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Resumos NP1 Psicanálise

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Tema: A psicanálise de crianças. A técnica do brincar. Agressividade e destrutividade.

Sadismo infantil, angústia e culpa.

KLEIN (1959) A técnica psicanalítica através do brincar, sua história e significado (1955), In:
Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III.

Nota Comissão Editorial Inglesa


Artigo próximo de uma autobiografia profissional onde fica registrada a histórias dos
primeiros tempos de Klein como analista de crianças.

I
Seu trabalho com adultos e crianças e suas contribuições à psicanálise derivam da técnica
através do brincar desenvolvida cm crianças pequenas.
Seu insight sobre o desenvolvimento inicial, sobre os processos inconscientes e sobre a
interpretação, teve influência no trabalho que fez com crianças mais velhas e adultos.
Quando iniciou seu trabalho com crianças em 1919, algum trabalho psicanalítico com crianças
já havia sido feito por Hug-Hellmuth, porém esta não empreendeu análise com crianças
menores de 6 anos. Embora usasse desenhos e o brincar, não os desenvolveu numa técnica
específica.
Quando Klein iniciou seu trabalho era um princípio entre os psicanalistas que a psicanálise era
adequada apenas para crianças a partir do período de latência. A exploração do inconsciente em
crianças menores era altamente perigosa.
Primeiro paciente – Fritz, 5 anos. Desviou de algumas regras estabelecidas porque interpretava
o que pensava ser mais urgente no material que a criança apresentava centrando-se em suas
ansiedades e defesas contra ela.
Observava alívio da ansiedade das crianças produzido por suas interpretações. Apoiada por
Abraham.
Tratamentos conduzidos na casa das crianças com seus próprios brinquedos, o que Klein revê
posteriormente porque afirma que a análise deve ser uma cosia separada da vida familiar, o que
permite a criança expressar seus sentimentos fora das convenções sociais.
A criança expressa suas fantasias e ansiedades através do brincar e Klein interpretava o
SIGNIFICADO para a criança.
O método da interpretação é característico de sua técnica.
Klein relaciona a associação livre ao brincar da criança. Brincar: “meios de expressar o que o
adulto expressa predominantemente através de palavras.” (p. 151).
A exploração do inconsciente é a principal tarefa da psicanálise e a análise da transferência é o
meio de atingir esse objetivo (cita Freud).

1923 – analisou Rita – criança de 2 anos e nove meses. Terrores noturnos e fobia de animais,
ambivalente quanto a mãe. Brincar inibido, inabilidade para tolerar frustrações.
Transferência negativa inicial com Klein: interpretou sua transferência negativa (contra a
prática usual).concluiu que Rita estava receosa de alguma coisa que Klein poderia fazer a ela
quando estavam a sós.
Interpretação: referindo-se aos terrores noturnos, ligou a suspeita da criança por Klein, uma
estranha hostil, ao seu medo de que uma mulher má a atacasse quando estivesse sozinha a noite.
Depois da interpretação, Rita voltou ao quarto com Klein.
“Este caso fortaleceu minha convicção crescente de que uma precondição para a psicanálise de
uma criança é compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, ansiedades e experiências
expressos através do brincar ou, se as atividades de brincar estão inibidas, as causas da
inibição.” (p. 152).

Criança de 7 anos: relação com a mãe mudou desde que começou na escola, não acompanhava
o grupo escolar, não gostava da escola. Klein apresentou brinquedos à criança. Da brincadeira
(dois brinquedos: criança e um menino – colega de escola – queda, colisão, ansiedade), Klein
depreendeu que alguma atividade sexual parece ter ocorrido entre ela e seu amigo e que ela
estava com medo que a professora e a mãe descobrissem e fosse punida, e, portanto, desconfiava
delas, assim como de Klein. O efeito gerou maior ansiedade e depois alívio, havendo mudanças
familiares e escolares.

II
Uso de brinquedos na caixa tornou-se essencial para a análise.
Quais brinquedos para a técnica psicanalítica através do brincar?
Pequenos homens e mulheres de madeira, de dois tamanhos, carrinhos de mãos, balanços, trens,
aviões, animais, árvores, blocos, casas, cercas, papel, tesouras, faca, lápis, giz, tinta, cola, bolas,
bola de gude, massa de modelar e barbante.
Brinquedos pequenos em quantidade e variedade porque ajudam criança a expressar fantasias
e experiências.
Brinquedos não mecânicos. Figuras humanas variem em cor e tamanho e não indiquem
ocupação. Simplicidade permite tratá-los em situações diferentes. As crianças também trazem
os próprios brinquedos.
O equipamento do consultório também é simples. Um chão lavável, água corrente, mesa,
cadeiras, pequeno sofá, almofadas, móvel com gavetas (brinquedos são guardados nessa gaveta
sendo conhecidos apenas por ela e pelo analista – relação privada e íntima entre analista e
paciente – transferência psicanalítica).
Atividades realizadas me torno da pia.
Criança desenha, escreve, pinta, recorta, conserta brinquedos. Atribui papéis a ela e ao analista.
A criança assume o papel do adulto, expressando desejo de reverter os papéis e demonstrando
como sente que as pessoas de autoridade se comportam com ela, como gostaria que se
portassem.
Dá vazão à agressividade, sendo sádica.
O princípio da interpretação é o mesmo, seja com fantasias representadas com brinquedos ou
com dramatização.
Frequentemente um brinquedo se quebra, ataques são feitos com faca, tesoura. É essencial
permitir que a criança traga à luz a agressividade. Compreender por que nesse momento nesse
dado momento da situação transferencial aparecem os impulsos destrutivos e observar suas
consequências na mente das crianças.
Sentimento de culpa podem seguir-se e esta culpa se refere ao significado que o brinquedo
representa no inconsciente da criança (um irmão, um dos pais etc).
Além da culpa a ansiedade persecutória também pode comparecer, temendo a retaliação.
Klein diz à criança que não toleraria ataques físicos a ela pois estes ataques podem desencadear
culpa e ansiedade persecutórias na criança dificultando o tratamento. Quanto mais era capaz de
interpretar em tempo os motivos da agressividade mais a situação podia ser mantida dentro do
controle. Com crianças psicóticas aconteceu de ser atacada.

III
Atitude da criança para com brinquedo danificado é reveladora. Por vezes coloca o brinquedo
de lado.
Medo persecutório de que a pessoa atacada (representada pelo brinquedo) tenha se tornado
retaliadora e perigosa.
O sentimento de perseguição pode ser tão forte que encobre sentimentos de culpa e depressão
que também são desencadeados pelo dano produzido.
Um dia a criança pode voltar a procurar o brinquedo danificado em sua caixa o que pode dizer
que fomos capazes de analisar defesas importantes, tornando possível que o sentimento de culpa
e a reparação sejam vivenciados. O que provoca mudanças em seu meio, com seus pais, irmãos,
representados pelos brinquedos e sentimentos de amor venham a aparecer em primeiro plano.
Importância de tais mudanças para formação de caráter e para as relações de objeto e
estabilidade mental.
O analista não deve mostrar desaprovação pela quebra do brinquedo, no entanto, não deve
encorajá-la a expressar sua agressividade. Deve permitir a criança vivenciar suas fantasias como
aparecem. Indica não utilizar de influência moral ou educativa (ao contrário de Anna Freud).
Brinquedo expressa uma variedade ampla de emoções, repetição de experiências e detalhes da
vida cotidiana.

IV
Inibição no brincar ou interrupções no brincar.
Peter – 3 anos e 9 meses de idade – incapaz de brincar, pouco jeito de menino, às vezes agressivo
e autoritário, ambivalente em relação à família e fixado na mãe.
Peter havia piorado com idade de dezoito meses após férias de verão onde compartilhou o
quarto dos pais e pode observar suas relações sexuais. Tornou-se difícil de lidar, dormia mal,
voltou a molhar a cama. Havia brincado até essa ocasião e tornou-se destrutivo com seus
brinquedos. Com o nascimento do irmão aumentaram suas dificuldades.
Brincadeira com cavalos se chocando. Klein interpreta que os cavalos entrechocando-se
representavam pessoas. Ele rejeitou e depois aceitou a intepretação.
Cavalos entrechocando-se, cobriu-os com blocos– “Agora eles estão bem mortos. Eu os
enterrei.”
Carros em fila, frente dando pra traseira do outro – simbolizava o pênis de seu pai. Quebrar
brinquedos significava destroçar o pênis de seu pai.
Repetição da cena em outra sessão – Klein interpreta que ele estava mostrando que a mãe e o
pai entrechocavam seus genitais e que ele pensava que por fazerem isso seu irmão nasceu.
Interpretação produziu mais material.
Deitou boneco-homem sobre um bloco-cama e disse que estava morto e liquidado. Em seguida
repetiu com dois bonecos-homens que ele já havia danificado. Klein interpretou que o boneco
representava seu pai, que iria derrubar da cama e matar, que um dos outros bonecos era ele a
quem o pai faria o mesmo. Tanto ele quanto o pai ficariam danificados se ele atacasse seu pai.

Assistir relações sexuais dos pais produziu grande impacto em sua mente, expresso na
agressividade ao brincar.
Klein aponta que se não tivesse interpretado os brinquedos entrechocando-se, ele não poderia
ter apresentado o material que apareceu na sessão seguinte. Também diz que se não tivesse
interpretado, ele teria parado de brincar depois de quebrar os brinquedos.
A criança oferece pistas ao analista do que está se passando em sua mente em conexão com o
que o analista ouviu dos pais.
As crianças são capazes de entender as interpretações? Se a interpretações dizem respeito a
pontos relevantes do material, sim.
Deve usar as expressões da criança para fazer as interpretações.
Capacidade de insight maior nas crianças, as repressões são menos poderosas do que no adulto.
Porém a interpretação de desejos de morte contra uma pessoa amada suscita geralmente grande
resistência em crianças e adultos. Porém, Klein percebe elaborações que auxiliam a criança a
compreender que seus próprios sentimentos agressivos dirigidos ao pai contribuíram para ter
medo dele.
Análise da transferência. O paciente repete na transferência com o analista, conflitos anteriores.
A intepretação ajuda o paciente a levar de volta suas fantasias para o lugar de onde se
originaram, a saber, na infância e na relação com os primeiros objetos.

