RESUMO
RESUMO
RESUMO
Dano-evento e dano-prejuízo.
RESUMO
O dano social é uma nova categoria que visa abarcar uma lacuna na
reparação civil.
The observance that the legal notion of mischief does not coincide with
the common notion has favored the comprehension that the mischief, even being an unit
phenomenon, has two prominent aspects. The moments of its occurrence are two:
mischief-event and mischief-damage. These moments are results of the conduct, but its
characteristics are completely different.
The social mischief is a new category that aims to fulfill a gap in the civil
reparation.
* Na citação de juristas pátrios, far-se-á menção a seu prenome se assim forem mais conhecidos.
** Algumas obras terão a citação de mais de uma edição, pois foram consultadas em períodos diversos.
1
CASTRONOVO, Carlo. La nuova responsabilità civile. 2ª ed. Milano: Giuffrè, 1997,
pp. 80-83.
2
Segundo CAVALIERI FILHO, Sérgio. Comentários ao novo código civil. Das
preferências e privilégios creditórios, art. 927 a 965. 2ª ed.. vol. XIII. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.
148. Atividade pode ser definida como “conduta reiterada, habitualmente exercida, organizada de forma
profissional ou empresarial para realizar fins econômicos”.
3
ALPA, Guido. Trattato di diritto civile, la responsabilità civile. v. 4. Milano: Giuffré,
1999, pp. 601-602.
4
CASTRONOVO, Carlo. La nuova responsabilità civile. 2ª ed. Milano: Giuffrè, 1997,
pp. 523-526.
5
VINEY, Geneviève. Introdution à la responsabilité. In GUESTIN, Jacques (Coord.).
Traité de Droit Civil. v. I. 2. ed. Paris: LGDJ, 1995, p. 58-60 e Le déclin de la responsabilité individuelle.
Paris: LGDJ, 1965. pp. 4-8.
culpa faz parte do elemento subjetivo da conduta. A responsabilidade objetiva, em
regra, prescinde desse elemento subjetivo. Todos os demais elementos do fato típico da
responsabilidade civil devem estar presentes. Aí conclui-se, por óbvio, que o dano é
necessário para a caracterização do tipo responsabilidade civil.
6
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. O Direito como Sistema Complexo e de 2ª Ordem;
sua Autonomia, Ato nulo e Ato Ilícito, Diferença de Espírito entre Responsabilidade Civil e Penal,
Necessidade de Prejuízo para Haver Direito de Indenização na Responsabilidade Civil. In Antonio
Junqueira de Azevedo, Estudos e pareceres de direito privado. São Paulo: Saraiva, 2004, pp. 32-33.
7
O Código Civil de 2002, neste ponto, é mais técnico que o de 1916, pois deixa claro que
o ato ilícito é fonte de obrigação e demonstra claramente que o dever jurídico derivado de indenizar é
conteúdo de uma nova obrigação, que independe, em tese, do dever originário violado.
8
Art. 2.043 do CC italiano. Qualunque fatto dolosa o colposo, che cagiona ad altri um
danno ingiusto, obbliga colui che há comesso il fatto a risarcire il danno.
9
Art. 1.382 do CC francês. Tout fait quelconque de l’ homme, qui cause à autrui um
dommage, oblige celui par la faute duquel el est arrivé, à le reparer.
10
DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade civil. v. I. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1987. p. 93. A necessidade do dano, no direito brasileiro, ainda é sustentada por, entre outros,
CARVALHO SANTOS, João Manuel de. Código Civil Brasileiro Interpretado. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1943. art. 159; CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo:
Malheiros, 1997, p. 69; ANCONA LOPES, Teresa. O Dano Estético. 2ª ed. São Paulo: RT, 1999, pp. 19-
20; GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 1994, pp. 27-28;
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Judicial. 3ª ed. São Paulo: RT, 1997, pp. 502-
505.
acrescenta que, ao contrário da culpa, o dano é requisito tanto da responsabilidade
subjetiva como da objetiva11.
