O MEDO GLOBAL

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.
Os automobilistas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de ser atropelados.
A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas.
É o tempo do medo.
Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.

Eduardo Galeano




DOWNLOAD: DJ NUTS - CULTURA CÓPIA - 2004
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FARC-EP




Contrariamente à posição do governo americano que caracteriza as FARC-EP como uma 'organização terrorista', estas são atualmente o movimento de guerrilha mais antigo e de maior base camponesa do mundo. Fundadas em 1964 por uma dezena de ativistas camponeses como meio para defender as comunidades autônomas rurais das violentas depredações de militares e paramilitares colombianos, as FARC-EP transformaram-se num exército guerrilheiro fortemente organizado com 20 mil membros em várias centenas de milhares de milícias e apoiantes locais, extremamente influente em mais de 40% do país. Em 11 de Setembro de 2001, as FARC-EP já eram reconhecidas como um legítimo movimento de resistência pela maior parte dos países da União Européia, América Latina e durante vários anos andou em negociações de paz com o governo colombiano chefiado pelo presidente Andrés Pastraña. Antes de 11/Set os líderes das FARC encontraram-se com chefes de estado europeus para trocarem idéias sobre o processo de paz. Inúmeros líderes de negócios influentes da Wall Street, da City de Londres e de Bogotá e gente famosa como a Rainha Noor da Jordânia encontraram-se com dirigentes das FARC na zona desmilitarizada, durante as fracassadas negociações de paz (1999-2002).


O papel dos EUA no conflito

Começando com o presidente Clinton em 2000 e continuando com Bush, os EUA injetaram no regime colombiano mais de 4 bilhões de dólares em ajuda militar a fim de destruir o exército guerrilheiro e a sua base social entre os camponeses, sindicatos urbanos e profissionais livres (principalmente professores, advogados, ativistas dos direitos humanos e intelectuais). Washington empurra vigorosamente para uma solução militar subvertendo quaisquer negociações de paz, através de um substancial número de conselheiros militares, de mercenários contratados, operacionais da Repressão de Drogas, agentes da CIA, comandos das Forças Especiais e uma multidão de outros funcionários secretos. Desde o início dos anos 80 até ao fim dos anos 90, Washington manteve a ficção de que os seus programas militares faziam parte da campanha anti-narcóticos, embora não tenha explicado porque é que concentrava a maior parte dos esforços nas regiões influenciadas pelas FARC e não nas grandes áreas de plantações de coca controladas pelas forças militares e paramilitares colombianas. Com o lançamento do Plano Colômbia em 2000, Washington sublinhou explicitamente a natureza contra-revolucionária da sua ajuda e presença militares. Profundamente transtornado por o presidente Pastraña ter aceito as negociações de paz e as propostas dos movimentos social e guerrilheiro, Washington apoiou para presidente Álvaro Uribe, um político de direita, com um passado de ligação aos esquadrões da morte colombianos. A sua vitória eleitoral inaugurou uma das campanhas de extermínio mais sangrentas da violenta história da Colômbia.

Os militares americanos e os seus parceiros colombianos financiaram uma poderosa força de esquadrões da morte com 31 mil efetivos que devastou o país, matando milhares de camponeses em regiões onde as FARC eram influentes. Foram assassinados em plena luz do dia centenas de sindicalistas por mercenários contratados nas cidades e aldeias ocupadas pelos militares. Trabalhadores dos direitos humanos, jornalistas e acadêmicos que se atreveram a noticiar a impunidade dos militares envolvidos em massacres de aldeias, foram raptados, torturados e mortos; não poucas vezes foram decapitados ou estripados para semear ainda maior terror. Mais de dois milhões de camponeses foram forçados a fugir das suas terras para nojentas favelas urbanas, as suas terras foram apreendidas por importantes chefes paramilitares ou grandes latifundiários. A 'limpeza de classe' do campo saiu diretamente dos manuais de contra-insurreição do Pentágono, que ensinaram os militares colombianos a destruir a 'infra-estrutura social' dos movimentos de guerrilha – em particular das FARC que tinham ligações antigas e alargadas familiares, comunitárias e sociais com os camponeses.

