Piauí em Letras 3
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Piauí em Letras - 3
Piauí em Letras - 3
Piauí em Letras 3
Neto Saraiva
C O L E TÂ N E A
José Neto, Adrião. (Org.)
J83p Piauí em Letras./ Adrião José Neto. Teresina:
Gráfica Pinheiro, 2020.
Comitê Gestor:
Adrião Neto, Antonio José Sales
João Passos, José Paraguassú
Revisão Geral:
José Pereira de Andrade Filho
Revisão Final:
Autores
Capa:
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Contracapa:
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Design, formatação, impressão e acabamento:
Josely Ribeiro Mendes 9.9844-1897 Gráfica Pinheiro 9.9844-1897
ISBN 9 7885-955-380813
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Larissa Andrade – CRB 3/1179
Apresentação
Mozaniel Almeida
_
Mozaniel Almeida Poeta, cronista, contista e filósofo de botequim
Piauí em Letras - 3
________________
José Luiz de Carvalho – Professor, escritor e jornalista. Presidente da Academia
Parnaibana de Letras.
Piauí em Letras - 3
Sumário
Adrião Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Aila Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Aldeni Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Antonio José Sales. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Augusto Barbosa Coura Neto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Cícero Rodrigues dos Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Dilma Ponte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Dina Paraguassú. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Edivaldo Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Euzeni Dantas Nunes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Eva Graça Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
F. Gerson Meneses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Glauce Barros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Inácio Marinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
João Passos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
José Paraguassú . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Josely Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Lena Lustosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Lisete Napoleão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Lucélia Maia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Maria Christina Moraes Souza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Milton Borges . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
Mozaniel Almeida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
Sissi Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
Solange Veras Roque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
Piauí em Letras - 3
Piauí em Letras 3
Neto Saraiva
C O L E TÂ N E A
Teresina - Piauí
2020
Piauí em Letras - 3
Ao nascer do sol
A outra fase
Vendo a chuva cair, mansa e tranquila
Recordo-me do tempo de infância...
“Quando a vida sorri, em abundância,
E a pureza do sonho o amor perfila”!
Amor platônico
O perfume da tarde banha a noite,
quando passa por mim teu cheiro breve,
e pulsando feliz meu ser se atreve
chamar-te ó meu amor _ anjo pernoite!
Teus lábios
Os meus lábios os teus lábios imploram...
Cujo doce é bem mais doce que o mel,
Suaves como a nuvem lá do céu...
E tão belos, que os meus olhos exploram!
Do Buraco da Égua
_
(Notícias da Seca 2013)
Eu pensei profundamente
Buscar um juízo melhor
Recorrí ao Máximo Supremo
Lá onde o direito é um só
Como fizeram os atores:
O João Grilo e o Chicó!
Um Ótimo Susto
Extraordinariamente, um susto! Num momento tão gostoso
Ainda hoje me lembro Aqueles beijos quentíssimos
Daquela manhã ditosa E aquele rosto sedoso.
Era oito de dezembro
Ela me olhou firmemente Eu não entendia nada
Tocando-me em cada membro. Vou procurá-la não custo
Tinha uma sonoridade
Eu não quis acreditar Aquele timbre acústico
Mas ela me confessou Meu coração disparou
Que sempre me admirava Com aquele ótimo susto.
E tanto tempo se passou
Sem ter uma oportunidade Confesso, estou com saudade.
_ Mas não consigo encontrá-la
Persistiu não se cansou.
Ir à sua casa eu não posso,
Muito linda era sua voz Assim, irei complicá-la
Tinha um som maravilhoso Minha boca está em silêncio
Eu me sentia todo alheio Meu coração não se cala.
Piauí em Letras - 3
eram seus pais, ela disse que não tinha pai e nem mãe. Começou a
me chamar de pai. Pensei em voltar à cidade para procurar os pais
dela, mas já era tarde. Então, eu a trouxe pra casa e amanhã irei
procurar a família dela
_ Você está doente, só pode. Não tem nenhuma outra menina
ali. Não tem nenhuma menina de vestido azul. Só você que está vendo.
Deve ser visagem.
_ Está ali. Estou vendo ela. Ela está acenando pra mim. Olhe!
_ Vamos pra casa, você não está bem, precisa descansar, tomar
um remédio _ Falou minha esposa, temendo que eu estivesse
delirando.
_ Cadê a menina? A garotinha sumiu. Cadê ela?
_ Não tem outra menina ali _ retrucou minha esposa.
Fiquei desesperado. Em um piscar de olhos a garotinha sumiu
da minha vista. Ela acenou com a mão e sumiu. Como assim? Aquela
menina veio comigo da cidade até aqui e agora some da minha vista.
Não podia ser, algo estava errado.
Corri até minha casa, que ficava ali perto. Liguei o meu
notebook, coloquei o smartphone para carregar a bateria. Precisava
urgentemente acessar a Internet para ter alguma informação do que
estava acontecendo. Pesquisei se alguma família procurava por alguma
criança desaparecida. Nada, não encontrei nada. Voltei para a casa
do meu irmão, onde o aniversário ocorria, e tentei encontrar a menina.
Todo mundo falava que não tinha nenhuma menina de vestido azul
ali. Eu falava as características da menina e ninguém a tinha visto.
Enquanto eu falava, as pessoas pareciam achar que eu estava ficando
louco, paranoico. As pessoas riam de mim enquanto eu falava que
havia trazido uma menina dentro do carro.
Retornei para minha casa novamente. Uma violenta dor de cabeça
agora me atormentava. Tomei um medicamento para combater aquele
desconforto. Um sono profundo parecia querer me derrubar. Adormeci.
Antonio José Sales
A febre alta fazia meu corpo tremer. Não sabia se estava acordado
ou se dormia, se delirava ou se sonhava, mas a garotinha apareceu
novamente para mim.
_ Papai, o carro capotou bem aqui. Acende a luz, estou no
escuro. Me ajuda, por favor!
Despertei de repente, dei um salto da cama. Recordei o
momento em que eu vinha dirigindo naquela curva, no km 54 da BR
402. Quando fiz a curva bruscamente e a menina se desequilibrou,
deixou o carrinho de brinquedo cair e assim falou:
_ Papai, o carro capotou bem aqui. Acende a luz, estou no
escuro. Me ajuda, por favor!
Agora a mesma voz em sonho. A ficha caiu.
Já era quase meia-noite. Peguei meu carro e dirigi de volta até o
local daquela curva traiçoeira na BR 402, km 54. Parei o carro no
acostamento. O meio-fio do acostamento estava danificado. Vi marcas
de vegetação retorcida. Com o auxílio da luz do carro e da lanterna do
celular, desci o aterro, caminhando pela lateral da pista, dentro do mato,
onde os destroços indicavam que um acidente havia acontecido ali.
De repente, ouvi a voz de uma criança chorando.
_ Papai, acende a luz, estou no escuro, estou com frio. Me ajuda,
papai!
Era ela, a menina de vestido azul, toda ensanguentada em meio
às ferragens retorcidas do carro em que viajava com sua família.
Naquele fim de tarde chuvoso, já início de noite. Uma família
viajava pela BR 402, sentido Piauí-Ceará. A pista estava escorregadia
devido à intensa chuva, e o veículo em que estavam perdeu o controle
na curva. Mesmo bastante debilitada e presa às ferragens, felizmente a
garotinha ainda estava com vida. A única sobrevivente daquele trágico
acidente.
Piauí em Letras - 3
Piauí
Sonhos
Lua Minguante
Noite de lua minguante,
Que cobre na terra os amantes
E também os solitários.
És canção aos namorados,
E paixão aos olvidados
Que buscam o teu luar.
