CÂNTICO NEGRO



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio



KING FLOYD - HEART OF THE MATTER - 1971






É melhor para o homem não receber educação alguma do que recebê-la de seus governantes, pois esta espécie de educação nada mais é do que sujeição à canga, a mera disciplina do cão perdigueiro que através de rigorosa severidade aprende a sufocar o mais forte instinto de sua natureza e, em vez de devorar sua presa, a leva docilmente aos pés de seu dono.

Thomas Hodgins, 1823




ROY BUDD - VIGILANTE! - 1971~1977
http://rapidshare.com/files/147610626/roy_budd_-_vigilante___cult_osts_1971-1977___discotheque_2004_.rar.html



O mundo do trabalho é o mundo do horror do capital circulando

o horror nunca para de trabalhar
o horror está sempre trabalhando

quanto menos o indivíduo se propor a fazer alguma coisa
menor é a possibilidade de
o capitalismo se perpetuar

nunca trabalhei na vida
jamais tive a carteira assinada
foda-se o ministério do trabalho
foda-se o síndico e o sindicato

proletário é come-bosta come-merda
come-lixo come-estrume come-pedra
come-areia come-cascalho come-fezes

eu me recuso sistematicamente
a procurar emprego
sou rico
tenho seis centavos

zé da lua



ISMAEL SILVA - SE VOCÊ JURAR - 1973
http://www.mediafire.com/?6lnmcanwowcmyaw


A SABOTAGEM ARTÍSTICA esforça-se para ser perfeitamente exemplar mas ao mesmo tempo retém um elemento de opacidade - não propaganda, mas choque estético - pavorosamente direta ainda que sutilmente direcionada - ação-como-metáfora.

Sabotagem Artística é o lado escuro do Terrorismo Poético - criação-através-da-destruição - mas não pode servir a nenhum Partido, a nenhum niilismo, nem mesmo à própria arte. Da mesma forma que o banimento da ilusão faz com que a percepção se acentue, a demolição da praga estética adocica o ar do mundo do discurso, do Outro. A Sabotagem Artística serve apenas à consciência, à atenção, ao despertar.

A Sabotagem Artística vai além da paranóia, além da desconstrução - a crítica definitiva - ataque físico em arte ofensiva - jihad estético. A mais leve mancha de trivial ego-icidade ou mesmo de gosto pessoal arruina sua pureza & vicia sua força. A Sabotagem Artística não pode nunca buscar o poder - apenas liberá-lo.

Trabalhos artísticos individuais (mesmo os piores) são, em sua maioria, irrelevantes - A Sabotagem Artística procura danificar instituições que usam a arte para diminuir a consciência & lucram com embustes. Este ou aquele poeta ou pintor não pode ser condenado por falta de visão - mas as Idéias malignas podem ser atacadas através dos artefatos por elas geradas. A MUZAK é criada para hipnotizar & controlar - seu maquinário pode ser esmagado.

Queimar livros em público - por que caipiras & funcionários do governo devem ter o monopólio dessa arma? Romances sobre crianças possuídas por demônios; a lista de bestsellers do New York Times; tratados feministas sobre pornografia; livros escolares (especialmente Estudos Sociais, Moral e Cívica, Saúde); pilhas de New York Post, Village Voice & outros jornais de supermercado; compilações escolhidas de editores cristãos; alguns romances da Harlequin - uma atmosfera festiva, garrafas de vinho & baseados passados em círculo em uma clara noite de outono.

Jogar dinheiro fora na Bolsa de Valores foi Terrorismo Poético bastante razoável - mas destruir o dinheiro teria sido boa Sabotagem Artística. Atacar transmissões de TV & transmitir alguns poucos minutos pirateados de arte Caota incendiária seria um feito de Terrorismo Poético - mas simplesmente explodir a torre de transmissão seria uma Sabotagem Artística perfeitamente adequada. Se certas galerias & museus merecem um tijolo ocasional em suas janelas - não destruição, mas uma sacudidela na complacência - então o que dizer dos BANCOS? Galerias transformam a beleza em mercadoria, mas bancos transmutam a Imaginação em fezes e dívidas. Não ganharia o mundo um grau de beleza com cada banco que pudesse ser estremecido... ou derrubado? Mas como? A Sabotagem Artística deve provavelmente manter-se longe da política (é tão entediante) - mas não de bancos.