V
Rita – 2 anos e nove meses - severidade do superego. Desempenhava o papel de uma mãe severa
e punitiva que tratava a criança (boneca ou Klein) muito cruelmente. Ambivalência em relação
a mãe, necessidade de ser punida, sentimentos de culpa e terrores noturnos. Nela operava um
superego severo e implacável.
Superego surge em estágio anterior ao suposto por Freud.
Concorda com Freud que o superego é produto de um desenvolvimento que se estende por anos.
Deriva-se, para ela, dos estágios nos quais a criança internalizou/introjetou seus pais.
Nas meninas – mãe sentida como perseguidor primordial que ataca o corpo da criança e lhe
toma suas crianças imaginárias. Ansiedades que surgem dos ataques fantasiados da menina ao
corpo da mãe que visam roubar-lhe seus conteúdos: fezes, pênis do pai, crianças.
Descobriu nos ataques ao corpo da mãe, impulsos sádico-anais e sádico-uretrais.
A análise ajudou Rita a compreender o modo pelo qual os impulsos destrutivos dirigidos
à mãe tornam-se a causa de sentimentos de culpa e perseguição.

Trude – 3 anos e 3 meses de idade – terrores noturnos, incontinência urinária e de fezes. Deixou
claro para Klein a natureza sádico-anal e sádico-uretral para Klein.
Trude pediu para Klein fingir que estava dormindo e dizia que iria a atacar e procurar por fezes
em suas nádegas e que iria retirá-las. Depois brincava que estava em uma cama e cobria-se com
almofadas que serviam para proteger seu corpo e que também representavam crianças. Ao
mesmo tempo se urinava demonstrando que estava com medo de ser atacada por Klein.
As ansiedades de Trude confirmaram as conclusões de Klein quanto a internalização de uma
mãe perigosa, como havia notado no caso de Rita.

Klein também ficou convencida de que os impulsos e fantasias destrutivas podiam ser
remontados a impulsos e fantasias sádico-orais. Rita levou a boca copo de água com papéis
pintados de preto (que rasgou) e disse: mulher morta. Klein compreendeu que rasgar e molhar
o papel expressavam fantasias de atacar e matar sua mãe, fantasias que davam origem ao medo
de retaliação.

Erna (paranoica) – Klein aprendeu sobre detalhes da internalização de uma mãe atacada (e por
isso amedrontada) que desencadeavam um superego severo, nos impulsos subjacentes às
ansiedades paranoides e maníaco-depressivas. Compreensão da natureza oral e anal dos
processos introjetivos e situações de perseguição interna.
As perseguições internas influenciam, através da projeção, a relação com objetos externos.
A intensidade da inveja de Erna demonstravam sua origem na relação sádico-oral com o seio
da mãe e estavam interligadas aos primórdios do complexo de Édipo. Klein concluiu sobre o
superego primitivo quando impulsos sádico-orais estão em seu auge, subjaz à psicose. Salientou
a importância do sadismo oral na esquizofrenia.

Casos de meninos e meninas – medo da castração é a principal ansiedade masculina, mas


reconheceu que devido a identificação arcaica com a mãe, assim como para as meninas, a
ansiedade relativa a ataques ao interior do corpo é de grande importância.

Ansiedades psicóticas relacionadas ao sadismo oral: Concluiu que a relação sádico-oral com a
mãe e a internalização de um seio devorado (e devorador) constituem o protótipo de todos os
perseguidores internos. E a internalização de um seio danificado (temido), por um lado, e um
seio que satisfaz e auxilia, por outro, constitui o núcleo do superego.
Concluiu ainda que ansiedades psicóticas (paranoides e depressivas) subjazem à neurose
infantil. Ansiedades de natureza psicótica fazem parte do desenvolvimento normal infantil,
sendo elaboradas no curso da neurose infantil.
Utilização da linguagem simbólica do brincar. Klein faz associações com a linguagem dos
sonhos. Por meio dessa associação é que Klein descobriu que poderia ter acesso ao inconsciente
da criança.
“Mas temos que considerar o uso de símbolos de cada criança em conexão com suas
emoções e ansiedades particulares e em relação com a situação total que é apresentada na
análise. Meras traduções generalizadas de símbolos não tem sentido.” (p. 166)
A análise através do brincar possibilita à criança transferir suas fantasias a outros objetos, além
de pessoas.
Muito alívio é experimentado no brincar. A criança pode representar ataques por meio do
brinquedo e não a pessoa real. A interpretação deixa claro que era realmente a pessoa que a
criança desejava atacar e que na análise pode expressar suas tendências destrutivas.
Crianças com inibição na capacidade de formar símbolos e desenvolver sua vida de fantasia é
sinal de séria perturbação, característica da esquizofrenia.
Klein pode observar as fantasias e ansiedades do bebê ainda operantes no adulto e avaliar na
criança pequena o que poderia vir a ser seu desenvolvimento futuro.

VI
Remontando às origens das ansiedades e fantasias, dirigidos ao seio da mãe, Klein descobriu
que as relações de objeto se iniciam quase no nascimento e surgem com a primeira experiência
de amamentação.
Introjeção e projeção operam lado a lado desde o início da vida.
A mãe aparece primeiramente como um objeto mau e um objeto bom cindidos e em poucos
meses, com a integração do ego, os aspectos contrastantes começam a ser sintetizados, surgindo
a ansiedade depressiva (posição depressiva), que atinge seu auge no primeiro ano.
Posição esquizo-paranoide – primeiros 3 - 4 meses de vida – ansiedade persecutória e processos
de cisão.

Seu trabalho com crianças influenciou cada vez mais seu trabalho com adultos. A técnica
psicanalítica através do brincar possibilitou acessar camadas da mente antes não
atingidas pela prática psicanalítica da época.

Profa. Daniela Giorgenon


ESTÁGIOS INICIAIS DO Melanie Klein (1928)
CONFLITO EDIPIANO
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO EDITORIAL
INGLESA
Um dos artigos mais importante de Klein. Apresenta uma
nova concepção do complexo de Édipo.
O complexo de Édipo tem início no desmame, numa situação
confusa e instável de impulsos misturados, e ocorre quando
o ego não está muito desenvolvido, na presença de um
superego arcaico extremamente severo.
O bebê é exposto a impulsos sádicos e sexuais
contraditórios, aliados a forte curiosidade sexual quando
ainda não consegue compreender as coisas, nem se
expressar, deixando consequências no desenvolvimento
sexual e epistemofílico.
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO EDITORIAL
INGLESA
Apesar da emergência de sentimentos genitais, os impulsos
sádico-orais e sádico-anais mantêm sua predominância no
princípio; os genitais passam a dominar a cena mais adiante
quando a criança atinge a situação edipiana clássica
descrita por Freud.
A consciência arcaica do bebê a respeito do corpo da mãe
e de seu conteúdo é importante para a fase de feminilidade.
A ansiedade mais profunda de ambos os sexos vem de uma
imago formada a partir de ataques contra o corpo da mãe:
a imagem de uma mãe ameaçadora que possui um pênis
hostil, a figura dos pais combinados.
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO EDITORIAL
INGLESA
A ansiedade de castração no menino deriva dessa
ansiedade mais primária.
Na menina, o medo da perda do amor advém do medo de
ter seu interior atacado por uma mãe hostil.
Neste período (1928), Klein não tinha diferenciado
ansiedade persecutória da ansiedade depressiva.
TENDÊNCIAS EDÍPICAS

FRUSTRAÇÃO PELO
DESMAME

LIBERAÇÃO DAS TENDÊNCIAS EDÍPICAS

DIFERENÇA ANATÔMICA
FRUSTRAÇÕES ANAIS ENTRE OS SEXOS
TENDÊNCIAS EDÍPICAS

Desde o início, os desejos edipianos ficam associados ao


medo da castração e ao sentimento de culpa.

Sentimento de culpa – resultado da introjeção dos objetos


amorosos e é produto do superego em formação.

Superego – montado a partir de identificações com


caráter contraditório em função dos impulsos/fases
sádico-orais e anais.
TENDÊNCIAS EDÍPICAS
Na conexão entre a formação do superego e as fases
pré-genitais (oral e anal):
 a culpa se prende às fases sádico-oral e sádico anal;
 o superego se forma em fases que ainda estão em
ascendência, o que explica o rigor sádico.
Um ego fraco só consegue se defender de um superego
ameaçador pela repressão.
Então, as tendências edipianas de início se expressam sob
a forma de impulsos orais e anais.
PROBLEMÁTICA
BEBÊ
Intelecto não desenvolvido é exposto a avalanche de
indagações.
Não possui linguagem e não a compreende de maneira
mais plena.
A sensação de não saber se liga a não possuir
conhecimento sobre os processos sexuais.
Há uma conexão entre o impulso epistemofílico e o
sadismo e as tendências edipianas se voltam para o
corpo da mãe (curiosidade)
PROBLEMÁTICA
MÃE
Já havia frustrado os desejos orais da criança e agora
interfere nos desejos anais.
As tendências sádicas da criança (em função da
frustração) fazem com que ela deseje tomar posse das
fezes da mãe, penetrando seu corpo, cortando-o em
pedaços, devorando-o, destruindo-o.
Curiosidade e sadismo em relação aos conteúdos do
corpo da mãe. Bebê quer possuir os conteúdos e teme
retaliação.
FASE DE FEMINILIDADE
Ocorre no nível sádico-anal onde as fezes são igualadas
ao bebê que a criança espera ter.
Dois desejos:
 ter filhos, apropriar-se deles;
 ciúme dos irmãos/futuros irmãos e desejo de destruí-los
dentro da mãe.

Dentro da mãe há o pênis do pai.


FASE DE FEMINILIDADE NOS MENINOS
Desejo frustrado de possuir um órgão especial (fecundação, vagina, seios,
leite, pênis do pai)

Teme ser punido pela destruição do corpo da mãe, tem medo que seu corpo
seja mutilado – castrado pela mãe e pelo pai (que é representado pelo pênis
dentro do corpo da mãe)

Desejo de ter filho se liga a impulso epistemofílico. A desvantagem é ocultada


pela suposta superioridade de possuir um pênis.