Lua: o teu colar é estrela
Brilhando no firmamento,
Clareia, pois, de saudades
Com toda força e vontade
Todos nossos sentimentos.
Sol e Prazer
Sol brilhe de mansinho
sobre nosso amor
Pois no meu ninho
quero só calor
em teus raios dourados
quero me aquecer
como a relva verde
no alvorecer
e à tardinha
no entardecer
deixa o meu corpo
cheio de prazer.
Piauí em Letras - 3
Reeducação
Inventar
Reinventar
Fazer
Transformar
Compor a música
Recompor a canção
Resgatar o amor
A compreensão
O respeito
E o sujeito
O carinho
Sem preconceito
De outra forma
Não se faz, não
Reinventa-se vidas
Pela educação.
Piauí em Letras - 3
De Homo
É Necessário Saber
É necessário saber...
De quantos elementos se faz uma célula
De quantos músculos se faz um riso
De quantas células se faz um tecido
É necessário saber...
De quantos tecidos se faz um órgão
Quanto sentido há num aperto de mão
De quantos órgãos se faz um sistema
Quantos abraços dizem: “Não tema!!!”
É necessário saber...
De quanta luta se faz um nascimento
De quanta vitória e derrota é o crescimento
De quantas pessoas se faz um indivíduo
Quanto valor há no “ser vivido”
É necessário saber...
De quanto “humus” se faz um homem
Quanta natureza os seres consomem
De quanto sentimento se faz o mundano
De quanta fé se faz o divino
De quanta ilusão se faz o profano
É necessário saber...
Como se forma um SER HUMANO
Piauí em Letras - 3
Palavra Plural
Uma palavra para falar Se digo Eu
Uma palavra para calar Eu digo muito
Uma palavra para exaltar Se dizes Nós
Uma palavra pra rebaixar Tu me incluis?!
De lá pra cá percebi
O que motiva um professor
Que muita coisa já mudou
São elementos abstratos
O respeito que vivi Não é fama e alto status
Pela figura do professor É mais uma coisa de missão
Parece que diminuiu Pois trabalha com o coração
Ou, até mesmo já sumiu Menos ambição e mais amor
Isto a minha alma lamenta Uma vez que atua com ardor
Com uma profunda dor Para transformar realidades
E ainda tem gente que pensa Pois é muito gratificante
Que ele não tem nenhum valor Alguém que era pequeno
Mas coitado é nosso país E agora é grande
Que em sua burrice é infeliz Reconhecer de verdade
Por não valorizar o PROFESSOR Que o conhecimento o transformou
Muitos são os obstáculos E dizer com sinceridade
Que por nós são enfrentados Muito obrigado PROFESSOR!!
Cícero Rodrigues dos Santos
És Mulher
És flor És cheiro És batalhadora O Pai
E espinho Aconchego Vencedora A mãe
És canto És regaço Recatada A irmã
És bela És lírio E emancipada E o irmão
És linda És perfume És amor És finita
Tão meiga E abraço És frescor Infinita
Zangada És ternura És pudor És início
E singela És fofura És poder E o fim
És felicidade És bravura Limitador Do bem
Sofrimento És brandura E libertador Do mal
Amizade És candura És temida Do bom
És carinho Pura És temente E do ruim
És sorriso És o pó És o entretanto
E impura
És suspiro És gente E o portanto
És santa
E ninho O sim
Pecadora Odiada
És sentir O não
Rude Refutada
És ouvir E o talvez
E doutora E apoiada
És palpitar Separados
És querida És desejada
Aceitar Desejosa Ou de uma vez
És amada
E reclamar Desejante És o mais
És leveza
És o beijo Amada E o jamais
Delicadeza
E o ensejo E amante És o porém
E Braveza
De amar És busca
És E o também
És encanto
Compreensão E buscada És o tudo
Acalanto Incompreensão Sonhadora
És espanto O absoluto
És coração Sonhada
O que quer
Surpresa Sensação Perdida O que quiser
Estranheza De emoção E encontrada E como quer
És dúvida De castigo És a Eva És o que é...
E certeza E perdão E o Adão ÉS MULHER.
Piauí em Letras - 3
PIAUÍ EM LETRAS 3
Trajetória Funcional
Professora da Universidade Federal do Delta do Parnaíba/
Universidade Federal do Piauí, desde 1998. Atualmente
professora, Orientadora e Coordenadora dos Trabalhos de
_
Conclusão de Curso TCC do Curso de Administração.
Assessora Técnica e Professora da UESPI durante o ano de
2000. Funcionária do Banco do Brasil de 1976 a 1997.
Presidente da Cooperativa Artesanal Mista de Pamaíba no
ano de 1975.
Dilma Ponte
Academias:
_
Academia Parnaibana de Letras Cadeira 28
_
PIAUÍ EM LETRAS 3
Publicações
_
Lero-Lero 2011
_
Vou te contar 2008
_
Assim é a Vida 2006
_
História de Marilu 2005
Capítulos de Livros
_
Piauí em Letras II 2019
_
Contos entre Gerações 2019
_ _
Publicações Almanaque da Parnaíba 2006, 2013, 2017, 2018
_ _
Publicações Revista da Academia de Ciências do Piauí
Ano XIII, n° 2/2015, Ano XIV, n° 3/2016
Organizadora
_
Organizadora dos Almanaques da Parnaíba 2013, 2017 e 2018
_
Organizadora do Livro Retalhos de uma vida bem vivida
_
Autor Adilson Castro 2019
Membro da Equipe Técnica da Revista da Academia de
_
Ciências do Piauí 2015, 2016 e 2017
Articulista
Jornal Norte do Piauí
www.reacantodasletras.com.br
Piauí em Letras - 3
Parnaíba
Turismo, filhos ilustres, seus cantos, recantos e encantos
Parnaíba tem filhos ilustres, João Paulo dos Reis Velloso, que
aqui nasceu em 12 de julho de 1931. Professor, economista, bancário.
Foi Ministro do Planejamento de 1969 a 1979. Saiu de sua terra para
construir a história da nação, e, ao lado de grandes homens, colaborou
para enaltecer o país sem esquecer o Piauí e sobretudo sua cidade
natal. Foi presidente do Fórum do Instituto Nacional de Altos Estudos,
discutindo temas importantes para o desenvolvimento e inserção do
Brasil no cenário internacional. Membro da Academia Parnaibana
de Letras, sendo o primeiro ocupante da Cadeira de número 10.
Faleceu em 10 de fevereiro de 2019 deixando saudades.
Dilma Ponte
Alberto Silva
A tela estava quase em branco.
Ninguém sequer nem percebia,
O apagado da figura que se confundia,
Com o espaço vazio que não se preenchia _ o Piauí.
Ao se falar nesse espaço,
Gente de longe até ria,
E ele chegou.
Um idealista, um pianista, um pintor.
Com inteligência e coragem.
Os traços desse quadro logo contornou.
Recortou a verde mata de estradas,
Vestiu de negro, boa parte desse chão.
Incentivou a indústria trazendo energia,
Clareou as mentes com a educação.
E quase que como um toque de magia,
Trouxe progresso, televisão.
Depois de tudo muito colorido,
Veio gente de longe _ o turista,
Ver essa tela em exposição.
Ao passar para outro a pintura,
O engenheiro, político e artista
Recebe de seus conterrâneos
O respeito e muita gratidão.
A Sombra da Noite
Barco à deriva
Bem-te-vi solitário
Todos os dias na minha janela
Num galho do pé de cajá
Um bem-te-vi solitário
Cantando vem me saudar
Fora de sintonia
Fotografia do sertão
Luzes de Néon
Essência do Ser
Nada perdi...
