Resumos NP1 Psicanálise
Resumos NP1 Psicanálise
Resumos NP1 Psicanálise
KLEIN (1959) A técnica psicanalítica através do brincar, sua história e significado (1955), In:
Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III.
I
Seu trabalho com adultos e crianças e suas contribuições à psicanálise derivam da técnica
através do brincar desenvolvida cm crianças pequenas.
Seu insight sobre o desenvolvimento inicial, sobre os processos inconscientes e sobre a
interpretação, teve influência no trabalho que fez com crianças mais velhas e adultos.
Quando iniciou seu trabalho com crianças em 1919, algum trabalho psicanalítico com crianças
já havia sido feito por Hug-Hellmuth, porém esta não empreendeu análise com crianças
menores de 6 anos. Embora usasse desenhos e o brincar, não os desenvolveu numa técnica
específica.
Quando Klein iniciou seu trabalho era um princípio entre os psicanalistas que a psicanálise era
adequada apenas para crianças a partir do período de latência. A exploração do inconsciente em
crianças menores era altamente perigosa.
Primeiro paciente – Fritz, 5 anos. Desviou de algumas regras estabelecidas porque interpretava
o que pensava ser mais urgente no material que a criança apresentava centrando-se em suas
ansiedades e defesas contra ela.
Observava alívio da ansiedade das crianças produzido por suas interpretações. Apoiada por
Abraham.
Tratamentos conduzidos na casa das crianças com seus próprios brinquedos, o que Klein revê
posteriormente porque afirma que a análise deve ser uma cosia separada da vida familiar, o que
permite a criança expressar seus sentimentos fora das convenções sociais.
A criança expressa suas fantasias e ansiedades através do brincar e Klein interpretava o
SIGNIFICADO para a criança.
O método da interpretação é característico de sua técnica.
Klein relaciona a associação livre ao brincar da criança. Brincar: “meios de expressar o que o
adulto expressa predominantemente através de palavras.” (p. 151).
A exploração do inconsciente é a principal tarefa da psicanálise e a análise da transferência é o
meio de atingir esse objetivo (cita Freud).
1923 – analisou Rita – criança de 2 anos e nove meses. Terrores noturnos e fobia de animais,
ambivalente quanto a mãe. Brincar inibido, inabilidade para tolerar frustrações.
Transferência negativa inicial com Klein: interpretou sua transferência negativa (contra a
prática usual).concluiu que Rita estava receosa de alguma coisa que Klein poderia fazer a ela
quando estavam a sós.
Interpretação: referindo-se aos terrores noturnos, ligou a suspeita da criança por Klein, uma
estranha hostil, ao seu medo de que uma mulher má a atacasse quando estivesse sozinha a noite.
Depois da interpretação, Rita voltou ao quarto com Klein.
“Este caso fortaleceu minha convicção crescente de que uma precondição para a psicanálise de
uma criança é compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, ansiedades e experiências
expressos através do brincar ou, se as atividades de brincar estão inibidas, as causas da
inibição.” (p. 152).
Criança de 7 anos: relação com a mãe mudou desde que começou na escola, não acompanhava
o grupo escolar, não gostava da escola. Klein apresentou brinquedos à criança. Da brincadeira
(dois brinquedos: criança e um menino – colega de escola – queda, colisão, ansiedade), Klein
depreendeu que alguma atividade sexual parece ter ocorrido entre ela e seu amigo e que ela
estava com medo que a professora e a mãe descobrissem e fosse punida, e, portanto, desconfiava
delas, assim como de Klein. O efeito gerou maior ansiedade e depois alívio, havendo mudanças
familiares e escolares.
II
Uso de brinquedos na caixa tornou-se essencial para a análise.
Quais brinquedos para a técnica psicanalítica através do brincar?
Pequenos homens e mulheres de madeira, de dois tamanhos, carrinhos de mãos, balanços, trens,
aviões, animais, árvores, blocos, casas, cercas, papel, tesouras, faca, lápis, giz, tinta, cola, bolas,
bola de gude, massa de modelar e barbante.
Brinquedos pequenos em quantidade e variedade porque ajudam criança a expressar fantasias
e experiências.
