Manual PTGI Cap 02 Ectopia
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2010
Este Manual de Orientao foi gentilmente patrocinado pela GlaxoSmithKline (GSK) Todo contedo deste manual responsabilidade exclusiva da FEBRASGO
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Apoio:
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DIRETORIA
Trinio 2009 - 2011
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PARTICIPANTES
Adalberto Xavier Ferro Filho (DF) Adriana Bittencourt Campaner (SP) Angelina Farias Maia (PE) Celso Luz Borelli (SP) Edison Natal Fedrizzi (SC) Etelvino de Souza Trindade (DF) Francisco Alberto Rgio de Oliveira ((CE) Garibalde Mortoza Jnior (MG) Gustavo Py Gomes da Silveira (RS) Isa Maria de Mello (DF) Jesus Paula Carvalho (SP) Joana Fres Bragana Bastos (SP) Jurandyr Moreira de Andrade (SP)
Luciano Brasil Rangel (SC) Luz Carlos Zeferino (SP) Manoel Afonso Guimares Gonalves (RS) Mrcia Fuzaro Cardial (SP) Maricy Tacla (SP) Neila Maria Gis Speck (SP) Newton Srgio de Carvalho (PR) Nilma Antas Neves (BA) Nilson Roberto de Melo (SP) Paulo Srgio Vieiro Naud (RS) Petrus Augusto Dornelas Cmara (PE) Walquria Quida Salles Pereira Primo (DF)
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Secretaria Executiva
Avenida das Amricas, 8445 - sala 711 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro / RJ - CEP: 22793-081 Tel: (21) 2487.6336 Fax: (21) 2429.5133 e-mail: secretaria.executiva@febrasgo.org.br
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ECTOPIA
INTRODUO
A ectopia cervical caracteriza-se pela presena de epitlio colunar na ectocrvice, sendo observado frequentemente em adolescentes e adultos jovens. Embora seja de natureza benigna, a presena de ectopia pode favorecer a instalao de algumas doenas sexualmente transmissveis (DSTs), como as originadas a partir da infeco pela Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e o Papilomavirus humano (HPV).
DEFINIO
Define-se ectopia como sendo a presena de epitlio colunar, incluindo glndulas e estroma, na ectocrvice. Em uma situao ideal, espera-se que o colo uterino esteja revestido por epitlio estratificado escamoso e a juno escamocolunar situada ao nvel do orifcio externo. Entretanto, na presena de ectopia, observa-se o reposicionamento da juno escamocolunar (JEC) externamente ao orifcio externo do colo, com consequente exposio do epitlio colunar ao meio vaginal. Ao longo da vida, a JEC tende a adentrar o canal.
Epitlio colunar
JEC
EPIDEMIOLOGIA
Estima-se em 20% a presena da ectopia em pacientes de ambulatrio, de forma isolada. Essa frequncia pode aumentar para at 50% se considerada sua associao com a zona de transformao. O epitlio que recobre o colo uterino sofre mudanas de acordo com a idade. Por essa razo, o estudo do processo fisiolgico de maturao do epitlio cervical e a possvel relao entre contracepo hormonal e tabagismo com os mecanismos de maturao, nos permitem compreender a sua maior vulnerabilidade a determinados patgenos, principalmente em adolescentes e adultos jovens. Observa-se que mulheres na faixa etria de 15 a 24 anos apresentam as maiores taxas de infeco pela Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e o HPV 1,2. Acredita-se que a sua maior vulnerabilidade esteja relacionada no somente a fatores comportamentais, mas tambm a fatores biolgicos, como a imaturidade fisiolgica do colo uterino caracterizada pela presena de extensas reas de ectopia e epitlio metaplsico imaturo.
grau de maturao cervical, postula-se que a acidificao do meio com consequente diminuio do pH estimularia o processo de metaplasia escamosa, ao passo que em ambiente alcalinos, como na vigncia de vaginose bacteriana, a maturao do epitlio cervical poderia ser desacelerada ou revertida.
