quarta-feira, dezembro 31, 2003

Acerca da MINHA origem

Tenho em crer, e julgo não estar a aventar levianas induções, que a frase que mais profusamente me é dirigida desde que me conheço é "Tu não bates bem dos cornos" (Incluindo todas as suas variações lexicais, mas não necessariamente semânticas). Ora, dedicando-me eu a estudar visceralmente o estado de degradação desta Nação, posso adiantar sem trepidez de petear, que faço parte de um género indubitavelmente superior ao vosso, sumários portugueses. Tudo isto dimana de simples genética, sendo, por isso, claramente irrefutável.

Toda esta minha teoria assenta no facto ambos os meus progenitores serem fruto de uma experiência, levada a cabo aquando da Guerra do Vietname. A minha mãe é um projecto de espia americano. Medindo não mais que 50 centímetro, esta esculca não teria problemas em esconder-se na mata coreana. O meu pai, por seu lado, é uma criação russa. Do alto dos seus 2 metros de altura e 4 de envergadura, tem o poder destrutivo de meia-bomba atómica.

Os projectos foram desenvolvidos na segunda metade do decénio de 50, mas revelaram-se altamente defeituosos, com características certamente inumanas moxinifadas com esboços de complacência incontestavelmente pertencentes ao "nosso" género. Sabendo-os, por isso, inúteis à utilização na querela, os dois espécimens, meio-homens meio-seja-o-que-fôr, foram deportados para um país à beira-mar-plantado-que-toda-a-gente-conhece, entregues à mão de um ditador chamado Salazar, que depois se encarregaria de os atribuir às respectivas famílias.

Escusado será dizer que, anos depois, reconheceram um no outro incosteáveis parecenças, e acabaram por casar. Os felizes rebentos desta relação sou eu e o meu irmão.

Cá em casa todos sofremos de graves distúrbios. É, por isso, natural, que a minha mãe, quando está no trânsito diga que os outros deviam era "ficar em casa a tirar crostas do cu" ou que invente localidades como "Vilar do Foda-se" ou "[todos os caminhos vão dar à] Puta-que-os-pariu". Julgo também ser aceitável que ela considere fenómenos como baptizar rotundas, apitando enquanto conduz à volta das mesmas, divertidos. Já menos compreensível é o facto de ela gostar de Luís Represas. O meu pai, por seu lado, é menino para tentar ensinar àguias a falar ou cumprimentar as pessoas que vão lá a casa com metade do corpo dentro da entrada para o esgoto, no jardim. Impensável será a sua felicidade consistir em plantar couves e batatas no quintal, e conseguir pôr a pé todas as pessoas num raio de 37kms ao fechar a porta do micro-ondas.

Acho que este tipo de situação explica o origem das minhas perturbações. Eu, lá no fundo, só queria ser uma menina como as outras... Mas sinto ser meu dever contribuir para o bem da Humanidade. (Uma coisa que melhoraria de certeza o ar desta Mundo era matar a Betty Grafstein, mas como a mulher é elástica à custa de tantas plásticas, transforma-se em tudo aquilo que lhe vier à cabeça, e eu não quero matar o Ferro Rodrigues - vai ser giro vê-lo cumprir trabalhos pesados na prisão de Caxias).


Sou (por isto) quem sabeis, Maria Cachucha.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Ai que é Natal...

É Natal, como julgo ser de conhecimento geral.

Acho esta época do ano particularmente interessante, não porque goste muito de dar prendas ou de comer bacalhau, mas porque se sente no ar, a partir de inÃícios de Dezembro, uma alegria colectiva que me deixa feliz. (Observe-se o altruí­smo... Fico feliz porque os outros estão felizes... Meu Deus... Belo...)

Esta minha alegria natalícia foi ontem de tarde profanada por uns comunistas/anarquistas anormais que se passeavam na Baixa. Estava eu, em plena adulação da alegria das pessoas, a subir Santa Catarina, quando um estrunfe qualquer de boina verde me dá um papel para a mão.