Brinquedos não mecânicos. Figuras humanas variem em cor e tamanho e não indiquem
ocupação. Simplicidade permite tratá-los em situações diferentes. As crianças também trazem
os próprios brinquedos.
O equipamento do consultório também é simples. Um chão lavável, água corrente, mesa,
cadeiras, pequeno sofá, almofadas, móvel com gavetas (brinquedos são guardados nessa gaveta
sendo conhecidos apenas por ela e pelo analista – relação privada e íntima entre analista e
paciente – transferência psicanalítica).
Atividades realizadas me torno da pia.
Criança desenha, escreve, pinta, recorta, conserta brinquedos. Atribui papéis a ela e ao analista.
A criança assume o papel do adulto, expressando desejo de reverter os papéis e demonstrando
como sente que as pessoas de autoridade se comportam com ela, como gostaria que se
portassem.
Dá vazão à agressividade, sendo sádica.
O princípio da interpretação é o mesmo, seja com fantasias representadas com brinquedos ou
com dramatização.
Frequentemente um brinquedo se quebra, ataques são feitos com faca, tesoura. É essencial
permitir que a criança traga à luz a agressividade. Compreender por que nesse momento nesse
dado momento da situação transferencial aparecem os impulsos destrutivos e observar suas
consequências na mente das crianças.
Sentimento de culpa podem seguir-se e esta culpa se refere ao significado que o brinquedo
representa no inconsciente da criança (um irmão, um dos pais etc).
Além da culpa a ansiedade persecutória também pode comparecer, temendo a retaliação.
Klein diz à criança que não toleraria ataques físicos a ela pois estes ataques podem desencadear
culpa e ansiedade persecutórias na criança dificultando o tratamento. Quanto mais era capaz de
interpretar em tempo os motivos da agressividade mais a situação podia ser mantida dentro do
controle. Com crianças psicóticas aconteceu de ser atacada.
III
Atitude da criança para com brinquedo danificado é reveladora. Por vezes coloca o brinquedo
de lado.
Medo persecutório de que a pessoa atacada (representada pelo brinquedo) tenha se tornado
retaliadora e perigosa.
O sentimento de perseguição pode ser tão forte que encobre sentimentos de culpa e depressão
que também são desencadeados pelo dano produzido.
Um dia a criança pode voltar a procurar o brinquedo danificado em sua caixa o que pode dizer
que fomos capazes de analisar defesas importantes, tornando possível que o sentimento de culpa
e a reparação sejam vivenciados. O que provoca mudanças em seu meio, com seus pais, irmãos,
representados pelos brinquedos e sentimentos de amor venham a aparecer em primeiro plano.
Importância de tais mudanças para formação de caráter e para as relações de objeto e
estabilidade mental.
O analista não deve mostrar desaprovação pela quebra do brinquedo, no entanto, não deve
encorajá-la a expressar sua agressividade. Deve permitir a criança vivenciar suas fantasias como
aparecem. Indica não utilizar de influência moral ou educativa (ao contrário de Anna Freud).
Brinquedo expressa uma variedade ampla de emoções, repetição de experiências e detalhes da
vida cotidiana.
IV
Inibição no brincar ou interrupções no brincar.
Peter – 3 anos e 9 meses de idade – incapaz de brincar, pouco jeito de menino, às vezes agressivo
e autoritário, ambivalente em relação à família e fixado na mãe.
Peter havia piorado com idade de dezoito meses após férias de verão onde compartilhou o
quarto dos pais e pode observar suas relações sexuais. Tornou-se difícil de lidar, dormia mal,
voltou a molhar a cama. Havia brincado até essa ocasião e tornou-se destrutivo com seus
brinquedos. Com o nascimento do irmão aumentaram suas dificuldades.
Brincadeira com cavalos se chocando. Klein interpreta que os cavalos entrechocando-se
representavam pessoas. Ele rejeitou e depois aceitou a intepretação.
Cavalos entrechocando-se, cobriu-os com blocos– “Agora eles estão bem mortos. Eu os
enterrei.”
