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39 (2007) 387-396
O “NOVO DENZINGER”
A PROPÓSITO DA EDIÇÃO BRASILEIRA
BILÍNGÜE DO ENCHIRIDION SYMBOLORUM...1
Francisco Taborda SJ
1
Cf. Heinrich DENZINGER, Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e
moral. Traduzido com base na 40ª edição alemã (2005) aos cuidados de Peter
HÜNERMANN, por † José Marino Luz e Johan Konings, São Paulo: Paulinas / Loyola,
2007. 1467 pp., 24,5 X 17,7 cm. ISBN 978-85-356-1927-0 (Paulinas); 978-85-15-03439-0
(Loyola); 3-451-22442-9 (edição original). Doravante se usa a sigla DH (= Denzinger-
Hünermann). – O termo “bilíngüe”, usado no subtítulo deste artigo, é inadequado, mas
valha como braquilogia para um fenômeno complexo. “Bilíngüe”, porque os textos vêm em
duas colunas: a da esquerda traz o texto na língua original; a da direita a tradução em
português (nesse sentido: duas línguas). Mas “bilíngüe” não expressa exatamente a ca-
racterística da obra, já que os textos originais – embora predominantemente em latim –
podem ser em grego, alemão, francês, espanhol, inglês...
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logia textos do magistério eclesiástico, julgados necessários para uma teo-
logia que não fosse unicamente fruto de elucubrações – tentação racionalista
típica da época –, mas tivesse uma sólida base na tradição, representada
pelo magistério eclesiástico2 .
2
Na sua introdução, Peter Hünermann apresenta, em grandes traços, a história do
“Denzinger” (cf. p. 3-5).
3
A partir de então as siglas “D”, “Dz” ou “Denz.” foram substituídas por “DS” (Denzinger-
Schönmetzer), como, a partir da 37ª edição, passou a ser “DH” (Denzinger-Hünermann).
4
A nova numeração obrigou a uma reviravolta na forma de citar. Em respeito aos
usuários das edições anteriores, o “Denzinger” passou a ser citado com as duas numera-
ções. P. ex.: DS 1676 / Dz 897. Para ajudar o leitor de obras mais antigas que citavam
a numeração anterior a 1963 (34ª ed.), conservada, aliás, por Schönmetzer na margem
interna da página. No mesmo intuito de permitir a leitura de obras mais antigas que
citavam o “Denzinger” por edições anteriores à 34ª, DH traz no final uma “Concordância
dos números marginais” (p. 1463-1467), em que estabelece a equivalência entre os núme-
ros de DH e os de Dz.
5
Veja a lista completa dos números significativos, na introdução de Hünermann, p. 6-7.
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Hünermann mantém a numeração de Schönmetzer. Entretanto, com a in-
trodução dos excertos do Vaticano II, que, dentro da lógica de pôr núme-
ros redondos em textos fundamentais, começa como DH 4000, os antigos
DS 3998 e 3999 passam a ser DH 4400ss. Textos antigos que Schönmetzer
acrescentara como suplemento à 36ª edição, no final da obra, fora de seu
contexto histórico, mas numerado segundo o local onde deveria estar, in-
clusive com acréscimo de letras (ex.: 251a, 251b etc.), foram inseridos por
Hünermann em seu lugar próprio, mas conservada a numeração anômala.
Assim a carta de Nestório a Cirilo, lida e rejeitada pelo Concílio de Éfeso
(DH 251a-e colocada entre DH 251 e DH 252). Outros desses textos do
suplemento de DS tiveram mais sorte, pois havia uma lacuna casual na
numeração justamente onde os textos deviam ser inseridos. Tal foi o caso
do decreto de Eugênio IV contra o Concílio de Basiléia, de 4 de setembro
de 1439 (cf. DH 1309), que coube perfeitamente entre a bula do Concílio de
Florença para a união com os gregos (que vai de DH 1300 a 1308) e o
decreto para os armênios (que começa em DH 1310).
6
Cf. Y. CONGAR, „Über den rechten Gebrauch des ‘Denzinger’“, em: Situation und
Aufgabe der Theologie heute, Paderborn, 1971, 125-150 (citado e resumido na introdução
de Hünermann, p. 10-11 e nota 9).
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fundamentais, além de acrescentar – como já era de praxe – documentos
dos últimos anos.
7
Cf. E. DENZINGER, El magisterio de la Iglesia. Manual de los símbolos, definiciones
y declaraciones de la Iglesia en materia de fe y costumbres. Versión directa de los textos
originales por Daniel RUIZ BUENO, Barcelona: Herder, 1963 (3ª reimpressão). A primei-
ra é de 1959.
8
No sentido já explicado na nota 1.