Primeiro, pensei que fosse o número de telefone dele (o Natal traz ao de cima as carências emocionais de certas pessoas). Depois, pensei que estivesse a dar guardanapos de prenda de Natal a toda a gente (é útil e é barato, era uma boa ideia). Depois de mais dois ou três pensamentos deste género, decidi ler o papel.

Tenho pena de não ter guardado aquela Bíblia da Parvoeira, mas deu-me tal acesso de raiva que decidi enrolar aquilo numa pedra e atirar à  cabeça do rapaz que me tinha dado aquilo (este meu acto violento não foi testemunhado, já que a Baixa estava cheia de gente, e ninguém viu quem tinha sido, por isso, saí incólume). Posso, no entanto, aventar que, por baixo de um desenhinho estúpido a preto e branco, ao qual nem dei a (in)devida atenção, pousavam as seguintes (não sei se eram estas, mas eram parecidas) palavras: "O Natal é uma hipocrisia! Abaixo o Capitalismo! Outra estupidez do género!".

Ora, eu não vou estar aqui a discutir até que ponto é que o Natal é uma época consumista e de apologia ao capitalismo, etc, etc, mas CARAÇAS, se as pessoas estão, em pleno dia 23 de Dezembro, a fazer as compras de Natal, contentes da vida com a perspectiva de irem dar um par de meias com válvulas aquecedoras à  D. Miquinhas do fim da rua, até que ponto estarão interessados em ter gajos de 20 anos, com gorros verdes na cabeça, a dizer que as meias deles são hipócritas?

Eu não vou oferecer meias, mas julgo poder dar uma resposta esclarecedora a esta questão: nem que o ponto fosse o último ponto final de um discurso do Fidel Castro, ou o ponto que, nos cheques, separa os milhões das centenas de milhar, seria minimamente interessante aos olhos de alguém que está no dia 23 de Dezembro a fazer compras.

(Já agora, vá-se lá saber porquê, mas parece-me que estes rebeldes devem estar a estas horas a fazer aletria ou a descascar batatas ou - BELO! - a embrulhar presentes. Não sei, é um sentimento que tenho cá dentro... Vá lá a gente compreender este Mundo...)

Bom Natal!

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

domingo, dezembro 21, 2003

Festas de Reggae - O que diz a leiga

Tive ontem a peregrina ideia de me dirigir a uma festa de reggae. Reggae, ragga, seja lá o que fôr, que isto as coisas com os tempos têm tendência a mudar.

Bem, fui determinada. O bar, cujo nome manterei no anonimato, esclarecendo apenas que é o feminino de circo - sim, no género de menino-menina; circo-Circ... (e mais não direi), e que o staff era meu conhecido (digo isto não por pretensiosismo na base do "sou fixe, conheço gajos de bares", mas porque me é muito mais custoso ir a um bar onde não conheço as pessoas a quem peço as minhas Colinhas, já que vivemos numa altura em que beber Coca-Cola é coisa de atrasado mental, como me auto-assumo).

Ora, portanto, chega-se, arrocha-se numa mesinha, e o som, ainda numa altura razoável, abusa tremendamente das palavras Africa, Jamaica, Africanism, Rastafari e outros vocábulos igualmente interessantes (observe-se que estas pérolas são ditas em linguagem própria, pelo que se deve ler Âfricâ, Jámeica, �fricaniseme, Rastáfárie).

Dou por mim a observar os espécimens que se passeiam pela pista (se é que se pode chamar pista a um espaço em que um jogo de Twister daria no máximo para um jogador e meio). Apercebo-me que para se ser reggaense, ou reggaeista, ou valha-nos o que fôr, não precisamos de ter grande trabalho. As calças são neo-hippies (neo-hippies é palavra de freak, bem sei, mas não há outra que possa aplicar), as saias são neo-hippies, as t-shirts e camisolas são neo-hippies. A única coisa que diferencia este gajos dos de Woodstock são as rastas, que lhes conferem um aspecto badalhoco, asqueroso, nojento, mas que dão grande style para se engatar umas miúdas.

