia  de Herberto Helder a atenção qu, à primeira vista, seria de esperar tanto mais que, por um lado, Lourenço reconhece a importância desta obra no quadro da poesia europeia do seu tempo e, por outro, houve várias ocasiões que para que o encontro entre o ensaísta e o poeta se tivessem "encontrado".

Anamarija Marinović (CLEPUL)
Milicalisboa145@gmail.com
Centros, margens e periferias na Europa na perspetiva de Eduardo Lourenço
Analisando duas obras de Eduardo Lourenço, Nós e a Europa ou as Duas Razões, publicada em 1988, relativamente pouco tempo após a adesão de Portugal à Comunidade Económica Eropeia, a atual União Europeia e A Europa Desencantada Para uma Mitologia Europeia, publicada pela primeira vez em 1993, veremos duas fases no pensamento europeísta deste autor e observaremos os problemas da identidade e “identidade periférica” (no sentido em que Pinheiro e Cheszyńska (2011) entendem ese termo. Ver-se-á como na perspetiva deste filósofo nestas duas obras variam as noções do cento, da margem e da periferia na Europa do ponto de vista cultural, histórico, social, político, económico e religioso. Observar-se-á o lugar de Portugal e Espanha no mosaico europeu, tal como se verá a imagem que na segunda obra de Eduardo Lourenço é dada sobre a identidade e o lugar dos países balcânicos no mapa da atual Europa.
Tentar-se-á demonstrar que, dependendo da perspetiva e do olhar para O Outro na Europa tudo pode ser considerado centro, margem o periferia, sem se ter necessariamente uma ideia depreciativa sobre cada um dos países europeus em questão
Palavrs chave: centro, margem, periferia, Europa, Eduardo Lourenço

Pizarro, Jerónimo (2016). «Narciso ciego, iluminado por Lisboa (de Cesário Verde a Fernando Pessoa)». Abriu, 5, 35-50. ISSN: 2014-8526. e-ISSN: 2014-8534. DOI: 10.1344/abriu2016.5.3.

Abstract
Eduardo Lourenço referred to Fernando Pessoa as a “Blind Narcissus”, quoting a passage of the The Book of Disquiet (Libro del desasosiego). In its first stage, The Bookof Disquiet has no defined geographical space nor an established historical time; in its second stage, it achieves concrete space and temporal coordinates. The purpose of this text isto evince the importance of those coordinates — those of Lisbon at the beginning of thetwentieth century — and reiterate how important the work of Cesário Verde was for Pessoa and his return to the Book towards 1929, after a creative interruption of almost ten years.

Keywords
Fernando Pessoa; Book of Disquiet; first Phase; second Phase; Lisbon; Cesário Verde

Resumen
Eduardo Lourenço se refi rió a Fernando Pessoa, citando un paso del Libro del desasosiego, como un «Narciso ciego». En su primera fase, el Libro no tiene un espacio geo-gráfi co defi nido ni un tiempo histórico establecido; en su segunda fase, ya tiene unas coor-denadas espacio-temporales concretas. El propósito de este texto es señalar la importan-cia de esas coordinadas —las de Lisboa a principios del siglo xx— y reiterar cuán importante fue para Pessoa la obra de Cesário Verde, teniendo en cuenta que contribuyó para retomar el Libro hacia 1929, tras una interrupción creativa de casi diez años.

Palabras clave
Fernando Pessoa, Libro del desasosiego, Primera Fase, Segunda Fase, Lisboa, Cesário Verde.

Neste texto abordaremos as relações entre História e Literatura em Portugal a partir de 1974, ou seja, durante o seu período de redemocratização após décadas sob a ditadura de Salazar.  Aqui partiremos da consideração de um movimento  literário que chamaremos de Geração de Abril, grupo formado por escritores portugueses cujas obras  ficcionais  se caracterizavam pela necessidade de se reescrever, ainda que ficcionalmente,  a História de Portugal. Como exemplo analisaremos o romance "Memorial do Convento" de Saramago.