O presidente Uribe personificou o clássico governante autoritário sul-americano. A apertar o pescoço dos pobres e de joelhos diante do seu patrão de Washington. As suas perpétuas campanhas ofensivas em larga escala dizimaram o campo mas não conseguiram enfraquecer os guerrilheiros nem sequer capturar alguém do comando geral das FARC. Depois de seis anos de enormes e dispendiosas campanhas de extermínio, militares americanos de topo e muitos militares colombianos reconheceram que era altamente improvável uma vitória sobre as FARC. O mais que podia acontecer, argumentaram os estrategas militares, era um sério enfraquecimento das FARC, forçando-as a negociar um 'acordo de paz' favorável ao regime.


Negociações de paz: História breve

Durante a presidência de Belisário Betancourt (nos meados dos anos 80), as FARC concordaram num cessar-fogo e muitos alinharam no processo eleitoral. Milhares de guerrilheiros, simpatizantes e muitos independentes de esquerda formaram um partido político, a União Patriótica, e concorreram com candidatos a todos os níveis do governo. Em menos de 5 anos, 5 mil ativistas, candidatos e eleitos foram assassinados pelos militares e seus esquadrões da morte, incluindo dois candidatos presidenciais, vários congressistas, grande quantidade de autarcas, centenas de conselheiros da cidade e líderes locais do partido. Os sobreviventes juntaram-se aos guerrilheiros, fugiram para o exílio ou passaram à clandestinidade. Contrariamente às afirmações do governo, a Colômbia não era uma 'democracia' no sentido vulgar, mas uma 'democracia de esquadrões da morte' na qual faltavam as mais elementares condições para a campanha eleitoral e normas políticas. Menos de duas décadas depois, quando as FARC já tinham alargado a sua influência até 65 km da capital Bogotá, o governo de Andrés Pastraña concordou com outra ronda de 'negociações de paz' numa grande região desmilitarizada sob a influência das FARC.

Enquanto decorriam as negociações, centenas de 'visitantes' de todos os setores da sociedade colombiana, assim como políticos estrangeiros e gente de negócios conhecida, participavam em fóruns públicos. Debates abertos organizados pelas FARC cobriram questões sociais, econômicas e políticas fundamentais. Pela primeira vez desde há muito foram debatidas sem medo de represálias dos esquadrões da morte questões como a reforma agrária, o investimento público em programas de criação de empregos, o investimento externo e a propriedade pública, as alternativas econômicas para o cultivo da coca, a educação e a saúde. Foi contestada a imagem das FARC como uma 'força militarista narco-guerrilheira'; muitos observadores anteriormente hostis da Europa, América Latina e América do Norte, embora não concordassem necessariamente com algumas das reformas propostas pelas FARC, ficaram com a impressão que era possível negociar com elas e chegar a acordos para acabar com a guerra civil.

A radicalização do regime de Bush a seguir ao 11 de Setembro de 2001 serviu de pretexto para forçar o rompimento das negociações de paz. A seguir à eleição de Álvaro Uribe, as FARC foram incluídas na lista das organizações 'terroristas'. A União Europeia, que tinha reunido publicamente com os líderes dessas mesmas FARC, seguiu a reboque dos EUA. Logo a seguir, foram presos na Bolívia, no Brasil, na Venezuela e no Equador negociadores e representantes internacionais das FARC. Estes últimos dois países entregaram os representantes das FARC à polícia política colombiana (DAS) conhecida pela sua brutalidade. Sob a capa da 'Guerra contra o Terrorismo' de Washington, o presidente Uribe prosseguiu, reprimindo severamente greves gerais sindicais e enormes manifestações rurais de protesto feitas pelas principais organizações agrícolas contra a assinatura de um acordo de 'comércio livre' com os EUA.