11
ALPA, Guido. Responsabilità civile e danno. Bologna: Il Mulino, 1991, p. 477. Como
se vê, a doutrina estrangeira também considera o dano essencial à responsabilidade civil. Há vários outros
exemplos: VINEY, Geneviève. La responsabilité: effets. In GUESTIN, Jacques (Coord.). Traité de Droit
Civil. v. 3. 2. ed. Paris: LGDJ, 1988, p. 3; BAUDOUIN, Jean; DESLAURIERS, Patrice. La responsabilité
civile. 5ª ed. Quebec: Yvon Blais, 1998, p. 153; ZANNONI, Eduardo. El Daño en la Responsabilidade
Civil. 2ª ed.. Buenos Aires: Astrea, 1993, p.1; CASTRONOVO, Carlo, La nuova responsabilità civile. 2ª
ed. Milano: Giuffrè, 1997, p. 86; CALVÃO DA SILVA, João. Responsabilidade Civil do Produtor.
Coimbra: Almedina, 1999. p. 677.
12
RT 575/133.
13
RT 612/44.
14
SALVI, Cesare. Danno. In Digesto delle Discipline Privatistiche – Sezione Civile, v. 5.
(s.a.), p. 63.
15
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. Cadastros de Restrição ao Crédito. Conceito
de dano moral. In Antônio Junqueira de Azevedo. Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 291.
16
SALVI, Cesare, Danno. In Digesto delle Discipline Privatistiche – Sezione Civile. . v. 5.
(s.a.), p. 64.
dano-prejuízo pode ser patrimonial ou não-patrimonial, tendo por base o indivíduo17, e
social, tendo por base a sociedade como um todo18.
Nenhum dos momentos deve ser descartado, pois ambos são essenciais
para uma completa compreensão. Um deles isoladamente não é capaz de ativar o
mecanismo do ressarcimento. O simples prejuízo, sem a lesão ao direito, faz parte
apenas dos fatos naturais sem conseqüências jurídicas. O lesado, para exigir o
ressarcimento, precisa demonstrar que existe um interesse violado ou agravado, que a
lesão afeta, em sua esfera própria, a satisfação ou gozo de bens jurídicos sobre os quais
exerça faculdade de agir19.O mesmo ocorre com o prejuízo, que por si só não indica a
necessidade de reparação20; é apenas um pressuposto21.
17
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. O Direito como Sistema Complexo e de 2ª
Ordem; sua Autonomia, Ato nulo e Ato Ilícito, Diferença de Espírito entre Responsabilidade Civil e
Penal, Necessidade de Prejuízo para Haver Direito de Indenização na Responsabilidade Civil. In
Antonio Junqueira de Azevedo, Estudos e pareceres de direito privado. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 33.
18
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. Por uma Nova Categoria de Dano na
Responsabilidade Civil: o Dano Social. In RTDC. v. 9. 2004, p. 216. Segundo o autor, os danos sociais
são lesões à sociedade, no seu nível de vida ou no patrimônio moral.
19
ZANNONI, Eduardo. El Daño en la Responsabilidade Civil. 2ª ed.. Buenos Aires:
Astrea, 1993, pp.24-25.
20
SALVI, Cesare, Danno. In Digesto delle Discipline Privatistiche – Sezione Civile, v. 5.
(s.a.), p. 64.
21
TOURNEAU, Philippe le. La responsabilité civile. 2ª ed.. Paris: Dalloz, 1976. p.141.
22
MONATERI, Pier Giuseppe, Danno alla persona. In Digesto delle Discipline
Privatistiche – Sezione Civile. v. 5. (s.a.), pp. 76-77.
23
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. O Direito como Sistema Complexo e de 2ª
Ordem; sua Autonomia, Ato nulo e Ato Ilícito, Diferença de Espírito entre Responsabilidade Civil e
Penal, Necessidade de Prejuízo para Haver Direito de Indenização na Responsabilidade Civil. In
Antonio Junqueira de Azevedo, Estudos e pareceres de direito privado. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 33.
impossibilidade de se avaliar esses danos. O “dinheiro e os danos morais são entidades
absolutamente heterogêneas, não podendo, pois, existir qualquer equivalência entre
elas”24.