Tudo terei...
Colmeia
Minha Abelha Rainha...
Pingos de felicidade
Nesta passagem
que vai
da vida
ida e vinda,
o que fica
e o que segue,
arquivos
de memórias vivas
do tempo moído,
nos pingos
da facilidade.
Edivaldo lima
Linhas do Tempo
Nos mistérios do eu
procuro por mim,
que nem sei.
E se sei de mim
escondido está
dentro do meu eu.
Mas em mim
tudo é assim,
perdido no meu eu.
E lá no fundo,
confusamente,
tem uma alma,
silenciosa,
viandante,
nas linhas do tempo.
Piauí em Letras - 3
Amor de mãe
Nada,
nada é tão eterno
que o seu amor.
O amor
mais perfeito,
mais singelo,
mais inesquecível.
O amor
com mais amor
é
amor de mãe.
Edivaldo lima
Os vales
(reservas de venenos)
É o Tempo
O tempo passa velozmente,
escorrendo entre nossos
dedos febris.
Sem controle.
Sem noção do tempo
Vamos Vivendo
No tempo...
Um dia passou
Uma semana passou
Um mês passou
Um ano passou.
Porém é o Tempo.
Pergunto ao tempo:
Pra onde vamos?
Qual o sentido?
Por que essa pressa?
E uma voz ecoa no meu ouvido:
Apenas VIVA
Seja FELIZ
Fazer o quê?
É o tempo!
Senhor da Razão.
Então Me Contento!
Com o Tempo.
Euzeni Dantas Nunes
Procura em Vão!
Andei nas ruas em busca de algo.
Algo que procuro e não sei defini-lo.
Procurei nas veredas e vielas, mas não encontrei
Foi tudo em vão
Procura em vão.
Dias e dias perdidos
Saudade em vão
Tempo em vão.
Minha Mãe
Elvis
Ser humano lindo e especial,
motivo do meu riso mais bonito,
amor sublime e incondicional,
sempre o meu melhor amigo!
Assédio Sexual
Alto lá!
Abaixo o discurso!
Não é certo, não é justo,
trocar figurino, alterar percurso,
por causa de assediadores
atrevidos e inconsequentes,
que ficam à espreita
pra mexer com a gente!
São gestos, palavras e atos,
que causam repulsa,
é assédio sexual,
violência estúpida
e não é nossa culpa!
Preste bem atenção
para não esquecer!
As nossas vestes,
o nosso modo de ser,
quaisquer caminhos
que estejamos a percorrer;
não autorizam eles,
ninguém, nem você,
ousar nos culpabilizar
e criminosos proteger!
Piauí em Letras - 3
Intempérie
A Quadrilha Explica
Eu, insensível?
Indiferente ao amor?
Não! Estes rótulos
no contexto não se aplicam!
Rebelião no Cárcere
Desafio o medo,
o conformismo, o previsível,
rompo o silêncio e faço ecoar meu grito,
mas neste cárcere eu não fico!
Promovo aqui uma rebelião,
quebro as algemas da submissão,
viro tudo pelo avesso,
pra conquistar a vida que mereço!
Piauí em Letras - 3
A Vida
A poesia mais bonita,
inebriante e bendita
é a dádiva da vida.
Por isso, sorria,
compartilhe alegria
e faça jus todo dia!
Viva plenamente,
celebre cada instante,
preserve a vida agora,
muito mais que antes,
vista-se de empatia,
ame seus semelhantes!
Devaneios x Lucidez
Na ficção da minha alma
devaneios não me faltam!
Vislumbro uma luz que reluz,
sinto um perfume diferente,
coisas que muitos não veem
e também não sentem!
Para não sucumbir em meio ao caos,
fantasio histórias, vivencio carnavais!
Alguns desfilam na minha avenida,
mas na lucidez, os enredos pobres
nunca ganham vida!
Eva Graça Brito
Lampejos de ti
gente conhecida que conversava pelo olhar, dizendo uma para outra:
“não tou te vendo e faz o favor de não me ver também!”.
O picadeiro (sem duplo sentido) estava com um grande pano
branco, e na sua frente, a uns 7 metros, tinha uma máquina, um projetor
de cinema bem sucateado, com o seu rolo de filme saliente e no ponto
de bala. Uma platéia se aglomerando e sorrindo cinicamente se
acomodava de acordo com o preço do ingresso, nas cadeiras, que era
o local mais caro, e por trás, numa arquibancada de madeira muito
desconfortável, conhecida como “galinheiro”, ficavam os mais
descapitalizados.
Com o pequeno espaço lotado, de repente a luz se apaga, eita...
suspense. Em fim, começou o filme, e tome “escandiliça”. O som da
saliência era alto, mas não abafava os comentários rasteiros e nem os
sorrisos envergonhados. Era um ambiente estranho, as senhoras
tampavam os olhos em alguns momentos, mas a grande maioria da
plateia mesmo os tinham arregalados e sem piscar, o coração era
querendo sair pela boca e o calor miserável fazia “nego” suar igual
chaleira.
No decorrer da noitada cinematográfica, outras pessoas
entraram para assistir, sabe-se lá se pagaram ou não, virou de fato um
grande circo. Nesse adjunto, a empreitada “pornocircense” seguia
em meio a orgasmos falsos dos atores e espasmos verdadeiros da
plateia. O ambiente estava ficando mentalmente e fisicamente
apertado, mas o pior ainda estava por vir.
De repente, no meio de uma cena quente e ofegante, com todo
mundo envolvido naquele rebuliço tântrico, a pressão aumentando, o
gemido também: é agora, é agora e... pá, um grande barulho e pessoas
no chão, umas por cima das outras, numa mistura de gargalhadas e
lágrimas. Lembram do “galinheiro”? Pois é, ele não aguentou a tensão
e acabou ejaculando todo mundo, o “pau do galinheiro”, uma das
tábuas que serviam de assento quebrou devido ao peso.
Os olhares de todos agora eram para o epicentro do desastre, onde
o respeitável público estava em pior situação. Assim, do meio dos
acidentados, se levanta um casal já de certa maturidade, bem conhecido.
Piauí em Letras - 3
***
A república do Nordeste
Rumbora ser um país,
num ramo ser besta mar não,
na ONU ser uma nação
e cuidar do nosso nariz.
Nosso hino rai ser chão de giz,
Lampião nosso prisidente,
nosso idioma é o oxente,
pra mode nóis ser sabido.
Nóis semo é distimido,
aletrado e pra frente.
F. Gerson Meneses
singela oração veio uma grande confiança que o fez abrir o pacote e,
para a sua certeza, estava lá a “chave”. Isso aconteceu por mais uma
vez. Sem querer abusar da bondade da sua amiga, o garoto se contentou
com os dois prêmios e veio então a certeza: “agora eu tenho uma
amiga para todas as horas”.
O garoto continuou aperreando sua amiga, até mesmo para dar
uma força nos jogos do Flamengo e para ela não deixar o Zico ir
embora para a Udinese da Itália, infelizmente isso não teve jeito. O
tempo passou e um momento muito marcante foi quando o já quase
adulto teve que “sentar praça”. De tanto ouvir o pai falar dos tempos
de caserna, despertou esse forte sonho de também servir ao Exército
Brasileiro. Naquela época, início dos anos 1990, era concorrido.
Mesmo assim, o agora recruta conseguiu uma vaga entre os 99
fuzileiros da 2a Cia do 25° BC em Teresina-PI. Tão logo iniciou o
serviço militar, surge a notícia no Batalhão: “vão construir uma Capela
no quartel e será em homenagem a santa Teresinha”.