Não faça piquetes - vandalize. Não proteste - desfigure. Quando feiúra, concepções pobres & desperdícios estúpidos forem forçados sobre ti, torna-te Ludita, joga teu sapato nos trabalhos, retalia. Esmaga os símbolos do Império em nome de nada além do anseio do coração pela virtude.

Hakim Bey
em Caos



AZYMUTH - BUTTERFLY - 2008
http://www.mediafire.com/?4hnnnzzyynt

VIADUTOS












– Endereço do colega?
– Viaduto São Sebastião, pilastra n.º 4, lado esquerdo, na Presidente Vargas. Apareça por lá.
– Ótimo. Vou aparecer, mas agora não. Estou de mudança.
– Se não for indiscrição, pode-se saber para onde?
– Não sei ainda. Moro no viaduto de Japeri, aliás muito confortável, mas compreende, né? Um pouco longe. Procuro um na cidade.
– Já experimentou Botafogo?
– Fui eu que inaugurei. Era uma habitação deliciosa, aliás duas, com vista panorâmica, banho de mar em frente, etc. Mas sabe o que aconteceu: estragaram aquilo, botaram jardins, espelhos d’água...
– É. Estão sempre atrapalhando.
– Espelho d’água, vá lá, serve para a toalete. Mas o jardim...
– Jardim não é bom para secar a roupa?
– Em tese. Mas há sempre um guarda querendo defender as plantas, implicando com os moradores.
– Tem razão. Na vida, o essencial é paz.
– Também acho. Folgo em saber que estamos de acordo neste ponto fundamental. Mas, sabe? Os viadutos estão difíceis.
– É, ouço dizer. Mesmo havendo tantos por aí?
– Todos lotados. Dizem que onde cabem três cabe mais um. Eu discordo. Por essa teoria, onde cabem 20, 50, mil, cabe sempre mais um. E os viadutos tornam-se inabitáveis, ficam iguaizinhos aos edifícios, o que, francamente, caro colega, não é vantagem.
– Vejo que o amigo aprecia a solidão.
– Solidão a dois, a três, eu aprecio, quando os colegas sabem viver em comunidade. A gente não está nem sozinha nem com multidão. Equilibrado. Cada um cuida de si, e reina ordem no viaduto. O que eu não suporto é viaduto desorganizado. Sou muito exigente neste particular.
– Estou vendo que lá em Japeri o senhor deve ser uma espécie de síndico.
– Que síndico? Quem falou em síndico? Nós três nos autogovernamos. Eu, que atendo por Quilo-e-Meio, seu criado (não cheguei a crescer muito, em todo caso não me chamam de Meio-Quilo), o Vai-por-Mim e a Marlene Garbo.
– Por que Marlene Garbo? Não é acumulação?
– Por que ela tem as pernas de Marlene Dietrich e o jeito da Greta Garbo. A combinação é genial, sabe? Tem vezes que a gente chama ela de Margá. Santa mulher. Já teve os tubos, viajou por aí, não guardou nem pinta de grã-finagem.
– E o Vai-por-Mim?
– Não tenho queixa dele. Só que anda com mania de jogar na Bolsa, nosso viaduto está cheio de balancetes, prospectos, gráficos. Tenho medo que ele fique rico, daí a pouco começa a botar banca.
– Dê uns conselhos ao Vai-por-Mim.
– Dei. Ele sonha em descobrir jazida de tório em Japeri, para fundar o Banco Nacional de Habitação em Viadutos, Pontes e Congêneres. Não deu sorte na Loteca, hoje diz que o plá é investir. Eu preveni a ele: Ficando rico, a primeira coisa que vai fazer é cobrar aluguel nos viadutos.
– Os viadutos são do Estado.
– E daí? Até o Estado perceber, ele já dobrou a fortuna. O colega desculpe, mas isso é safanagem.
– Diga ao Vai-por-Mim que apareça aqui no São Sebastião, para batermos um papo.
– Vai tirar essas minhocas da cabeça dele?
– Não sei... A idéia me parece aproveitável. A socialização dos viadutos, uma cadeia nacional de Hilton dos homens e mulheres independentes...Viadutos bem funcionais, o abrigo ao alcance de todos... Um problema social que se resolve...
– Sem essa! Eu a querer salvar o Vai-por-Mim, e o colega pensando em tirar partido da loucura dele! Acabando com a paz, a relativa paz que ainda se goza nos viadutos! Não conte comigo e passe muito mal, traidor!