No meio da carnificina patrocinada pelo governo, as FARC continuaram uma estratégia de retirada tática para os seus redutos na selva e nas montanhas e emitiu propostas para troca mútua de prisioneiros como um passo de 'instituição de confiança' para futuras negociações de paz.

As FARC têm mais de 60 políticos e militares colombianos prisioneiros. O governo colombiano tem mais de 600 guerrilheiros. Os EUA têm atualmente dois membros das FARC. As FARC propuseram um encontro para negociar uma troca de prisioneiros numa zona desmilitarizada. Naturalmente, as famílias dos prisioneiros das FARC foram unânimes a favor da proposta, assim como a maior parte das organizações da sociedade civil, grupos humanitários, da igreja e de direitos humanos. Os EUA opuseram-se a qualquer troca de prisioneiros e Uribe imitou o seu amo, pelo menos durante o seu primeiro mandato. Numa recente incursão militar fracassada, foram mortos 10 prisioneiros, incluindo um ex-ministro da Defesa, um governador e oito oficiais. Sob uma enorme pressão da sociedade civil colombiana, da União Europeia e da maioria dos governos latino-americanos, o presidente Uribe declarou, na sua reeleição, que estaria disposto a entrar em negociações para uma troca. Passado um mês, porém, voltou atrás utilizando como pretexto uma bomba colocada numa instalação militar, que atribuiu às FARC apesar dos desmentidos desta. Os especialistas suspeitam que foi uma operação encoberta montada pelos serviços secretos da Colômbia para minar qualquer avanço para uma troca de prisioneiros.


A detenção ilegal e a prisão de Simon Trinidad

Qualquer procedimento jurídico digno desse nome rejeitaria o processo na base elementar de prisão ilegal. No final de Dezembro de 2003, Trinidad deslocou-se a Quito, no Equador para contatar James Lemoyne sobre possíveis negociações de paz com o governo colombiano, a começar pelo estabelecimento da confiança, e por medidas humanitárias relativas a prisioneiros e detidos. Durante a anterior negociação de paz, Lemoyne fora um negociador da paz decente, rejeitando a pressão da embaixada americana para furar os procedimentos. Dada a enorme escalada militar desencadeada pelo presidente Uribe, Trinidad não tinha possibilidade de se encontrar com Lemoyne na Colômbia. Soube-se nas FARC que Lemoyne estaria disponível para conversações em Quito.

Sob a direção da CIA, um esquadrão conjunto colombiano-equatoriano deteve Trinidad ilegalmente. Toda esta operação violou a soberania do Equador, os procedimentos judiciais e os direitos de asilo político. As detenções extra-territoriais de líderes da oposição e a sua transferência para tribunais imperialistas assemelham-se às práticas do Império Romano e não à lei internacional contemporânea.

Enquanto em cativeiro, Trinidad viu-lhe ser recusado o acesso a traduções, documentos e materiais de escrita. Foi algemado e metido numa cela solitária durante 23 horas por dia durante mais de 21 meses sem acesso a um advogado legal. O juiz federal, Thomas Hogan, e o promotor federal actuaram em prejuízo do julgamento mesmo antes de este começar. Mais de 30 policiais armados numa caravana de veículos da polícia acompanhada por helicópteros levaram Trinidad, algemado, até ao tribunal. Recusaram-lhe a escolha do advogado e atribuíram-lhe uma equipe de advogados nomeados pelo tribunal. Quando os seus advogados tentaram fornecer um contexto histórico relevante incluindo as tentativas das FARC em participar na política eleitoral e o subseqüente massacre de 5000 ativistas e candidatos, incluindo dois candidatos presidenciais, a acusação se opôs. A acusação também se opôs contra a descrição da defesa da enorme e continuada violência do estado na Colômbia e o papel das forças americanas de contra-insurreição aliadas aos grupos paramilitares.

Neste pesadelo kafkiano de um tribunal, a acusação pediu ao juiz que não divulgasse os nomes dos jurados para os proteger contra 'retaliações' da 'organização terrorista' de Trinidad (escondida na selva colombiana) – influenciando ainda mais um júri já amedrontado e um juiz preconceituoso.

