Chiquemba
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RESUMO: O presente artigo tem como objetivo mostrar o sistema estrutural e funcional do
programa de merenda escolar no ensino primário em Angola, regulado pelo Decreto Presidencial
138/13 de 24 de Setembro de 2013, bem como descrever a sua importância para as comunidades
locais e para os alunos do Ensino Primário em Angola. Antes disso, entretanto, se faz necessária
uma descrição sobre o sistema de educação e ensino de Angola no âmbito da Lei n.º 17/16 de 7
de Outubro de 2016. Considera-se importante fazer esta abordagem, visto que, deve-se reconhecer
que as Políticas Educacionais no Ensino Primário, ligadas à Merenda Escolar, depositam capital
importância principalmente nas zonas rurais e no seio das famílias mais desfavorecidas ou com
renda econômica baixa. Por outro lado, nota-se que a merenda escolar tem sido alvo de uma política
implementada pelo Governo Angolano no âmbito do Plano de Desenvolvimento Nacional, contendo
vários eixos, dentre os quais: o Setor da Educação, que se liga ao Programa Municipal Integrado
do Desenvolvimento e Combate à Pobreza, com a finalidade de contribuir para a manutenção
das crianças na escola, contribuir na sua dieta alimentar para que tenham maior empenho nas
atividades escolares por um lado e, por outro, valorizar a produção local para o consumo diário nos
lanches da merenda escolar.
Palavras chave: Ensino Primário. Importância da Merenda Escolar. Angola.
ABSTRACT: This article aims to show the structural and functional system of the school lunch
program in primary education in Angola, as well as to describe its importance for local
communities and primary school students in Angola, but before that, a description is made about the
education and teaching system of angola within the scope of law no. 17/16 of 7 october,we think
it is important to do this work since, in our view, the educational policies in primary
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education linked to school meals play a major role mainly in rural areas and among the most
disadvantaged families or those with low economic income, on the other hand, it should be noted
that school meals have been a policy implemented by the Angolan Government within the scope
of the National Development Plan, which contains several axes, including the education sector ,
Integrated Municipal Program for the Development and Combat of Poverty, among others with
the purpose of contributing to the maintenance of children in school , contribute to your diet so
that you have a greater commitment to school activities on the one hand and, on the other, to value
local production for daily consumption in school lunch snacks.
Key words: Primary Education. Importance of School Lunch. Angola.
1 INTRODUÇÃO
Na abordagem desta temática não seria possível deixar de apresentar
algumas questões estruturais do sistema de Educação e Ensino em Angola,
principalmente sobre o Ensino Primário. Desta maneira, para iniciar esta
abordagem será buscado o auxílio da Constituição da República de Angola, que
entre vários aspectos, discorre sobre o papel e responsabilidade do Estado em
relação à Educação.
Importa ainda alguns dados sobre Angola, que está situada no
Continente africano, na região ocidental da África Austral. É um país composto
por dezoito Províncias, cuja capital é Luanda1. O país tem atualmente cerca de
trinta milhões de habitantes. Sendo ainda, um país relativamente novo,que
se tornou independente em 1975, após um longo período de colonização
portuguesa2.
No que se refere à Educação do país, pode-se caracterizar como o seu
marco histórico educativo, três momentos: antes da colonização portuguesa,
durante a colonização portuguesa e após a independência nacional. Em cada
uma destas fases, o Sistema Educativo teve estruturas diferentes, o que acabou se
refletindo no direito à Educação e nas Políticas Educacionais.
Neste trabalho o foco incidirá sobre o período após a independência, com
ênfase nas Políticas Educacionais destinadas à Educação Primária, especialmente
no que refere à merenda escolar.
A Constituição da República de Angola de 2010, em seu artigo 21,
anuncia tarefas fundamentais do Estado e, entre elas, destacam-se:
g) Promover políticas que assegurem o acesso universal ao ensino obrigatório
gratuito, nos termos definidos por lei;[...] i) Efetuar investimentos
estratégicos, massivos e permanentes no capital humano, com destaque para o
desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, bem como na educação, na
saúde, na economia primária e secundária e noutros sectores estruturantes para
1 Informações disponíveis em: https://governo.gov.ao/ao/angola/o-perfil-de-angola/
2 Informações disponíveis em: https://www.ine.gov.ao/indicadores-estatisticos/populacaoAcesso em: 09 set.
2020.
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que a sua descrição revela-se muito pertinente para uma maior compreensão do
funcionamento e estrutura educacional angolana, desde o topo que é o Executivo
até à base, neste caso referindo-se à escola, onde encontra-se o sujeito principal
desse programa, o consumidor final, que é o próprio aluno do ensino primário.