Estou, por isso, deleitada com a apoteose desgraçada destes infelizes. Continuei sentada (como, aliás, estive a noite toda) e dediquei-me a tentar compreender o dialecto reggae. Devo dizer-vos que pouco compreendi para além das quatro palavras supra-referidas. (Se não fosse uma coisa por demais pedante, diria que aquilo era um complot contra mim e que os gajos se entendiam por código. Na melhor das hipóteses, seria talvez uma reunião de extra-terrestres, com prentensões de invasão da Terra, que tinham inspirado a indumentária em livros sobre neanderthais por a Vogue e a Cosmopolitan estarem esgotados.) No entanto, há que referir que julgo ter entendido bastantes palavras de inglês, entrecortadas por grunhidos guturais de Homem das Cavernas em altura de côrte.

Ao que me foi dado perceber, tratava-se de um retorno às origens (roots, como eles próprios diziam, embora soasse mais a "parataparutzzz"), pelo que andei a ouvir reggae do anos 40 (?) e ska (que, ao que me foi dito, teve origem no reggae). Ao fim de três horas daquilo, achei que a minha noite seria mais proveitosa e edificante se tivesse estado a ver todos os Natais dos Hospitais, Prisões, Ordens de Beneficiência, e qualquer outro tipo de Instituição, estatal ou não, que mereça um Natal, transmitidos pelas nossas dilectíssimas estações de televisão.

Despeço-me, por isso, com todo um vigoroso sentimento de dever cumprido (passa pelas minhas mãos instruir as gerações mais novas nos exemplos que devem seguir - ou não), maculado unicamente pela imburilável sensação de noite-perdida-para-nada.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

quinta-feira, dezembro 18, 2003

O queijo Limiano fatiado - a Opinião do Yolanda

Ontem falei do queijo Limiano fatiado a toda a gente. A Yolanda faz parte de toda a gente, por isso, também lhe falei.

Ela acha que o queijo Limiano fatiado corta exactamente a fatia do meio da bola de queijo Limiano e que o resto do queijo é-nos apresentado como as metades do queijo Limiano. O que me leva a pensar.... Será a intenção primordial dos senhores da Limiano fazerem queijo em bola para depois o fatiarem e venderem as metades que sobram? Ou será a fatia do meio da bola inteira apenas um resto das metades?

É a grande questão da minha vida.

Essa e saber quem é a mente responsável pela invenção daquele plástico que se põe nas retretes públicas. Acho indecente. É despersonalizar uma retrete pública. Toda a gente sabe que elas têm de ser porcas e que uma pessoa, enquanto está a fazer as suas necessidades, se tem de ocupar a rezar um terço para não ficar com nenhum tipo de infecção. Ora, isto torna a retrete num símbolo de devoção cristã portuguesa e, por isso, é um definidor do português-tipo, mas tinha de vir um anormal qualquer inventar aquele plástico estúpido para se pôr à volta do trono. Tinha de ser. Tinha de ser.

Duvido, por isso, que demore muito tempo a desaparecer o penduricalho do Benfica do retrovisor dos carros, já que parece que andam apostados em expropriar-nos da nossa identidade nacional.

Por isso, jovens, revoltem-se! Deixem crescer exacerbadamente a unha do mindinho direito e usem-na para tirar cera dos ouvido ou macacos do nariz, no vosso Punto amarelo, todo tunning, com o devido penduricalho do respectivo clube e o devido autocolante "Por trás, mas com jeitinho". Futuras mulheres de Portugal, comprem aventais com cornucópias rosas e azuis, andem de chinelos no autocarro, leiam a "Maria", abram mercearias e tratem as clientes por "môre"!

É esta consciência do valor nacional que nos vai levar longe. Já nos estou a ver no Parlamento Europeu daqui a uns aninhos...

Deputado Francês: Ora bem, vamos votar a moção para reduzir o financiamento da agricultura portuguesa...
Deputado Português: Oh moço, meu franciú da merda, botas masé o caraças, cuarago, que o meu primo Toninho tem a quinta ali em Som Romom da Ucha e aquilo precisa do dinheiro, cuarago! Ai o cuarago, ai a porra...
Deputada portuguesa: Ah pzé, ah pzé, que eu outro dia li na "Maria", binha logo antes do artigo sobre as fantasias sexuais do Abel Xavier, que os pepinos portugueses andabam a bender benhe!! Ah pzé, ah pzé!