Os advogados de defesa nomeados pelo tribunal esqueceram-se de contestar as afirmações prejudiciais mais elementares feitas pela testemunha chave da acusação, um coronel do exército colombiano que se referiu a Trinidad como 'terrorista' apesar do fato óbvio de ele ainda não ter sido condenado. O juiz Hogan recusou-se a permitir que os jurados usassem os seus livros de notas que continham notas do julgamento do tribunal e recusou-lhes o acesso às transcrições, impedindo-os de avaliar racionalmente as provas.

A refutação de Trinidad da principal testemunha colombiana da acusação e a natureza ultrajante deste julgamento político fantoche foram evidentes desde o primeiro dia em que o júri relatou ao juiz. O júri declarou que estava profundamente dividido em relação a todas as acusações e pediu ao tribunal para anular o julgamento. Após 18 dias de fortes acusações, demagogia e retórica política inflamada, os jurados passaram mais de sete horas a deliberar antes de informarem que estavam num beco sem saída. Uma nota dos jurados para o juiz distrital Thomas Hogan afirmava: “Cremos que as nossas divergências baseadas numa profunda reflexão são irresolúveis”. O juiz Hogan rejeitou o pedido de Trinidad para um julgamento inválido e disse aos jurados para continuarem a deliberação, afirmando que só declararia o julgamento inválido se os jurados repetissem a sua declaração de beco sem saída pela segunda vez.


Conclusão

O 'julgamento político fantoche' de Simon Trinidad é um exemplo flagrante das ameaças às liberdades constitucionais, que nós e os cidadãos de todo o mundo enfrentamos perante o poder desenfreado do presidente americano de ultrapassar todos os direitos de estados soberanos e dos seus cidadãos, a lei internacional e as liberdades constitucionais.

É igualmente importante a realidade atual de detenções extra territoriais ilegais, de seqüestros e de procedimentos anómalos ao serviço de políticas imperiais sangrentas e de governantes clientes cujas ações têm devastado a sociedade colombiana. Mais de 2,5 milhões de colombianos, camponeses e moradores em favelas urbanas, foram desalojados pelo programa selvagem de contra-insurreição apelidado de 'Plano Colômbia'; o número de pessoas deslocadas está em segundo lugar, em primeiro está o Afeganistão. Os programas de contra-insurreição, intitulados variadamente 'Plano Colômbia', 'Plano Patriótico' e 'Segurança Democrática' são financiados e dirigidos pelos Estados Unidos e promovidos pelo seu cliente presidente Álvaro Uribe. A AFL-CIO americana documenta mais de 4000 sindicalistas assassinados entre 1986-2002; o governo colombiano só investigou 376 casos dos quais apenas cinco processos levaram à condenação do assassino. Segundo os grupos de direitos humanos colombianos, entre 2003-2006, os militares e paramilitares aliados de Uribe assassinaram mais uns mil sindicalistas. Durante os últimos cinco anos, foram mortos com total impunidade 30 mil camponeses, professores rurais e líderes de camponeses e de indígenas. A repressão do estado ('Segurança Democrática') foi dirigida para o enfraquecimento da resistência sindicalista ao Acordo de Livre Comércio EUA-Colômbia, e não para combater os exércitos guerrilheiros. Com mais de 68% da população colombiana a viver abaixo do limiar da pobreza de 2 dólares por dia e apreensões de terras pelos líderes paramilitares, barões do gado e oficiais militares, não é de estranhar que a resistência guerrilheira esteja a recrutar e a conter com êxito as campanhas militares patrocinadas pelo governo, sempre com um título triunfalista e todas elas acabando num profundo fracasso. Sem reformas políticas e sociais fundamentais e na falta de um modelo económico que integre os milhões de deslocados, aterrorizados e excluídos, não há estratega nem estratégia militar, por muito bem financiada e dirigida por Washington, que possa acabar com o conflito civil.