A influncia de outros co-fatores no processo de maturao do epitlio cervical tem sido avaliada, dentre eles o uso de anticoncepcional oral (ACO). Sabe-se que o estrognio e a progesterona promovem a proliferao celular e seus receptores esto presentes em nmero significativamente maior na zona de transformao do colo uterino. Portanto, o estmulo exgeno de doses de estrgeno e progesterona poderia acelerar o processo de metaplasia escamosa na zona de transformao5. Estudos mostraram que a contracepo hormonal estava associada ao aumento da ectopia cervical. Postula-se que o estrognio promova o edema estromal com consequente everso do epitlio colunar na ectocrvice 6. Entretanto, em outro estudo, Hwang et al observaram que o uso de anticoncepcional (ACO) de baixa dosagem eleva os nveis hormonais,em taxas que estimulam o epitlio cervical, mas no chegam a induzir o edema estromal. J os ACOs de alta dosagem hormonal poderiam desencadear ambos os efeitos como os observados nos estudos pregressos. A avaliao colposcpica a cada 4 meses revelou que o uso continuo de ACO de baixa dosagem por 2 anos estava associado ao aumento adicional de 2,3% na maturao do epitlio cervical 7. Em relao ao tabagismo, seus efeitos no processo de maturao do epitlio cervical no foram investigados anteriormente. Sabe-se que a nicotina e seus metablitos esto presentes na secreo cervical e que o tabagismo est relacionado com a secreo de citocinas cervicais, que podem alterar o processo metaplsico 8,9. Segundo os resultados do estudo de Hwang et al observou-se aumento na maturao do epitlio cervical de 3,9% na avaliao colposcpica a cada 4 meses. Considerando-se o perodo de 2 anos, o ganho poderia ser traduzindo em 23% de aumento de maturao em relao as pacientes no tabagistas 7. Os dados acima sugerem que o tabagismo acelera o processo fisiolgico de maturao cervical atravs da metaplasia escamosa. Entretanto, a resposta dinmica do epitlio atravs do aumento da proliferao e atividade celular, torna o epitlio mais suscetvel infeco pelo HPV e outras DSTs.
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Os fatores biolgicos como a exposio aumentada a infeces ou trauma tambm podem influenciar o processo de maturao do epitlio cervical. Postula-se que infeces genitais, como a cervicite, promovam a maturao do epitlio cervical induzindo processo inflamatrio e conseqente reparo celular 10.
MANIFESTAES CLNICAS
A ectopia cervical assintomtica na maioria dos casos, sendo diagnosticada apenas no exame ginecolgico de rotina. Entretanto, quando ela extensa, pode manifestar-se na forma de corrimento de aspecto e consistncia mucosa, a mucorria. Pode ocorrer tambm a presena de outros corrimentos, de caractersticas variadas, quando esto associados processos inflamatrios e/ou infecciosos de outras etiologias, favorecidos pela existncia da ectopia.
DIAGNSTICO
A suspeita de ectopia cervical realizada inicialmente durante o exame especular na consulta ginecolgica. inspeo do colo uterino, observa-se rea avermelhada margeando o orifcio externo do colo, que denominada de mcula rubra. Em uma segunda etapa, o exame colposcpico, utilizando-se cido actico a 3% ou 5%, revela a presena de epitlio colunar ao redor do orifcio externo, que se estende pela ectocrvice. A aplicao do cido actico sobre o epitlio colunar provoca mudanas na colorao do epitlio, que inicialmente era avermelhado (mcula rubra) e torna-se esbranquiado sob viso colposcpica. Simultaneamente, ocorre edema e engurgitamento das clulas, evidenciando o aspecto de cachos de uva. Em seguida, utilizada a soluo de Lugol para a realizao do teste de Schiller, que se baseia na fixao do iodo pelo glicognio presente nas clulas da camada intermediria do epitlio estratificado escamoso. Portanto, na presena de ectopia, que constituda por epitlio colunar, no ocorre a fixao da soluo iodetada. A aplicao dos reagentes e a utilizao do colposcpico na avaliao da ectopia permitem delimitar com maior e melhor preciso a transio do epitlio estratificado escamoso e colunar. Isto possibilita determinar a sua extenso, que tem implicao direta com a conduta teraputica a ser seguida.
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Figura 7
Figura 8
Figura 9
JEC
Figura 10
Figura 11
Figura 13 - Ectopia
TRATAMENTO
A ectopia cervical est associada ao processo metaplsico, havendo uma tendncia a consider-los fisiolgicos. Se houver evidncia da ocorrncia de metaplasia, esta leva ao desaparecimento da ectopia, sendo um processo mais lento que o resultante de intervenes teraputicas. O tratamento ainda muito realizado, apesar de haver uma tendncia maior a atitude conservadora de observao clnica11. As justificativas mais comuns para indicar a teraputica incluem: proteo contra o cncer de colo, transmisso de doenas, particularmente as sexualmente transmissveis, e sintomas atribudos ao exagero de secreo mucide corrimento. Os mtodos teraputicos indicados podem ser divididos em:
Qumicos: mais comumente aplicaes tpicas de cido metacresolsulfnico, cido tricloroactico e etc.
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Cirrgicos: atravs de cauterizao por diatermocoagulao, laser, aparelho de alta frequncia e crioterapia.
A rea tratada apresenta processo de reepitelizao, sendo recoberta por epitlio escamoso, atravs de mecanismo de metaplasia. O tempo de recuperao esperado de cerca de 8 semanas, com eficcia de 90%. As complicaes so raras, podemos citar estenose, processos inflamatrios, sangramentos, em geral controlados.
PROGNSTICO
A resoluo do processo geralmente atingida, com ou sem tratamento. Em reviso sistemtica publicada em 2008, a concluso de que mais estudos devem ser realizados para que se possa concluir pelo benefcio do tratamento11.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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