Fernando Pessoa - Características Ortónimo
Fernando Pessoa - Características Ortónimo
Fernando Pessoa - Características Ortónimo
Fernando Pessoa
A poesia de Fernando Pessoa revela uma aguda conscincia da modernidade que nasce.
Sem abandonar de todo o tradicional, verifica-se a continuidade do lirismo a coexistir
com um processo de rutura modernista. Na sua poesia, criao e destruio evoluem
simultaneamente e constituem um processo complexo em que os dois plos se
entrelaam. Da a dialtica sinceridade/ fingimento, ligada da conscincia/
inconscincia e do sentir/pensar.
No ortnimo, evidente a fragmentao, ou seja, a tendncia do eu em deixar de ser
uno, como sucedia na tradio romntica, e a pluralizar-se, no esforo de apreender a
realidade csmica e socio-tecnolgica, marcadamente plural, da vida moderna. S
plural como o universo, diz o poeta.
No h propriamente uma rejeio do eu pessoal, como mostra em Autopsicografia e
noutros poemas, mas a atribuio da experincia criadora e sensvel sua personalidade
potica. Deixa de importar a sinceridade de sentimentos do eu do eu individualizado e
real do poeta, interessando-lhe a capacidade do eu potico em estabelecer novas
relaes do Eu com o Mundo e de dizer o que efetiva e intelectualmente sente. Como
afirma Pessoa, a sinceridade intelectual ou metafsica a nica que interessa poesia.
Da que o fingimento seja a mais autntica sinceridade intelectual, pois fingir
conhecer.
A voz do poeta fingidor a voz do poeta da modernidade, despersonalizado, que tenta
encontrar a unidade entre experincia sensvel e a inteligncia e, assim, atingir a
finalidade da Arte, aumentando a conscincia humana.
Pessoa ortnimo
Quando se fala de Fernando Pessoa, interessa distinguir o ortnimo dos heternimos
que criou e para quem estabeleceu uma biografia prpria. O seu universo heteronmico
permitiu-lhe criar diferentes personalidades com outros nomes, como Alberto Caeiro,
Ricardo Reis ou lvaro Campos; mas h uma personalidade potica ativa que mantm o
nome de Fernando Pessoa e, por isso, se designa de ortnimo. O Pessoa ortnimo
escreveu a Mensagem, marcada pelo ocultismo, mas tambm outros poemas de
caractersticas muito diversas. Comps poemas da lrica mais simples e tradicional,
muitas vezes marcada pela desencanto e pela melancolia (como sucede no
Cancioneiro), fez um aproveitamento do simbolismo e do impressionismo e abriu
caminho ao modernismo com o seu texto-programa do paulismo, onde pe em destaque
o vago, a subtileza e a complexidade, desenvolveu outras experimentaes modernistas
com o interseccionismo e o sensacionismo e procurou a intelectualizao das sensaes
e dos sentimentos.
O Pessoa ortnimo revela um drama de personalidade que o leva disperso, em
relao ao real e a si mesmo, ou lhe provoca fragmentaes. Da a capacidade de
despersonalizao (a de ser mltiplo sem deixar de ser um), que leva o ortnimo a tentar
atingir a finalidade da Arte, ou, como afirma, simplesmente aumentar a autoconscincia
humana. O poeta parte da realidade mas distancia-se, graas interaco entre a razo e
a sensibilidade, para elaborar mentalmente a obra de arte.
Pessoa procura, atravs da fragmentao do eu, a totalidade que lhe permitia conciliar o
pensar e o sentir. A fragmentao est evidente, por exemplo, em O meu corao um
prtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Oblqua. A se
verifica uma interseco de realidades fsicas e psquicas; de realidades interiores e
exteriores; uma interseco dos sonhos e das paisagens reais, do espiritual e do material;
uma interseco de tempos e de espaos; uma interseco da horizontalidade com a
todas as foras do seu esprito a aceitar o mundo tal como as suas percees lho
transmitem: absurdo, no pode ser. Tomado da angstia de intuir o mistrio, interroga
para satisfazer de certeza uma razo exigente. Toda a sua obra exprime a interrogao,
ou as respostas possveis para essa interrogao, ou a melancolia de saber que no h
resposta. O que o perturba no so realidades supranormais mas o prprio enigma do
existir, do haver ser. A posio do Pessoa Ortnimo a de no acreditar na
autenticidade das aparncias. A propenso mstica leva-o a esfumar, a sentir como
fantasmagricas as realidades apreendidas pelos sentidos. A vida sonho, iluso.
H em Fernando Pessoa dois tipos de poemas: os neogarrettianos e os modernistas.
Os primeiros, quando abandonou o ingls, para comear a escrever na lngua materna.
Os segundos (influenciado por Eugnio de Castro e S Carneiro) caracterizados pela
angstia existencial, pelos temas transcendentais e pelo amor. Pais, A Hora
Absurda e Chuva Oblqua so os primeiros a apresentar caractersticas modernistas.
No fim da vida interessou-se pelo Saudosismo. E nessa altura que surge a
Mensagem, um conjunto de poesias picas, com dois planos: o sentido
providencialista da Histria de Portugal e o elogio do portugus, descobridor do mundo.
A sua poesia traduz-se atravs de versos rimados e curtos, normalmente em quadras e
quintilhas, com linguagem selecionada, simples e clara, por vezes simblica e
romntica.
Sntese
Na poesia do ortnimo coexistem as duas vertentes: a tradicional e a
modernista. Algumas das suas composies seguem na continuidade
do lirismo portugus, com marcas do saudosismo; outras iniciam um
processo de rutura que se concretiza nos heternimos ou nas
experincias modernistas.
A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o ttulo Cancioneiro,
marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambio da
felicidade pura e a frustrao que a conscincia-de-si implica. (ex:
Ela canta, pobre ceifeira)
Pessoa procura, atravs da fragmentao do eu, a totalidade que lhe
permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentao est evidente,
por exemplo, em O meu corao um prtico partido, ou nos
poemas intersecionistas Hora Absurda e Chuva Oblqua.
O intersecionismo entre o material e o sonho, a realidade e a
idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a
experincia sensvel e a inteligncia.
A poesia do ortnimo revela a despersonalizao do poeta fingidor
que fala e se identifica com a prpria criao potica, como impe a
modernidade. O poeta recorre ironia para pr tudo em causa,
inclusive a prpria sinceridade que, com o fingimento, passa a
construo da arte.
As temticas:
o o sonho, a interseo entre o sonho e a realidade; (ex: Chuva
Oblqua);
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