O primeiro passo para uma solução deste conflito de meio século é o reconhecimento de que a Colômbia está no meio de uma guerra civil, e não de uma 'guerra contra o terrorismo'. O segundo é libertar os protagonistas do processo da paz, Simon Trinidad e a sua camarada 'Sonia' como um movimento concreto para uma troca humanitária de prisioneiros e de estabelecimento de medidas de confiança que abram o caminho a negociações de paz a toda a escala.

Paradoxalmente, o fim do banho de sangue poderia começar em Washington, num tribunal federal, ou até mesmo no Congresso dos EUA com o reconhecimento de que os EUA são um partido armado na guerra civil da Colômbia, que os seus combatentes são prisioneiros de guerra e que a sua libertação final depende do reconhecimento dos limites do poder militar americano (e do seu cliente colombiano) e que a única opção realista é a negociação de um acordo diplomático.

James Petras, 2006


J.ROCC - COOKING INGREDIENTS - 2008
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Um país dominado, ou anteriormente dominado, que não modifica sua situação na divisão capitalista do trabalho internacional não faz senão reproduzir a sua situação desfavorável: quanto mais cresce a produção dos produtos que o seu “lugar” lhe atribui, mais participa do agravamento da sua situação desfavorável.


Charles Bettelheim, 1971






Estamos nos transformando na grande roça do mundo.

César Borges de Souza, vice-presidente da Caramuru Alimentos, a maior empresa de processamento de grãos do Brasil, revista Forbes, 2007




DOWNLOAD: JULIUS BROCKINGTON - SOPHISTICATED FUNK - 1972 - 256 Kbps
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MACEO AND ALL THE KING'S MEN - DOING THEIR OWN THING - 1976
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22 TORRENTS

Torrents da discografia completa (ou quase) de cada um dos nomes citados abaixo. Todos com boa quantidade de fontes e de gente baixando. Os torrents incluem, além de toda a discografia oficial, extras, vídeos, bootlegs, discos de remixes, tributos, coletâneas... vejam antes todos os arquivos e baixem apenas os discos que quiserem.







CAN














KRAFTWERK















MUTANTES











STEVIE WONDER
















MANDRILL



















SONIC YOUTH















HOUSE OF PAIN



















DJ CAM














DJ KRUSH













JIMI TENOR



















DJ SHADOW














Se fosse necessário caracterizar o estado atual das coisas, diríamos que é o de pós-orgia. A orgia é o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos os domínios. Liberação política, liberação sexual, liberação das forças produtivas, liberação das forças destrutivas, liberação da mulher, liberação da criança, das pulsações inconscientes, liberação da arte. Assunção de todos os modelos de representação e de todos os modelos de anti-representação. Total orgia de real, de racional, de sexual, de crítica e de anticrítica, de crescimento e de crise de crescimento. Atualmente tudo está liberado, a sorte está lançada e estamos diante da questão crucial: Que fazer depois da orgia?

Jean Baudrillard









  • Na era vitoriana, as calças não podiam ser mencionadas na presença de uma senhorita.
  • Hoje não fica bem dizer certas coisas na presença da opinião pública. O capitalismo ostenta o nome artístico de economia de mercado, o imperialismo chama-se globalização.
  • As vítimas do imperialismo chamam-se países em vias de desenvolvimento, o que é como chamar os anões de crianças.
  • O oportunismo chama-se pragmatismo, a traição chama-se realismo.
  • Os pobres chamam-se carentes ou pessoas de escassos recursos.
  • A expulsão das crianças pobres do sistema educativo é conhecida sob o nome de deserção escolar.
  • O direito do patrão de despedir o operário sem indenização nem explicação chama-se flexibilização do mercado de trabalho.
  • A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria.
  • Ao invés de ditadura militar, diz-se processo.
  • Quadro de Fernando Botero. As torturas chamam-se pressões ilegais, ou também pressões físicas e psicológicas.
  • Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões e sim cleptomaníacos.
  • O saqueio dos fundos públicos pelos políticos corruptos responde pelo nome de enriquecimento ilícito.
  • Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos automóveis.
  • Para dizer cegos, diz-se deficientes visuais, um negro é um homem de cor.
  • Onde se diz longa e penosa enfermidade deve-se ler câncro ou AIDS.
  • Doença repentina significa enfarte, nunca se diz morte e sim desaparecimento físico.
  • Tão pouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares.
  • Os mortos em batalha são baixas, e as de civis que a acompanham são danos colaterais.
  • Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: "Não me agrada a palavra bomba, não são bombas. São artefactos que explodem".
  • Chamam-se "Conviver" alguns dos bandos que assassinam pessoas na Colômbia, sob proteção militar.
  • Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade a maior prisão da ditadura uruguaia.
  • Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, metralhou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, no momento em que rezavam numa igreja da aldeia de Acteal, em Chiapas.