Carlos Drummond de Andrade


N.W.A - STRAIGHT OUTTA COMPTON - 1988
http://www.mediafire.com/?l0y716bx2bs1qv3




Os tristes anos de guerra que passamos (e terão eles passado?) geraram, entre outros males, o da desconfiança, - que separa os homens. Negros tempos, em que o inimigo pode estar em toda parte; não se olha: espreita-se; não se fala; sussurra-se; não se vai direto a nenhum assunto, como um coração em liberdade: rodeia-se. Rodeia-se e encontra-se o Curvo de Ibsen. “Nem morto nem vivo. Nevoeiro. Lama. Sem forma... o Curvo não ataca. Triunfa sem lutar.” A imagem da hipocrisia postou-se nos mais belos caminhos. Oh, o cansaço imenso da guerra não está somente nos ombros dos soldados que batalharam: está em todos que queriam viver sinceramente; está nos que não puderam fazer nada, que foram detidos e paralisados, transferidos para um dia que talvez não alcancem – e, de qualquer modo, postos fora de ação, pelas circunstâncias condenados à inércia no justo momento de construir, momento que nem sempre volta, e quando volta já não é o mesmo.

O fim da guerra, com seus desenlaces pavorosos, abriu uma válvula aos compromissos e desesperos do mundo; e assistimos a espetáculos de brutalidade que quase excedem os da própria guerra. Por ele vemos já não a atrocidade dos combates, nem os recursos demoníacos alcançados pelo homem em atacar ou defender-se – mas a perversão a que esses anos conduziram, o estado de deformação que a criatura humana atingiu, depois de tantos exercícios macabros; a facilidade com que se resvala até a mais negra baixeza, até o súbito esquecimento de toda a aprendizagem conquistada em longos séculos pelo animal humano.

Há uma alucinação coletiva, um desequilíbrio total, explicáveis por esses anos de turbulência, de ameaça constante dirigida contra os nervos, com a sábia perversidade dos que conhecem bem o seu alvo. E depois desse arrasamento brutal da terra, não ficaram apenas campos e cidades destruídos, cadáveres e famintos: ficou uma turba transtornada, pelo que viu, pelo que sofreu e até pelo que esperou sem ter acontecido.

Isso parece um pesadelo, mas não foi um pesadelo; parece uma história para aterrorizar, mas foi uma história vivida. Não é possível que a deseje repetir. E isso não impede que a repitam, porque não é só pelo platônico desejo de bem-estar e felicidade que se constrói nem um nem outro.

Os homens nem sempre têm os mesmos recursos, nem sempre falam a mesma linguagem, mas os seus objetivos são singularmente parecidos. Devíamos compreender nos outros o que compreendemos em nós. Mas de tanto pensarmos em nós, esquecemos freqüentemente os outros.

Se aplicássemos o que resta de simpatia, de caridade, de altruísmo, pensando um pouco além dos nossos próprios limites, desejando verdadeiramente contribuir para melhorar o mundo, encontraríamos algum caminho, porque todos nós, sob pena de sermos verdadeiramente imprestáveis, sempre somos capazes de realizar aqui ou ali alguma coisa de utilidade geral.

A paz humana, como a felicidade de cada um, não é uma vantagem repentina, que se conquista de assalto e se mantém para sempre: é um vagaroso dever, cultivado com clarividência. Ganha-se a paz do mundo com a paz de cada indivíduo assegurada. Não adianta destruir uma fábrica de munições deixando na Terra um coração inquieto e feroz: as armas não nascem por si, elas representam materialmente o desejo e o sonho dos homens. Mas ainda há muita loucura nos ares. E não a querem ver. E dentro dela não se pode trabalhar nem pensar!