Como se vê, o autor não diferencia nem mesmo se o dano moral refere-se
ao dano-evento ou ao dano-prejuízo. Daí a grande dificuldade em aceitar a sua
reparação.
24
DOMINGUES DE ANDRADE, Manuel Antônio. Teoria Geral das Obrigações com a
Colaboração de Rui de Alarcão. 3ª ed.. Coimbra: Almedina, 1966. pp. 164-165. O autor está certo quanto
à impossibilidade de um dano não patrimonial ter indenização pelo equivalente. Não percebe, contudo,
que a indenização de um dano não patrimonial poderá ter caráter compensatório.
25
GIORGIANNI, Michele. L´obbligazione, La parte generale delle obbligazioni. v. I.
Catania: Vicenzo Muglia, 1945, pp. 33-34. Mas mesmo este autor, quando trata da patrimonialidade da
prestação, afirma que a natureza patrimonial pode advir de outros meios como, por exemplo, uma
cláusula penal, o que demonstra uma certa confusão entre a natureza do adimplemento ou não da
prestação (dano-evento), o prejuízo causado e a natureza da indenização.
estrutura do imóvel vizinho. A violação do direito de propriedade alheia é o resultado da
conduta e também é ilícito.
26
NAVEIRA ZARRA, Maita Maria. El resarcimiento del daño en la responsabilidad civil
extracontractual. Madrid: ER, 2006, p. 63.
27
CUPIS, Adriano de. Il danno, teoria generale della responsabilità civile. v. I. Milano:
Giuffrè, 1966, p. 346-348. O autor apenas afirma que ela era uma teoria desenvolvida na evolução
primitiva do direito, mas não a defende.
28
RAVAZZONI, Alberto. La riparazione del danno non patrimoniale. Milano: Giuffrè,
1962, p. 49.
Outro ponto é o dano social e sua relação com o art. 944, que limita a
indenização à extensão do dano. Este tipo de dano opõe-se aos individuais29. Deve ser
observado no âmbito do dano-prejuízo. Resta, contudo, saber como se fará a
indenização. A. Junqueira de Azevedo defende que a indenização deve ser entregue a
própria vítima, parte do processo, pois foi ela quem faticamente trabalhou. A vítima
agiria como um munus público, chamada no direito americano de private attorney
general, tendo em vista os punitive damages. Por ter atuado, a vítima mereceria uma
recompensa. O próprio autor, no entanto, percebe a dificuldade de aceitação do
argumento, o que revela a necessidade de um estudo mais aprofundado30.
31
MARTINS DA SILVA, Américo Luís. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais. v. I São Paulo: RT, 2004, pp. 183-184.
32
CATALÁ, Lucia Gomes. Responsabilidad por daños al medio ambiente. Pamplona:
Aranzadi, 1998, pp. 90-91.
33
CATALÁ, Lucia Gomes. Responsabilidad por daños al medio ambiente. Pamplona:
Aranzadi, 1998, pp. 90-91.
34
PATTI, Salvatore. La tutela civile dell’ ambiente. Padova: CEDAM, 1979. pp. 84-88.
depois do dia em que o direito possa ser feito valer. A terceira admite a prescrição, mas
fala em retroatividade dos efeitos, é uma posição mais difícil de ser sustentada.
35
Aliás, cabe aqui salientar que a competência para a Ação Civil Pública é do local do
dano, como é possível observar pelo art. 2º, caput, da Lei 7.347/85: “As ações previstas nesta lei serão
propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e
julgar a causa”.
36
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. I. 2ª ed.