Eduardo Galeano



DOWNLOAD: ZAPP - 1980
http://www.4shared.com/file/26395785/71a938dd/_1980__Zapp_-_Zapp.htm







Brutalidade & violência na ação do estado brasileiro contra nativos durante desocupação de terras em Manaus dia 11 de março de 2008. Um massacre que dura mais de 500 anos e só terminará quando os nativos forem extintos. Confrontar a ação nociva do estado sobre a natureza de todo o país (e em especial da Amazônia) e a forma harmoniosa com a qual viveram os nativos ao longo de milênios nos deixa uma noção muito clara de quem deveria ter alguma legitimidade na exploração e administração dos recursos naturais.

Vemos de um lado uma horda de dezenas de brutamontes armados agindo a mando de um representante do elitista e muitas vezes corruptível poder judiciário (neste caso agindo em favor do latifundiário), empregando violência excessiva e investindo brutalmente contra mulheres e crianças. Do outro lado temos grupos de miseráveis violados em quase todos os seus direitos, muitas vezes manipulados por interesses políticos que desconhecem, tentando lutar por alguma dignidade.








1.
A biotecnologia apresenta mais um apavorante cenário supernatural. No entanto, comida Frankenstein e bebês de seis dedos por pé (ou qualquer possível fracasso da manipulação genética) me assustam muito menos do que seus atuais êxitos. Em um mundo no qual toda decisão feita pela ciência é (pré-)determinada por interesses monetários, tem-se um mundo no qual a ciência e a humanidade não têm sequer um interesse em comum. Quem, exatamente, será "beneficiado" com o iminente fim da reprodução humana tal como a conhecemos? Quais 3% do mundo vão se parecer com estrelas de cinema/TV (que já se parecem com mutantes) – e quais 97% se assemelharão a graduados fracassados da Escola do Terror de Chernobyl?

E por que os americanos parecem se importar tanto com a propriedade de cada pedaço de música gravada (gravações que nada mais são do que tumbas digitais de performances uma vez vivas) e tão pouco com a propriedade do "copyright intelectual" do DNA do, digamos, arroz? A bioengenharia aliada ao Capital Puro já remodelou nossa realidade viva; as "aplicações assassinas" e "genes terminais" são meros detalhes. Este é o futuro; estamos vivendo nele agora. E nenhum escritor de ficção científica o previu.


2. Nada está acontecendo. O que você vê acontecendo é o que está efetivamente acontecendo – isto é, nada. Nenhuma conspiração, nenhuma profundidade, nenhuma ilusão. Não há nada escondido, nenhum dado deixa de ser processado. Toda a informação, todo o tempo; superfície infinita e profundidade micrônica. Toda a luz, nenhuma sombra.

O intermediário para esse êxtase de informação é, claro, a mídia. Unificada em escala global pela primeira vez desde que a escrita foi inventada, toda a mídia – TV, rádio, cinema, internet, educação, música – propaga a mesmice, a mesma avidez histérica por um ainda menos sedutor fetichismo, a mesma tela fina sobre um abismo de tédio. E o tédio em si é a débil cortina que mal contém nosso terror, nossa raiva, nossa vergonha. Fatias mais e mais finas.