Cecília Meireles


DJ ANDY SMITH - DIGGIN' IN THE BGP VAULTS - 2008
http://rapidshare.com/files/146307128/Diggin_In_The_BGP.rar


Aprendei em nós o entusiasmo
Ensinai-nos o espanto da descoberta,
Não deis apenas as vossas respostas
Sonhai com as nossas questões
E sobretudo acolhei as nossas interrogações.
Chamai-nos a respeitar a vida,
A trocar, partilhar e dialogar.
Ensinai-nos as possibilidades de pôr em comum
Não nos dêem só o vosso saber.
Nunca esqueceis a nossa fome de ser
Aceitai as nossas contradições e hesitações.
Deixai-nos crescer
Aprendei o que há de melhor em nós
Ensinai-nos a olhar, a explorar, a tocar o indizível
Não nos dêem só o vosso saber
Despertai em nós o gosto do envolvimento activo
Aceitai a nossa criativadade para construir o futuro
Peçam-nos para enriquecer a vida
Aprendei a reencontrar o mundo
Ensinai-nos a compreender o mundo para lá das aparências
Não nos tragam somente a coerência e pedaços de verdades
Mas despertai em nós gozo da procura de sentidos
Aceitai as nossas errâncias e inabilidades
Chamai-nos para entrar numa vida mais ardente

Há uma vital urgência em tudo isso

Jacques Salomé







Eu não sei que mania se meteu na nossa cabeça moderna de que todas as dificuldades da sociedade se podem obviar mediante a promulgação de um regulamento executado mais ou menos pela coação autoritária de representantes do governo.

Querem fazer das nossas vidas, dos indivíduos, das almas, uma gaveta de fichas. Cada um tem que ter a sua e, para obtê-la, pagar emolumentos, vencer a ronha burocrática, lidar com funcionários arrogantes e invisíveis, como em geral são os da polícia.

Eis aí as belezas da regulamentação, desse exagero de legislar, que é o característico da nossa época. Toda a gente sabe a que doloroso resultado tem chegado semelhante mania.

Não estejamos aqui a sobrecarregar a vida dos desgraçados com exigências e regulamentos que os condenarão toda a sua vida à sua lamentável desgraça.

Lima Barreto, 1915



RARE AFRO & CARIBBEAN FUNK - 2007
http://www.unibytes.com/2eeEnZU9w60B










THE DISPOSABLE HEROES OF HIPHOPRISY -
HIPOCRISY IS THE GREATEST LUXURY - 1992

http://rapidshare.com/files/265543698/Hypocrisy_Is_The_Greatest_Luxury.rar




Todos os dias acontecem no mundo coisas que não são explicáveis pelas leis que conhecemos das coisas. Todos os dias, faladas nos momentos, esquecem, e o mesmo mistério que as trouxe as leva, convertendo-se o segredo em esquecimento. Tal é a lei do que tem que ser esquecido porque não pode ser explicado. À luz do sol continua regular o mundo visível. O alheio espreita-nos da sombra.

Fernando Pessoa




SONIC YOUTH RECORDINGS

SYR 1 - SYR 2 - SYR 3

SYR 4 - SYR 5 - SYR 6

SYR 7 - SYR 8 - SYR 9







BAD BRAINS - I & I SURVIVED (DUB) - 2002
http://depositfiles.com/files/cfy2sn0au






A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade



GINGER BAKER - STRATAVARIOUS - 1972
http://rapidshare.com/files/175086409/ginger_baker__with_fela___blo__-_stratavarious__1972_.zip




REPÚBLICA DE FIUME - 2 ANOS

ESPORTE MATA



A aptidão atlética encurta a vida porque ela se liga ao excesso e todo excesso é causa de envelhecimento.

Essa afirmação é outra maneira de dizer que esporte mata. No tempo em que o método de Cooper estava no auge, todo mundo corria todos os dias no calçadão de Copacabana e nas praças de quase todas as cidades. De vez em quando, um caía estatelado e era levado para o cemitério.