Não obstante da experiência brasileira, persiste o discurso de um viajante culto e humanista ocidental-europeu, na tradição do século XIX. Assumindo o papel de um viajante afim do flaneur (Benjamin), Meyer-Clason observa e analisa os costumes e hábitos dos portugueses. Isto reflete-se sobretudo nas vivências antes e depois do 25 de abril. Por um lado, Meyer-Clason apoia ativamente a luta do povo português contra a ditadura, abrindo as portas do Instituto Goethe para um foro de discussão política, na altura impossível no espaço público. Por outro, permanece na posição distante do observador crítico, também e cada vez mais após o 25 de abril: em vez de sair à rua, fica em casa diante do televisor, elogiando os media como foro popular em comparação com a comunicação social na RFA, na sua opinião afastada da realidade do país.

The Portuguese representations of the sieges of Diu have been produced over the span of five centuries. My main argument is that, in these texts, Diu served as a pretext to reaffirm the glories of Portugal in Asia during the sixteenth century, as well as to establish an ontological and epistemological distinction between the West and the East. Such representations stem from what Eduardo Lourenço calls ‘Portuguese hyperidentity’, a notion which helps us understand how the discourses about Diu articulate knowledge and power. The relevance of establishing a connection between Edward W. Said’s theory of Orientalism and Lourenço’s viewpoint lies in the fact that both the ‘Western conceptions of the Orient’ and the affirmation of Portuguese identity and belonging participate of what Michel Foucault called the ‘regime of truth’.

El presente artículo aborda el cine portugués contemporáneo y la relación que mantiene con la historia, no sólo de Portugal sino del propio cine.

A través de las nociones de huella y ausencia, el texto propone buscar una contraforma de esa relación con la historia, en la que la huella supone la vivificación de un resto, espectro o figura ausente que se hace presente a través de la imagen. Esta imagen se construye como tiempo condensado, pervivencia de la historia y prueba de una cierta genealogía. De esta forma, se puede articular una historia de las imágenes del cine portugués a partir de la idea de contraplano. Se trata de un contraplano que en su aspecto límite es un contraplano con la muerte: aquello que cerca el plano, un vacío que resuena y deja ecos, un abismo vertiginoso declinado en forma de historia, de trayecto, de imagen-tiempo y otras modalidades que evocan una cierta antropología portuguesa, que se podría conectar con el saudosismo y sus relecturas críticas desde Eduardo Lourenço.

El trabajo propone ejes para establecer relaciones que permitan entender mejor las películas y el diálogo generacional entre cineastas. Así se abordan los últimos filmes de directores tan dispares como Manoel de Oliveira, Miguel Gomes, João Nicolau, Gonçalo Tocha, Manuel Mozos, João Pedro Rodrigues y Rui Guerra Da Mata, Susana Sousa Dias o José Filipe Costa entre otros.

Num texto de 1966, intitulado “Uma literatura
desenvolta ou os filhos de Álvaro de Campos”,
Eduardo Lourenço aponta os ficcionistas
portugueses emergentes entre as décadas de 50 e
60 como os legítimos descendentes do mais
modernista dos heterônimos pessoanos, na
medida em que se afastavam de certo
compromisso com a ética e com a ideologia,
desvalorizando o discurso logocêntrico e as
grandes narrativas. Partindo dos pressupostos
laurentinos, pretendemos demonstrar em que
sentido a poesia de Carlos Fradique Mendes,
criado em 1869, a partir de uma experiência
heteronímica coletiva levada a termo por Antero
de Quental, Eça de Queirós e Jaime Batalha Reis,
pode ser vista como antecipatória das inovações
estéticas que Eduardo Lourenço afirma terem
sido trazidas à poesia portuguesa pelo
heterônimo futurista de Pessoa e retomadas pelos
autores da “Nova Literatura”. Logo, em vez dos
“filhos”, trataremos daqueles que, seguindo o
mesmo raciocínio traçado por Lourenço, podem
ser vistos como os “pais” geracionais ou
intelectuais de Álvaro de Campos.