Carros em fila, frente dando pra traseira do outro – simbolizava o pênis de seu pai. Quebrar
brinquedos significava destroçar o pênis de seu pai.
Repetição da cena em outra sessão – Klein interpreta que ele estava mostrando que a mãe e o
pai entrechocavam seus genitais e que ele pensava que por fazerem isso seu irmão nasceu.
Interpretação produziu mais material.
Deitou boneco-homem sobre um bloco-cama e disse que estava morto e liquidado. Em seguida
repetiu com dois bonecos-homens que ele já havia danificado. Klein interpretou que o boneco
representava seu pai, que iria derrubar da cama e matar, que um dos outros bonecos era ele a
quem o pai faria o mesmo. Tanto ele quanto o pai ficariam danificados se ele atacasse seu pai.
Assistir relações sexuais dos pais produziu grande impacto em sua mente, expresso na
agressividade ao brincar.
Klein aponta que se não tivesse interpretado os brinquedos entrechocando-se, ele não poderia
ter apresentado o material que apareceu na sessão seguinte. Também diz que se não tivesse
interpretado, ele teria parado de brincar depois de quebrar os brinquedos.
A criança oferece pistas ao analista do que está se passando em sua mente em conexão com o
que o analista ouviu dos pais.
As crianças são capazes de entender as interpretações? Se a interpretações dizem respeito a
pontos relevantes do material, sim.
Deve usar as expressões da criança para fazer as interpretações.
Capacidade de insight maior nas crianças, as repressões são menos poderosas do que no adulto.
Porém a interpretação de desejos de morte contra uma pessoa amada suscita geralmente grande
resistência em crianças e adultos. Porém, Klein percebe elaborações que auxiliam a criança a
compreender que seus próprios sentimentos agressivos dirigidos ao pai contribuíram para ter
medo dele.
Análise da transferência. O paciente repete na transferência com o analista, conflitos anteriores.
A intepretação ajuda o paciente a levar de volta suas fantasias para o lugar de onde se
originaram, a saber, na infância e na relação com os primeiros objetos.
V
Rita – 2 anos e nove meses - severidade do superego. Desempenhava o papel de uma mãe severa
e punitiva que tratava a criança (boneca ou Klein) muito cruelmente. Ambivalência em relação
a mãe, necessidade de ser punida, sentimentos de culpa e terrores noturnos. Nela operava um
superego severo e implacável.
Superego surge em estágio anterior ao suposto por Freud.
Concorda com Freud que o superego é produto de um desenvolvimento que se estende por anos.
Deriva-se, para ela, dos estágios nos quais a criança internalizou/introjetou seus pais.
Nas meninas – mãe sentida como perseguidor primordial que ataca o corpo da criança e lhe
toma suas crianças imaginárias. Ansiedades que surgem dos ataques fantasiados da menina ao
corpo da mãe que visam roubar-lhe seus conteúdos: fezes, pênis do pai, crianças.
Descobriu nos ataques ao corpo da mãe, impulsos sádico-anais e sádico-uretrais.
A análise ajudou Rita a compreender o modo pelo qual os impulsos destrutivos dirigidos
à mãe tornam-se a causa de sentimentos de culpa e perseguição.
Trude – 3 anos e 3 meses de idade – terrores noturnos, incontinência urinária e de fezes. Deixou
claro para Klein a natureza sádico-anal e sádico-uretral para Klein.
Trude pediu para Klein fingir que estava dormindo e dizia que iria a atacar e procurar por fezes
em suas nádegas e que iria retirá-las. Depois brincava que estava em uma cama e cobria-se com
almofadas que serviam para proteger seu corpo e que também representavam crianças. Ao
mesmo tempo se urinava demonstrando que estava com medo de ser atacada por Klein.
As ansiedades de Trude confirmaram as conclusões de Klein quanto a internalização de uma
mãe perigosa, como havia notado no caso de Rita.
Klein também ficou convencida de que os impulsos e fantasias destrutivas podiam ser
remontados a impulsos e fantasias sádico-orais. Rita levou a boca copo de água com papéis
pintados de preto (que rasgou) e disse: mulher morta. Klein compreendeu que rasgar e molhar
o papel expressavam fantasias de atacar e matar sua mãe, fantasias que davam origem ao medo
de retaliação.