São Paulo: Malheiros, 2002, pp. 526-528. Para o autor, o ato seria correspondente à noção de conduta e
fato seria sinônimo de acontecimento com relevância para o direito. Como se vê, nossa proposta é
diversa. Trata-se de ato como conduta e fato como fato jurídico, abrangendo a conduta, o nexo de
causalidade e o dano.
37
CHINELATO E ALMEIDA, Silmara Juny de Abreu. Responsabilidade Civil. In Novo
Código Civil Brasileiro, O que Muda na Vida do Cidadão. Brasília: Centro de Documentação e
Informação, 2003. pp. 143-152.
38
GONÇALVES, Carlos Roberto. Comentários ao Código Civil, parte especial, do
direito das obrigações, responsabilidade subjetiva, responsabilidade objetiva, responsabilidade por fato
de outrem, responsabilidade profissional, etc., preferências e privilégios creditórios (arts. 927 a 965).
São Paulo: Saraiva, 2003. O mesmo ocorre na doutrina estrangeira como, v.g., na argentina com
ZANNONI, Eduardo. El Daño en la Responsabilidade Civil. 2ª ed.. Buenos Aires: Astrea, 1993, pp. 234-
235.
do dano-prejuízo, não importa, o que é relevante é apenas a lesão ao bem jurídico.
Entretanto, uma definição de dano moral partindo do dano-evento pode não ser a mais
adequada.
Não reparam estes autores que a distinção entre dano moral e dano
patrimonial não decorre da natureza do direito, bem ou interesse, mas da conseqüência e
repercussão sobre o lesado40.
Assim, o dano moral somente poderia ser definido por exclusão. Ele
corresponde a um prejuízo. Pode ser causado por quaisquer dos cinco tipos de dano-
evento: dano à pessoa, física ou bio-físico-química, lesão à figura social da pessoa, ao
patrimônio em sentido estrito ou até mesmo à terceira pessoa42.
39
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. Cadastros de Restrição ao Crédito. Conceito
de dano moral. In Antônio Junqueira de Azevedo. Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 290.
40
DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade civil. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979.
Título VII, item 226.
41
Sem a previsibilidade não há que se falar em culpa.
42
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. Cadastros de Restrição ao Crédito. Conceito
de dano moral. In Antônio Junqueira de Azevedo. Estudos e Pareceres de Direito Privado. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 292.
Portanto, quando se tem uma correta definição de dano patrimonial,
chega-se à definição do moral. O dano não patrimonial (moral) é todo aquele prejuízo
que não corresponde ao patrimonial.
43
CRUZ, Branca Martins da. Responsabilidade Civil pelo Dano Ecológico: Alguns
Problemas. In Revista de Direito Ambiental. v. V. São Paulo: RT, 1997, p. 7.
44
JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio. Por uma Nova Categoria de Dano na
Responsabilidade Civil: o Dano Social. In RTDC. v. 9. 2004, pp. 211-218.
45
CRUZ, Branca Martins da. Responsabilidade Civil pelo Dano Ecológico: Alguns
Problemas. In Revista de Direito Ambiental. v. V. São Paulo: RT, 1997, p. 7.
46
TELES DA SILVA, Solange. Responsabilidade Civil Ambiental. pp. 449-450.
Analisando e comparando a doutrina, a jurisprudência e a legislação
estrangeira com a pátria, será possível conhecer as diversas posições e formular um
ponto de convergência entre elas.
No terceiro, o dano-prejuízo.
2. Para se entender o termo dano é preciso deixar claro que existe uma noção
comum que não equivale com a noção jurídica.
7. Contudo, outra acepção do termo dano também tem relevância para o direito. O
dano pode ser encarado como conseqüência da lesão descrita acima que se refletirá no
objeto da indenização. Neste ponto, ele seria tudo aquilo que pode ser reparado.
7. O art. 1.382, do Código Civil francês, prevê que responde pelo dano aquele que
age com faute. O termo é o único pressuposto da imputação delitual para o direito
francês, mas, por ser ambíguo, abrange no seu funcionamento, a ilicitude, a culpa e o
nexo causal.