Eu acho este tipo de coisa necessária.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

terça-feira, dezembro 16, 2003

O queijo Limiano fatiado - expressão de sentimentos de revolta

Hoje, estava eu dedicadíssima a comprar queijo, quando encontro um daqueles pacotes de Limiano fatiado. Não sei se já viram, mas aquilo tem muita classe, são assim fatias de queijo redondas, extremamente bonitinhas.

Mas pronto, eu pego no pacote e dedico-me a ler as informações daquilo. E que é que aquilo dizia? Passo a citar: "Cortadas directamente do queijo Limiano bola". Ora, as fatias do Limiano fatiado são redondas e exactamente do mesmo tamanho. Se aquilo é cortado de uma bola, que tipo de bola farão os senhores da Limiano para as fatias não serem maiores ou menores, consoante o sítio da bola onde se corta? Não compreendo.

Cheira-me que eles nos enganaram e que afinal o queijo Limiano não é um bola, é mas é um cilindro.

Estou desiludida. Quando as grandes marcas me pregam destas partidas, fico em estado de choque. A minha confiança de consumidora é abalada. Merda.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

domingo, dezembro 14, 2003

Pruque sim

Hoje tou ca neura. Quando tou ca neura, geralmente dá-me para um destes 3 lados:
a) dizer asneiras
b) gritar alto "sois todos uma cambada de panões"
c) berrar, tão simplesmente

Geralmente o a) ganha, e aí temos um descalabro intelectual, já que começo a vomitar involuntariamente asneiras, que não só me fazem sentir-me mal comigo mesma, como também não ajudam em nada á neura.

O b) faz-me sentir um bocadinho melhor com a neura e por outro lado, panões não é um insulto MUUUUUUIIIITO insultuoso, por isso, geralmente sinto-me feliz. Mau é quando repito a frase pela enésima vez e me perguntam "mas somos panões porquê?" e eu não sei responder e depois fico ca neura por não poder responder.

O c) é raramente utilizável, mas tem a franca vantagem de ser profundamente libertador. Claro que não posso pôr-me aos berros no meio do autocarro, ou do café o que reduz francamente as perspectivas de utilizaçao do c), mas de qualquer maneira, o c) é profundamente libertador.

Por isso, hoje, vou aplicar o d) bater em alguém. Não sei se há alguém disposto a expor-se à minha neura, mas o meu irmão parece-me que está inconscientemente a pedir umas chapadas.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

sexta-feira, dezembro 12, 2003

(Des)Apologia do Natal (ou como tornar uma ida à Baixa num perfeito suplício)

Eu juro-vos que me lembro do tempo em que gostava do Natal. Juro-vos que adorava acordar no dia 24 a pensar que à noite ia poder comer rabanadas e sonhos sem que ninguém me chagasse a portentosa mioleira à custa disso, e que, depois deste ritual de atafulhamento calórico, seguia-se a distribuição das prendas, trazidas pelo Pai Natal em viagens múltiplas e em forma de excursão de japoneses do Pólo Norte.
Nessa altura, a minha maior preocupação natalícia era descrever decentemente o Nenuco que ia pedir, e discriminar bem que queria o que fazia chichi e não o que tinha uma cozinha com comida de plasticina, (particularmente didáctico, o pormenor da plasticina utilizada nos presentes das crianças) (mas ainda mais didáctico era o facto de esta plasticina ser supostamente atóxica - os cientistas que inventaram a plasticina atóxica, e por isso comestível, hão-de-me explicar a atoxicidade de um hamburger com uma área semelhante à de uma base para copos, entalado na garganta de uma criança de 5 anos... mas enfim, adiante) utilizando como suporte físico o catálogo do Toys'R'Us (que congeminava ser uma empresa do Pai Natal, ou da Rena Dançarina, onde os pais arrotavam umas milenas durante o ano, para haver presentes à borla no Natal).