Erna (paranoica) – Klein aprendeu sobre detalhes da internalização de uma mãe atacada (e por
isso amedrontada) que desencadeavam um superego severo, nos impulsos subjacentes às
ansiedades paranoides e maníaco-depressivas. Compreensão da natureza oral e anal dos
processos introjetivos e situações de perseguição interna.
As perseguições internas influenciam, através da projeção, a relação com objetos externos.
A intensidade da inveja de Erna demonstravam sua origem na relação sádico-oral com o seio
da mãe e estavam interligadas aos primórdios do complexo de Édipo. Klein concluiu sobre o
superego primitivo quando impulsos sádico-orais estão em seu auge, subjaz à psicose. Salientou
a importância do sadismo oral na esquizofrenia.
Ansiedades psicóticas relacionadas ao sadismo oral: Concluiu que a relação sádico-oral com a
mãe e a internalização de um seio devorado (e devorador) constituem o protótipo de todos os
perseguidores internos. E a internalização de um seio danificado (temido), por um lado, e um
seio que satisfaz e auxilia, por outro, constitui o núcleo do superego.
Concluiu ainda que ansiedades psicóticas (paranoides e depressivas) subjazem à neurose
infantil. Ansiedades de natureza psicótica fazem parte do desenvolvimento normal infantil,
sendo elaboradas no curso da neurose infantil.
Utilização da linguagem simbólica do brincar. Klein faz associações com a linguagem dos
sonhos. Por meio dessa associação é que Klein descobriu que poderia ter acesso ao inconsciente
da criança.
“Mas temos que considerar o uso de símbolos de cada criança em conexão com suas
emoções e ansiedades particulares e em relação com a situação total que é apresentada na
análise. Meras traduções generalizadas de símbolos não tem sentido.” (p. 166)
A análise através do brincar possibilita à criança transferir suas fantasias a outros objetos, além
de pessoas.
Muito alívio é experimentado no brincar. A criança pode representar ataques por meio do
brinquedo e não a pessoa real. A interpretação deixa claro que era realmente a pessoa que a
criança desejava atacar e que na análise pode expressar suas tendências destrutivas.
Crianças com inibição na capacidade de formar símbolos e desenvolver sua vida de fantasia é
sinal de séria perturbação, característica da esquizofrenia.
Klein pode observar as fantasias e ansiedades do bebê ainda operantes no adulto e avaliar na
criança pequena o que poderia vir a ser seu desenvolvimento futuro.
VI
Remontando às origens das ansiedades e fantasias, dirigidos ao seio da mãe, Klein descobriu
que as relações de objeto se iniciam quase no nascimento e surgem com a primeira experiência
de amamentação.
Introjeção e projeção operam lado a lado desde o início da vida.
A mãe aparece primeiramente como um objeto mau e um objeto bom cindidos e em poucos
meses, com a integração do ego, os aspectos contrastantes começam a ser sintetizados, surgindo
a ansiedade depressiva (posição depressiva), que atinge seu auge no primeiro ano.
Posição esquizo-paranoide – primeiros 3 - 4 meses de vida – ansiedade persecutória e processos
de cisão.
Seu trabalho com crianças influenciou cada vez mais seu trabalho com adultos. A técnica
psicanalítica através do brincar possibilitou acessar camadas da mente antes não
atingidas pela prática psicanalítica da época.
FRUSTRAÇÃO PELO
DESMAME
DIFERENÇA ANATÔMICA
FRUSTRAÇÕES ANAIS ENTRE OS SEXOS
TENDÊNCIAS EDÍPICAS
Teme ser punido pela destruição do corpo da mãe, tem medo que seu corpo
seja mutilado – castrado pela mãe e pelo pai (que é representado pelo pênis
dentro do corpo da mãe)
O sentimento de culpa em relação à mãe faz surgir uma nova relação de amor
com esta (identificação). O complexo de castração também torna difícil manter
a identificação ao pai e ele volta a ser objeto para amar e não se identificar.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS
- Sinais de esquizofrenia
Quando o ego é incapaz de no bebê.
superar estados de cisão e - Despersonalização e
desintegração dissociação
esquizofrênica no adulto.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
Na personalidade normal:
desenvolvimento do ego e das relações de objeto
dependem de um equilíbrio entre introjeção e
projeção nos estágios iniciais do desenvolvimento.