Esse tipo de morte se dá do seguinte modo: como o indivíduo não é longevo, isto é, como em seu organismo predomina o hormônio da supra-renal denominado glicocorticóide, cuja atividade é impedir a ação da insulina, que procura “limpar” o sangue, enviando para os tecidos o excesso de muitas substâncias, como a glicose, o ácido úrico, o colesterol, o LDL (colesterol “ruim”) etc. Nessas condições, todas essas substâncias tendem a aumentar no sangue. O aumento de LDL determina o aparecimento de placas de ateroma nas artérias e o espessamento delas, diminuindo o calibre desses vasos e, conseqüentemente, a nutrição do próprio coração, que finalmente se obstrui e constitui o infarto. Havendo na maioria das pessoas a predominância do glicocorticóide, é natural a freqüência do aparecimento do infarto. A prática de exercícios aeróbicos, como a corrida, a natação etc., irá antecipar muito esse desfecho, daí a razão de ser permitido dizer que esporte mata. A antecipação da morte está ligada ao esporte estressante. Ora, se ele é dessa natureza, aumenta a produção dos dois hormônios do estresse: a adrenalina e o glicocorticóide. Portanto, se há aumento de produção de glicocorticóide, é de se esperar que aumente também o LDL no sangue e, conseqüentemente, haja maior espessamento das placas de ateroma. Há muitos anos pedi a alguns jovens do Minas Tênis Clube que dessem alguns “tiros” na piscina para eu medir a pressão arterial deles antes e depois desse pequeno exercício. Notei que a pressão de alguns estava em 9/12, isto é, era uma pressão convergente, indicando que a capacidade do coração deles era aquém do normal. Esses jovens, praticando esporte, estariam sujeitos a ter o que se chama de colapso, isto é, predispostos a ter uma parada cardíaca e morrer repentinamente. Aqui não entra aumento de LDL no sangue, formação de placa de ateroma e infarto. O mecanismo é diferente, mas esporte mata.

Esporte só não mata longevo, mas a maioria das pessoas está sujeita a ser faturada por ele, principalmente nessa época de muita agitação em que vivemos. Atualmente há mais estresse do que há cinqüenta anos, isto é, a produção de glicocorticóide está muito aumentada na maioria das pessoas.

Muito cuidado, esporte mata! Indivíduo muito musculoso geralmente tem mais força física. Mas não vá pensar que ele é também mais sadio e possa viver mais do que você. Isso não acontecerá nunca. Pelo contrário, ele tem menos saúde e viverá menos do que o indivíduo normal. A razão disso está na sobrecarga do coração do atleta para alimentar também todo o excesso de tecido que foi criado. Ele foi feito para ter músculos de dimensões normais. A natureza jamais os faria hipertrofiado. Não faria porque, se os fizesse assim, estaria contrariando a si mesma, isto é, a perpetuação da espécie, pelo que ela sempre lutou.

José Róiz

DOWNLOAD: MONEY MARK - CHANGE IS COMING - 2001
http://www.mediafire.com/?ac5xz6shk8v62cw





DEL THA FUNKEE HOMOSAPIEN
I WISH MY BROTHER GEORGE WAS HERE - 1991
http://www.fileserve.com/file/NnVv8sJ

OWNED

No dia 06 de setembro de 2008 um grupo de cerca de 30 pixadores invadiu a galeria Choque Cultural, localizada no bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo. A Choque Cultural é uma galeria descolada que transforma arte de rua em mercadoria. Num manifesto os pixadores dizem que "se a ideologia da galeria é abrigar artistas underground, então é tudo nosso". A pixação une toda a cidade de São Paulo, não há uma só rua sem a marca de um pixador.

Todo o nosso respeito aos pixadores.













SOBRE A TELEVISÃO



Penso, com efeito, que a televisão faz correr um perigo muito grande às diferentes esferas da produção cultural, da arte, da literatura, da ciência, da filosofia, do direito, e faz correr um não menor risco à vida política e à democracia.

O acesso à televisão tem por contrapartida uma censura formidável, uma perda de autonomia ligada, entre outras coisas, ao fato de o tema ser imposto, de as condições de comunicação serem impostas. Pode dizer-se que é a coação econômica que pesa sobre a televisão. É importante sabermos que a NBC é propriedade da General Electric, que a CBS é propriedade da Westinghouse, que a ABC é propriedade da Disney, que a TF1 é propriedade da Bouygues…

A televisão é um formidável instrumento de conservação da ordem simbólica. Quanto melhor compreendemos como funciona melhor compreendemos também que as pessoas que nele participam são tão manipuladas como manipuladoras. Muitas vezes, os que manipulam fazem-no tanto melhor quanto mais manipulados são e quanto mais inconscientes estão desse fato…

A televisão tem uma espécie de monopólio sobre a formação dos cérebros de uma parte muito importante da população.