3. O Primeiro Mundo e o Segundo Mundo fracassaram; o Capitalismo morreu no mesmo momento que o Comunismo. Apenas o Capital Puro sobrevive. Não há Terceiro Mundo e não há Terceira Via. De um lado, a humanidade; do outro, o dinheiro. Não se trata mais apenas de uma questão de mera tática. Conceitualmente isso é confrontação, estratégia, guerra.

Mas como se trava uma guerra contra entidades desencarnadas? Magia negra malasiana? Exorcismo? Provavelmente em vão. Poderia existir alguma forma de batalha passível de ser travada no plano invisível? Uma resposta em forma de guerrilha à Guerra Pura do Puro Capital? Uma estratégia, sim – mas qual?


4. Eu gostaria de fazer um apelo à teoria, o que de modo algum implica ideologia. "Theoria" originalmente significa "visão" e inclui tanto vista como "experiência visionária". Desde a decadência da pós-desconstrução, do pós-modernismo e do pós-tudo o mais, a teoria caiu em maus lençóis. A teoria requer agora loucura psicotrópica e espontaneidade. A teoria precisa, sobretudo, clarear a questão do Capital, e este é um trabalho de negação.

Enquanto isso, como encerramento, uma saudação ao fazendeiro francês José Bové. Ele fez mais pela causa ao dirigir seu trator Mc Donald’s adentro do que todas as webpages e todas as ONGs juntas.

Hakim Bey



DOWNLOAD: YUSEF LATEEF - THE DOCTOR IS IN... AND OUT - 1972 - VBR
http://www.divshare.com/download/2942488-5bc



A POESIA

feliz por viajar e ver o mundo em câmera lenta,
apenas para tocar as notas mínimas que flutuam.
mundo girando (órbita) mais rápido que um 9/8 de Dave Brubeck, nós
estamos agora buscando de forma frenética as aldeias de arco-íris
de Thomas More.
de repente sobre Charlie Mingus e Ahmed Abdul-Malik para adicionar o baixo a uma cova sem fundo de insegurança, você
pode ser de plástico porque
nunca medita sobre o fundo do copo,
o terceiro lado do seu universo.
Continue adicionando
Alice Coltrane e suas cordas cósmicas, ainda sem vocal nos horizontes negros-azuis/sua plasticidade é testada por um ataque sem forma: THE SUN pode responder as perguntas
no ritmo do silêncio sacrificial/mas por que a nossa nova era do jazz não nos daria mais enigmas em expansão?
(Entra John) atingido por baixo sempre e nunca para que a manhã (SUN) possa gritar com saxofones que entortam o cérebro.
O terceiro mundo chega com Yusef Lateef e Pharoah Sanders com oboés esforçando-se pra tocar o âmago de sua alma desconhecida. Ravi Shankarr vem
com as cordas presas/preparadas para estabilizar
o seu sétimo sentido (Ritmo Negro!)
subindo e descendo uma escada estúpida passam as notas sem
as palavras. Palavras são importantes para a mente/as notas o são para a alma.
Miles Davis? E DAÍ?
Cannonball/Violinista/Compaixão
Dexter Gordon/UM degrau ACIMA
Donald Byrd/Cristo
mas e quanto às palavras?
você quer sobreviver na tristeza/peça a ajuda de
Ella e José Feliciano/
faça um passeio com
Smoky/Bill Medley/Bobby Taylor/
Ottis/soul music onde as frustrações são
levadas pelos tambores - Venham, Nina e Miriam -
congo/mongo me fazem perder o sentido
bongo/tonto - correm por mundos de sonho de
STP e LSD. SpEeD e algumas/vezes o chamado da música aos Negros é confuso. nossa velocidade é o nosso ritmo de vida/não é seguro/não é bom.
eu imploro que você escape
e viva
e ouça tudo o que é real. para sobreviver em um
segundo sincero do próprio eu
até que um chamado chegue até você para tentar em outro lugar.
Nós
todos temos que chorar, mas as lágrimas têm que ser brancas?