Bons tempos esses.

Agora o meu ritual natalício começa em meados de Outubro, altura pela qual as ruas principiam a ser iluminadas e começam a soar as primeiras músicas de Natal. Até aqui, tudo muito bem, vêem-se as luzes e os bonequinhos de Natal que assomam às monstras das lojas, ouvem-se com agrado as musiquinhas esquecidas depois de um ano de ausência.

Primeira semana de Novembro, predisponho-me a fazer as minhas compras de Natal. Açambarco as economias que tinha feito até altura e começo a jornada. Nada de muito díficil, lojas praticamente vazias, em hora e meia, tenho as compras quase todas feitas. As musiquinhas de Natal tão bem conjungadas com "Tribalistas" e o monótono tom verde-vermelho-dourado começam a fazer-me comichão nos olhos e no nariz, venho-me embora da Baixa portuense.
Faltam-me duas prendas, uma das quais tenho de comprar com outra pessoa, neste caso, a minha prima Raquel.

Meados de Novembro, a minha dolcíssima Mãezinha apresenta-me uma lista de 479845 pessoas a quem se tem de compras prenda este ano. Metade delas são corridas a caixas de chocolates, a outra metade... tem de ser ir a um centro comercial.
Dia da semana: Sábado
Hora: 9 e meia da manhã
Afluência populacional ao Gaiashopping: Elevadíssima
Estado do ar: Irrespirável
Saímos ao meio-dia e meia, armadas em bengaleiros para sacos, mas felizes ( a musiquinha lindíssima de Natal, o velho amorosíssimo que está para ali sentado de vermelho, os agradabilíssimos "Tribalistas", o tom aborrecidíssimo verde-vermelho-dourado, as campanhas solidaríssimas de benificiência, os anjinhos querídissimos das decorações... tudo isto me gira numa espiral demoníaca, que só consigo abafar à custa de uma tarde de sono profundo - e de três Valium's).

Duas semanas depois, e desencantadas das profundezas de não sei que vil e pérfido baú, chega-me à mão uma lista de mais 27 pessoas a quem é preciso dar prenda. Metade são corridas a chocolate (é nesta altura que eu agradeço aos Incas, ou lá a quem foi, terem descoberto o cacau, que reduz tão drastica e deliciosamente as nossas listas de prendas), a outra metade requer mais uma manhã de shopping. Algures entre a Mango e a Maluka do ArrábidaShopping perdi consciência de mim e as perguntas "Quem sou? Para onde vou? Estou sob efeito de algum tipo de alucinogéneo? De onde vem esta vontade súbita de matar a Coca-Cola e o São Nicolau?" ganharam novo significado para mim.

Mal eu sabia que o pior estava para vir...

Dia:11 de Dezembro (5ª - ? - feira)
Hora: 15h30
Local: Baixa portuense
Destino: Sabe-se-lá-mas-tem-de-vender-livros-e-passe-partouts.
Grau de atufulhamento: Soberbo, vista de cima, quer da Batalha, quer do C. C. Paris, Santa Catarina parece ter, em vez de chão, uma massa hululante de povo em histeria pré-natalícia.

Aventurámo-nos, a minha prima e eu. Seguimos para o ViaCatarina - desistimos uma hora depois, por as filas das lojas serem equiparáveis às da Expo'98 e por tanta luzinha, Pai Natalzinho, fitinha, estrelinha e berloquezinho estúpido e inútil nos estarem a causar cegueira e surdez precoce. Passámos para a grande salvadora das almas em busca de seja-o-que-fôr que é a FNAC. Não sei quem foi o francês a ter tão singela ideia para tão belo espaço, mas um grande bem-haja.