RELAÇÕES DE OBJETO ESQUIZOIDES
daniela.giorgenon@docente.unip.br
Tema: Fantasia. Cisão. Projeção. Introjeção. Identificação projetiva. Posição esquizo-
paranóide. Posição depressiva. Reparação. Inveja. Transferência.
KLEIN (1959) Capítulo 12: Nosso mundo adulto e suas raízes na infância, In: Obras Completas,
Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III.
Introjeção e Projeção
Para Klein, a introjeção e a projeção funcionam desde o início da vida pós-natal, como algumas
das primeiras atividades do ego.
Na introjeção, o mundo externo e os objetos que o representam são levados para dentro do self,
vindo a fazer parte da vida interior.
A projeção, que ocorre simultaneamente, implica na atribuição de sentimentos de vários tipos
(amor e ódio) à outras pessoas.
O amor e o ódio dirigidos à mãe estão ligados à capacidade do bebê projetar suas emoções sobre
ela, convertendo-a em objeto bom ou objeto mau.
Fantasias inconscientes
A introjeção e a projeção fazem parte das fantasias inconscientes do bebê e ajudam a moldar
sua impressão do ambiente. A imagem transformada do mundo externo influencia o que ocorre
em sua mente. Interação entre fatores internos e externos.
A introjeção e a projeção continuam ao longo da vida e transforma-se no decorrer da maturação.
Mesmo no adulto, o julgamento da realidade nunca é completamente livre da influência de seu
mundo interno.
A fantasia é o representante psíquico da pulsão. Não há impulso que não seja vivido como
fantasia.
Uma fantasia representa o conteúdo particular das necessidades ou sentimentos que dominam
a mente no momento.
Não são devaneios, ocorrem em níveis inconscientes profundos e acompanha todo impulso
vivenciado pelo bebê.
Bebê faminto pode lidar com sua fome alucinando a satisfação do seio. Mas a fantasia
inconsciente também toma a forma oposta de sentir-se privado e perseguido pelo seio que se
recusa a dar essa satisfação.
As relações de objeto
A mãe introjetada é um fator fundamental no desenvolvimento.
As relações de objeto iniciam-se com o nascimento.
A mãe e seus bons aspectos é o primeiro objeto bom que o bebê torna parte de seu mundo
interno. Capacidade de o fazê-lo é até certo ponto inata.
A possibilidade de o bom objeto fazer parte relevante do self depende da ansiedade persecutória
e o ressentimento consequente não serem demasiados intensos.
Uma atitude amorosa da mãe contribui para o sucesso do processo.
Se a mãe é assimilada ao mundo interno da criança como um objeto bom do qual esta pode
depender, um elemento de força é agregado ao ego.
Identificação com características boas da mãe é base para identificações benéficas ulteriores,
como com um pai bom e outras figuras amistosas.
Isso colabora para uma personalidade estável.
Porém, por mais que sejam bons os sentimentos da criança em relação aos pais, a agressividade
e o ódio também se mantêm em atividade.
Um exemplo é a rivalidade com o pai resultante dos desejos do menino pela mãe e todas as
fantasias ligadas a eles, no complexo de Édipo, que pode ser observado em crianças de 3, 4, 5
anos de idade e está enraizado nas primeiras suspeitas que o bebê tem de que o pai tira dele o
amor e a atenção da mãe.
Identificação
Através da projeção de si ou de partes de si para dentro de outra pessoa, ocorre uma
identificação com esta, diferente da identificação pela introjeção.
Se um objeto é tomado para dentro do self, há a introjeção de algumas características desse
objeto.
Quando se coloca parte de si mesmo dentro de outra pessoa (projeção), a identificação se dá na
atribuição a essa outra pessoa de algumas das próprias qualidades. A natureza amistosa ou hostil
da projeção dependerá de quão equilibrados ou perseguidos estejamos.