Identificação com o pai (possuidor do pênis), o medo do pai é substituído pela


identificação e a conquista do nível genital.
FASE DE FEMINILIDADE NOS MENINOS
A fase de feminilidade se caracteriza pela ansiedade
relacionada ao útero e ao pênis do pai (suposto dentro
do corpo da mãe) em função das tendências destrutivas
sádico-oral e sádico-anal.
Essa ansiedade submete o menino à tirania de um
superego que devora, mutila e castra, formado a partir
das imagens da mãe e do pai ao mesmo tempo.
As posições genitais se misturam desde o início às diversas
tendências pré-genitais.
FASE DE FEMINILIDADE NOS MENINOS

A fusão do desejo de ter um filho com o impulso


epistemofílico permite ao menino fazer um deslocamento
para o plano intelectual.
A sensação de desvantagem é ocultada e compensada
pela superioridade de possuir um pênis.
Daí o valor narcísico em torno do pênis, assim como a
rivalidade intelectual em relação às mulheres.
FASE DE FEMINILIDADE NOS MENINOS

No menino, a fase de feminilidade é seguida de uma luta


entre as posições pré-genital e genital da libido.
Quando atinge seu auge, no terceiro e quarto ano de
vida, essa luta pode ser facilmente reconhecida como o
conflito edipiano.
A ansiedade associada à fase de feminilidade empurra o
menino de volta à identificação com o pai e a luta se
estabelece entre o medo de ser castrado pelo pai (que
reforça a fixação nos níveis sádico-anais) e a conquista
do nível genital.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS
Desmame e privações anais levam menina a se afastar da mãe e a se voltar ao
pai no período em que as tendências edípicas estão se manifestando.

A identificação com a mãe coincide com as tendências sádico-anais de roubar e


destruir a mãe (bebê - órgãos da reprodução - pênis). O medo da mãe (por
desejar seus órgãos da fecundação e temer ser retaliada) pode levar a menina
a se identificar com o pai.

O impulso epistemofílico, despertado pelo complexo de Édipo, leva a menina à


descoberta de que não possui um pênis. Odeia a mãe por isso e sente como
uma punição. Sentimento que aumenta no complexo de castração.

O sentimento de culpa em relação à mãe faz surgir uma nova relação de amor
com esta (identificação). O complexo de castração também torna difícil manter
a identificação ao pai e ele volta a ser objeto para amar e não se identificar.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS

Assim como nos meninos, a identificação com a mãe


coincide com as tendências sádico-anais de roubar e
destruir a mãe.
Se a identificação com a mãe ocorre num estágio em que
as tendências sádico-orais e sádico-anais estão muito
acentuadas, o medo materno primitivo leva à repressão e
à fixação dessa fase, interferindo no desenvolvimento
genital posterior.
O medo da mãe também leva a menina a desistir de se
identificar com ela e tem início a identificação com o pai.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS
O impulso epistemofílico é despertado pelo complexo de
Édipo tendo como resultado a descoberta de não possuir
um pênis.
Ela sente essa falta como mais um motivo para odiar a
mãe, mas o sentimento de culpa faz com que a encare
como uma punição.
O sofrimento inicial pela falta do pênis aumenta mais
tarde, quando a fase fálica e o complexo de castração
entram em plena atividade.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS

A inveja do pênis toma o lugar do desejo de ter um filho,


que por sua vez volta a substituir a inveja do pênis no
desenvolvimento posterior.
Klein acredita que a privação do seio seja a causa mais
importante da opção pelo pai.
O sentimento de culpa em relação à mãe, provoca a
supercompensação através de uma nova relação de amor
com ela.
Em oposição a essa relação de amor, há o complexo de
castração, que torna difícil uma atitude masculina.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS
A identificação com o pai é abandonada e ele volta a ser
o objeto para amar e pelo qual ela deseja ser amada.
A ansiedade e o sentimento de culpa podem danificar a
capacidade materna da mulher. Por causa das tendências
destrutivas que dirigiu contra o corpo da mãe e as
crianças dentro do útero, a menina espera ser castigada
com a destruição de sua própria capacidade de ter
filhos. Propensão à histeria de conversão e às doenças
orgânicas.
FASE DE FEMINILIDADE NAS MENINAS
A ansiedade da menina a respeito de sua feminilidade é
análoga ao medo da ansiedade de castração no menino.
Porém, a ansiedade do menino é determinada pelo
superego paterno e da menina pelo superego materno.

A identificação, o desejo e o medo de retaliação levam à


relações de amor e ódio com as figuras materna e
paterna, no caso da menina e do menino.
CONCLUSÕES
Klein menciona a importância de certas experiências
iniciais da infância para o desenvolvimento sexual:
Quando a observação do coito se dá num estágio
posterior do desenvolvimento, ela pode assumir caráter
de trauma. Mas quando ocorre numa idade precoce,
pode ficar fixada e se tornar parte do desenvolvimento
sexual.
Uma fixação dessa pode dominar não só um estágio
específico, mas também o superego em formação,
prejudicando o resto do desenvolvimento.
CONCLUSÕES

Relações sexuais das crianças pequenas entre si: olhar,


tocar, defecar juntos, felação, e muitas vezes tentativas
diretas de realizar o coito. Elas são profundamente
reprimidas pela própria criança após a experiência e
envoltas em sentimento de culpa. Esse sentimento é
provocado porque o objeto amoroso é visto pela criança
como substituto do pai, da mãe ou de ambos.
CONCLUSÕES
Klein acredita que suas conclusões não contradizem as
afirmações de Freud, mas que atribui os processos
(complexo de Édipo e formação do superego) a uma
época anterior.
Afirma também que as diversas fases do desenvolvimento
(oral, anal, fálica) se fundem com mais liberdade do que
se acreditava antes.
REFERÊNCIA
KLEIN (1928) Estágios iniciais do conflito edipiano. In:
Obras Completas, amor, culpa e reparação e outros
trabalhos, Vol. I.
NOTAS SOBRE ALGUNS
MECANISMOS ESQUIZOIDES Melanie Klein
(1946)
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO
EDITORIAL INGLESA
 Klein aborda processos psíquicos dos 3 primeiros meses
de vida: estados esquizoides, idealização, desintegração
do ego e processos projetivos ligados à cisão.

 Define as características do ego arcaico, suas relações


de objeto e ansiedades.

 Redenomina a posição paranoide como “posição


esquizo-paranoide”.
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO
EDITORIAL INGLESA
 Conceito chave da posição esquizo-paranoide: cisão.
 Introduz conceito de “identificação projetiva”:
 ligado à cisão e à projeção.
 principal defesa contra a ansiedade na posição
esquizo-paranoide.
 processo que constrói as relações de objeto narcisistas
(partes excindidas do self são projetadas nos objetos).
NOTA EXPLICATIVA DA COMISSÃO
EDITORIAL INGLESA

 Nova era para a compreensão da esquizofrenia:


 Sob o medo da aniquilação, o ego se cinde em partes
minúsculas - mecanismo presente em estados de
desintegração na esquizofrenia.
 O ego não pode cindir o objeto sem que ele próprio se
cinda - fato significativo para a esquizofrenia.
--------------------------------------
Caso Schreber – 40 almas de Dr. Flechsig
INTRODUÇÃO

 Aborda os mecanismos e ansiedades arcaicos de


natureza paranoide e esquizoide.

 Apresenta hipóteses que vão ao encontro de achados


do trabalho psiquiátrico.
INTRODUÇÃO

Sobre as fases mais arcaicas do desenvolvimento:


 Surgem ansiedades características das psicoses.
O ego desenvolve mecanismos de defesa específicos:
introjeção e projeção.
 1º objeto: seio. Cindido em seio bom (gratificador -
amor) e seio mau (frustrador - ódio).
INTRODUÇÃO

 Desde o início, o impulso destrutivo se volta contra o


objeto.
 Primeiro fantasias de ataques ao seio (sádico-orais) e
depois ao corpo materno (orais, anais e uretrais).
 Os medos persecutórios – advindos dos ataques - são
significativos para o desenvolvimento da paranoia e da
esquizofrenia.
INTRODUÇÃO
Conclusões:
 Se os medos persecutórios forem muito intensos e o
bebê não puder elaborar a posição esquizo-paranoide,
a elaboração da posição depressiva ficará impedida,
fortalecendo pontos de fixação para as psicoses graves.
 Dificuldades sérias no período da posição depressiva
poderão desencadear distúrbios maníaco-depressivos
na vida futura.
 Perturbações menos graves do desenvolvimento: os
mesmos fatores influenciam a escolha da neurose.
INTRODUÇÃO

Importância da posição depressiva no


desenvolvimento:
Dela depende a introjeção do objeto como um todo
- altera as relações de objeto do bebê: síntese do objeto
bom e mau dá origem a sentimentos de luto e culpa.
- progressos na vida emocional e intelectual do bebê,
influenciando na escolha da neurose ou da psicose.
ALGUNS PROBLEMAS DO EGO ARCAICO

Características do ego arcaico:


 não-integração (Winnicott);
 falta de coesão;
 alternância entre a tendência à integração e a
tendência à desintegração (despedaçamento).
Função do ego: lidar com a ansiedade.
Fonte de ansiedade: pulsão de morte dentro do
organismo.
ALGUNS PROBLEMAS DO EGO ARCAICO
O ego arcaico ativa mecanismos de defesa:
 O impulso destrutivo é parcialmente projetado para
fora (deflexão da pulsão de morte) e se prende ao seio,
mas a ansiedade de ser destruído pelo seu interior
permanece ativa.

 Em função dos desejos sádico-orais e canibalescos, o


bebê sente ter tomado para dentro de si o seio em
pedaços (introjeção).
PROCESSOS DE CISÃO EM RELAÇÃO AO
OBJETO
Na separação entre um seio bom e um seio mau na
fantasia:
 Seio frustrador é sentido como fragmentado (ataques
do bebê)
 Seio bom como inteiro (tomado para dentro pela
sucção).
A cisão do objeto também acarreta uma cisão no ego
PROCESSOS DE CISÃO EM RELAÇÃO AO
OBJETO
O primeiro objeto interno bom contrabalança os
processos de cisão e dispersão, e é responsável pela
coesão e integração do ego.

Quanto mais o sadismo prevalece Mais o ego corre perigo


na incorporação do objeto. de cindir-se em
Quanto mais o objeto é sentido em correspondência aos
pedaços. fragmentos do objeto
internalizado.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
A introjeção e a projeção são usadas desde o início da
vida para lidar com a ansiedade.

A projeção se origina da deflexão da pulsão de morte


para fora. Ajuda o ego a superar a ansiedade livrando-o
do perigo.

A introjeção do objeto bom é usada pelo ego como


defesa contra a ansiedade.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
Mecanismos ligados à projeção e à introjeção: conexão
entre cisão, idealização e negação.