Hora: 16:45
Local: FNAC - Santa Catarina
Qualidade do ar: Impraticável, sobrevivemos miraculosamente.
Enclavinhamento populacional: Do género "Oh-meu-Deus-em-vez-de-nos-mandares-a-Estrela-Guia-este-Natal-manda-nos-a-Bomba-Atómica".
Estado de espírito das peregrinas: Por entre rezas, súplicas, insultos e umas quantas caneladas, já nem reagimos à 4517764628768578ª vez que é tocada a "Velha Infância" nem à 7865796590539718743ª vez que é tocado o "We Wish You a Merry Christmas". Estamos imunes (ou então simplesmente surdas).
Estivémos uma hora lá dentro. Metade dessa hora foi soberbamente passada em filas para pagar (claro que quando chegou a altura de nós pagarmos, - e isto é VER�DICO, aconteceu-me mesmo - a mulherzinha da caixa mima-nos, como quem não quer a coisa, no seu accent, suburbano, provavelmente ali da zona de Sta. Maria da Feira, com um "na secção de Informações está uma caixa aberta e vazia..."), um quarto de hora para o livro, outro quarto de hora para o passe-partout.

Saímos exasperadas.

Chego a casa exasperada.

Hoje, dois dias depois, estou exasperada.

Mas o que mais me preocupa é o facto de o número de dias que faltam para o Natal ser inversamente proporcional ao número de... masmarrachos que vão para as compras. O que quer dizer que, a partir de hoje, qualquer visita à Baixa ou a um Centro Comercial é impensável.
E que ninguém, repito, NINGUÉM das minhas relações me venha pedir com gentileza "Olha... Não queres vir comprar a prenda pró Zé ali ao Cidade do Porto?" porque se me fazem isso, meto-vos no Continente num sábado, colo-vos Pais Natal de chocolate às costas e grito "GRANDE OFERTA DE CHOCOLATES!" e toda a gente sabe o efeito que a palavra "oferta" surte nos sistemas nervosos do povinho (Oferta=grátis; grátis=mais uma bolinha do Companhia para a árvore de Natal; mais uma bolinha do Companhia para a árvore de Natal="Cuarago, deixa-me masé ir buscare um chicalate do Pai Natale ali àquele jobe que está de pé!")

Tenho dito
Sou quem sabeis, Maria Cachucha

terça-feira, dezembro 09, 2003

Já que não sei fazer mais nada...

Uma das coisas que me frustra profundamente, e não sei se mais alguém acha isto, mas isso também não interessa nada, é a minha incapacidade profunda de escrever poesia decente. É que é mesmo chato - eu podia ganhar uns guitos e uns engates por escrever poesia boa. Não sei se sabem, mas há uma grande diferença entre ser escritor e ser poeta. Um escritor é um magano que pega na caneta e escreve assim tudo corridinho, uma historinha bonitinha, uma tese engraçada, um artigo genial. Um poeta (ou um prosaísta poético) é um senhor que, para além de conseguir escrever coisas que tenham conteúdo, consegue fazê-lo expondo mais coisas do que simplesmente aquilo que vê, consegue ir além do palpável. Ora, se há capacidade que eu não tenha é a de me expor dessa maneira. Eu penso muito, imenso, demais, mas de maneira nenhuma consigo pôr estas macedónias cá fora sem as deturpar ou, pior ainda, sem as misturar todos, ou ainda pior ainda, sem escrever uma coisa perfeitamente asquerosa. Por isso é que eu admiro os poetas. Porque são capazes de dizer o que lhes vai na cabeça de forma agradável à vista e ao ouvido. Particularmente Pessoa. Identifico-me bastante com Pessoa (como, aliás, acho que toda a gente identifica, mais que não seja porque o homem tem 72 heterónimos). Mas vendo bem o exemplo de Pessoa, alguém já se dedicou a ver bem qual é o conteúdo daquilo? Já alguém pensou na profundidade daquilo? Duvido muito, porque se assim fosse, desenterravam o homem e davam-lhe o Nobel da literatura em vez de o darem a gajos com nomes esquisitos como Imre Kertesz só porque o homem escreve sobre o Holocausto... Panões...