10. O Código italiano desloca a ilicitude para o dano (dano injusto) e recebe muitas
críticas pela inovação.
13. Ele pode ocorrer por dois fatores: a lesão a um direito subjetivo ou a uma norma
que protege interesses alheios.
14. A razão é simples. A teoria clássica e usual sobre direito subjetivo não abrange
todas as hipóteses de interesses juridicamente relevantes. O principal exemplo são os
interesses difusos e coletivos que não podem ser enquadrados na tipologia por não
apresentarem apreensão individual e particular.
15. Não é, todavia, qualquer interesse que, violado, gerará um dano-evento. Apenas
aqueles protegidos por normas. A esses será atribuída uma qualificadora, serão
interesses juridicamente relevantes.
16. Essa interpretação tem mais um fundamento. Não há dúvidas que as violações a
direitos subjetivos possam gerar conseqüências jurídicas. Isso, aliás, está previsto
expressamente para a conduta no art. 186. Igual situação deve ocorrer com a violação de
normas protetoras de interesses e a resposta jurídica nesse caso não precisa sequer vir da
lei. A doutrina e a jurisprudência podem atuar neste caso tal qual ocorreu para a
conduta.
17. Isso fica claro ao se atentar à legislação estrangeira. Ainda quando da vigência
do Código de Seabra em Portugal, quando não se fazia remissão à proteção de
interesses, mas apenas de direitos, doutrina e jurisprudência se voltaram contra a regra e
estabeleceram respaldo jurídico a demandas judiciais.
11. Ela também sofre críticas. A primeira diz que o simples prejuízo ou destruição
de um bem não constitui por si só um dano, no sentido jurídico do termo, se não é
acompanhado de uma afetação a um interesse juridicamente protegido.
12. A concepção objetiva de dano, na sua forma pura, somente permite a admissão
de prejuízos patrimoniais, com exclusão, tal qual acontecia na teoria da diferença, dos
não patrimoniais.
14. Para a teoria subjetiva, o dano ressarcível tem que levar em conta o interesse
humano lesionado. É a idéia de interesse humano que faz com que se considere as
circunstâncias concretas e pessoais ao redor da vítima. Salienta-se que o foco de análise
do interesse é diverso ao se examinar o dano-evento e o dano-prejuízo. Enquanto para o
dano-evento basta a violação objetiva do interesse violado, sem qualquer carga
valorativa, para o dano-prejuízo, a análise do interesse é um dos critérios de avaliação
do prejuízo causado. É uma espécie de critério quantitativo, uma baliza para a
pretensão ressarcitória. Ela demonstra que o valor comercial (concepção objetiva do
dano) é o preponderante, mas não o único critério.
22. O dano patrimonial pode ser dividido em dano emergente e lucro cessante. O
primeiro importa a efetiva diminuição do patrimônio da vítima em razão da conduta. É
o prejuízo causado nos “bens ou nos direitos já existentes na titularidade do lesado à
data da lesão”.
24. Atualmente, fala-se muito na perda de oportunidade. É uma concepção que parte
da análise de casos concretos e abrange situações em que, por determinada conduta, o
agente priva outro de obter um ganho ou amenizar uma perda, ainda que este evento
futuro não constitua algo absolutamente certo e irrefutável. O causador do dano é
responsável não pelo prejuízo direto gerado à vítima, mas pelo fato de tê-la privado da
oportunidade de obtenção de um resultado útil ou evitado um prejuízo. Da mesma
forma que o lucro cessante, faz-se um juízo de probabilidade. É imprescindível,
portanto, que a oportunidade seja real e séria, com aplicação também do critério da
razoabilidade já exposto quando da análise do lucro cessante.