 Na gratificação, sentimentos amorosos se voltam para o


seio gratificador.
 Na frustração, o ódio e a ansiedade persecutória se
ligam ao seio frustrador.
A idealização se liga à cisão do objeto exagerando os
aspectos bons do seio (seio ideal) como proteção contra
o medo do seio perseguidor.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
Processos da idealização na gratificação alucinatória
infantil:
Há a cisão do objeto e a negação da frustração e da
perseguição.
O objeto frustrador é separado do objeto idealizado e
sua existência é negada.

A negação só é possível devido aos fortes sentimentos


de onipotência, típica da mentalidade arcaica.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
Dois processos ocorrem:
 A invocação onipotente do objeto e da situação
ideais.
 A onipotente aniquilação do objeto mau persecutório.

Nessa fase inicial, a cisão, a negação e a onipotência


desempenham papel semelhante ao que a repressão
desempenha em estágio posterior do desenvolvimento do ego
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO

A negação e a onipotência na posição esquizo-


paranoide lembram os delírios de grandeza e de
perseguição na esquizofrenia.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO

Posteriormente no desenvolvimento da criança, os desejos


orais, anais e uretrais, libidinais e agressivos, confluem e
os ataques ao seio da mãe passam a englobar ataques
ao corpo da mãe.
(Antes da concepção da mãe como uma pessoa completa)
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
Os ataques à mãe, em fantasia, seguem duas linhas:
 Impulso oral de sugar até exaurir os conteúdos bons do
corpo da mãe (introjeção).
 Impulsos anais e uretrais de expulsão de excrementos
perigosos do self para dentro da mãe (projeção).

A mãe passando a conter partes más do self, passa a ser


sentida como self mau: há o estabelecimento de uma
relação de objeto agressiva.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
À esse processo, Klein nomeia identificação projetiva.
Quando a projeção é provocada pelo impulso de
danificar/controlar a mãe, o bebê a sente como um
perseguidor.
Nas psicoses, a identificação de um objeto com partes
odiadas do self contribui para a intensidade do ódio
dirigido às pessoas.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO

Porém, as partes boas do self também são projetadas.


Excrementos também podem significar presentes (partes
amorosas do self).
Esse tipo de projeção influencia de forma vital as relações
de objeto e auxilia a integração do ego.
Num modo excessivo pode gerar dependência dos
representantes externos e empobrecimento do ego.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
A introjeção do objeto bom/seio materno é uma
precondição para o desenvolvimento normal.
Frustração/ansiedade levam o bebê a se refugiar no seu
objeto interno idealizado como meio de escapar de
perseguidores.
Se o medo persecutório é muito intenso, a fuga para o
objeto idealizado se torna excessiva, o que prejudica o
desenvolvimento do ego.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO
No desenvolvimento a gratificação pelo objeto
normal, os estados de bom externo ajuda a
desintegração vividos pelo transpor os estados
bebê são transitórios esquizoides.

- Sinais de esquizofrenia
Quando o ego é incapaz de no bebê.
superar estados de cisão e - Despersonalização e
desintegração dissociação
esquizofrênica no adulto.
A CISÃO EM CONEXÃO COM A PROJEÇÃO
E A INTROJEÇÃO

Na personalidade normal:
desenvolvimento do ego e das relações de objeto
dependem de um equilíbrio entre introjeção e
projeção nos estágios iniciais do desenvolvimento.
RELAÇÕES DE OBJETO ESQUIZOIDES

A cisão violenta do self e a projeção excessiva: mãe é


sentida como perseguidora.

Quando a parte destrutiva do self projetada é sentida


pelo bebê como um perigo para o objeto amado dando
origem à culpa, nesse processo de projeção pode haver
uma deflexão da culpa do self para a outra pessoa.
Nesse caso, a pessoa é percebida como culpada pelo
bebê ao invés do bebê sentir culpa.
RELAÇÕES DE OBJETO ESQUIZOIDES

Outra característica é a natureza narcisista das relações


de objeto esquizoides:
 O objeto passa a representar uma parte do self (tanto
o ideal do ego quanto as partes más são projetadas
dentro de outra pessoa).
 Bebê fica voltado para si mesmo.
A POSIÇÃO DEPRESSIVA EM RELAÇÃO À
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE
A introjeção do objeto completo (a partir dos 6 meses)
acarreta maior integração do ego.
Os aspectos odiados e amados da mãe não são mais
sentidos como tão separados.
Resultado:
 intensificação do medo da perda;
 forte sentimento de culpa (pelos impulsos agressivos
projetados).
 estados afins ao luto;
A POSIÇÃO DEPRESSIVA EM RELAÇÃO À
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE

A posição depressiva passa ao primeiro plano.


 Surge impulso para a reparação, consequência de:
- maior insight sobre a realidade psíquica (maior
compreensão da realidade psíquica e do mundo externo).
- síntese crescente (situações internas e externas)
A POSIÇÃO DEPRESSIVA EM RELAÇÃO À
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE
O impulso para reparar ou proteger o objeto danificado
prepara caminho para as relações de objeto mais
satisfatórias e para a integração do ego.

No decorrer do processo as ansiedades vão perdendo


força:
 objetos são menos idealizados e menos aterrorizantes.
 o ego mais unificado.
A POSIÇÃO DEPRESSIVA EM RELAÇÃO À
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE

 O bebê passa a elaborar a posição depressiva, mas os


mecanismos esquizoides e a ansiedade arcaica ainda
permanecem.
 Se o desenvolvimento na posição esquizo-paranoide
não progrediu normalmente, o ego não é capaz de
elaborar a posição depressiva e isso leva à regressão
para a posição esquizo-paranoide.
 Algumas flutuações entre a posição esquizo-paranoide
e a depressiva ocorrem e fazem parte do
desenvolvimento normal.
CONEXÕES ENTRE FENÔMENOS
ESQUIZOIDES E MANÍACO-DEPRESSIVOS

No desenvolvimento anormal essa interação influencia


o quadro clínico de algumas formas de esquizofrenia e
de distúrbios maníaco-depressivos.
A POSIÇÃO DEPRESSIVA EM RELAÇÃO À
POSIÇÃO ESQUIZO-PARANOIDE
As experiências externas são também de grande
importância nesses desenvolvimentos.
Caso: paciente com traços depressivos e esquizoides –
experiência de desmame repentino. Sua vida adulta era
baseada nos padrões vividos nesse estágio inicial.
Voracidade, desconfiança. Já havia entrado na posição
depressiva, mas não conseguiu elaborá-la, regredindo
para a posição esquizo-paranoide. Tinha uma grande
capacidade de amar e uma grande nostalgia de um
objeto bom e inteiro. (p. 34).
CONEXÕES ENTRE FENÔMENOS
ESQUIZOIDES E MANÍACO-DEPRESSIVOS
Caso maníaco-depressivo (p. 35 a 37):
A resistência demonstrada em dado estágio do trabalho
analítico parecia provir de uma parte da personalidade
enquanto outra parte respondia.
As partes pareciam não cooperar entre si. A análise não
era capaz de ajudar a paciente a produzir uma síntese.
Circunstâncias externas levaram a paciente a parar.
As dificuldades encontradas na análise eram a mescla de
traços esquizoides e maníaco-depressivos que
determinavam a natureza de sua doença.
ALGUMAS DEFESAS ESQUIZOIDES
Pacientes esquizoides, dificuldade no tratamento:
 A atitude retraída
 Elementos narcísicos nas relações de objeto
 Hostilidade distanciada
Tipo de resistência difícil de ser manejada.

Processos de cisão: responsáveis pelo fracasso do


paciente pouco entrar em contato com o analista e a falta
de resposta às interpretações.
ALGUMAS DEFESAS ESQUIZOIDES

“Não faz sentido” não implica uma rejeição ativa da


interpretação. Sugere que partes da personalidade e das
emoções estão excindidas.
Não sabem o que fazer com a interpretação. Não podem
nem aceitá-la, nem rejeitá-la.
Partes consideráveis da personalidade do paciente e de
suas emoções não estão acessíveis.
ALGUMAS DEFESAS ESQUIZOIDES
Caso (p. 38 a 39)
Sentimentos fortes de frustração, inveja e ressentimento
vieram à tona e voltados para a analista.
Klein interpreta que os sentimentos do paciente queriam
destruí-la e ele mudou seu estado de espírito,
distanciando-se daquela situação e argumentando que
não valia a pena preocupar-se com nada.
Klein sugeriu que no momento de sua interpretação o
perigo de destruí-la veio à tona para o paciente e a
consequência foi o medo de perdê-la.
ALGUMAS DEFESAS ESQUIZOIDES
Ele tentava lidar com esses perigos com um método
específico da cisão (ao invés de sentir culpa). Voltou seu
impulso destrutivo contra uma parte de sua personalidade
e a consequente dispersão de emoções mantinha sua
ansiedade em estado latente.
A interpretação de Klein desses processos alterou
novamente o espírito do paciente. Ele ficou emocionado,
estava mais deprimido mas mais integrado (pesar, culpa,
alívio de ansiedades depressivas, analista pode voltar a
representar objeto de confiança), diminuindo defesas
esquizoides.
ANSIEDADE LATENTE EM PACIENTES
ESQUIZOIDES
A falta de ansiedade em pacientes paranoides é apenas
aparente pois os mecanismos esquizoides implicam uma
dispersão das emoções, mas esses elementos dispersos
ainda existem nos pacientes.
O sentimento de estar desintegrado, de ser incapaz de
vivenciar emoções, de perder seus objetos, é o
equivalente da ansiedade.
Interpretações que tendem a sintetizar a cisão do self e
que incluem a dispersão de emoções possibilitam que a
ansiedade seja gradualmente vivenciada.
REFERÊNCIA
KLEIN (1946). Capítulo 1: Notas sobre alguns mecanismos
esquizóides. In: Obras Completas, Inveja, Gratidão e
outros trabalhos, Vol. III.

daniela.giorgenon@docente.unip.br
Tema: Fantasia. Cisão. Projeção. Introjeção. Identificação projetiva. Posição esquizo-
paranóide. Posição depressiva. Reparação. Inveja. Transferência.

KLEIN (1959) Capítulo 12: Nosso mundo adulto e suas raízes na infância, In: Obras Completas,
Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III.

Nota explicativa da Comissão Editorial Inglesa


Último dos artigos de Klein voltado para um público mais genérico.
Oferece ampla descrição de seus achados enfatizando a influência do desenvolvimento inicial
sobre a vida adulta – individual e social.