Gil Scott-Heron



BILL WITHERS - STILL BILL - 1972








Não me preocupo muito com o governo, e quero dedicar a ele o menor número possível de reflexões. Mesmo no mundo tal como é agora, não passo muitos momentos sujeito a um governo. Se um homem é livre de pensamento, livre para fantasiar, livre de imaginação, de modo que aquilo que nunca é lhe parece ser na maior parte do tempo, governantes ou reformadores insensatos não são capazes de lhe criar impedimentos fatais.

Henry David Thoreau








LONNIE SMITH - THINK! - 1968
http://www.mediafire.com/?ohy77mqajsbrxxc

O DIREITO DE IGNORAR O ESTADO

























Se todo homem tem a liberdade de fazer o que desejar, desde que não infrinja a igual liberdade de qualquer outro homem, então ele é livre para abandonar ligações com o estado — para recusar sua proteção e para se negar a custear seu suporte. É evidente que, ao agir dessa forma, ele de forma alguma agride a liberdade dos outros, pois sua posição é passiva, e, enquanto passivo, ele não pode se tornar um agressor. É igualmente evidente que ele não pode ser compelido a continuar a fazer parte de uma corporação política sem uma transgressão da lei moral, vendo que a cidadania envolve o pagamento de impostos; e tirar a propriedade de um homem contra sua vontade é uma violação de seus direitos.

Além disso, de fato, nós não vimos que o governo é essencialmente imoral? Não é ele o descendente do mal, trazendo todas as marcas de sua origem? Ele não existe porque o crime existe? Ele não é forte — ou, como dizemos, despótico — quando o crime é grande? Não há mais liberdade — isto é, menos governo — quando o crime diminui? E não deve o governo cessar quando cessa o crime, pela própria falta de objetos sobre os quais executar sua função? O poder autoritário não existe apenas por causa do mal, mas através do mal. A violência é empregada para mantê-lo, e toda violência envolve criminalidade. Soldados, policiais e carcereiros; espadas, cassetetes e correntes são instrumentos para infligir dor; e toda inflição de dor é, em abstrato, errada. O estado emprega armas más para subjugar o mal e é igualmente contaminado pelos objetos com o qual lida e pelos meios com o qual trabalha.

Herbert Spencer
Leia aqui o ensaio na íntegra



DOWNLOAD: ARRESTED DEVELOPMENT -
3 YEARS, 5 MONTHS AND 2 DAYS INTHE LIFE OF... - 1992 - 320 Kbps
http://rapidshare.com/files/150324855/3_Years_5_Months_And_2_Days_In_The_Life_Of.rar



Na Pérsia eu vi que a poesia é feita para ser musicada & cantada – por uma razão simples – porque funciona.

Uma combinação perfeita de imagem & melodia coloca o público num hal (algo entre um estado de espírito emocional/estético & um transe de supraconsciência), explosões de choro, impulsos de dança – uma mensurável resposta física à arte. Para nós, a ligação entre poesia & corpo morreu junto com a época dos bardos – lemos sob influência de um gás anestesiante cartesiano.

No Oriente, às vezes os poetas são presos – uma espécie de elogio, já que sugere que o autor fez algo tão real quanto um roubo, em estupro ou uma revolução. Aqui, os poetas podem publicar qualquer coisa que quiserem – o que em si mesmo é uma espécie de punição, uma prisão sem paredes, sem eco, sem existência palpável – reino de sombras do mundo impresso, ou do pensamento abstrato – um mundo sem risco ou erros.

Se os legisladores se recusam a considerar poemas como crimes, então alguém precisa cometer os crimes que funcionem como poesia, ou textos que possuam a ressonância do terrorismo. Reconectar a poesia ao corpo a qualquer preço. Não crimes contra o corpo, mas contra Idéias (& Idéias-dentro-das-coisas) que sejam letais & asfixiantes. Não libertinagem estúpida, mas crimes exemplares, estéticos, crimes por amor.

Hakim Bey



FANGA - AFROKALIPTYK - 2003