E pronto, está tratado o assunto de hoje. Só mais uma coisa, para a Comissão que decide a quem se dá os Nobeis... Deixem-se de paneleirices e falem comigo antes de atribuir o da Literatura. O mal destes grandessíssimos genovevos é serem todos uns corruptos e terem a mania que são cultos. Eles que dêem as coisas ao povo para ler, que a gente diz-lhes... Freakzinhos cultos de merda...
ODEIO FREAKS!

Sou quem sabeis, Maria Cachucha

domingo, dezembro 07, 2003

Em defesa dos diletantes

Ai eu sei, eu sei... Hoje era suposto continuar-se a Saga do Supermercado - Episodio II ( A revolta das donas-de-casa), mas apresento desde ja duas razoes plausÃiveis para nao continuar com esta bela divagaçao: primeiro, o numero de pessoas que leem isto varia entre o 0 e o 0; e segundo, acho que todos os diletantes merecem este tipo de honra (e que todo o resto do povo merece saber o que e um diletante).

Ora, comecando pelo fim, um diletante e, por assim dizer um amante das artes, sendo esta arte geralmente associada a  musica ou a  literatura. E sim, eu admito-me como como aspirante a diletante. E passo a explicar: um diletante e um(a) gajo/a que aprecia o seu Tolstoi, que se sente realizado ao analisar as producoes do ultimo album do Solomon Burke e que gosta de ver exposiçoes denominadas "A explosao demografica das couves-de-Bruxelas em 1983 - Apontamentos Fotograficos", mas geralmente esse tipo de gajo/a vive dos rendimentos, ou da herança de um tio albanes, ou e ate mesmo alguem que se dedica, durante o Verao, ao mesmo tipo de actividade que o Zeze Camarinha, ficando com o resto da ano livre para exercer o diletantismo. Ou seja - e um(a) gajo/a com dinheiro para gastar no seu livrinho, ou no seu CDzinho, ou na sua exposiçaozinha em Serralves ou coisa do genero.
Ora, eu sou uma simples. Estudo, vivo a  pala dos meus queridos paizinhos, que, para infelicidade da minha carteira, nÃo sÃo ricos, nÃo dispondo, por isso de fundos para gastar em coisas culturais ( e nÃo, o verdadeiro diletante nÃo se presta a ler ou ouvir CDs na FNAC, isso e coisa de mentes pouco cultas, muito menos a ir ao Domingo de manhà a Serralves a  borliu, porque Domingo e dia de ir a  missa). Por isso, sou uma diletante pobre, que se limita a ler os livros que lhe dÃo no Natal e a ouvir os CDs que rouba aos amigos e a ir as exposicoes as quais a escolinha organiza vistas de estudo. Oh meu Deus, a dor...
E por isso que venho apelar a este blog. Um dia que isto seja conhecido, os excelsos leitores hÃo-de querer contribuir para a formacao da autora desta tristeza sob pena de um dia eu entrar em depressão por falta de cultura e nunca mais aqui escrever. Ah, pois é! Mandem as vossas contribuições para o Zoo da Maia, devidamente endereçados à  Maria Cachucha, que depois eles fazem o favor de me entregar a vossa generosidade ou então dirijam-se a mim na rua e sejam solidários nesta causa para por fim à  minha ignorância. Desde já muito agradecida.

E é esta a grande questão a ser tratada hoje. E como já foi tratada, aqui me despeço.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha.

sábado, dezembro 06, 2003

Ora cá estamos nós de volta a este belo apontamento. Sábado, dia... 6 de Dezembro, 18 dias para esse belo dia em que se recebem as prendas e o dinheirinho, 19 para o fastidioso dia do farrapinho velho com a admirável familiazinha e as consequentes criancinhas que nunca morrem de pneumonia ou de meningite durante o ano. Oh my God, I'm so joyful...