Antes da descrição do regulamento em si, pretende-se à luz da Lei de
Bases do Sistema de Educação e Ensino de Angola, ou seja a Lei n. 17, de 7
de outubro de 2016, descrever as características de ensino primário, bem como
apresentar uma breve descrição do aluno do ensino primário em Angola. O artigo
27 da Lei acima mencionada, quanto ao Ensino Primário, estabelece o seguinte:
O Ensino Primário é o fundamento de ensino geral constituído a sua conclusão
com sucesso, condição indispensável para frequência do ensino secundário.
O Ensino Primário tem a duração de 6 (seis) anos e têm acesso ao mesmo
as crianças que completam 6 (seis) anos de idade até 31 de Maio do ano da
matrícula. (Lei de Bases, n. 17/2016, ANGOLA)
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do referido texto legal. Assim, no artigo 2.º sobre Definições, são apresentadas
algumas definições que abaixo serão descritas:
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qualidade dos alimentos, desde a sua produção até a entrega para o preparo dos
alimentos, priorizando a produção agrícola familiar para a merenda escolar.
Em relação às Comissões apontam-se duas, que são: Comissão Nacional
de Luta contra a Pobreza e Comissão de Pais e Encarregados de Educação, as
quais têm as seguintes competências:
À Comissão Nacional de Luta contra a Pobreza, compete a nível local
a elaboração das orientações metodológicas sobre a execução do Programa de
Merenda Escolar, determinando os componentes da merenda escolar em parceria
com os Departamentos Ministeriais responsáveis pelos setores do Comércio,
Educação, Saúde, e da Agricultura. Também é de sua competência realizar a
monitorização e supervisão, bem como criar mecanismos de avaliação do impacto
da distribuição da merenda; organizando, implementando e promovendo a
criação de Cooperativas de Merendas.
Por outro lado, é competência dos Órgãos Descentralizados, acompanhar
a execução do Programa de Alimentação, propondo medidas corretivas e, sendo
necessário, adaptar os objetivos e estratégias predefinidas, efetuando a avaliação
periódica do impacto e, diante de circunstâncias justificáveis, propor ajustes no
orçamento de acordo com as necessidades de cada município.
No que se refere à Comissão de Pais e Encarregados de Educação,
compete acompanhar a distribuição da merenda escolar, de acordo com o kit pré-
estabelecido, apresentando propostas de melhoria nos kits de merenda escolar e
prestar apoio quanto à organização das cozinhas comunitárias.
Quanto aos Governos Provinciais, compete aos mesmos reunir
trimestralmente com os Diretores Provinciais da Educação do Comercio, da Saúde
e da Agricultura para aprovação dos planos de acompanhamento de execução do
referido programa e aprovar os relatórios, proceder a homologação dos contratos
que se inscrevem no âmbito da implementação do Programa da Merenda Escolar.
Em relação às Administrações Municipais, compete remeter à Unidade
Técnica Provincial da Luta contra a Pobreza relatórios mensais sobre a execução
do Programa da Merenda Escolar, contendo o número de escolas e de alunos
beneficiados. Deve-se registrar ainda, o tipo de merenda distribuída, os eventuais
constrangimentos registados na execução do programa, além de outros dados
que lhes sejam solicitados para a avaliação do grau de execução do Programa da
Merenda Escolar.
Por fim compete ainda, às mencionadas Administrações Municipais,
dirigir, orientar e controlar a implementação do Programa de Merenda Escolar
em colaboração com as Repartições Municipais da Educação nas respectivas
circunscrições territoriais. Decidir em conjunto com as Repartições Municipais da
Educação sobre os fornecedores para o Programa de Merenda Escolar e proceder,
em conjunto com as Repartições Municipais da Educação, o levantamento de
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É sabido que a esperança faz parte da natureza humana, tal como citado
pelo autor Paulo Freire (2011), sendo possível associar que esta esperança não se
limita apenas à sala de aula, entre o professor e o aluno na tentativa de desenvolver
os conhecimentos e promover o saber, mas sim também de uma forma muito
mais abrangente. Pois é algo também buscado pelos Governos que, por meio
de várias políticas públicas tanto no Ensino Primário, como em outros setores,
por exemplo na saúde, direcionando investimentos e colhendo bons resultados,
o que tem permitido haver maior confiança e esperança num futuro melhor
para as próximas gerações. Futuro este que encontra-se nas mãos das crianças,
aquelas a quem hoje se investe com todo empenho e a todo custo. É preciso,
pois, transformar e desenvolver os países em vias de desenvolvimento, mas para
que tal transformação aconteça, acima de tudo deve-se passar pelo investimento
nos setores da Saúde e da Educação. A educação é a base do alavancar de uma
sociedade, claro que também sem a saúde não se faz nada, daí a colocação dos
dois setores em pé de igualdade e realidade de importância em termos de
investimentos.
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REFERÊNCIAS
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