Resumo Durante o seu exílio brasileiro (de 1954 até julho de 1972, data em que morre), Adolfo Casais Monteiro levou a cabo duas tarefas. Por um lado, por meio da atividade docente e da colaboração na imprensa (sobretudo em O Estado de S. Paulo), desempenhou um papel importante na divulgação de autores portugueses. Por outro lado, mesmo afastado de Portugal, Casais Monteiro continua a desempenhar um influente papel-por vezes subterrâneo, mas nem por isso menos relevante-na cena literária portuguesa (o famoso ensaio de Eduardo Lourenço sobre a Presença como contrarrevolução do nosso modernismo, por exemplo, foi pela primeira vez publicado integralmente na Revista do Livro graças a Casais Monteiro). Que papel foi esse e como pode ser hoje avaliado? Palavras-chave: Adolfo Casais Monteiro; crítica; Presença; Eduardo Lourenço.

PT: Este artigo pretende fazer um cruzamento teórico entre dois conceitos que, não obstante serem discutidos em diferentes áreas científicas das ciências sociais e humanas, conjugam-se pelo facto de terem um elemento histórico-geográfico em comum: o oceano Atlântico, abarcando todas as suas dinâmicas. De modo a dar ênfase a essa correlação, irei debruçar-me, como exemplo pragmático, sobre o destino a atribuir, em termos de investigação científica, aos atuais Estados africanos e/ou ex-colónias europeias: inser-se-á este espaço geo-político numa nova tipologia historiográfica, designada por "história atlântica"? ou enveredar-se-á por uma perspectiva de análise cultural, resultando na realidade dos "estudos pós-coloniais"? Posteriormente à análise de ambas as vertentes-essencialmente oriundas de academias anglo-saxónicas-, o caso português, no período posterior a 1974, terá como base a obra ensaística de Eduardo Lourenço.

ENG: This critical review aims to make a theoretical cross between two concepts that, despite being discussed in different scientific areas of the social and human sciences, come together because they have a common historical-geographical element: the Atlantic Ocean, covering all their dynamic areas. In order to emphasize this correlation, I will focus, as a pragmatic example, on the fate to be attributed, in terms of scientific research, to the current African states and/or former portuguese colonies: this geo-space will be inserted in a new historiographical typology, called "Atlantic History"? Or will it embark on a cultural analysis perspective, resulting in the reality of the "post-colonial studies?" After analyzing both aspects-essentially from Anglo-Saxon and American academies-the Portuguese case, in the period after Carnation Revolution (1974), will be based on the essay work of the philosopher Eduardo Lourenço.

O desejo de emancipação. Leituras políticas a partir de O fio da modernidade Do entusiasmo partilhado O acontecimento efectivo é o entusiasmo partilhado. Eduardo Prado Coelho. O fio da modernidade Há cerca de um mês, o austríaco Felix Baumgartner alcançou um curioso record de velocidade, a partir de uns surpreendentes 39.000 metros de altitude, lançando-se em queda livre a partir da estratosfera terrestre. 1 A repercussão nos media foi instantânea e nasceu um novo herói global. Como escrevia Juan José Millás no El País, a propósito de tamanho sucesso, «as façanhas físicas têm mais repercussão mediática do que as intelectuais». 2 Num tempo de afirmação total do numérico e do ciberespaço, «o desejo como afirmação da vida», na expressão de Eduardo Prado Coelho 3 surge-nos, então, sob a forma de uma queda livre, 39 km de controlo da gravidade e do atrito. Hoje, progredir, ir mais longe, mais depressa quer agora dizer cair mais e melhor afundar no abismo livre do regresso à Terra. Felix Baumgartner, Ícaro moderno que ousa cair, ou talvez Perseu que ousa enfrentar o monstro, é um devorador da velocidade, e não procura a glória da leveza mas sim a eternidade através do peso. Italo Calvino (1923-1985), numa das seis conferências, conhecidas como as Charles Eliot Norton Poetry Lectures, publicadas sob o título Seis propostas para o próximo 1 No dia 14 de Outubro de 2012, Felix Baumgartner percorreu, em queda livre, 39.045 metros, depois de ter subido sensivelmente a mesma altitude num balão de hélio, alcançou a velocidade de 1342 km/ h e foi o primeiro ser humano a ultrapassar a barreira do som fora de uma aeronave. Baumgartner esteve em queda livre durante 4 minutos e 19 segundos.