PONTO DE VISTA PSICANALÍTICO


Ao considerar o comportamento de pessoas em seu ambiente social, é necessário investigar
como o indivíduo desenvolve-se da infância à maturidade.
A compreensão da personalidade é a base para a compreensão da vida social.
A exploração do desenvolvimento do indivíduo remete o psicanalista à infância.
As descobertas de Freud ajudaram a compreender a complexidade das emoções da criança, seus
sérios conflitos e suas conexões com os processos mentais do adulto.
A técnica do brincar e a transferência permitiram à Klein tirar conclusões sobre estágios muito
iniciais da infância e sobre camadas mais profundas do inconsciente. Faz parte da técnica do
psicanalista deduzir o passado a partir das manifestações transferenciais (dependência
excessiva, desconfiança etc.).

VIDA MENTAL/EMOCIONAL DO BEBÊ


É influenciada pelas mais arcaicas emoções e fantasias inconscientes.
Após o nascimento, o bebê, sem ser capaz de apreender intelectualmente, sente todo
desconforto como inflingido por forças hostis, o que desencadeia ansiedade persecutória.
Se lhe é oferecido conforto prontamente este é sentido como vindo de forças boas, o que torna
possível a primeira relação de amor do bebê com uma pessoa/objeto.
Para Klein, o bebê tem conhecimento inconsciente inato da existência da mãe, base da relação
primordial mãe-bebê.
Dupla atitude em relação à mãe:
- O bebê espera alimento, mas deseja também amor e compreensão, que são expressos pelo
cuidado da mãe, levando-o a um sentimento inconsciente de unicidade com ela.
- Por outro lado, a frustração é vivenciada como perseguição e também entra nos sentimentos
para com a mãe.
A capacidade de amar e o sentimento de perseguição têm raízes profundas nos processos
mentais mais arcaicos do bebê.
Os impulsos destrutivos advindos da frustração despertam ansiedade persecutória no bebê.
Essas emoções operam mais tarde na vida: impulsos destrutivos dirigidos a uma pessoa se ligam
a sentimentos de que essa pessoa também se tornará hostil e retaliadora.
A agressividade inata pode ser incrementada por circunstâncias externas desfavoráveis ou
mitigada pelo amor e compreensão que a criança recebe.
Temos que considerar o desenvolvimento da criança e as atitudes dos adultos como resultantes
da interação entre influências internas e externas.
Luta entre amor e ódio.
 Self e Ego
Ego: parte organizada do self, influenciada por impulsos instintivos, mas mantendo-os sob
controle da repressão. Dirige todas as atividades e estabelece relação com mundo externo.
Self: abrange toda a personalidade, englobando o ego e toda vida pulsional (id).
O ego existe e opera desde o nascimento e tem a tarefa de defender-se contra a ansiedade
decorrente da luta interna e por influências externas.
O ego inicia processos importantes para a formação do mundo interno como a introjeção e a
projeção.

 Introjeção e Projeção
Para Klein, a introjeção e a projeção funcionam desde o início da vida pós-natal, como algumas
das primeiras atividades do ego.
Na introjeção, o mundo externo e os objetos que o representam são levados para dentro do self,
vindo a fazer parte da vida interior.
A projeção, que ocorre simultaneamente, implica na atribuição de sentimentos de vários tipos
(amor e ódio) à outras pessoas.
O amor e o ódio dirigidos à mãe estão ligados à capacidade do bebê projetar suas emoções sobre
ela, convertendo-a em objeto bom ou objeto mau.

 Fantasias inconscientes
A introjeção e a projeção fazem parte das fantasias inconscientes do bebê e ajudam a moldar
sua impressão do ambiente. A imagem transformada do mundo externo influencia o que ocorre
em sua mente. Interação entre fatores internos e externos.
A introjeção e a projeção continuam ao longo da vida e transforma-se no decorrer da maturação.
Mesmo no adulto, o julgamento da realidade nunca é completamente livre da influência de seu
mundo interno.
A fantasia é o representante psíquico da pulsão. Não há impulso que não seja vivido como
fantasia.
Uma fantasia representa o conteúdo particular das necessidades ou sentimentos que dominam
a mente no momento.
Não são devaneios, ocorrem em níveis inconscientes profundos e acompanha todo impulso
vivenciado pelo bebê.
Bebê faminto pode lidar com sua fome alucinando a satisfação do seio. Mas a fantasia
inconsciente também toma a forma oposta de sentir-se privado e perseguido pelo seio que se
recusa a dar essa satisfação.

 As relações de objeto
A mãe introjetada é um fator fundamental no desenvolvimento.
As relações de objeto iniciam-se com o nascimento.
A mãe e seus bons aspectos é o primeiro objeto bom que o bebê torna parte de seu mundo
interno. Capacidade de o fazê-lo é até certo ponto inata.
A possibilidade de o bom objeto fazer parte relevante do self depende da ansiedade persecutória
e o ressentimento consequente não serem demasiados intensos.
Uma atitude amorosa da mãe contribui para o sucesso do processo.
Se a mãe é assimilada ao mundo interno da criança como um objeto bom do qual esta pode
depender, um elemento de força é agregado ao ego.
Identificação com características boas da mãe é base para identificações benéficas ulteriores,
como com um pai bom e outras figuras amistosas.
Isso colabora para uma personalidade estável.
Porém, por mais que sejam bons os sentimentos da criança em relação aos pais, a agressividade
e o ódio também se mantêm em atividade.
Um exemplo é a rivalidade com o pai resultante dos desejos do menino pela mãe e todas as
fantasias ligadas a eles, no complexo de Édipo, que pode ser observado em crianças de 3, 4, 5
anos de idade e está enraizado nas primeiras suspeitas que o bebê tem de que o pai tira dele o
amor e a atenção da mãe.

 Diferenças entre o complexo de Édipo na menina e no menino


O menino em seu desenvolvimento genital retorna ao seu objeto original, a mãe, e busca os
objetos femininos, com consequentes ciúmes em relação ao pai e aos homens em geral.
A menina afasta-se da mãe para encontrar o objeto de seus desejos no pai, e, mais tarde, em
outros homens.
O menino também se sente atraído pelo pai e identifica-se com ele e, portanto, um elemento de
homossexualidade faz parte do desenvolvimento. O mesmo se aplica à menina para quem a
relação com a mãe e com as mulheres nunca perde a importância.
O complexo de Édipo não é permeado apenas de sentimentos de ódio em relação a um dos pais
e amor ao outro. Sentimentos de amor e culpa entram em conexão com o progenitor rival.

 Identificação
Através da projeção de si ou de partes de si para dentro de outra pessoa, ocorre uma
identificação com esta, diferente da identificação pela introjeção.
Se um objeto é tomado para dentro do self, há a introjeção de algumas características desse
objeto.
Quando se coloca parte de si mesmo dentro de outra pessoa (projeção), a identificação se dá na
atribuição a essa outra pessoa de algumas das próprias qualidades. A natureza amistosa ou hostil
da projeção dependerá de quão equilibrados ou perseguidos estejamos.
A introjeção excessiva ameaça a força do ego porque este fica dominado pelo objeto introjetado.
Se o interjogo entre introjeção e projeção for bem equilibrado, o mundo interno se torna
enriquecido e melhoram as relações com o mundo externo.

 Cisão
O ego infantil tende a cindir impulsos e objetos. Essa tendência se deve ao fato de faltar coesão
ao ego arcaico.
Além disso, a ansiedade persecutória reforça a necessidade de manter o objeto amado separado
do objeto perigoso, havendo necessidade de cindir o amor e o ódio.
O bebê depende da sua confiança em uma mãe boa: autopreservação.
Assim, através da cisão dos dois aspectos do objeto, o bebê se agarra ao bom e preserva a crença
em um objeto bom, possível de amar: condição essencial para manter-se vivo.
Na falta desse sentimento, o bebê estaria exposto a um mundo hostil que o destruiria.
O processo de cisão muda em forma e conteúdo ao longo do desenvolvimento, mas nunca é
inteiramente abandonado.

 Posição esquizo-paranóide
Para Klein, os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam
nos 3 – 4 meses de vida (Posição esquizo-paranóide).
Em casos extremos, estes mecanismos e ansiedades tornam-se a base da paranoia e da
esquizofrenia.
Correlatos dos sentimentos destrutivos: voracidade e inveja.

 Voracidade
Varia de um bebê para outro: não se sacia com a gratificação, torna-se sempre insatisfeito.
A voracidade é incrementada pela ansiedade de ser privado, roubado, de não ser
suficientemente bom para ser amado.
O bebê voraz por amor é inseguro sobre sua capacidade de amar.

 Inveja
A mãe que cuida e alimenta o bebê pode ser objeto de inveja.
A frustração advinda de quando a criança se sente negligenciada leva à fantasia de que o leite
e o amor são a ela recusados. Essas suspeitas são a base da inveja, na qual há o desejo de posse
do objeto e a necessidade de estragá-lo, para estragar o prazer que outras pessoas podem com
ele obter.
Inveja intensa resulta em uma relação perturbada com a mãe, assim como com outras pessoas
mais tarde.
Sensação de que nada pode ser desfrutado porque a cosia desejada já foi estragada pela inveja.

 Gratidão
Se a inveja é intensa, o que é bom não pode ser assimilado e, assim, não origina a gratidão.
Em contraposição, a capacidade de desfrutar do que foi recebido e a experiência de gratidão em
relação à pessoa que dá influenciam o caráter e a relação com outras pessoas.
Menininha – disse amar a mãe mais do que todas as pessoas, pois o que ela faria se a mãe não
a tivesse dado à luz e a alimentado?
Sentimento de gratidão é ligado à capacidade de fruição e gera atitudes de generosidade e
consideração pelas outras pessoas.

 Superego e Posição Depressiva


No desenvolvimento normal, com a integração do ego, os processos de cisão diminuem e há
maior capacidade do bebê para conciliar seus impulsos contraditórios. Assim, pessoas podem
ser amadas, apesar de suas falhas.
O superego (parte do ego que critica e controla os impulsos perigosos) arcaico, para Klein, atua
a partir do quinto ou sexto mês de vida, onde o bebê começa a temer pelo estrago que seus
impulsos destrutivos e sua voracidade podem causar ao objeto. Isso porque ele ainda não
distingue entre seus desejos e os efeitos reais deles.
Vivencia sentimento de culpa e a necessidade de preservar esses objetos, reparando-os pelo
suposto dano causado.
A ansiedade passa a ter natureza predominantemente depressiva (Posição depressiva).
Os sentimentos de culpa que surgem em todos nós, têm raízes na infância e a tendência a fazer
reparações torna-se fundamental em nossas sublimações e relações de objeto.
Bebês tendem a fazer gracinhas para agradar a todos ao redor.