Por muitas vezes o recruta teve que trabalhar na construção da
Capela, desde os alicerces até a colocação do sino. No entanto, dois
episódios aconteceram que ficaram em sua memória. O primeiro deles
foi em uma madrugada, quando estava de serviço na guarda do
alojamento. Ressalta-se que, estando de guarda, o soldado não pode sentar
e nem ao menos se encostar, a postura correta é em pé e sempre atento.
Já passavam das 2 horas quando um outro soldado da guarda o
convidou para descansar um pouco, sentar e conversar. Relutante, a
princípio o recruta continuou na sua postura, mas, instantes depois,
veio aquela vontade irresistível de sentar e relaxar um pouco. Uma
transgressão que, caso fosse descoberta, iria lhe custar uma punição.
Mesmo assim, ao avistar um banco, assentou-se e quase no
mesmo instante veio uma vontade inexplicável de olhar para cima,
foi quando viu um clarão no teto do alojamento, no susto ele se
levantou e uma mistura de medo e curiosidade tomou conta da sua
mente. Ele então foi para o outro lado do alojamento e, ao encostar-
se próximo à janela, olhou novamente para cima e viu o clarão mais
uma vez.
F. Gerson Meneses
Desilusão
A ingratidão e o desprezo andam juntos
No viés e no ponto de cruzamento
Na conduta e nos atos insanos
Dos indivíduos sem escrúpulos e sem coração
Confusão
Sinto algo diferente e esquecido
A ânsia do meu corpo só aumenta
Fazendo da minha alma e pensamento
Confusões intensas e atormentadas
Colapsos
Silêncio da Noite
No silêncio da noite os choros são mais intensos
Nas diversas madrugadas os gemidos são profundos
Calados, silenciosos e muitas vezes intempestivos
Suprimidos e escondidos como querendo fugir
Partida
Os sentimentos estão confusos e perturbados em minha mente
Estão sem rumo, sem direção e caminho
Querendo encontrar a paz perdida em seus atos
Querendo acalento, segurança e aprisco
Presença
Sensações
com tudo que precisa para fazer churrasco nas áreas destinadas a
piqueniques.
O St. Lawrence Market merece uma visita, pois é uma
construção antiga onde se vendem produtos de toda parte do mundo,
sendo um importante mercado público em Toronto. Está localizado
ao longo da Front Street East e Jarvis Street, no bairro de St. Lawrence,
no centro de Toronto.
O St. Lawrence Market foi fundado no início do século XIX,
originando-se de uma proclamação que estabeleceu uma área
designada para um mercado público em 1803. Os primeiros edifícios
erguidos para o mercado surgiram em 1814, com as primeiras
estruturas permanentes construídas em 1820. O primeiro mercado
permanente foi substituído em 1831 pelo primeiro edifício St.
Lawrence Market North. O edifício foi danificado após o Grande
Incêndio de Toronto de 1849 e foi substituído por um novo edifício
em 1851. O espaço da praça do mercado foi usado como prefeitura
de Toronto durante a maior parte do século XIX, ocupando um espaço
temporário no espaço original do mercado de 1834 a 1845. Antes de
ser reformado para uso no mercado, o edifício no St. Lawrence Market
South era usado como prefeitura de 1845 a 1899.
Distrilery District, é uma antiga destilaria transformada num
espaço gostoso para passear, comprar, comer e beber, com registros
fotográficos das belas flores cultivadas no local.
O Distrito Histórico da Destilaria de Toronto está espalhado
por 13 acres, compreendendo 40 edifícios históricos e 10 ruas. Este
recinto é um excelente exemplo de preservação histórica combinada
com opções de entretenimento contemporâneas. Embora seja
conhecido por possuir a maior coleção de arquitetura industrial da
era vitoriana da América do Norte, o Distillery District também abriga
locais de espetáculos, lojas de artesanato, restaurantes premiados e
galerias de arte. Essa área exclusiva para pedestres é considerada
uma das atrações turísticas mais quentes do país e é ainda mais popular
devido à sua curta caminhada do centro de Toronto.
Piauí em Letras - 3
Cocalzinho de Açúcar
Gosto de ti, meu Cocalzinho de Açúcar.
Andar por tuas ruas de paralelepípedos
E sentir a brisa acariciar o meu cantar.
Na voz melodiosa de um cupido
Quero dela, todos os dias, a vida despertar.
A Queda de Cristo
Ah! Viçosa, cidadezinha encantadora da serra do Ceará.
Princesa ibiapabana, linda como é, na região, não há.
De teus encantos: casarões, ruas, praças e monumentos.
Fostes erguida num patamar e desfila majestosa pela passarela do ar.
Tuas lendas indígenas, teu lindo e rico boqueirão.
É tua sina ser bonita, faceira, delicada flor do sertão.
Das nuvens que se afinam como o branco do Algodão.
Das escadarias que te leva às portas da ostentação.
Azulão
Vai azulão Depois desce
No teu voo para o infinito E vem cantando
Com o canto mais bonito Pousa no carnaubal
Que alguém possa ouvir Vou estar te esperando
E o teu bando E te filmar cantando
Vai te seguindo Pra te levar por onde eu for
E em coro repetindo Vou mostrar tua beleza
O que aprendeu de ti E o canto que a natureza
Esse canto belo e saudoso Ainda não modificou
Que só para com o teu pouso Vai banhar lá no riacho
E depois vai repetir Alimento-te, do melhor cacho
Mostra a tua liberdade Porque é merecedor
Que é a maior felicidade Convida tua companheira
Que se pode possuir Faz o ninho na biqueira
Vai cantando pelas palmeiras Do ranchinho que eu moro
Nos pés de bananeiras Que é pra eu ficar ouvindo
Nas porteiras dos currais Tu ensinares aos teus filhinhos
Segue livre como a brisa Como canta um passarinho
E nas montanhas realiza Quando vem rompendo a aurora.
O teu voo mais triunfal
José Paraguassu
Cacimba Velha
Cacimba velha Também iam beber
Hoje eu me lembrei de ti E naquele calorão
Nunca te esqueci Os bichos da região
Faziam procissão
Deu saudade o meu lembrar
Pra matar a sede em você
De quando eu ia buscar Mas o que mais me alegrava
Água pra nós bebermos Era quando chegava a passarada
Não me esqueço do caminho E começava a cantar
Fechado de espinho O canto se espalhava
Nas rochas ecoava
Acho que pra te proteger
Parecia não mais parar
A natureza é caprichosa E eu ali perdido
Nasceu tanto pé de rosa Encantado e esquecido
Cada uma mais formosa Nem me lembrava de voltar
Só pra enfeitar você Mas o homem é perverso
Não preserva o que está correto
De longe eu sentia o cheiro
E só pensando em enricar
E era eu quem chegava primeiro Pois um empresário
Pra beber do teu viver Fez de ti um balneário
A água mais gostosa Pra turista se banhar
Derrubou toda a mata
Limpa, filtrada da rocha
E tua água em cascata
Fazia até gosto beber
Parece até chorar
Eu enchia as ancoretas Acabou-se o encanto
No pino do meio dia Não se ouve mais o canto
Era a hora que as cotias Que eu gostava de escutar.
