OPIÁRIO

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.
(...)
Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.
(...)
Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,
(...)
Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.
(...)

Álvaro de Campos

Clique aqui e leia o poema completo.



DOWNLOAD: MORPHINE - THE NIGHT - 2000
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RAGE AGAINST THE MACHINE



O comboio movia-se vagarosamente. Os soldados viram
Harry sentado no banco do parque. Então tudo começou. Foi uma mistura de vaias, apupos e pragas. Eles gritavam com ele.

"EI SEU FILHO DA PUTA!"
"DESERTOR!"
À medida que o comboio passava, vinha o outro:
"TIRA ESSE RABO DESSE BANCO!"
"COVARDE!" "BICHA DESGRAÇADA!"
"BARRIGUDO MEDROSO!"
Foi um comboio grande e lento.
"VENHA SE JUNTAR A NOS!"

"NÓS VAMOS ENSINÁ-LO A LUTAR, SEU MONSTRO!"
Os rostos eram brancos, morenos e pretos,sementes de ódio.

Charles Bukowski



RAGE AGAINST THE MACHINE - 1992
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THE BATTLE OF LOS ANGELES - 1999
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Eu estou farto de muita coisa
não me transformarei em subúrbio
não serei uma válvula sonora
não serei paz
eu quero a destruiçáo de tudo que é frágil:
cristãos fábricas palácios
juízes patrões e operários
uma noite destruída cobre os dois sexos
minha alma sapateia feito louca
um tiro de máuser atravessa o tímpano de
duas centopéias
o universo é cuspido pelo cu sangrento
de um Deus-Cadela
as vísceras se comovem
eu preciso dissipar o encanto do meu velho
esqueleto
eu preciso esquecer que existo

mariposas perfuram o céu de cimento
eu me entrincheiro no arco-íris
Ah voltar de novo à janela
perder o olhar nos telhados como
se fossem o Universo
o girassol de Oscar Wilde entardece sobre os tetos
eu preciso partir um dia para muito longe
o mundo exterior tem pressa demais para mim
São Paulo e a Rússia não podem parar

quando eu ia ao colégio Deus tapava os ouvidos para mim?
a Morte olha-me da parede pelos olhos apodrecidos
de Modigliani
eu gostaria de incendiar os pentelhos de Modigliani
minha alma louca aponta para a Lua
vi os professores e seus cálculos discretos ocupando
o mundo do espírito
vi criancinhas vomitando nos radiadores
vi canetas dementes hortas tampas de privada
abro os olhos as nuvens tornam-se mais duras
trago o mundo na orelha como um brinco imenso
a loucura é um espelho na manhã de pássaros sem Fôlego

Roberto Piva



SEUN KUTI & EGYPT 80 - MANY THINGS - 2008
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COISAS DE GRAÇA


O anúncio dizia: “Amanhã você não vai pagar o seu cafezinho”.
Certamente era um café que se inaugurava, procurando cativar o público. Depois do famigerado
Petit Prince de Saint-Exupéry, cativar tornou-se palavra de consumo geral. Como o cafezinho.
Pois não era. A casa fechava-se e, a título de despedida sentimental, não cobraria o cafezinho que fora objeto do seu comércio durante 30 anos.
O freqüentador suspirou:
– Há 20 anos que tomo café nesta casa, e logo quando ela vai acabar é que institui o fornecimento gratuito.
Acrescentou:
– Não é pelo preço do cafezinho, que eu sempre paguei sem sacrifício, e continuaria a pagar, se a casa continuasse. É pela espécie de sonho acordado que isso me provoca, sonho que dura um momento, e se esfarela: as coisas de graça. Elas só ficam sendo de graça na hora em que deixam de ser coisas.
– Mas vem cá, você queria que tudo fosse de graça a vida inteira? – perguntou o amigo.
– Queria. Por que não? Se este cafezinho me é servido de graça neste instante, e, se eu voltar daqui a cinco minutos será servido outra vez de graça, e mais cinco minutos depois, e mais cinco e mais cinco... até eu ficar entupido de café e bradar: chega, não quero mais!, por que não posso pensar que uma sociedade bem organizada serviria tudo a todos, a troco de sorriso?
O outro ia retrucar com as leis da economia, as lições do Dr. Gudin, o bom senso, etc., mas o
rêveur éveillé não lhe deu folga:
– Saio daqui mal acostumado, vou ao Nino, janto uns camarões, retiro-me despreocupado, pois já não se pagam camarões no Brasil. Nisso corre o garçom ao meu encalço: “Doutor, o senhor se esqueceu da nota!” “Que nota”, respondo. “Eu sorri para você e para o restaurante, não é esse o pagamento?” Ele abana a cabeça desolado: “Continuamos cobrando em cruzeiros, doutor. E olhe que nos hotéis do Tjurs já se calcula em dólar.” Veja no que dá a ilusão do cafezinho grátis. No entanto, ao ler o anúncio, eu já estava inclinado a não cobrar de ninguém os meus serviços.
– E mudar-se para o hospício?
– Todos se mudariam para o hospício, isto é, não haveria hospício, pois ninguém mais ia enlouquecer por falta ou excesso de dinheiro. Você chama a isso de sociedade utópica, eu chamo simplesmente de sociedade, nome que anda falsificadíssimo.
Societas generis humani, para gastar o meu Cícero, que nem de graça cai mais no vestibular. Repare que não estou pedindo nada de graça no sentido comum, de alguém dar a outrem um par de sapatos para sentir-se superior e tirar diploma de generoso. O que eu proponho (proponho é modo de dizer, ninguém me escutaria se eu propusesse isso ao Ministério do Planejamento ou aos fabricantes de geléia) é dar de graça as coisas, retirando valor às coisas, e valorizando o ato de se desfazer delas. Todos passariam a oferecer serviços e bens, de que todos se utilizariam sem recorrer a financiamento, pé-de-meia, desfalque, insônia, úlcera duodenal, enfarte, assalto, homicídio, etc. O trabalho deixaria de ser motivo de injustiça, e a produção deixaria de ser causa de guerra. No começo, a gente faria cara feia, depois se acostumava com esse esporte de oferecer sem cobrar, já que a outra parte, de receber sem pagar, não causaria a menor dificuldade. Como isto não é possível agora, e suspeito que não o será nos anos que possivelmente ainda terei de vida, que é que vou fazer com este cafezinho grátis de última hora?
– Beber, uai.
– Solução de mineiro, está se vendo. Nada disso. Trouxe esta garrafinha e vou derramar nela o cafezinho, para guardar como lembrança. É o sinal de um mundo como poderia ser e não é. Pode beber o seu, que o meu ficará guardado no aparador lá de casa. Levei 30 anos para conquistar este troféu. O mundo não é de graça porque não quer. Ou por burrice.
Disse, derramou, e saiu, portando com unção a garrafinha de café gratuito.