E a televisão, que pretende ser um instrumento de registo, torna-se instrumento de criação de realidade. Encaminhamo-nos cada vez mais para universos em que o mundo social é descrito/prescrito pela televisão, em que esta se transforma no árbitro do acesso à existência social e política.

Pierre Bourdieu
em Sobre a Televisão


TORRENT: FALLIN' OFF THE REEL II - 2008

PM-SP




Libertários freqüentemente têm sonhado em escapar da tirania do estado; alguns quiseram fazê-lo buscando refúgio em terras distantes e desabitadas onde pudessem viver em isolamento ou em pequenas comunidades mantidas juntas pelo princípio da associação voluntária e do auxílio mútuo. No entanto os historiadores sabem que esses experimentos raramente sobrevivem em paz por muito tempo; cedo ou tarde o estado os encontra com sua violência instintiva e sua mania de coerção.

Como os povos explorados ao redor do mundo estão começando a perceber, o verdadeiro inimigo está entre eles mesmos — a violência coercitiva do estado — e precisa ser combatido constantemente no núcleo de seus domínios. Todos precisam lutar contra o estado: em casa, nos negócios, nas escolas, nas comunidades e no mundo. Nossa tarefa é resistir ao estado e desmantelá-lo por quaisquer meios que tenhamos em mãos.

Historicamente os estados não se desmantelam por vontade própria ou facilmente. Embora eles possam se desintegrar em impressionante velocidade, como na Rússia em 1917 ou na França em 1968, quase sempre novos estados surgem para tomar seus lugares. O motivo disso é que os homens não conseguem acreditar na viabilidade de uma sociedade com liberdade plena e qualidade de vida sem a violência coercitiva do estado. Os homens estiveram por tanto tempo escravizados pelo estado que não conseguem se livrar dessa mentalidade podre.

Joseph R. Pedens



DOWNLOAD: LONNIE SMITH - TURNING POINT - 1969 - 320 Kbps
http://rapidshare.com/files/121688595/Turning_Point.zip



A saúde do planeta definha enquanto a linguagem oficial oculta as responsabilidades ao proclamar: "Somos todos responsáveis".

Toda a humanidade paga pelas conseqüências da ruína da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento das águas, do enlouquecimento do clima e da destruição dos recursos naturais. Entretanto, as estatísticas revelam que apenas 25% da humanidade comete 75% dos crimes contra a natureza. E se compararmos o norte ao sul, cada habitante do norte consume 14 vezes mais papel e 13 vezes mais ferro e aço. Cada norte-americano lança para o ar, em média, 22 vezes mais poluentes que um indiano e 13 vezes mais que um brasileiro.

As empresas com mais sucesso são também as mais eficazes contra o nosso planeta. Os gigantes do petróleo, os aprendizes de feiticeiro da energia nuclear, a biotecnologia e as grandes empresas que fabricam armas, aço, alumínio, automóveis, pesticidas, plásticos e muitos outros produtos sabem bem derramar lágrimas de crocodilo pela natureza. No entanto, estas empresas são as que mais dinheiro ganham com a ruína do planeta. São também as que mais dinheiro gastam: na publicidade, que converte a contaminação em filantropia, e nas ajudas aos políticos que decidem sobre o futuro do mundo.

O economista Lawrence Summers, doutorado em Harvard e elevado às mais altas hierarquias do Banco Mundial, propunha, num documento para uso interno da instituição (que por descuido foi tornado público) a migração das indústrias sujas e dos desperdícios tóxicos para os países menos desenvolvidos. Elencavam-se 3 vantagens como justificativa: os salários raquíticos, os grandes espaços (ou seja, ainda muito por contaminar) e a precariedade da saúde das populações pobres, que têm o hábito de morrer precocemente por outras causas. A divulgação deste documento provocou algum alarido: estas coisas fazem-se, mas não se dizem. Mas Summers, afinal, tinha apenas cometido a imprudência de expressar no papel aquilo que o mundo já há muito tempo vinha fazendo: transformar o sul numa lixeira do norte.

O que está mal no norte, está bem no sul; o que no norte está proibido, é bem-vindo no sul.
Pelo sul estende-se o reino da impunidade.

Eduardo Galeano


DOWNLOAD: THE HAGGIS HORNS - HOT DAMN! - 2007
http://depositfiles.com/pt/files/d62wgy43b