A introjeção excessiva ameaça a força do ego porque este fica dominado pelo objeto introjetado.
Se o interjogo entre introjeção e projeção for bem equilibrado, o mundo interno se torna
enriquecido e melhoram as relações com o mundo externo.
Cisão
O ego infantil tende a cindir impulsos e objetos. Essa tendência se deve ao fato de faltar coesão
ao ego arcaico.
Além disso, a ansiedade persecutória reforça a necessidade de manter o objeto amado separado
do objeto perigoso, havendo necessidade de cindir o amor e o ódio.
O bebê depende da sua confiança em uma mãe boa: autopreservação.
Assim, através da cisão dos dois aspectos do objeto, o bebê se agarra ao bom e preserva a crença
em um objeto bom, possível de amar: condição essencial para manter-se vivo.
Na falta desse sentimento, o bebê estaria exposto a um mundo hostil que o destruiria.
O processo de cisão muda em forma e conteúdo ao longo do desenvolvimento, mas nunca é
inteiramente abandonado.
Posição esquizo-paranóide
Para Klein, os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam
nos 3 – 4 meses de vida (Posição esquizo-paranóide).
Em casos extremos, estes mecanismos e ansiedades tornam-se a base da paranoia e da
esquizofrenia.
Correlatos dos sentimentos destrutivos: voracidade e inveja.
Voracidade
Varia de um bebê para outro: não se sacia com a gratificação, torna-se sempre insatisfeito.
A voracidade é incrementada pela ansiedade de ser privado, roubado, de não ser
suficientemente bom para ser amado.
O bebê voraz por amor é inseguro sobre sua capacidade de amar.
Inveja
A mãe que cuida e alimenta o bebê pode ser objeto de inveja.
A frustração advinda de quando a criança se sente negligenciada leva à fantasia de que o leite
e o amor são a ela recusados. Essas suspeitas são a base da inveja, na qual há o desejo de posse
do objeto e a necessidade de estragá-lo, para estragar o prazer que outras pessoas podem com
ele obter.
Inveja intensa resulta em uma relação perturbada com a mãe, assim como com outras pessoas
mais tarde.
Sensação de que nada pode ser desfrutado porque a cosia desejada já foi estragada pela inveja.
Gratidão
Se a inveja é intensa, o que é bom não pode ser assimilado e, assim, não origina a gratidão.
Em contraposição, a capacidade de desfrutar do que foi recebido e a experiência de gratidão em
relação à pessoa que dá influenciam o caráter e a relação com outras pessoas.
Menininha – disse amar a mãe mais do que todas as pessoas, pois o que ela faria se a mãe não
a tivesse dado à luz e a alimentado?
Sentimento de gratidão é ligado à capacidade de fruição e gera atitudes de generosidade e
consideração pelas outras pessoas.
Reparação
As atividades voltadas para o outro (como risos) expressam não apenas amor, mas também
necessidade de reparar.
Elaboração
Freud postulou que a elaboração é parte essencial do processo analítico, mas um trabalho de
elaboração ocorre em alguma medida no desenvolvimento individual. Assim, a adaptação à
realidade externa aumenta e o bebê adquire uma imagem menos fantasiosa do mundo.
Gradualmente o bebê elabora seus medos arcaicos e chega a uma aceitação de seus impulsos
conflitantes. A ansiedade depressiva predomina e a persecutória diminui.
Fobias são modos de elaboração da posição depressiva. (p. 290).
Mas, as ansiedades depressivas e persecutórias nunca são totalmente superadas. Podem
reaparecer sob pressão externa.
Frustração e Projeção
A criança pequena que reage intensamente contra a frustração, projeta suas queixas às pessoas
à sua volta de forma intensa (projeção hostil) e acaba por evocar hostilidade nos outros.
Atitudes similares são bem conhecidas em adultos.
Atitudes de alguns chefes de estado.
Quando a ansiedade persecutória é menos intensa e a projeção atribui bons sentimentos aos
outros, isso torna-se a base da empatia. E a resposta do mundo externo é muito diferente
(pessoas queridas).