390
documentos dos pontificados de Paulo VI e João Paulo II, este um dos mais
longos da história e mais profícuos em produção de documentos (ocupam
quase 143 pp. da edição brasileira contra as 185 do pontificado de Paulo
VI, onde estão incluídas as 133 páginas de excertos dos documentos do
Vaticano II!). Era preciso refazer totalmente o índice sistemático que até à
36ª edição fora composto em moldes neo-escolásticos. E assim por diante.
Essa indicação de Konings pode ser ilustrada por um item do índice sis-
temático de Schönmetzer conservado por Hünermann: “Exemplos de de-
cisões magisteriais divergentes” que se encontra sob a indicação H:3h (p.
1358-1359). Na 34ª edição – que tenho à mão – o item correspondente (que
era então identificado com H 2c) tem por título geral: “A certeza de outros
atos do magistério”. E, antecedendo imediatamente os exemplos conserva-
dos por Hünermann, Schönmetzer escrevia:
Deve-se assentimento também a decretos não propostos infalivelmente (en-
tre os quais em si, isto é, a não ser que tratem de matéria em outra parte
declarada infalível, enumeram-se as encíclicas e as proscrições de erros)
2922 3407 3885; tal assentimento não pode ser absoluto (por ser prestado a
uma matéria não imune de erro por força do dom da infalibilidade), mas só
condicionado, revogável em favor de uma decisão ou da evolução subse-
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qüente em outro sentido, que, do contrário, se tornaria ilegítima e ilícita. É
o que se deduz de exemplos históricos.
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necessários à salvação aos que, sem
culpa, não chegaram ainda ao conheci-
mento explícito de Deus e se esforçam,
não sem o auxílio da graça, por levar
uma vida reta. [...]
A apresentação gráfica da obra está muito bem cuidada. Mas, numa obra
desse porte, não estranha que haja cochilos de diversos tipos. À medida
que o usuário consulta a obra, caem em vista falhas de diferentes nature-
393
zas. Distração na diagramação: o Concílio de Vienne (realizado de outubro
de 1311 a maio de 1312) aconteceu sob o pontificado de Clemente V, en-
tretanto, o cabeçalho ainda traz o nome de Bento XI, seu antecessor. Por
vezes falta o número marginal, como é o caso à p. 984, onde na altura do
início do nº 7 da Constituição Dogmática Dei Verbum, do Vaticano II, falta
o número marginal que seria 4207. Ou na p. 51, onde o número marginal
126 está uma linha acima do local apropriado: ele deveria estar no começo
do anatematismo. Outras vezes há falhas de digitação (ou será cochilo na
tradução?) que podem ser mesmo graves, como é o caso em DH 1326.
Neste texto da bula de união com os armênios, que o Concílio de Florença
aprovou em 22 de novembro de 1439, ao falar sobre o ministro do sacra-
mento da ordem lê-se na tradução: “Ministro deste sacramento é o bispo”,
quando o latim traz: “Ministro ordinário deste sacramento é o bispo”, o
que abre a possibilidade de um ministro extraordinário e assim se legiti-
mam os privilégios papais concedidos a determinados abades não-bispos
de ordenarem seus monges em diáconos e até mesmo em presbíteros (cf.
DH 1145s, 1290, 1435). Outro exemplo nesse sentido é DH 1741. É um
trecho do decreto do Concílio de Trento sobre a missa como sacrifício.
Num texto de grande importância teológica, o Concílio estabelece a relação
entre a antiga e a nova Páscoa. Segundo a tradução “Cristo instituiu a nova
Páscoa a ser imolada pela Igreja...”. Com relação ao texto latino ficou es-
quecido o “seipsum”. Deveria ler-se: “Cristo institui a nova Páscoa, ele
próprio, a ser imolado pela Igreja...”. Para melhor compreensão do texto,
o português poderia ter feito um acréscimo: “<que era>” ou “<a saber>”.
Resultaria: “Cristo institui a nova Páscoa, <que era> ele próprio, a ser
imolado pela Igreja...”.
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tindo os símbolos), a metade do “Denzinger” está na p. 595, com a cons-
tituição de Pio VI sobre o Sínodo de Pistóia, de 1794. Restam, pois, dois
séculos para a segunda metade do “Denzinger”. Essa aparentemente inútil
matemática é, no entanto, altamente significativa da multiplicação de pro-
nunciamentos oficiais das autoridades romanas. Diante disso, torna-se muito
mais sério o adendo à profissão de fé prescrita pela Congregação da Dou-
trina da Fé (cf. DH 5070-5072), em 1998, em que se exige “um obséquio
religioso da vontade e da inteligência”, também às doutrinas que o magis-
tério não entende proclamar com ato definitivo.
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Konings. Suas indicações para um uso teológico do “Denzinger” é o que
eu deveria ter feito nesta apresentação e não o fiz, porque ambos já reali-
zaram magistralmente a tarefa. Coube-me, pois, deter-me em amenida-
des...
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