 Reparação
As atividades voltadas para o outro (como risos) expressam não apenas amor, mas também
necessidade de reparar.

 Elaboração
Freud postulou que a elaboração é parte essencial do processo analítico, mas um trabalho de
elaboração ocorre em alguma medida no desenvolvimento individual. Assim, a adaptação à
realidade externa aumenta e o bebê adquire uma imagem menos fantasiosa do mundo.
Gradualmente o bebê elabora seus medos arcaicos e chega a uma aceitação de seus impulsos
conflitantes. A ansiedade depressiva predomina e a persecutória diminui.
Fobias são modos de elaboração da posição depressiva. (p. 290).
Mas, as ansiedades depressivas e persecutórias nunca são totalmente superadas. Podem
reaparecer sob pressão externa.

INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DESCRITOS NAS RELAÇÕES SOCIAIS


A introjeção do mundo externo é um processo que continua por toda a vida.
Quando amamos ou odiamos alguém, assimilamos algo dessa pessoa (introjeção) e nossas
atitudes mais profundas são modeladas por tais experiências.
Amor: nos enriquece, base para lembranças preciosas.
Ódio: sentimos que o mundo externo está estragado e o mundo interno empobrecido.
As experiências externas (favoráveis e desfavoráveis) são muito importantes, mas dependerão
de como o bebê as interpreta e as assimila, o que também dependerá da intensidade com que
operam os impulsos destrutivos e as ansiedades persecutórias e depressivas.

 Infância e problemas da educação


Uma criação excessivamente disciplinadora reforça tendências à repressão.
Uma indulgência excessiva pode fazer com que os pais sejam vítimas de sua prole ou ainda
sensação de culpa por parte da criança por explorá-los.
“Piada”: homem que nunca comeu frango porque quando criança seus pais comiam e quando
adulto este prato era dado aos filhos.
É essencial manter um equilíbrio entre o excesso e a falta de disciplina.

 Frustração e Projeção
A criança pequena que reage intensamente contra a frustração, projeta suas queixas às pessoas
à sua volta de forma intensa (projeção hostil) e acaba por evocar hostilidade nos outros.
Atitudes similares são bem conhecidas em adultos.
Atitudes de alguns chefes de estado.
Quando a ansiedade persecutória é menos intensa e a projeção atribui bons sentimentos aos
outros, isso torna-se a base da empatia. E a resposta do mundo externo é muito diferente
(pessoas queridas).
As relações com as figuras arcaicas reaparecem com frequência e problemas vividos na infância
são revividos, ainda que de maneira modificada.
Relação com um subordinado ou um superior repete até certo ponto a relação com um irmão,
por exemplo.
Quando uma pessoa está sob o domínio (e não somente influenciado como na vida normal) de
relações arcaicas, seu julgamento sobre pessoas está destinado a ser perturbado.

 Capacidade para o amor e a devoção


Vivido primeiramente na relação com a mãe.
Por se sentir amado e amoroso, esse sentimento é transferido não somente às pessoas, mas
também ao trabalho e para tudo que sente que vale a pena lutar.
Enriquecimento da personalidade e capacidade de usufruir de uma variedade de fontes de
satisfação.
O desejo arcaico de reparar é acrescido à capacidade de amar.
O fato irrevogável de que nenhum de nós está jamais completamente livre de culpa tem aspectos
valiosos porque implica o desejo nunca totalmente satisfeito de reparar e criar de qualquer
forma que nos seja possível.
Todas as formas de serviço social são beneficiadas por esse anseio.
Sentimento de culpa, ao se sacrificar pelo outro, pode levar ao fanatismo. Por outro lado,
sabemos que algumas pessoas arriscam sua própria vida por outras, o que não está na mesma
ordem (capacidade de amar, generosidade).

 Identificação e desenvolvimento
Quando a inveja e a rivalidade não são muito grandes, torna-se possível desfrutar dos prazeres
dos outros.
Na infância, a hostilidade e rivalidade do complexo de Édipo são contrabalançadas pela
capacidade de usufruir da felicidade dos pais. Na vida adulta, os pais podem compartilhar os
prazeres da infância por identificarem-se com os filhos, sendo capazes de acompanhar sem
inveja o crescimento dos filhos.
Pessoas idosas podem se identificar com jovens.
Identificar-se propicia a felicidade de ser capaz de admirar o caráter ou as conquistas dos outros.
Se a inveja não é grande, podemos ter prazer e orgulho no trabalho com pessoas que superam
nossas capacidades.
Desde a mais tenra idade a mãe e outras pessoas do ambiente da criança são incorporadas ao
self, e essa é a base de uma diversidade de identificações favoráveis e desfavoráveis.
- Aspectos desfavoráveis podem ser prejudiciais ao desenvolvimento da criança estimulando
nela o ódio, a rebeldia ou submissão excessiva.

 Voracidade e desenvolvimento
Papel da voracidade na formação do caráter pode ser observado como um elemento destrutivo
na vida social. A pessoa voraz quer cada vez mais, ainda que às custas dos outros. Não é capaz
de consideração e generosidade.
A ambição ameaça a cooperação com os outros.
A pessoa extremamente ambiciosa não se sente satisfeita nem com grandes conquistas, do
mesmo modo que o bebê voraz nunca está satisfeito.
Conexão entre voracidade e inveja: o rival é visto não apenas como alguém que o roubou ou
privou de posição/bens, mas também como o portador de qualidades valiosas que evocam a
inveja e o desejo de estragá-las.
Quando a voracidade e a inveja não são excessivas, mesmo uma pessoa ambiciosa encontra
satisfação em ajudar os outros.
Liderança bem-sucedida: crianças que tem efeito integrador sobre toda a família e na vida
escolar. Relação amistosa e cooperativa com outras crianças.
A pessoa que é incapaz de receber crítica é mobilizada pela ansiedade persecutória.

CONCLUSÕES
Nossos hábitos e concepções na vida adulta foram construídos desde as fantasias e emoções
infantis mais arcaicas.
Aquilo que já existiu no inconsciente nunca perde completamente sua influência sobre a
personalidade.
A inveja, a voracidade e as ansiedade persecutórias perturbam o equilíbrio emocional da criança
e suas relações sociais. Há influência da interação entre fatores inatos e do ambiente.
Um desenvolvimento equilibrado tem como resultado a integridade e a força do caráter.
Para Klein, o caráter é a base para toda conquista humana, raiz do desenvolvimento social
saudável.

Profa. Daniela Giorgenon


O LUTO E SUAS RELAÇÕES COM OS Melanie Klein
ESTADOS MANÍACO-DEPRESSIVOS (1940)
NOTA EXPLICATIVA

Klein coloca o luto entre os fenômenos da posição depressiva.


Elucida a natureza do luto e o liga aos estados maníaco-depressivos.
Hipótese:
A perda de uma pessoa amada reativa a posição depressiva infantil.
Portanto, a habilidade de entrar em luto e se recuperar depende da solução
da posição depressiva na infância.
NOTA EXPLICATIVA
Descobre vários processos que antes não eram vistos como parte do luto:
A perda do objeto bom externo provoca uma sensação inconsciente de
também ter perdido o objeto bom interno.
Isso significa que o sofrimento da pessoa de luto e a natureza de sua tarefa
são mais extensos do que se pensava.
A dor da perda exterior se soma a da perda interior e o indivíduo se vê
vítima da perseguição de objetos maus, isto é, as ansiedades arcaicas de
caráter persecutório e depressivo da posição depressiva são despertadas
mais uma vez.
Destaca a importância da reparação para superar estados de luto.
O LUTO E SUAS RELAÇÕES COM OS ESTADOS
MANÍACO-DEPRESSIVOS (1940)

A criança passa por estados mentais comparáveis ao luto do adulto.


Na verdade o luto arcaico é revivido sempre que se sente algum pesar na
vida adulta.
Klein dedica-se a compreender o elo existente entre o luto normal, de um
lado, e o luto anormal e os estados maníaco-depressivos, de outro.
Objeto que desperta o luto: seio da mãe, juntamente com tudo aquilo que o
seio e o leite representam na mente do bebê (amor, bondade e segurança).
 Bebê sente como se isso tudo estivesse perdido.

Resultado de suas incontroláveis


fantasias e impulsos destrutivos e
vorazes contra o seio da mãe.
Ao mesmo tempo, novas aflições em torno da perda (dessa vez de ambos os
pais) surgem a partir da situação edipiana (que tem início muito cedo e está
ligada a frustração associada ao seio).

O bebê tendo incorporado os pais, sente como se eles fossem pessoas vivas
dentro de seu corpo (objetos internos).
 Assim se constrói um mundo interior na mente inconsciente da criança:
correspondente às suas experiências reais e às impressões que recebe das
pessoas e do mundo externo (alteradas pelas suas próprias fantasias e
impulsos).
Dúvidas, incertezas e ansiedades que surgem: atuam como incentivo contínuo
para que a criança observe e se certifique no mundo externo.
 Dessa forma, ela poderá entender melhor o mundo interno.

