Ontem abstive-me do post diário por uma razão muito bonita: fui ao campo. Antes começar o meu relato, tenho de esclarecer uma coisinha: eu sou uma rapariga da cidade. A sério. Eu gosto das passadeiras, e do fumo dos tubos de escape e de comprar CDs em sítios que não o café da vila onde, naquele mítico mostruário que há em todos os cafés de vila, figura a colecção de cassettes do Tony Carreira, da Ágata e o Samba Mix de 1995. Pá... São gostos, que quereis?
Saí de casa lá para as 8 da manhã. Ora, 8 da manhã em altura de férias é sinónimo de morte lenta e dolorosa. Cheguei à quinta dos amigos dos meus pais lá para as 10.30, primeiro, porque o caminho era todo às curvas e tivémos de parar três vezes porque o meu irmão estava enjoado e, segundo, porque o meu pai fazia o obséquio de nem sequer abrandar nos cruzamentos, para ver se poderíamos ter de virar à direita ou à esquerda. Segundo ele, "para a frente é que é o caminho" e ninguém duvida da palavra do meu pai.
Ódespois, como tínhamos acordado cedo, não tínhamos tomado o pequeno-almoço. Parámos numa vilória no meio do nada para fazer o chamado "enchimento do bucho". 2 torradas, 1 sumo de laranja e um café = 4,80€. Mil paus por uma torrada, outra torrada, um sumo de laranja, que nem sequer era natural, senão tinha pago mais 5€, e um café. A cara da minha mãe ao ver a conta era digna de um quadro de Picasso, de tal forma ficou com a boca à banda.
Quando chegámos à dita quinta e ódespois dos devidos cumprimentos "ah-tás-tão-grande-tão-bonita-que-a-tua-filha-está", fomos ver os animais. E deixo aqui um apelo a toda a gente que vive no campo: o pessoal da cidade sabe distinguir uma vaca de uma ovelha. Olha, que quereis?, são coisas que aprendemos na escola. Pá, não é que a gente goste, mas aprendemos. Portantos, andei a manhã toda a ouvir dizer "Ah, isto é uma cabrinha... Aquilo é um cabritinho, filho da cabrinha. Isto é uma ovelha... E isto é um carneirinho, filho da ovelhinha." Por amor de Deus!
Ódespois, era hora do almoço. Almoço nas aldeias geralmente é boa cena. Toda a gente caga para dietas e merdas do género e come-se como bichos, dando o "ar do campo" como culpado pelos 58 pratos de arroz de cabidela que se emborcou, devidamente regados pelas 92 garrafas de tinto "da região". É mentira... Fomos comer entrecosto grelhadinho com saladinhas. Por seu lado, vinhorra era o que não faltava, pelo que, no fim da refeição, e pelo conteúdo ser tão leve que nem dava para servir de esponja, estava tudo com os copos. Eu não, porque não bebo, mas era vê-los a dançar o vira. Muito especialmente, a senhora minha mãe, que depois da dose monumental de vinho, ainda acabara com um cálice de vinho de Porto e quatro de bagaço.
Portanto, os velhos todos a fazer a devida sesta, é altura da Cachucha se meter pelos campos dentro, a ver as vacas e as ovelhas, as cabras e os porcos, os coelhos e os gatos. Gatos, pois. Ali, o que não faltava era gatos. Mancos, trôpegos, estropiados e até cegos, porque os senhores da quinta recolhiam todos os gatinhos abandonados que vissem na rua. E uma das grandes dores da vida da Cachucha é ser alérgica a gatos. E quando digo alérgica não é alérgica. é
alérgica. Muito. Dolorosamente alérgica. Tão dolorosamente alérgica que acordei toda a gente, à força de espirrar. Claro que podia ter parado por ali - já tinha sido mazinha e acordado toda a gente, mas o meu aparelho respiratório, quando mete na cabeça que vai passar a tarde a espirrar, cumpre, pelo que das 16:00 até às 22:00, hora a que saí daquele antro felino, estive muitíssimo entretida com olhos a arder, nariz a pingar e sucessivos espirros que alegraram sobremaneira o meu dia,
"Green acres is the place to be, farm livin' is the life for me. Land spreadin' out so far and wide... Keep Manhattan, just give me that countryside..."
Sou quem sabeis, Maria Cachucha.