25. Uma das principais questões relacionadas à perda de oportunidade versa sobre a
sua natureza jurídica. Não há consenso se se trata de dano emergente, lucro cessante,
dano não patrimonial ou uma nova categoria avessa à dicotomia. O grande problema da
discussão está na imprecisão ao tratar do dano. Se se observar a distinção entre dano-
evento e dano-prejuízo, o problema é solucionado. A perda da chance é apenas um
estudo concreto de algumas situações específicas muito mais relacionadas ao dano-
evento. As conseqüências advindas dessa violação poderão ter a natureza patrimonial ou
não.
26. Atualmente não há dúvidas sobre a possibilidade de indenização por dano não
patrimonial. Se o direito à indenização por dano não patrimonial é inquestionável
atualmente, o mesmo não se pode dizer quanto ao conceito e amplitude do termo.
Grande parte da doutrina brasileira trata o dano não patrimonial como sinônimo do dano
moral, mas não concordam quanto ao conceito.
27. O dano não patrimonial é definido por exclusão, porque ele faz parte de uma
dicotomia. Não faz sentido defini-lo com base em outro critério que não seja o mesmo
utilizado para o seu contraposto dano patrimonial. Qualquer tentativa em contrário é um
equívoco. Ele faz parte de uma dicotomia. Assim, se ao conceituar o dano patrimonial,
resumidamente, fala-se em possibilidade de avaliação econômica do prejuízo, o dano
não patrimonial será aquele que não suscetível de avaliação.
33. O dano sempre foi a base da indenização tanto que o próprio art. 927 fala que o
dever de indenizar consiste na reparação do dano. Da mesma maneira, o Código de
1916 afirmava que quem causa dano a outrem fica obrigado a repará-lo. Daí a
desnecessidade do caput, do art. 944.
34. A única verdadeira inovação do art. 944 está no parágrafo único. Ela permite que
a indenização seja reduzida se houver “excessiva desproporção entre a gravidade da
culpa e o dano”. Nesse caso, só é permitida a redução, porque o parágrafo único é uma
exceção e tem que ser interpretado restritivamente. Cabe salientar também que o termo
culpa empregado no artigo é estrito, isto é, no caso de dolo não será possível a redução
da indenização. Acresce-se que mesmo na responsabilidade objetiva, que prescinde da
culpa para a sua caracterização, pode haver aplicação do dispositivo para reduzir o valor
indenizatório.
36. O Código Civil de 2002 determina a aplicação da lei processual civil, caso a
obrigação for indeterminada ou na lei ou contrato não tiver o modo como deverá ser
fixada, ou seja, liquidação por cálculo, arbitramento ou artigos.
37. Em relação a quem sofre a lesão, o dano-prejuízo pode ser individual e social. É
mais uma dicotomia basilar na análise das conseqüências lesivas representativas do
resultado da conduta.
41. A segunda constatação é a profunda insegurança por que passa o Brasil que leva
os cultores do direito, em todas as áreas, a refletir, sempre buscando resultados para se
evitar crimes, contravenções e ilícitos em geral, inclusive os de ordem civil. Não é
porque a função primordial do direito civil não seja aplicar penas como resposta ao
comportamento dos violadores da ordem jurídica que ela não possa ser aplicada para
situações específicas.
42. Da constatação de que a função punitiva é possível para o direito civil, verifica-
se que o agravamento da indenização traz consigo alguns problemas. Primeiro, a
punição somente seria possível nos casos de responsabilidade subjetiva, pois somente
nela levar-se-ia em conta o dolo e a culpa. Segundo, haveria um impedimento, de
acordo com Antônio Junqueira de Azevedo, por força do caput do art. 944.
45. O dano social pode ser patrimonial ou não patrimonial. Os fundamentos das duas
dicotomias (dano patrimonial e não patrimonial de um lado e individual e social de
outro) são diversos.
46. O terceiro aspecto a ser levantado é que o dano social é integrante do dano
prejuízo. Assim, não assiste razão aos que o identificam em relação à natureza da norma
protetora de interesses ou direito subjetivo lesado.