"Tu me deste uma sabedora desgeografia": Eduardo Lourenço e a demanda duma heterodoxa geograficidade

Mia Couto, que foi Prémio Eduardo Lourenço em 2011, fez circular um poema nas redes sociais (19-12-2013), em jeito de carta de homenagem a Manoel de Barros (1916-2014), quando o poeta de Cuiabá já se encontrava bastante doente, que incluía o seguinte verso: "Tu me deste uma sabedora desgeo-grafia". Conhecido como criador de palavras, o escritor moçambicano viria a publicar o referido poema (Manoel de Barros), um ano mais tarde, em Vagas e lumes (2014: 52) 1 , com uma subtil nuance: "Tu me deste uma sabedora geo-agrafia". A Geogra-fia surge, aqui, como uma palavra atravessada no meio do caminho por dificultar o tráfego (poético) entre autores cuja distância está apenas em terem as suas raízes em dois continentes diferentes. Na perspetiva de Mia Couto, a palavra Geogra-fia desconseguia traduzir cabalmente o espaço e o tempo de imaginários poéticos unidos, cuja intimi-dade cúmplice não admite separações impostas por latitudes ou longitudes. O escritor moçambicano foi, por esta razão, em demanda de uma Outra Geogra-fia, mais abrangente, que desse expressão a uma afinidade assente na união de facto entre a poesia da sua savana e a que mergulha no ambiente mais profundo do pantanal sertanejo mato-grossense. Por transcenderem o perímetro normalmente atribuído à Geografia convencional, tais sentimentos levaram-no a conceber essa (des)geo(a)grafia que, desres-peitando convenções e crenças aceites, acaba por 1 A história do poema, que teve como título inicial "Um abraço para Manoel", está contada na Revista Pazes (https://www.revistapazes. com/o-poema-que-mia-couto-escreveu-para-manoel-de-barros/). se desviar dos padrões instituídos e das posições oficiais. A dificuldade em encontrar o lugar certo e a posição exata para colocar prefixo (des; a), no início ou no meio da palavra, mostra como tal postura, cara aos heterodoxos, não é isenta de contradições. Competirá aos filólogos decifrar o enredo entre os prefixos e as palavras, embora, fazendo fé nos dicionários, o des de Desgeografia, pode indicar negação, separação ou cessação, exprimir reforço, associando-se, muitas vezes, a um valor negativo quando associado a adjetivos ou um valor de oposição se ligado a verbos. Geo-agrafia, que motivou a mudança de prefixo e a inclusão dum hífen, explica-se porque o a é "um elemento protético que não acrescenta significado ou que exprime simples reforço, noções de adjunção, aproximação, passagem a um estado, mudança", ou exprimir as noções de afastamento, privação, negação se a origem do prefixo for do grego (a-ou an-). Mia Couto sentiu necessidade de definir os contornos destas novas palavras, ainda sem redação precisa nem entrada nos dicionários, tentando dar-lhes um significado cujo conteúdo só podia ser, compreensivelmente, poético: "Dizem que entre nós/ há oceanos e terras com peso de distância./ Talvez. Quem sabe de certezas não é o poeta./ O mundo que é nosso/ é sempre tão pequeno e tão infindo/ que só cabe em olhar de menino./ Contra essa distância/ tu me deste uma sabedora geo-agrafia". Tão sabedo-ras (des)geo(a)grafias são caras aos poetas e aos filósofos por abarcarem dimensões intangíveis e latitudes que a Geografia não comporta, mostrando, por isso, eficácia para superar distâncias e incerte-zas. Essas novas palavras facilitam a aproximação ao outro, a captação do espírito do lugar e a possibili-dade de superar o peso da distância ditada pela lonjura das terras e a profundidade dos oceanos.

