Histórias de Mediocridade
Aqui há uns tempos, pergunta-me a minha Exma. Progenitora Feminina "Oh Mariazinha, então vocês não querem vir passar connosco um fim-de-semana ao Solar do Vaimóqueque? Olha que vão as tuas priminhas todas e os amigos também...Podias vir, filhinha...". Claro que ela não o disse desta forma. Se tivesse dito desta forma, andava alguém em Ormuz, no Saigão, em Burenza, em Telavive (se calhar, em Telavive, não), em Moscovo e numa terra qualquer da Nova Zelândia e também numa daquelas ilhas do PacÃfico, a receber pacotes com bocadinhos da minha mãe embrulhados. O que ela disse foi mais ou menos "Olha, este fim-de-semana vamos para o solar. Não queres vir, pois não? Então ficas com o ter irmão.". Eu e a minha mãe nestas coisas somos parecidas, por isso é que nos entendemos.
Mas enfim, eles foram. Eu fiquei. (o meu irmão também deve ter ficado, havia horas do dia em que a cozinha cheirava mal, por isso devia cá estar). A história acabava aqui se, tantestantontem, o meu rico paizinho não se tivesse lembrado de me pôr a ver as fotografias dessa tristeza.
Em planos perfeitamente desenplanados aparecem sucessivamente imagens de neo-riquismo, expostas sobre um cenário de Solar cheio de nÃvel. O resultado é triste. A vestir ou adornar corpos e caras de lavradores de Trás-os-Montes, roupa supostamente fashion, comprada no eixo Norteshopping-ArrábidaShopping-Baixa-Boavista. Um retrato do horror.
Ao que vim a apurar pela minha mãe (que gosta tanto destas coisas que até se esqueceu da mala que devia levar para o Solar, e, por isso, andou a cravar roupa às amiguinhas e às priminhas) a convivência desta gente divide-se em três grupos: Machos, Fêmeas e Crias.
Os Machos comem presunto e bebem cerveja nas esplanadas a tarde toda. É para isso que o Macho tira um fim-de-semana com os amigos: comer presunto e beber cerveja. Vão de calças de ganga, camisa aos quadradinhos azuis e brancos, polo de marca nos ombros e sapatos de vela. Comer presunto e beber cerveja. Vestidos de igual, a comer a mesma coisa e a beber a mesma coisa. Também falam das mesmas coisas: ténis, karts, futebol, gajas boas (não necessariamente por esta ordem). Qualquer conversa que se desvie destes tópicos tem como feedback uns belÃssimos "Hããããã... Pois... Tá bem, abelha..." e volta-se ao ténis, aos karts, ao futebol e à s gajas boas.
As Fêmeas andam nas compras. Podem ir para Reguengos de Cima, mas vão à s compras. Correm assim em manada as 5 lojas do centro da cidade, e compram camisolas, calças, tops, camisas, t-shirts, brincos, anéis, pulseiras, de ouro, de prata, de ferro, de aço inoxidável, de seja-o-que-fôr. O único requisito das coisas que compram é serem passÃveis de serem rotuladas como "girÃssimas" por todas as amiguinhas. Uma espécie de Assembleia para o DesperdÃcio de Dinheiro. Quando elas chegam, as entidades máximas das cidadelas / lugares / aldeias ligam as luzes de Natal e tocam o sino da Igreja como se alguém se estivesse a casar. No jornal da região, a manchete da 2ª-feira seguinte é: "Comércio em Castanheiras do Silvado cresce 8745982693% em dois dias". São a Comissão para o Salvamento da Economia Rural. A Manuela Ferreira Leite havia de as achar maravilhosas.
O grupo com o qual eu mais interajo são as Crias. As Crias têm entre 5 e 25 anos. As duas crias que melhor conheço são minhas primas. São pessoas decentes e normais, quando estão longe das outras Crias. Quando estão com as Crias, começam a falar de discotecas. Fazem assim relatórios da noite do Porto. Quando alguém decidir criar uma revista "Porto Nights'" eles sao todos, de certeza, convidados para CrÃticos de Noites. Melhor era se se fizesse uma adaptação da "Noite da Má-LÃngua" para "Noite da Boa-Noite" e eles fossem apresentadores. Entrava a uma sumidade côr-de-rosa e dizia "Hoje, no EN..." e começavam a dissertar sobre o assunto. Ia ser um programa de grandes audiências já que a futilidade e a violência feminina são o que mais vende neste paÃs. (a violência vem na parte em que os meninos, depois de muito discutirem sobre qual deles aguenta mais shots, partem para o estalo) (o "feminina" não está em lado nenhum. As pitas nunca na vida hão-de ter nada de feminino. As pitas estão para a feminilidade como o José Castelo Branco está para a masculinidade. Temos pena.)
E foi disto que eu me safei, amiguinhos. Eu sei que vocês sentem a minha dor.
Sou quem sabeis, Maria Cachucha