Piauí em Letras - 3
Capela da fazenda
Na capela da fazenda O que queriam negociar
O sino tocava Já no fim do dia
De longe se escutava Quando terminava a folia
Quando ele anunciava De vender e de comprar
Desolação
Mandacaru
Mandacaru O sol tremendo
Quando é que vai florar O chão está fervendo
Fazendo anunciar Até parece
Que a chuva vai chegar Que não tem salvação
E molhar o meu sertão O que será
Não está vendo De tanto sofrimento
Que estamos padecendo Será que eu aguento
O gado está morrendo Tanta privação
É muita judiação Só peço a Deus
Os passarinhos E à Nossa Senhora
Já foram embora Que me ajude nessa hora
Levados por arribação De grande precisão
O sertanejo Mesmo sofrendo
Já rezou todas as preces Daqui não vou embora
Fez promessas Vou esperar a hora
E quermesses Que a chuva caia no chão
Pra ajudar os seus irmãos
José Paraguassu
Mudança de Pobre
Vamo simbora, menino
Tanja o jumento dali
A noite está chegando
E no escuro é fácil cair
Sete Portas
No Barrocão também tinha um cabaré denominado Sete Portas.
De baixa categoria, situado nas proximidades do buraco em referência,
de construção de taipa dividido em sete pequenos quartinhos, uns na
frente e outros tantos nos fundos, de mais ou menos sete metros
quadrados construídos em meia parede; cada qual com uma porta e
uma janela proporcional ao tamanho da construção. As paredes foram
caiadas de branco, mas a falta de manutenção e a ação do tempo
deixavam aparecer os talos que sustentavam o barro.
Passava das seis da tarde. A iluminação fraca não permitia
distinguir bem as feições das pessoas, principalmente aquela que se
apresentava ao lado de uma porta, sentada em um tamborete rústico
de madeira lavrada à mão e couro curtido, típico da região de Picos.
A cor da sua pele se confundia com o meio ambiente, mas sua voz
deixava claro que a idade não era de uma jovem. Cheguei próximo a
ela com aquele estilo romântico tradicional da época:
_ Você está esperando alguém?
_ Sim _ foi a resposta.
_ Poderia ser uma pessoa de minha idade, com o meu nome e
que está lhe cantando agora?
Um leve sorriso e um aperto de mão foi a resposta.
Depois dessa cantada básica, adentramos o recinto. Não havia
espaço sobrando porque os móveis ocupavam todo o ambiente: uma
cama modelo patente1 e um colchão de palha, uma mesinha com
umas garrafas d’água para o asseio posterior e pronto. A mala da
prostituta ficava debaixo da cama.
Essa hospedagem era temporária e frequentemente era
interrompida quando a infortunada contraía uma doença venérea e a
transmitia para os clientes. Quando os usuários do serviço se
descobriam infectados, apareciam revoltados para cobrar a expulsão
das prestadoras do serviço como vingança pelo constrangimento
______________
l
Cama de madeira que dispunha de molas e geralmente recebia um colchão com
recheio de palha
Piauí em Letras - 3
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2. Narrador oficial das provas de turfe no Jockey Club Brasileiro durante quatro
décadas e considerado por muitos o maior do mundo nesta atividade, figurava no
Guiness como o homem que falava de forma mais veloz. O brasileiro se sentiu
desafiado e registrou a locução com 322 palavras por minuto.
Piauí em Letras - 3
Professor Zé Rodrigues
Pobre, de pobreza franciscana, empregado de uma tipografia,
mas de uma dignidade muito acima da sua pobreza. Fazia seu trabalho
com o máximo de perfeição para não ser repreendido pelo patrão que
tratava a todos como se fosse um feitor. Entrara nesse emprego como
aprendiz e aprendera o suficiente para desempenhar muito bem sua
função. Começou a estudar já adolescente e quase aos vinte e cinco
anos ainda cursava o ginásio (atual Ensino Fundamental Menor).
Esmerado aluno, apesar de estudar no Demóstenes Avelino,
aproveitava todos os momentos da vida para colocar em prática o
que aprendia na aula da noite anterior. Criticava as placas com erros
de português e a fala errada dos companheiros, etc. Numa passagem
ao sete portas, encontrou uma mulher (provavelmente a mesma do
relato anterior) que, no calor do negócio, gritava:
_ Ai, ai, ai, você me mata, me come, me fode, ai, ai....
Falta de Fôlego
Meu sonho era ser jogador de futebol. Não um jogador
profissional, apenas um jogador, daqueles que tinham sua própria
chuteira, mas não tive tempo de treinar. Nenhum time me convidava
pra fazer parte do seu elenco. Chegava a sentir inveja de amigos. A
solução foi fundar um time. Eu e os amigos Zé Almir, Renato e
Cristóvão caímos em campo para realizar o sonho comum. Primeiro
passo foi levantar recursos, promovendo rifas e sorteios; os uniformes
seriam doados por políticos e, por recomendação de amigos, a
prefeitura tinha recursos destinados para incentivar o esporte amador.
Corremos pra lá.
Para provar a veracidade do nosso projeto, solicitamos que os
amigos e vizinhos se manifesstasem favoráveis através de um abaixo
assinado e foram recolhidas mais de 200 assinaturas.
O prefeito da época era o Sr. Hugo Bastos, um velho sério, de
gestos elétricos, como se estivesse nervoso. Foram diversas romarias
à prefeitura, porque ele atendia a população somente nas sextas-feiras.
De tanto insistir, finalmente fomos contemplados: consegui uma
audiência com o prefeito que me olhou nos olhos e perguntou: qual é
o seu pedido? Peguei e falei: é que nós tamos fundando um time de
futebol e precisavamos de bolas e equipes, até fizemos um abaixo-
assinado pra reforçar nosso pedido.
Deixe-me ver esse abaixo-assinado _ solicitou ele, _ e eu lhe
apresentei: uma folha de papel almaço, preenchida frente e verso.
Ele olhou pra folha de papel, olhou pra mim e perguntou: _ esse é o
abaixo-assinado que você preencheu? _ Respondi que sim, mas pelo
fato de tanto andar com ela, pra cima e pra baixo, ficou muito suja e
resolvi passar a limpo. Esse velho perdeu a classe e deu aquela gaitada.
Gritou: _ Mariano (era seu assessor, porteiro e segurança), vê o que
esse menino fez! Passou a limpo o abaixo-assinado. Ambos riram e
eu perdi a esperança. Passada a sessão de risos o velho me perguntou:
_ Onde você mora, meu filho? _ Na rua 7 de Setembro - respondi. _
Piauí em Letras - 3
Pronto. Sua rua foi contemplada no orçamento para ser calçada nessa
administração e se desviar dinheiro para outros fins vai faltar para o
benefício comum. Embora ingênuo, senti que aquele velho estava
me enrolando e realmente o calçamento só saiu 20 anos depois.
Esse episódio ficou escondido no baú de minha memória e só
agora coloco ao conhecimento dos amigos.
Mas o time saiu. Conseguimos as camisas e a bola (uma) através
de amigos e dos nossos próprios bolsos. Era o Piauí Esporte Clube.
Time pobre, tão pobre que numa substituição o jogador que saía
passava a camisa suada para o que entrava. O jogo inaugural foi contra
o Cruzeiro (da Vermelha). Time bom. Ganhava de todo mundo. Parecia
o duelo Davi e Golias. No início do jogo, a bola sobrou pra mim na
pequena área, sem marcação (eu era a defesa) e alguém gritou: para a
bola! Parei. Mais firme que o goleiro. Pênalti! (mão na bola na pequena
área é pênalti direto, sem consulta ao VAR, mesmo se tivesse). Mas o
nosso goleiro evitou o gol. Depois disso o Cruzeiro levou o jogo a
sério, mas no final o placar foi zero pros dois, considerado vitória pra
nós e motivo de chacota pra eles.
No intervalo do jogo o dono do time teve que sair pra evitar
um resultado adverso e ainda teve que ouvir um comentário
“incentivador” do Zé da Silva (amante do futebol): Tu é pior do que
falta de fôlego!