Eram 9 da manhà de hoje e dirigia-me eu, sonolenta e olheirenta, fazendo-me acompanhar da minha excelsa Mãezinha, a esse grande espelho de civilização que é o supermercado. A nossa intenção primária era ir Ãs compras, mas toda a gente sabe que compras é o que menos se acaba por fazer em supermercados, dada a impossibilidade de movimentção em tao exíguo, superpovoado e interessante espaço.
Direi até mais, o supermercado quase consegue destronar as camionetas dos Carvalhos em matéria de análise populacional (embora as camionetas dos Carvalhos tenham um lugar perfeitamente inapartável e inatíngivel no coração de todo o bom português que se dedique à análise populacional deste paí­s).
Mas estávamos no parque de estacionamento. Bem intencionadas como de costume, com aquela moedinha de plástico vermelho impregnada de classe que nos dão para metermos na ranhura do carrinho (sim, a mesma que metemos no porta-luvas, ou na carteira, ou seja lá onde for, e à  qual, de semana a semana, dedicamos algumas horas do nosso dia à  procura, acabando sempe por ir pedir outra à menina das informações). Tiramos o carrinho e deixem-me agora falar do carrinho. O carrinho. Não há palavras para o descrever, mas tentarei ser fiel e objectiva, muito embora se me assemelhe esta tarefa impossÃível, já que a minha relação com o carrinho se desenvolve desde tenra idade e há laços de amizade que vÃo além de toda a objectividade. O carrinho é equiparável ao carro de Apolo, mas sem os cavalos e as luzes todas. É equiparável ao trenó do Pai Natal, mas sem as renas e prendas só se pagarmos por elas. O carrinho é um meio de locomoção de compras que há-de ter dado ao seu criador o Nobel da Tecnologia. Com as suas quatro rodas que vão cada uma para seu lado, obrigando o condutor a manobras perigosí­ssimas em corredores cheios de gente e o seu belo cesto vermelho "não-ultrapassar-os-15-kg", grande atractivo no design já de si moderno e arrojado, o carrinho auto-assume-se como o Senhor do Supermercado. Durante o dia, assume aquela pose inocente de simples meio locomotor de cenouras e toalhetes, mas à  noite é vê-los a reunir nos armazéns e organizarem, juntamente com os monta-cargas e os escadotes, ofensivas aos balcões frigoríficos do peixe e do queijo. Bem sei, é uma visão dificil de ser aceite, mas não é por isso que é menos real.

E com esta pequena introdção à  realidade do carrinho de supermercado me despeço por ora. Já tou farta disto, depois continuarei a saga do Supermercado. Perguntam vocês "mas afinal, qual é a intenção desta anormal ao contar-nos isto?". Boa pergunta.

Beijinho Beijinho
Sou quem sabeis, Maria Cachucha

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Parece-me que seria conveniente eu nesta altura explicar a mim própria o que é que pretendo fazer disto... Isto de se começar pelo princípio às vezes tem muito que se lhe diga, eu devia era pedir ao Pai Natal para trazer no trenó um gajo conhecido (tipo o Sousa Tavares ou o Pinto Balsemão, que isto aqui só interessa que eja um gajo conhecido, mai nada), que posteriormente seria enviado pela chaminé cá de casa abaixo (causando não só danos físicos no chamado "literato", que seriam razão de jubilo e gáudio por parte do infante André, mas também valerosos estragos, que fariam as delícias da conta-corrente da nossa maravilhosa Mãezinha). Desta forma, o gajo escrevia um prólogozinho que dava um ar bastante literário a isto e eu ficava com um bloguinho cheio de classe de que poderia gabar-me em frente dos meus amiguinhos da minha deliciosa ESFV (Escola Secundária Filipa de Vilhena). Mas, como não há aqui "literato" para introduzir decentemente isto, venho eu pela seguinte transmitir o meu propósito ao criar isto ("Ouvi agora, cambada de disléxicos mentais à custa de muitas horas de Playstation e de miópicos por causa dos ecrãs dos computadores, uma história não de encantar mas de coisa parecida e igualmente bonita").
Ora, portanto, a intenção disto é, basicamente:
1. Enaltecer esse belo espécime que é a Elizabete;
2. Pôr-me a dominar estas coisas dos blogs que dão um jeitaço para nada nos dias de hoje;
3. Outra hipóteses de intenção, não necessariamente das melhores, mas sempre de boa vontade;

Ora portanto, é isto.
Sou quem sabeis, Maria Cachuxa.