48. Sobre este último tema, cabe ressaltar que o Anteprojeto de Código Processual
Coletivo prevê a legitimidade ampla para se pleitear conseqüências sociais, desde que o
agente tenha representatividade adequada (Adequacy of Representation) para estar em
juízo. Caso se sagrasse vencedor, teria um “prêmio” pelo trabalho apresentado em juízo.
O restante da indenização seria destinado a um fundo em decorrência do chamado fluid
recovery.
ALPA, Guido; BESSONE, Mario. Atipicità dell’ illecito, parte prima: I profili dottrinali.
2. ed. Milano: Giuffrè, 1980.
ANDRADE, Manuel Antônio Domingues de. Teoria Geral das Obrigações com a
Colaboração de Rui de Alarcão. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1966.
BASSI, Augusta Lagostena; RUBINI, Lucio. La liquidazione del danno, tomo primo: il
danno in generale e il danno non patrimoniale. Milano: Giuffrè, 1974.
BIELSA, Rafael. La culpa en los accidentes del trabajo, su estudio y critica en la ley
argentina. 2. ed. Buenos Aires: Lajovane, 1926.
BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 3.ed. São Paulo: RT,
1993.
_____________________. Reparação Civil por Danos Morais. 2. ed. São Paulo: RT,
1994.
BORDA, Guilhermo A. Tratado de derecho civil, parte general. t. II. 12. ed. Buenos
Aires: ABeledo-Perrot, 1999.
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2. ed. São Paulo: RT, 2000.
CARNELUTTI, Francesco. Teoria generale del diritto. 3. ed. Rome: Foro Italiano,
1951.
CASILLO, João. Dano à pessoa e sua indenização. 2. ed. São Paulo: RT, 1994.
MENDES, João de Castro. Do Conceito Jurídico de Prejuízo. Lisboa: Jornal do Foro,
1953.
CHAVES, Antônio. Tratado de Direito Civil, Responsabilidade Civil. v. III. São Paulo:
RT, 1985.
COSTA, Judith Martins. Notas sobre o princípio da função social dos contratos.
Disponível em: http://www.realeadvogados.com.br/pdf/judith.pdf.
COSTA, Mario Júlio de Almeida. Direito das obrigações. 7. ed. Coimbra: Almedina,
1999.
CRUZ, Branca Martins da. Responsabilidade Civil pelo Dano Ecológico: Alguns
Problemas. In: Revista de Direito Ambiental, São Paulo: RT, 1997, v.
5.
CUPIS, Adriano de. Il danno, teoria generale della responsabilità civile. 2. ed. Milano:
Giuffrè, 1966.
DEMOGUE, René. Traité des obligations en general. Paris: Rousseau, 1923. t. III.
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
v. 1.
__________________. Da responsabilidade civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979.
v. 1.
DINIZ, Maria Helena. O problema da liquidação do dano moral e dos critérios para a
fixação do “quantum” indenizatório. In Atualidades Jurídicas 2. São
Paulo: Saraiva, 2001.
DUGUIT, Pierre Marie Nicola Léon. Derecho subjetivo y la función social. In: Las
transformaciones del Derecho (público y privado). Tradução de
Carlos Posada. Buenos Aires: Heliasta, 1975.
FISCHER, Hans Albrecht. Trad. port. de Férrer de Almeida. A reparação dos danos no
direito civil. São Paulo:Acadêmica, 1938.
FIÚZA, César. Novo direito civil: curso completo. 7. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2003.
GIERKE, Otto Friedrich von. Funcion social del derecho privado – La naturaleza de
las asociaciones humanas. Tradução de J. M. Navarro de Palencia.
Madrid: Sociedad Editorial Española, 1904.
GIOLLA, Piero. Valutazione del danno alla persona nella responsabilità civile.
Milano: Giuffrè, 1957.
GIORGI, Giorgio. Teoria Generale delle obbligazioni. vol. II. Firenze: Fratelli
Cammelli, 1892.
______________. Teoria delle obligazioni nel moderno diritto italiano. v. II. Firenze:
Fratelli Cammelli, 1907.