Pouco tempo depois o Cruzeiro solicitou uma revanche e nós
fomos com o mesmo entusiasmo do jogo anterior, mas o placar final
desse jogo foi aquele conhecido dos brasileiros: 7 a 1 pra eles. Também
nesse jogo um dos atletas do Cruzeiro era o nosso conhecido Mozaniel,
naquela época chamado de Tarzan.
Pecado e Omissão
D. Josefa Noronha, minha alfabetizadora, também me preparou
muito bem para o evento de minha la Comunhão. Foi uma festa muito
bonita, regada a Q-Suco e pão-de-ló. Teve até lembranças (uns
Josely Ribeiro
Mata Sete
notada; que a busca era uma ilusão, que somos completos em nós
mesmos, pois não são os outros que nos completam. A outra parte é
tão incompleta quanto nós, mas é perfeita e necessária como
companheira de jornada na eterna busca daquilo que nos falta, mesmo
que não saibamos o que procuramos. Todavia, até descobrirmos isso
e enquanto não encontramos esse algo ou alguém que acreditamos
ser a outra metade, a busca continuará sem permitir nossa felicidade.
E assim, as metades continuarão se procurando nesse eterno
desencontro, pois a outra parte é apenas uma parte da falta que nos
faz falta e, uma vez que a encontramos, sentiremos falta de sentir
falta da parte que achamos. Porém, novas ilusões surgirão das mais
variadas formas para fazer-nos retomar à etema busca de preencher
nossas faltas, porque o sentir falta de algo é o que nos torna aquilo
que somos: simplesmente “humanos”.
***
A Costela
_
Se você tirar uma costela de cada lado poderá diminuir até
dez centímetros de cintura
_
Eu não me preocupo com o tamanho que ficará minha cintura.
Só quero que o doutor me garanta que irá tirar as costelas intactas.
Preciso delas em perfeito estado de conservação.
_
Não estou entendendo. Falou o médico sem realmente entender
nada.
_
Doutor, eu não estou tirando duas costelas para ficar com a
cintura fina. Quero apenas devolver a costela de meu marido. Ele
disse que o homem manda na mulher porque a mulher foi feita da
costela do homem. Eu vou devolver a costela dele. Vou devolver duas
para compensar o tempo de uso.
_ Morro e não vejo tudo! Concluiu o médico sem ter o que
dizer.
Piauí em Letras - 3
O circo tinha chegado à cidade. Não era circo com lona. Era
pequeno e com poucas atrações. Basicamente palhaços e show de
mágica. A apresentação era na escola, pois a cidade não tinha espaço
para eventos. O preço era irrisório para a maioria da criançada. Mas
pra mim era um rim.
Eu tinha nove anos de idade e nem um tostão furado. Após
ajudar minha mãe com os afazeres fiquei ali vendo os colegas
comprarem os ingressos de entrada, enquanto o pessoal do circo
preparava a sala para a apresentação logo mais.
Queria muito assistir ao espetáculo, e vê-los fazendo a
montagem só aumentou minha vontade. Disseram que um mágico
iria cortar uma mulher ao meio e alguém iria virar macaco. Queria
muito assistir. Continuei sentada ali com cara de cachorro pidão.
Faltavam cinco dias para o natal. Já tinha tentado de tudo, mas
minha mãe não tinha dinheiro nem para comprar um dindin. Ela foi
categórica ao dizer que estava rezando para que recebéssemos a cesta
básica do INAMPS ou o natal seria só pelas graças de Deus!
Eram tempos difíceis, mas pra Deus era tão fácil! Então, com
muita fé pedi a Deus que mandasse dinheiro pra eu comprar um
ingresso e que chegasse a cesta básica pra minha mãe ficar alegre.
Para Deus nada é impossível! Sempre ouvi falar. Naquele dia
vi o milagre acontecer. Enquanto eu olhava a montagem para o
espetáculo. O moço da montagem olhou para mim e disse:
_ Ei menina! “Tu quer” assistir ao espetáculo?
_ Sim. Eu quero _ respondi com um sorriso de orelha a orelha.
_ Pois te dou um ingresso se você conseguir um lençol para
colocar naquele vitrô ali.
Lena Lustosa
O último homem
Nudes
Floriano
Amo demais as minhas raízes
Não só a bela terra que surgi
Mas foi no chão da Princesa do Sul
Onde vivi minha gente, que nasci
Lá existe a lua mais bonita do mundo
O céu é de um tom de azul sem igual
As nossas estrelas mesmo cadentes
Trazem mananciais envolventes
Floriano minha terra, meu amor!
Lá existe a lua mais bonita do mundo
O céu é de um tom de azul sem igual
As nossas estrelas mesmo as cadentes
Trazem manancial de luzes envolventes
Lisete Napoleão
***
Saudade que fica
Há pessoas que passam a conviver conosco e se tomam irmãos;
não só pela convivência diária, mas também pela convergência de
interesses comuns, especialmente em relação à cultura ou até mesmo
pelas divergências de ideias que nos levam a reflexões e mudanças.
Criam-se laços afetivos que nem chegamos a mensurar, mas
sabemos que existem, principalmente quando deixam de existir no
âmbito da matéria e nos é ceifado da vida terrena.
E foi assim, nesta familiaridade quase diária, através de
telefonemas, em que buscava a irmã para desabar e confidenciar seus
poucos segredos e pecados ou em encontros acadêmicos, eventos,
reuniões, viagens acadêmicas, show dos imortais, que aprendemos a
nos querer bem e nos respeitar de forma admirável.
Geralmente os companheiros de viagens eram Garrincha, Aci
Campeio, Pedro Costa, Carlos Dias ou Celestina, e a motorista Lisete.
Era uma festa só, muitas gargalhadas, discussões também, mas sempre
terminava numa pandega, num abraço festivo. Como era divertido!
Deus nos presenteou com uma confraria, uma plêiade em que reina
Piauí em Letras - 3
Na condução do ensinamento
Todo pensamento é um caminho,
Na construção do conhecimento
Na mente o saber faz o seu ninho.
Viver
Viver é sentir-se bem
Com tudo e com todos.
É poder sorrir, quando sentir vontade.
É poder cantar... Chorar... Dançar...
E se sentir livre para amar.
E se sentir livre para se apaixonar...
É se sentir livre para sonhar...
Sonhar com algo que se deseja.
É correr atrás desse sonho.
É fazer dele uma realidade.
É amar e sentir-se amada.
É ser feliz, e poder fazer alguém feliz...
É dar sem pensar em receber.
Viver
É tornar a vida,
Uma realidade conquistada...
Poder compartilhar um pouco
Do viver com alguém.
É sentir o calor humano.
É viver cada minuto da vida
Como se fosse o último.
É perseverar... É insistir, e ir em busca
Do seu sonho de vida, do seu ideal, do seu viver...
Viver, enfim, é existir! E ser feliz!
Lucélia Maia
Pequena Andorinha
Pequena andorinha,
Por que voa sozinha
Na imensidão do céu
Com suas asinhas tão ligeirinhas?
E quem sabe...
Um amor não a espera, PEQUENA ANDORINHA!
Para juntos construírem um lar,
Para os seus filhos que irão chegar,
E assim sozinha não mais voar?
Meu Pai
Meu pai
Como é maravilhoso
Poder te chamar assim
Como é maravilhoso
Ter-te perto de mim.
A coragem a determinação,
A persistência, a humildade,
Estas coisas, com certeza,
Herdei-as de ti
E disso me orgulho muito, mas muito sim.
Piauí em Letras - 3
Menino Triste
Menino triste,
O que procuras nesta solidão?
Essa tristeza que vejo em teu olhar
Faz-me doer o coração.