Até que ponto a realidade externa pode refutar as ansiedades e o


sofrimento relacionado à realidade interna: varia de indivíduo.
Esse fator pode ser tomado como um dos critérios de normalidade.
Certa quantidade de experiências não agradáveis: são importantes no teste
de realidade realizado pela criança.
 Desde que possa superá-las e perceber que pode manter seus objetos
(assim como o amor que estes sentem por ela e ela sente por eles).
 Essa experiência ajuda a preservar e restabelecer a harmonia interna
diante dos perigos.
Todo os prazeres que o bebê vivencia junto com os objetos externos:
servem como prova de que o objeto de amor interno e externo não está
ferido, nem se transformou numa pessoa vingativa.
(Teste de realidade – testa a realidade interna a partir da realidade
externa).
 O aumento de amor e confiança, acompanhado pela redução do medo
através de experiências felizes: ajuda o bebê a vencer gradualmente sua
depressão e sentimento de perda (luto).
 Ao ser amado e sentir prazer e conforto junto a outras pessoas: sua
confiança na bondade dos outros e de si mesmo é fortalecida.
Aumenta a esperança de que os objetos “bons” e o seu próprio ego
possam ser salvos e preservados: ambivalência e medos agudos da
destruição interna diminuem.
Posição depressiva arcaica: é expressa, trabalhada e gradualmente
superada através da neurose infantil.
 É elemento importante do processo de organização e integração que,
juntamente com o desenvolvimento sexual, caracteriza os primeiros anos de
vida.
 Normalmente a criança passa pela “neurose infantil” e, entre outras
realizações, estabelece gradualmente uma boa relação com as pessoas e a
realidade.
As relações satisfatórias com os outros dependem da vitória contra o caos
interior (a posição depressiva) e do firme estabelecimento dos objetos
internos “bons”.
Quando surge a posição depressiva: ego é obrigado a desenvolver
mecanismos de defesa que se voltem essencialmente ao “anseio” pelo objeto
amado (desejo de mantê-lo a salvo/reparação).
 Alguns desses mecanismos são denominados “defesas maníacas” ou “posição
maníaca” (pela relação com a doença maníaco-depressiva).
 Flutuações entre a posição maníaca e a depressiva são parte do
desenvolvimento normal.
Ansiedades depressivas (ansiedade de que os objetos amados assim como o
ego sejam destruídos) levam o ego a criar fantasias onipotentes e violentas
para controlar objetos maus e perigosos, para salvar objetos amados.
Idealização: parte essencial da posição maníaca.
 Está ligada a outro elemento importante dessa posição: a negação.
 Negação parcial e temporária da realidade psíquica: permite ao ego
suportar o desastre de que se sente ameaçado quando a posição depressiva
está no auge.
Onipotência, negação e idealização: intimamente ligadas à ambivalência.
A criança não consegue confiar plenamente nos seus sentimentos construtivos e
reparadores e recorre à onipotência maníaca porque o ego não consegue
lidar de forma eficiente com a culpa e a ansiedade.
 Permitem que o ego primitivo se defenda contra seus perseguidores internos
(objetos maus) e contra uma dependência submissa e perigosa em relação
aos objetos amados: isso traz novos avanços em seu desenvolvimento.
Fantasia de triunfo sobre os pais:
Fantasia da criança: haverá um dia em que ela será forte, alta e adulta,
poderosa, rica e potente.
 O pai e a mãe terão se transformado em crianças indefesas, ou como
acontece em outras fantasias, estarão muito velhos, fracos, pobres e
rejeitados.
A culpa, originada das ansiedades depressivas, cria a fantasia do triunfo
sobre os pais: pode gerar consequências penosas para a vida do indivíduo.
 Algumas pessoas sentem que são obrigadas a serem sempre mal-sucedidas:
sucesso implica a humilhação ou mesmo o dano de outras pessoas (objetos
internos destruídos pela fantasia de triunfo – pais, irmãos).
 Esforço dessas pessoas para conseguir alguma coisa: pode ser altamente
construtivo, mas o triunfo implícito e o dano feito ao objeto podem se
sobrepor na fantasia inconsciente do sujeito, impedindo sua realização.
 A reparação aos objetos amados (que na fantasia são os mesmos sobre os
quais o indivíduo triunfa) é mais uma vez prejudicada: a culpa permanece
sem alívio.
 O triunfo prejudica o luto arcaico e a reparação.
O desprezo aos pais na fantasia de triunfo ocorre pela negação da
reparação porque é preciso negar a causa da reparação. Ou seja, o dano ao
objeto, o sofrimento e a culpa.

Quando por meio do teste de realidade a criança ganha confiança na sua


capacidade de amar, no seu poder reparador, a integração e a segurança no
mundo interno “bom” faz com que a onipotência maníaca diminua.
Para Klein é sinal que a neurose chegou ao fim.
Ligação da posição depressiva infantil ao luto normal:

A dor trazida pela perda da pessoa amada é muito ampliada pelas


fantasias inconscientes: sujeito acredita ter perdido seus objetos internos
“bons” também.
 Tem a impressão de que os objetos “maus” tornaram-se dominantes e que
seu mundo interno corre o risco de se desintegrar.
O indivíduo joga para dentro de si (reincorpora) a pessoa que acaba de
perder e também reinstala os objetos bons internalizados (que se tornaram
parte de seu mundo interno desde as etapas arcaicas do desenvolvimento).
Tem-se a impressão de que seus objetos internos, assim como o externo, foram
destruídos sempre que se passa pela morte da pessoa querida.
Como consequência, a posição depressiva arcaica é reativada: ansiedades,
culpa e sentimentos de perda (derivados da situação da amamentação, da
situação edipiana, etc).
 No meio de todas essas emoções, a sensação de perseguição também volta
a ganhar força inconscientemente (medo de ter destruído com suas fantasias o
objeto e ser punido por isso).
Assim, a dor associada ao lento processo do teste de realidade durante o
trabalho de luto se explica em parte pela necessidade de renovar os elos
com o mundo externo, mas também usar esse processo para reconstruir com
agonia o mundo interno.
Assim como a criança pequena que passa pela posição depressiva está
lutando, na sua mente inconsciente, para estabelecer e integrar seu mundo
interno, a pessoa de luto também sofre a dor de restabelecê-lo e reintegrá-
lo.
No luto normal: ansiedades psicóticas arcaicas (esquizo-paranoides) são
reativadas.
 Indivíduo está doente (funcionamento mental regredido a fases primitivas):
mas como estado de luto é comum e parece natural, não consideramos
doença.
 Conclusão: Durante o luto, o indivíduo passa por um estado maníaco-
depressivo modificado e transitório, vencendo-o depois de algum tempo.
 Assim, repete em circunstâncias diferentes e com outro tipo de
manifestações, os processos que a criança atravessa no seu desenvolvimento
inicial.
O maior perigo que o indivíduo corre durante o luto: desvio de seu ódio para
a própria pessoa que ele acaba de perder.
 Uma das maneiras pelas quais o ódio se expressa na situação de luto é a
sensação de triunfo sobre a pessoa morta.
Os desejos de morte infantis contra os pais e irmãos se vêm realizados (na
fantasia inconsciente) quando uma pessoa querida morre (sempre é
representante dos objetos internos primitivos).
 Atrai, portanto, alguns dos sentimentos originalmente relacionados aos
objetos.
 A morte da pessoa querida, por mais que tenha sido arrasadora por outros
motivos, não deixa de ser percebida também como uma vitória.
 Isso dá origem à sensação de triunfo que gera ainda mais culpa.
Mas quando a segurança no mundo interno é retomada e o sentimentos e
objetos internos voltam a ganhar vida, os processos de recriação têm início e
a esperança surge novamente.

A perseguição se reduz e o anseio pelo objeto amado perdido é vivido com


toda intensidade. Há um recuo do ódio e o amor se liberta.
O anseio pelo objeto amado perdido também implica dependência dele, mas
um tipo de dependência que se torna um incentivo para a reparação e
preservação do objeto. O objeto perdido pode ser preservado em seu
interior.

Aparentemente todo avanço no processo de luto resulta num aprofundamento


da relação do sujeito com seus objetos internos.
Diferenças entre a posição depressiva arcaica e o luto normal:
 Quando o bebê perde o seio da mãe ou a mamadeira (representante do
objeto bom internalizado): é tomado pelo sofrimento, mas a mãe está
presente (perda é simbólica).
 No adulto: o pesar é fruto da perda real de uma pessoa real.
 O fato de ter estabelecido no início da vida uma mãe “boa” dentro de si o
ajuda a superar essa perda avassaladora.
Criança pequena: encontra-se no auge de sua luta contra o medo de perder
a mãe interna e externamente.
 Ainda não conseguiu estabelecê-la com segurança dentro de si mesma.
 Nessa luta: a qualidade da relação da criança com a mãe e a presença
dela ao seu lado são de grande ajuda.
Muitas pessoas de luto: só conseguem restabelecer seus laços com o mundo
externo muito lentamente, pois estão lutando contra o caos interior.
 Por motivos semelhantes, o bebê parte de algumas pessoas queridas para
desenvolver sua confiança no mundo dos objetos.
Luto normal: indivíduo reintrojeta não só a pessoa que realmente perdeu, mas
também os pais amados (objetos “bons” internos).
 Mundo interior que vinha construindo desde o início da vida, foi
desconstruído em sua fantasia quando ocorreu a perda real: reconstrução
desse mundo interior caracteriza o trabalho de luto bem sucedido.
Quando a análise diminui as ansiedades dos nossos pacientes ligadas a pais
internos destrutivos e persecutórios: há redução do ódio e decréscimo das
ansiedades.
 Pacientes conseguem então reexaminar sua relação com os pais (estejam
eles vivos ou mortos) e reabilitá-los, até certo ponto, mesmo quando tem
motivos concretos de ressentimento.
 Maior tolerância: torna possível estabelecer figuras “boas” dos pais com
mais firmeza em sua mente, ao lado dos objetos internos “maus”.
 Permite mitigar o medo dos objetos “maus” através da confiança nos
objetos “bons”.
 Isso significa que conseguem sentir emoções (pesar, sofrimento e culpa, além
de amor e confiança) que lhes permitem passar pelo luto, vencê-lo e
finalmente superar a posição depressiva infantil: coisa que não conseguiram
fazer na infância.
No luto normal, assim como no luto anormal e nos estados maníaco-
depressivos: posição depressiva infantil é reativada (fantasias, ansiedades e
sentimentos complexos).
 Em seu desenvolvimento arcaico: criança passa por um estado maníaco-
depressivo transitório e por um estado de luto que são modificados pela
neurose infantil.
 O fim da neurose infantil traz a vitória sobre a posição depressiva infantil.
A diferença entre o luto normal, de um lado, e o luto anormal e os estados
maníaco-depressivos de outro, é a seguinte:
 O maníaco-depressivo e a pessoa que fracassa no trabalho de luto: têm em
comum o fato de não terem conseguido estabelecer seus objetos “bons”
internos no início da infância e de não se sentirem seguros no seu mundo
interior (nunca chegaram a superar a posição depressiva infantil).
 No luto normal: a posição depressiva arcaica, reativada com a perda do
objeto amado, modifica-se novamente, sendo superada através de métodos
semelhantes àqueles empregados pelo ego durante a infância.
 O indivíduo restaura o objeto amado que de fato acaba de perder e, ao
mesmo tempo, restabelece dentro de si seus primeiros objetos amados (pais
“bons” internalizados) – cuja perda ele também teme ao passar pela perda
real.
 Ao restabelecer dentro de si os pais “bons”, juntamente com a pessoa que
acaba de perder, e ao reconstruir seu mundo interior, que fora desintegrado
ou se encontrava em perigo: vence seu pesar, volta a ter segurança, e
conquista a verdadeira paz e harmonia.
REFERÊNCIA
KLEIN (1940) Capítulo: O luto e suas relações com os estados maníaco-
depressivos, In: Obras Completas, Amor, culpa e reparação e outros trabalhos,
Vol. I.

daniela.giorgenon@docente.unip.br
AS ORIGENS DA Melanie Klein
TRANSFERÊNCIA (1952)
NOTA COMISSÃO EDITORIAL INGLESA
Único artigo de Klein sobre a transferência.
As interpretações para Klein devem abarcar:
- as relações de objeto iniciais que são revividas na
transferência;
- elementos inconscientes na vida corrente do paciente.