As relações com as figuras arcaicas reaparecem com frequência e problemas vividos na infância
são revividos, ainda que de maneira modificada.
Relação com um subordinado ou um superior repete até certo ponto a relação com um irmão,
por exemplo.
Quando uma pessoa está sob o domínio (e não somente influenciado como na vida normal) de
relações arcaicas, seu julgamento sobre pessoas está destinado a ser perturbado.
Identificação e desenvolvimento
Quando a inveja e a rivalidade não são muito grandes, torna-se possível desfrutar dos prazeres
dos outros.
Na infância, a hostilidade e rivalidade do complexo de Édipo são contrabalançadas pela
capacidade de usufruir da felicidade dos pais. Na vida adulta, os pais podem compartilhar os
prazeres da infância por identificarem-se com os filhos, sendo capazes de acompanhar sem
inveja o crescimento dos filhos.
Pessoas idosas podem se identificar com jovens.
Identificar-se propicia a felicidade de ser capaz de admirar o caráter ou as conquistas dos outros.
Se a inveja não é grande, podemos ter prazer e orgulho no trabalho com pessoas que superam
nossas capacidades.
Desde a mais tenra idade a mãe e outras pessoas do ambiente da criança são incorporadas ao
self, e essa é a base de uma diversidade de identificações favoráveis e desfavoráveis.
- Aspectos desfavoráveis podem ser prejudiciais ao desenvolvimento da criança estimulando
nela o ódio, a rebeldia ou submissão excessiva.
Voracidade e desenvolvimento
Papel da voracidade na formação do caráter pode ser observado como um elemento destrutivo
na vida social. A pessoa voraz quer cada vez mais, ainda que às custas dos outros. Não é capaz
de consideração e generosidade.
A ambição ameaça a cooperação com os outros.
A pessoa extremamente ambiciosa não se sente satisfeita nem com grandes conquistas, do
mesmo modo que o bebê voraz nunca está satisfeito.
Conexão entre voracidade e inveja: o rival é visto não apenas como alguém que o roubou ou
privou de posição/bens, mas também como o portador de qualidades valiosas que evocam a
inveja e o desejo de estragá-las.
Quando a voracidade e a inveja não são excessivas, mesmo uma pessoa ambiciosa encontra
satisfação em ajudar os outros.
Liderança bem-sucedida: crianças que tem efeito integrador sobre toda a família e na vida
escolar. Relação amistosa e cooperativa com outras crianças.
A pessoa que é incapaz de receber crítica é mobilizada pela ansiedade persecutória.
CONCLUSÕES
Nossos hábitos e concepções na vida adulta foram construídos desde as fantasias e emoções
infantis mais arcaicas.
Aquilo que já existiu no inconsciente nunca perde completamente sua influência sobre a
personalidade.
A inveja, a voracidade e as ansiedade persecutórias perturbam o equilíbrio emocional da criança
e suas relações sociais. Há influência da interação entre fatores inatos e do ambiente.
Um desenvolvimento equilibrado tem como resultado a integridade e a força do caráter.
Para Klein, o caráter é a base para toda conquista humana, raiz do desenvolvimento social
saudável.
O bebê tendo incorporado os pais, sente como se eles fossem pessoas vivas
dentro de seu corpo (objetos internos).
Assim se constrói um mundo interior na mente inconsciente da criança:
correspondente às suas experiências reais e às impressões que recebe das
pessoas e do mundo externo (alteradas pelas suas próprias fantasias e
impulsos).
Dúvidas, incertezas e ansiedades que surgem: atuam como incentivo contínuo
para que a criança observe e se certifique no mundo externo.
Dessa forma, ela poderá entender melhor o mundo interno.
daniela.giorgenon@docente.unip.br
AS ORIGENS DA Melanie Klein
TRANSFERÊNCIA (1952)
NOTA COMISSÃO EDITORIAL INGLESA
Único artigo de Klein sobre a transferência.
As interpretações para Klein devem abarcar:
- as relações de objeto iniciais que são revividas na
transferência;
- elementos inconscientes na vida corrente do paciente.
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daniela.giorgenon@docente.unip.br