The epic poet of Portugal, Luís de Camões, designated Portugal as the ‘head of Europe’ in the sixteenth century due both to its geographical location and the fact that, in terms of exploration and discovery of the rest of the world, the Portuguese were pioneers. However, ever since Portugal has distanced itself from Europe by allying itself to its empire, it has clearly acquired an imperial rather than European identity. Its entry into the European Union in 1986 signified a change in this relationship, but questions remain over whether the Portuguese will ever perceive themselves as truly European. It appears as if membership was a necessity rather than a deliberate strategy to adopt a European identity; the end of the Portuguese empire and dictatorship left the country in a difficult situation in economic, political and social terms, and questioning their status within the global order. The subject of Portugal’s relationship with Europe has been much debated by Portuguese philosophers, in particular Eduardo Lourenço, António Quadros and José Gil, and this paper will address the issues raised by these intellectuals and others in order to ascertain whether Portugal will ever be able to forge closer links with the other  European powers, or whether its constructed self-identification over the centuries as definitively extra-European means that they will never accept their new identity as part of Europe.

"Ler Eduardo Lourenço
Blog do Projecto Edição Obras Completas de Eduardo Lourenço (www.eduardolourenco.uevora.pt), financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e a funcionar, desde Julho de 2010, no Núcleo de Investigação de Ciência Política e Relações Internacionais (NICPRI) da Universidade de Évora. Toda a colaboração é bem-vinda(eduardolourenco@uevora.pt)."
cf. http://leduardolourenco.blogspot.com/2013/05/pensar-nove-decadas-de-amizade-n-21.html

Em 1974, veio a lume, na editora Inova, do Porto, uma obra de Eduardo Lourenço com o título Tempo e Poesia. Esta publicação tornou-se um livro de culto para muitos leitores. O 3º volume que integra a colecção das Obras Completas de Eduardo Lourenço na Fundação Calouste Gulbenkian recebe o mesmo nome e não é o livro de 1974. Ou melhor, é em parte. Ainda que a titulação seja a mesma, o livro é muito diferente, por ser muito acrescentado. Como se se tratasse de uma edição que fosse sendo aumentada ao longo de mais de 40 anos. Esse acrescentamento decorre de um conjunto considerável de textos que se encontravam dispersos, assim como de bastantes inéditos que foram incluídos no volume. Para a arrumação dos textos novos (dispersos e inéditos) neste 3º volume das OC, inspirei-me na ordenação feita pelo próprio EL, na edição de de 1974.
Impuseram-se princípios de ajustamento e propósitos de coerência complementadora, por similaridade, considerando como matriz o livro de 1974. Destaque-se, nessa linha, a conformação de determinados dossiers, como é o caso do conjunto de textos sobre a modernidade e o modernismo, sobre a Presença, sobre Miguel Torga, Eugénio de Andrade ou António Ramos Rosa.
O Tempo e Poesia de 1974, corresponde à primeira parte deste volume das obras completas e ocupa aqui o espaço de cerca de 200 páginas. As outras 600 páginas dão a conhecer mais de 30 textos inéditos e cerca de 90 textos dispersos. O conjunto desses textos foi agrupado em três partes, ou “painéis”, para usar o termo de Eduardo Lourenço sobre a ordenação dos ensaios na edição de 1974.
1) Na secção que recebeu o nome “Da Poesia”, reuniram-se os textos de reflexão sobre poesia ou sobre o poético, em sentido lato;
2) Na secção intitulada “Dos Poetas”, foram agrupadas as leituras sobre poéticas individualizadas.
3) Por fim, uma terceira secção, a que se chamou “Sentido e Forma da Moderna Poesia Portuguesa”, congloba textos mais abrangentes (contextualizadores, periodológicos, etc.).