segunda-feira, março 28, 2005

Composição: a Páscoa

A Páscoa é uma daquelas datas estúpidas que haviam de ser mortas à nascença, afogadas numa mistura de vários tipos de bebida alcoólica. Tem, relativamente ao Natal, a franca vantagem de se apresentar acompanhada de "sobremesas" bem mais saborosas: ovos e amêndoas de chocolate. Não sei até que ponto é que sobremesa será o título mais adequado para os ovos e as amêndoas. Na verdade, o meu dia de ontem foi desde as 11 da manhã preenchido com uma saudável deglutição de géneros alimentares que entram, na famigerada roda dos alimentos, no grupo "NÃO! NÃO COMAS ISTO! Faz cáries, engorda, aumenta o acne e causa cheias no Ganges fora da época das Monções.". "Tou-m'a cagar pra ti", é tudo o que tenho a dizer à roda dos alimentos e à sua apologia dos vegetais, das frutas e das leguminosas secas.

A Páscoa é chata porque é uma daquelas épocas que têm de ser passadas com a família. Com muita família, preferencialmente com tias-avós que não se vêem há muito tempo e que são chatas pa' caralho. Claro que a festa em si tem todo o potencial para ser bem gira. Eu e o meu benquisto tio Nuno, que é homem para ter quase 50 anos mas tem um espírito parvo que eu com muito gosto herdei, gostamos muito de fazê-lo notar a toda a família quando ensaiamos as nossas coreografias do "Eu tenho um amigo que me ama", do "Hossana" e do "Põe Tua Mão na Mão do Teu Senhor", para depois dançarmos quando o padre vier abençoar-nos a casa. Estupidamente, o resto da família insiste em chamar-nos hereges por fazermos estas coisas.

Há uma coisa contra a qual eu me insurjo na Páscoa (e, neste campo, o tio Nuno já não se pronuncia porque depois a mulher faz birras e é um problema. Como eu ainda estou a sair da adolescência, posso dizer o que quero, ninguém me liga, acham que a parvoíce é temporária). O pessoal da cidade provavelmente ignora isto mas, quando o padre vem benzer as casas e as pessoas da casa, é costume o anfitrião dar-lhe um envelope com uma qualquer soma de dinheiro. Por outras palavras, "Por XXeuros, tenha a sua casa benzida e a sua alma purificada por um ano! Compre uma estadia eterna no Céu em suaves prestações anuais!". Claro que eu tenho sempre de mandar vir com estas coisas - e claro que isto chateia o resto da família e eu sou recambiada para o jardim com uma taça de amêndoas de chocolate / um ovo de chocolate daqueles grandes. Volto 3 horinhas depois, quando já acabei com as amêndoas / os ovos e sento-me na sala, à beira das velhinhas todas. Como elas estão todas a ver as missas, basta eu dizer qualquer coisa do contra e já estou outra vez no jardim, com mais amêndoas / ovos debaixo do braço. Este ano, a coisa teve classe. Padre da televisão "Porque os fiéis não podem deixar de acreditar na Ressurreição de Cristo. Se deixam de acreditar em Cristo, é o fim da Igreja Católica". Comentário da Cachucha: "... Eu vou para o desemprego, a minha mulher tem de se prostituir para ganhar dinheiro e os meus filhos menores têm de deixar a escola".

Sou quem sabeis, Maria Cachucha.

quarta-feira, março 23, 2005

Pormenores da Vida Cachuchiana

Quando acordo mal-disposta e com problemas de auto-estima, faço uma de duas coisas:

a) vejo o "So 80's" do VH1;
b) vou ao Google à procura de "Ugly Woman";

É por causa destas pequenas coisas que tenho uma vida bem mais gira que o comum mortal.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha.

sábado, março 19, 2005

A revolução

A revolução nasceu num dia de nevoeiro de 1995, em que a Parada Gay Portuense, que todos os anos se realiza nessa altura, teve de ser travada pela aparição de D. Sebastião, que posteriormente veio a tornar-se conhecido como "a Bicha do Ano". D. Sebastião tinha desaparecido uma macatrefada de anos antes. Há relatos de que foi morto ou feito prisioneiro de guerra em Alcácer-Quibir, mas a verdade é que se associou a um grupo de islâmicos dançarinos e partiu em viagem pelo deserto do Sahara, apresentando a versão gay do "Lago dos Cisnes" por tudo quanto era Tuaregolândia.

Ora, nesse dia nevoeirento de 1995, a bicha Jocasta estava à espera do 21, ali na Constitução, porque se tinha atrasado com os bigoudis*. Jocasta tinha-se esquecido do passe, esse execrável companheiro de toda a bicha ecológica, mas sabia que o motorista Anacleto era particularmente aficcionado das suas pernas bem torneadas e depiladas. Efectivamente, àquela hora, Anacleto revolvia-se na cama com um surto de febre das galinhas, o que levara à sua substituição por Amâncio, senhor de farta bigodaça e costumes castos, que, no entanto, não resistia à sensualidade das formas de Cacilda, a jovem vizinha do 5º esquerdo, que exercia na zona da Baixa a nobre profissão do meretrício. Era, aliás, compreensível a reacção de Amâncio à visão de Cacilda que, no fulgor dos seus 15 anos, juntava a um corpo que conservava certos traços de menina, um "saber de experiência feito", transmitido através de várias gerações de marafonas, a popular "casa de putas boas e baratas ali por trás da Câmara Municipal". A imagem de Cacilda, o fresco aroma a lavanda que rescendia dos seus cabelos, o leve ondular das suas ancas enquanto descia as escadas, tudo isto ocupava a mente de Amância quando, às 15horas desse certo dia de 1995, pára o autocarro, por essa altura ponteado de casais de velhotes, na Constituição. A bicha Jocasta sobe os degraus do "ônibus" (como a sua costela brasileira insiste em chamar-lhe), e é nesse momento que Amâncio, à visão de tal mostrengo, a traz à razão dizendo: "Você é uma bicha asquerosa, haviam de lhe grelhar os tomates numa máquina de fritar crepes."

E foi isto.


* A autora não sabe necessariamente o que isso seja. Supõe-se que tenha a ver com coisas para encaracolar o cabelo, mas o tira-teimas não foi levado a cabo porque, segundo a própria, "abrir uma janela para ir perguntar ao Google faz calos"

Sou quem sabeis, Maria Cachucha.

quarta-feira, março 16, 2005

E isto fica assim tudo bonito e o caraças... É a loucura.

Mudei o template.
Mudei os links.
Mudei o sistema de comentários.

Muita coisa mudou.

Mas a merda, graças a Joshua, é sempre a mesma.

Sou quem sabeis, Maria Cachucha.