Em teu olhar
Eu vejo as marcas
Deste mundo cruel
E às vezes irreal...
Dessa vida sofredora
Dessa existência anormal.
Lua Nua
Hoje ao te contemplar
Nesse imenso céu
Despida das tuas vestes
Coberta apenas por este teu véu.
Obrigada, Senhor,
Por ter-me dado essa oportunidade,
De poder contemplar com serenidade
A beleza da LUA NUA
Com toda minha humildade.
com suas inúmeras ilhas, cada uma com sua particularidade na fauna
e vegetação culminando à tardinha com a revoada dos lindos guarás
vermelhos.
Próximo a Parnaíba poderemos chegar à cidade litorânea de
Luís Correia e gozar as delícias de suas belas e tranquilas praias,
aproveitando para saborear um bom cardápio com peixes, camarões
e caranguejos.
Parnaíba cresce hoje em cultura, comércio, saúde e educação.
Na saúde ainda tem muito a desejar em relação ao avanço na medicina,
mas se observa o acréscimo de postos de saúde com funcionamento
regular, novos hospitais com médicos especializados e também novas
clínicas particulares.
Parnaíba é uma cidade cujo povo tem um grande sentimento
de religiosidade e grande fé. Seus templos religiosos são bem cuidados
e têm boa participação dos fiéis, principalmente nas missas e
celebrações dos santos padroeiros de suas paróquias.
Há parnaibanos que não veem com otimismo sua cidade, só
vivem de saudosismo pelo que nem vivenciaram, mas, talvez, porque
alguém lhes contou e só enxergam o que foi depredado, esquecido e
não valorizado. Mas estes precisam saber olhar com outros olhos,
olhos verdes, cor de esperanças e alegres pelo que observam no
presente. O que presenciamos hoje é sempre fruto da ação dos que
desejam ver uma Parnaíba reestruturada e atenta ao grau de
desenvolvimento que todos exigem.
Hoje, quem é parnaibano deve orgulhar-se de ser parnaibano.
Como quem ama cuida, cada um deve fazer sua parte e Parnaíba
ficará cada vez mais linda e querida. Povo educado tem cidade limpa
e bonita.
Todos cantam a sua terra. Os poetas e escritores, cada um deles
se emociona com a sua terra natal. Em prosa ou em versos descrevem
suas belezas.
Piauí em Letras - 3
A Primeira Vítima
Era final de tarde de sábado, o carro estaciona numa vaga do
pátio de estacionamento do hotel, na avenida Severo Eulálio, o homem
do banco do carona e o do banco traseiro saltam; o motorista
permanece por trás da direção, sintonizado na programação da Rádio
Liderança FM Picos, no aguardo da volta dos parceiros.
Os homens se encaminham ao balcão da recepção e anunciam
a intenção:
_ Estamos sendo esperados por Manuel Rocha.
_ Qual o nome de vocês? _ consultou o recepcionista.
_ Tonho e Odorico.
Nem seus nomes ou o do hóspede correspondiam à identidade
verdadeira; mas o recepcionista não precisava saber; certo?
_ Vou ligar ao quarto.
O recepcionista entra em contato com o hóspede comunicando
a presença dos visitantes; recebe a autorização para deixá-los subir.
_ Quarto 310.
Os homens tomam o elevador, saltam no terceiro piso, apertam
a campainha do quarto.
A porta é entreaberta, o hóspede insinua o rosto pela fresta,
com uma pistola na mão camuflada às suas costas, observa
atentamente os recém-chegados, convida-os ao interior com um gesto
da mão livre, depois chaveia a fechadura atrás de si e enfia a arma
por baixo da fralda da camisa.
Receptivo, indica o frigobar.
_ Querem beber alguma coisa?
_ Somente água
_ Fiquem à vontade.
Os visitantes se servem de água mineral, em seguida interrogam
o hóspede.
Piauí em Letras - 3
_ Em cima do guarda-roupa.
Um dos homens entra na casa, invade o quarto do casal e retorna
com uma velha espingarda de caça, modelo 12.
_ Pra que queria a arma?
_ É normal ter armas por essas bandas, até pelo isolamento da
região.
_ Tem registro?
_ Como podem ver é antiga, o registro tá perdido.
_ Tem feito uso da espingarda?
_ As vezes, uma caça.
_ Tem autorização do Ibama pra caçar?
_ Não.
_ Então reconhece que está errado?
_ Só caço pra complementar a refeição, sem prejuízo ao meio-
ambiente.
_ É o que dizem todos os caçadores clandestinos.
_ Não estoco carne de caça em casa, nem faço comércio com
os bichos.
_ Ainda assim, mata as inofensivas criaturas de Deus.
_ Juro que não faço mais nada disso.
_ Agora é tarde, sua situação está muito enrolada.
_ Posso contratar um advogado?
_ O caso ultrapassou a possibilidade de defesa.
_ O que isso significa.
_ Sua punição foi decretada.
_ Não!
Num gesto ensaiado, os homens apontaram os revólveres a ele e
desfecharam uma série de disparos. Com o peito e as pernas atingidas, o
Milton Borges
Enterro Ameaçado
_ Ele era um bom menino, não entendo a razão de tanta
perversidade...
A mãe chorava aos desesperos ao lado do esquife do
adolescente, corpo velado em companhia de um pequeno ajuntamento
de parentes e amigos da família.
Contudo, exceto a genitora, ninguém derramava uma só lágrima
pelo defunto, uma ou outra acompanhante exibia os olhos marejados
de pena da pobre mulher, embora jamais pelo morto, que, mesmo na
imobilidade definitiva do último sono, merecia pouca compaixão.
Piauí em Letras - 3
_ Coitado, seu maior erro foram os amigos imprestáveis.
Em respeito ao padecimento materno, os presentes não ousavam
externar uma só nota de ressalva contra a observação. Todos ali
estavam mais do que bem informados, inclusive a mãe, que Ruan era
um dos piores malfeitores do Promorar. Veterano em passagens pela
polícia, apesar da pouca idade, ficha criminal corrida com registros
de agressão, roubo, vandalismo, uso de drogas, tentativa de homicídio,
suspeita de assassinato.
A mãe, pobre sofredora, havia sido a testemunha mais fidedigna
dos delitos do filho, desde a infância, antes mesmo dele haver
adquirido experiência em lições de bandidagem. Uma prova, segundo
os conhecidos, de Ruan já ter nascido ruim, com o diabo na alma. O
tempo e a maturidade só aprimoraram a maldade. As tentativas de
guiá-lo ao bom caminho sempre resultaram inúteis.
A própria mãe havia se incorporada na condição de vítima de
suas velhacarias, inúmeras vezes. Os primeiros roubos haviam sido
praticados em casa: dinheiro, TV, rádio, ou qualquer objeto aceito
nas transações com drogas. Ruan era usuário de maconha, cocaína,
crack e de qualquer substância psicoativa que caísse em suas mãos.
Ele passava uma parte do tempo drogado; a outra, metido em confusão.
Mesmo assim a pobre mulher não abandonava a esperança na
regeneração do filho, o encontro da trilha da retidão, da bondade.
Porém, a morte representou o fim de seus sonhos, o garoto jamais
teria oportunidade de se confessar, pedir perdão a Deus, ser abençoado
com a remissão dos pecados.
A mulher amargurava o desfecho trágico aos soluços.
_ E agora, como esperar o encontro com o Criador?
Uma amiga consolava-a, solidariamente:
_ Calma mulher, o Pai é grandioso, o menino será perdoado.
No outro mundo, talvez; nesse, nem na morte. Os assassinos
não se mostravam satisfeitos apenas com a execução do garoto.