Nomeia “lembranças em sentimentos” a transferência de


emoções e fantasia pré-verbais.
Para Freud, o auto-erotismo e o narcisismo são anteriores
às relações de objeto.

Para Klein, as relações de objeto se dão desde o


nascimento.
Portanto, narcisismo e auto-erotismo são contemporâneos
às primeiras relações de objeto.
AS ORIGENS DA TRANSFERÊNCIA (1952)
Sobre a transferência:

Para Freud (1905), as transferências são novas edições


dos impulsos e fantasias, que despertadas na análise,
substituem uma pessoa anterior pela pessoa do médico.
Experiências psicológicas são revividas não como
pertencentes ao passado, mas se aplicam ao médico no
momento presente.
Sobre a transferência:

Conforme Klein, o paciente lida com os conflitos e


ansiedades revividos recorrendo aos mesmos mecanismos
e defesas, utilizados em situações anteriores.
Para abordar a transferência, Klein retoma suas
conclusões sobre os estágios mais iniciais do
desenvolvimento:
A primeira forma de ansiedade é de natureza
persecutória.
Causa: pulsão de morte e medo de aniquilação.
Os impulsos dirigidos contra o objeto desencadeiam o
medo de retaliação.
Os cuidados são sentidos como provenientes de forças
boas.
O bebê dirige seus sentimentos de gratificação e amor
para o seio bom e seus impulsos destrutivos para o seio
mau, frustrador.
Os processos de cisão estão no seu ponto alto.
O amor e o ódio como os aspectos bons e maus são
mantidos separados um do outro.
A relativa segurança do bebê consiste em transformar o
objeto bom em objeto ideal, como proteção contra o
objeto mau.
Cisão, negação, onipotência e idealização influenciam as
relações de objeto.
Os processos de introjeção e projeção iniciam as relações
de objeto:
- Pela projeção (deflexão da libido e da agressão ao
seio da mãe), fica estabelecida a base para as relações
de objeto.
- Pela introjeção do objeto seio, as relações com os
objetos internos passam a existir.

* a projeção e a introjeção também são de aspectos


bons.
A introjeção do seio, para Klein, é o início da formação
do superego.
O núcleo do superego é tanto o seio bom quanto o seio
mau.

Flutuações rápidas são esperadas entre:


- amor e ódio.
- percepção da realidade e fantasias sobre ela.
- jogo entre ansiedade persecutória e idealização.
A crescente capacidade do ego de integração e síntese
leva a estados em que o amor e o ódio são sintetizados.
O que dá origem à ansiedade depressiva.
Pois:
- os impulsos agressivos do bebê dirigidos ao seio mau
são sentidos como perigosos também para o seio bom.
- o bebê sente que está destruindo um objeto inteiro, não
mais somente o seio mau.
O bebê introjeta cada vez mais a mãe como uma pessoa.
Sente que esses impulsos são dirigidos a uma pessoa
amada.
Processos semelhantes se dão em relação ao pai e outras
pessoas.
A Ansiedade e a culpa são relativas à destruição e perda
dos objetos amados internos e externos.
Nesse estágio se instala o complexo de Édipo.
Ansiedade e culpa impulsionam o início do complexo de
Édipo, pois elas aumentam a necessidade do bebê
projetar figuras más e de introjetar boas.
E assim ligar desejos, amor, culpa, reparação, ódio,
ansiedade a outros representantes de figuras internas no
mundo externo.
Assim, o impulso se afasta do seio em direção ao pênis:
dos desejos orais aos desejos genitais.
Divergência entre as ideias de Klein e Freud:
A afirmação de Klein de que as relações de objeto são
operantes desde o início da vida, diverge das ideias de
Freud.
Para ela, o auto-erotismo e o narcisismo são
contemporâneos da primeira relação com os objetos
externos e internalizados.
Hipótese de Klein:
O auto-erotismo e o narcisismo incluem o amor pelo
objeto bom internalizado.
É para esse objeto internalizado que, na gratificação
auto-erótica e nos estados narcísicos, ocorre uma retirada.
Para Klein, desde o nascimento está presente uma relação
com objetos, primariamente a mãe e seu seio.

Esta hipótese contradiz o conceito de Freud de que


estágios auto-eróticos e narcísicos excluem a possibilidade
de uma relação de objeto.
Klein diz que em vários momentos Freud expressou
opiniões que sugeriam uma relação com um objeto, o seio
da mãe, precedendo o auto-erotismo e o narcisismo.
Aponta que Freud admitia que, na mais tenra infância,
tanto um objeto quanto processos introjetivos
desempenham um papel.
“Ou seja, no que se refere ao auto-erotismo e ao
narcisismo, deparamo-nos com uma inconsistência nas
concepções de Freud. Tais inconsistências, que ocorrem
em numerosos pontos da teoria, mostram claramente,
penso, que em relação a essas questões específicas Freud
ainda não tinha chegado a uma decisão final.” (KLEIN,
1952, p. 75)
Sobre Ana Freud:
Assinala que não conhece a visão de Anna Freud, mas
que quanto ao auto-erotismo e ao narcisismo, ela parece
ter levado em conta apenas as conclusões de Freud de
que os estágios auto-erótico e narcisista precedem
qualquer relação de objeto, e não ter dado margem a
outras possibilidades subjacentes em algumas afirmações
de Freud.
“Essa é uma das razões pelas quais a divergência entre a
concepção de Anna Freud e a minha sobre a tenra
infância é muito maior do que a que existe entre as
opiniões de Freud, tomadas como um todo, e as minhas.”
(KLEIN, 1952, p. 75)
Visando apontar furos nas teorias de Freud e Anna Freud,
Klein diz que a hipótese de um estágio que precede as
relações de objeto, implica que ou os impulsos, fantasias,
ansiedades e defesas não estão presentes no bebê ou
que não estão relacionados a um objeto, ou seja, eles
operariam in vácuo.
Reafirma que a análise de crianças muito pequenas
ensinou-a que não existe urgência pulsional, situações de
ansiedade, processo mental que não envolva objeto
externo ou interno.

Para ela, as relações de objeto estão no centro da vida


emocional.
Sobre a transferência:
A transferência se origina nos mesmos processos que, nos
estágios mais iniciais, determinaram as relações de
objeto.

Na análise é preciso voltar repetidamente às flutuações


entre objetos amados e odiados, externos e internos, que
dominam o início da infância.
Para perceber a interconexão entre as transferências
positiva e negativa, é preciso explorar o interjogo inicial
entre amor e ódio, culpa etc.

Por meio da exploração dos processos arcaicos, a análise


da transferência negativa constitui uma precondição para
analisar as camadas mais profundas da mente.
A análise da transferência positiva e negativa, bem como
sua interconexão, é indispensável ao tratamento de todos
os tipos de pacientes, crianças e adultos igualmente.

Essa abordagem que tornou possível a psicanálise de


crianças muito pequenas, revelou-se também frutífera
para a análise de pacientes esquizofrênicos.
Pacientes esquizofrênicos são capazes de desenvolver
transferência positiva e negativa.

Tais avanços da técnica são apoiados na teoria das


pulsões de vida e de morte, de Freud, que contribui para
a compreensão da origem da ambivalência.
A compreensão das primeiras relações de objeto influiu
na técnica.
 Na situação de transferência, o psicanalista pode
representar a mãe, o pai ou outras pessoas.
 Em alguns momentos também representa na mente do
paciente o papel do superego e outras vezes o do id ou
do ego.
 O conhecimento atual permite penetrar nos detalhes
específicos dos vários papéis atribuídos pelo paciente ao
analista.
 Existem poucas pessoas na vida do bebê, mas ele as
sente como um grande número de objetos.
 O analista pode, então, representar uma parte do self,
do superego ou qualquer outra de uma ampla gama de
figuras internalizadas.
 É importante compreender quais aspectos dos pais está
sendo revivido na transferência.
 A imagem dos pais na mente do paciente sofreu
distorções em graus variados (projeção – idealização) e
frequentemente conservou muito de sua natureza
fantasiosa.
 Em uma única sessão é possível acompanhar as
flutuações originárias na infância comparecendo na
transferência: objetos onipotentemente bondosos e
perseguidores perigosos ao mesmo tempo.
 O analista pode representar ambos os pais, em aliança
hostil contra o paciente: a figura dos pais combinados, o
que pode aumentar a transferência negativa.
A fantasia dos pais combinados extrai sua força da
inveja associada aos desejos orais frustrados.
Na mente do bebê, quando ele está frustrado, há o
sentimento de que um outro objeto (logo, o pai) recebe da
mãe a gratificação e o amor a ele negados naquele
momento.
Aqui está a raiz da fantasia de que os pais estão
combinados numa permanente gratificação mútua de
natureza oral, anal e genital.
Protótipo das situações de inveja e de ciúme.
Somente através da ligação contínua das experiências
mais recentes com as anteriores e vice-versa, é que o
presente e o passado podem se aproximar na mente do
paciente.

Quando a ansiedade e a culpa diminuem, e o amor e o


ódio são melhor sintetizados, os processos de cisão e
repressão se atenuam, e o ego ganha em força e coesão.
Enriquecimento geral da personalidade.
Um dos fatores que levam à compulsão à repetição é a
pressão exercida pelas primeiras situações de ansiedade.
Quando as ansiedades persecutória e depressiva e a
culpa diminuem, há menos premência a repetir.
Essas mudanças resultam da análise consistente da
transferência.
REFERÊNCIA
KLEIN (1952) Capítulo 4: As origens da transferência, In:
Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos,
Vol. III.

______________________________________________
daniela.giorgenon@docente.unip.br

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