HARVEN, Pierre de. Mouvements généraux du droit civil belge contemporain, étude
critique, Bruxelles: Bruylant, 1928.
JHERING, Rudolf von. A luta pelo direito. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo:
Martin Claret, 2002.
___________________. Geist des römischen Rechts auf den verschiedenen Stufen
seiner Entwicklung. Trad. port. de Rafael Benaion. O Espírito do
Direito Romano. Rio de Janeiro: Alba, 1943.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de João Batista Machado. 6. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
KERN, Bernd- Rüdiger. (sem o título em alemão). Trad. port. de Lélio Candiota de
Campos. A função de satisfação no indenização do dano pessoal: um
elemento penal na satisfação do dano? In Revista de Direito do
Consumidor, nº 33, Janeiro-Março, São Paulo: RT, 2000.
LALOU, Henri. Traité pratique de la responsabilité civile. 5. ed. Dalloz: Paris, 1955.
LEÓN, Luis Maria Díez-Picazo y Ponce de. Derecho de Daños. Madrid: Civitas. 1999.
LOPES, Teresa Ancona. O Dano Estético. 2. ed. São Paulo: RT, 1999.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica. 2ª ed. São Paulo: RT, 2001.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 4ª ed. São Paulo:
RT. 1992.
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico, Plano da Existência. 11ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2001.
MONATERI, Pier Giuseppe, Danno alla persona. In: Digesto delle Discipline
Privatistiche – Sezione Civile, (s.a.). v. 5.
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana: uma leitura civil
constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
MINOZZI, Alfredo. Studio sul danno non patrimoniale. Milano: Società Editrice
Libraria, 1901.
MIRANDA, Francisco Cavalcante Pontes de. Tratado de Direito Privado. t. XXII. Rio
de Janeiro: Borsoi. 1968.
NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil comentado e
legislação extravagante. 3. ed. São Paulo: RT, 2005.
PRIETO, Fernando Pantaleón. Comentário al art. 1902 CC. In Comentario del Código
Civil. V. II. Madrid: Ministerio de Justicia, 1991.
RÁO, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. 5ª ed. São Paulo: RT, 1999.
REALE, Miguel. O dano moral no direito brasileiro. In Temas de Direito Positivo. São
Paulo: RT, 1992.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil, 12ª ed. v. IV. São Paulo:
Saraiva, 1989.
RODRIGUES, Sílvio. Direito civil, responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
1979.
SALVI, Cesare. Danno, Digesto delle Discipline Privatistiche – Sezione Civile, (s.a.). v.
5.
SCHIMIDT, Jean Charles. Faute civile e faute pénale. Paris: Recueil Sirey, 1928.
SCUTO, Carmelo. Teoria generale delle abbligazioni con riguardo al nuovo codice
civile. v. I. 3° ed. Napoli: Internazionale Treves di Leo Lupi, 1950.
SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais.
São Paulo: RT, 2004. v. 1.
SILVA, Luís Renato Ferreira da. Da legitimidade para postular indenização por danos
morais. In Ajuris. v. XXIV. n. 70, 1997.
SILVA, Manuel Gomes da. O Dever de Prestar e o Dever de Indemnizar. Lisboa: s.e.,
1944.
SILVA, Solange Teles da, Responsabilidade Civil Ambiental. In: Curso Interdisciplinar
de Direito Ambiental. Barueri: Manole, 2005.
SILVA, Wilson de Mello. O dano moral e a sua reparação. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999, nº 1.
SOLUS, Henry; PERROT, Roger. Droit judiciaire privé. Paris: Sirey, 1966. t. I.
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Judicial. 3ª ed. São Paulo:
RT, 1997.
TELLES JR., Gofredo. Iniciação na ciência do direito. São Paulo: Saraiva, 2001.
THUR, Andreas von. Trad. esp. de W. Roces. Tratado de Derecho de las Obligaciones.
t. I. Madrid: Reus, 1934.
VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. 10. ed. Coimbra:
Almedina, 2000. v. 1