Mesmo depois de tirar a vida de Ruan, insistiam em negar-lhe o direito
a um enterro decente.
O motivo do crime, seja qual fosse, não fora aplacado nem com a
Milton Borges
Mozaniel Almeida
O Engraxate
Desbravando esses brasis, conheci Nicolau em Carolina, cidade
ao sul do Maranhão onde morei e trabalhei por alguns anos, em
meados da década de 80 e onde fui feliz. Era um rapaz de boa índole,
cumpridor de suas obrigações, muito boa gente, acima de tudo
prestativo e bem humorado. Tirando-se todos os defeitos, o que
sobrasse depois de uma boa peneirada daria para aproveitar!
Certa vez, estávamos atravessando a ponte de madeira sobre o
Rio Balsas, em Balsas-Maranhão. A faixa de rolamento da ponte só
comportava um veículo de cada vez, de forma que, quem adentasse
primeiro à ponte, teria preferência. Por sorte que a pista estava livre
pra nós, só que, em dado momento, Nicolau, que dirigia o carro, para
nossa total surpresa, engatou uma marcha à ré e acelerou de volta.
Questionado, ele respondeu:
_ Vocês não estão vendo que vem um cachorro no meio da
ponte em nossa direção? Eu já voltei por causa de um bêbado, posso
muito bem retornar por causa do cachorro! Era verdade. Coitado do
cão, com dificuldade andava com uma pata traseira avariada. Tivemos
que esperar ele passar por nós e prosseguir. Esse era Nicolau!
Quando garoto era cheio de artes, presepeiro, cheio de não me
trisque, no entanto, sempre foi trabalhador, gostava de ter seu
dinheirinho. Carolina era uma cidade pequena, sem muitas
oportunidades e encravada no meio do nada, longe de tudo. O Rio
Tocantins era a via por onde escoava a maioria das produções. Neste
ambiente, Nicolau, que tinha uns dez anos de vida, improvisou uma
maleta, comprou alguns insumos e saía de porta em porta ou gritando
na rua: Engraxaaaate... Quem quer engraxar sapaaaaatos...? E assim
ia se safando!
Seu ponto favorito era a agência de ônibus da empresa
Transbrasiliana, que era ao mesmo tempo a tosca rodoviária da cidade.
Mesmo com pouco movimento e cobrando CR$ 3,00 (três cruzeiros)
por cada par de sapatos, dava para se virar. Numa dessas aconteceu o
motivo dessa narrativa.
Mozaniel Almeida
O Padre e o Diabo
Por ser um caso verdadeiro e por eu ter ouvido diretamente da
boca do próprio padre, relutei muito em escrever, especialmente
levando em conta o fato do personagem central não se encontrar mais
entre nós, o que poderá suscitar comentários variados. O fato não me
foi contado em regime de sigilo e poderá ser do conhecimento de
outras pessoas, porém não de muitas.
Padre Arnóbio Patrício de Melo, ou simplesmente Padre
Arnóbio, foi um sacerdote católico de origem, formação e prática
salesiana. Ordenado no ano de 1957 em São Paulo, tornou-se no início
dos anos 60 padre secular na Arquidiocese de Aracaju a chamado de
Dom José Vicente Távora. Ficou conhecido como o Padre da
Juventude, pelo carisma de Dom Bosco, no trato com estudantes
salesianos, adquirido durante os anos de diretor desses colégios. Era
pernambucano de Camucim de São Félix. Homem probo, sério,
intelectual, dominava línguas clássicas além do Francês, professor
universitário de Português. Sacerdote cioso do seu ofício e
contraditoriamente de alma anárquica no sentido figurado. Gostava
de gente, vazávamos noites contando loas e causos. Possuía, segundo
seus pares, ideias megalomaníacas, algumas dessas extravagantes por
natureza. Nascera especificamente para ser professor e sacerdote e
por isso se dizia feliz e realizado.
Ajudou a fundar o MDB em Sergipe, elegendo-se vereador em
Aracaju por três legislaturas, enfrentando com sabedoria os governos
militares da época. Foi por esse tempo e por isso que acabou se
envolvendo numa contenda de mal entendidos com o Arcebispo de
então, Dom Luciano Cabral Duarte. Disso lhe resultou ter as Ordens
Sacerdotais suspensas por tempo indeterminado. Isso nunca foi
segredo para ninguém, já que fora amplamente divulgado pela
imprensa.
Muitas vezes já me peguei matutando sobre um profissional que
tem sua carteira cassada, impedido injustamente de exercer seu trabalho.
Piauí em Letras - 3
Um gosto de Aluá!
Bebeu da água
Do Mocha
Um dia
Há de retornar,
Não tem jeito.
É dito e feito!
Rezou na Igreja
Do Rosário,
Outro rosário
Não rezará,
Com a mesma paz,
Noutro lugar.
Comeu cocada
Da PTB,
De leite,
Batata,
Do que fosse,
Nunca mais
Encontrará
Sabor igual
Noutro doce!
Descansou
À sombra
Do umbuzeiro.
Provou umbu,
“imbu verdadeiro”?
Sissi Carvalho
Aos sábados,
Na Igreja da Conceição,
Depois que o ofício
Acabou,
Juras de amor,
Aos pés da cruz,
Inda que passageiras,
Trocou.
Muitas vezes
Também viu,
D. Maria Carcará,
No ritual
Quase divino,
Do preparo
Do aluá!
E, à noite,
Espreitou a lua,
Grande e linda,
Nascer tão perto
Que se estendesse a mão,
Decerto,
Puxaria a cauda do
dragão...
São lembranças...
São ausências...
De tão constantes,
Verdadeiras!
Luar... Aluá...
Eternamente,
Oeiras.
Piauí em Letras - 3
Encantamento
Soneto de Saudade
É um sentimento avassalador
Que sozinha já não posso encontrar-me
Pois assim o mundo não tem magia.
Eu
Ser bom
Maldade
A maldade está no ar
Disfarçada de amor
Presente na vida
Por trás do olhar...
A maldade surge
Disfarçada de amizade
De riso, de choro
De solidariedade...
Disfarçada
Ou escancarada
Matéria, espírito
Humano desumano
Mundo/imundo!
Piauí em Letras - 3
Desfoque
Tentando não focar
No foco que me desfoca
Não dar trela
Ao que me atrela
E nesse meio termo de tentativa
Um nó na garganta se ativa...
Tempo “particípio”
Tempo perdido
Tempo ganhado
Tempo sorrido
Tempo chorado.
Coração sofrido
Coração amado
Amor bandido
Amor amado.
Ontem vivido
Amanhã esperado
Sorriso perdido
Sorriso ganhado.
Piauí em Letras - 3
Piauí em Letras - 3
ORELHAS E FILIPETA
Piauí em Letras - 3
ANEXO 1
Adrião Neto
(Organizador)
ADRIÃO NETO
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
DINA PARAGUASSÚ
Poetisa
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
_ EDIVALDO LIMA
Poeta
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
F. GERSON MENESES
Poeta e contista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
GLAUCE BARROS
Poetisa
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
JOÃO PASSOS
Poeta, historiador, contista, cronista e romancista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
TROFÉU LITERÁRIO PIAUÍ EM LETRAS 3
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
MILTON BORGES
Contista e romancista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
MOZANIEL ALMEIDA
Poeta, contista, cronista e filósofo de botequim
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
SISSI CARVALHO
Poetisa e romancista
COLETÂNEA
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
PORTELADA
Artista plástico
COLETÂNEA
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
NETO SARAIVA
Artista plástico
COLETÂNEA
Adrião Neto
(Organizador)
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
JOSELY RIBEIRO
E
ADRYANN SANTOS