Carlos Drummond de Andrade



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COMUNHÃO


Muito terá que ocultar a História, dama de véus rosados, beijadora dos que vencem. Bancará a distraída ou ficará doente de fingida amnésia; mentirá que foram mansos e resignados, talvez até felizes, os escravos negros do Brasil.

Mas os amos das plantações obrigam o cozinheiro a provar na frente deles cada prato. Venenos de lenta agonia escorregam entre as delícias da mesa. Os escravos matam; e também se matam ou fogem, que são maneiras de roubar ao amo a sua principal riqueza. Ou se revoltam acreditando, dançando, cantando, que é a maneira de se redimir e ressuscitar.

O cheiro das canas cortadas embebeda o ar das plantações e ardem fogos na terra e nos peitos: o fogo tempera as lâminas, repicam os tambores. Os tambores invocam os velhos deuses, que voam até essa terra de exílio, respondendo às vozes de seus filhos perdidos, e entram neles e fazem amor com eles arrancando-lhes música e uivos, devolvendo-lhes assim, intacta, a vida quebrada.

Na Nigéria ou no Daomé, os tambores pedem fecundidade para as mulheres e as terras. Aqui, não. Aqui, as mulheres geram escravos e as terras os aniquilam. Aqui, os deuses agrários cedem o passo aos deuses guerreiros. Os tambores não pedem fecundidade, pedem vingança; Ogum, o deus do ferro, afia punhais, e não enxadas.


RETÁBULO DA BAHIA

Dizem os que mandam na Bahia que negro não vai pro Céu, nem que seja rezador, porque tem o cabelo duro, espeta Nosso Senhor. Dizem que não dorme: ronca. Que não come: engole. Que não conversa: resmunga. Que não morre: acaba. Dizem que Deus fez o branco e pintou o mulato. O negro, dizem, o Diabo o cagou.

Toda festa de negros é tida como homenagem a Satanás, negro cruel, rabo, cascos, tridente, mas os que mandam sabem que, se os escravos se divertem de vez em quando, trabalham mais, vivem mais anos e têm mais filhos. Assim como a capoeira, ritual e mortal maneira de lutar corpo a corpo, faz de conta que é uma brincadeira vistosa, também o candomblé finge que é só dança e barulho. Nunca faltam, além disso, Virgens ou santos para disfarçar: não há quem proíba Ogum quando ele vira São Jorge, cavaleiro louro, e os astutos deuses negros encontram esconderijo até nas chagas de Cristo.

Na Semana Santa dos escravos, é um justiceiro negro quem faz explodir o traidor, o Judas branco, boneco pintado de cal; e quando os escravos mostram a Virgem na procissão, é o negro São Benedito quem está no centro de todas as homenagens. A Igreja não conhece esse santo. Segundo os escravos, São Benedito foi escravo como eles, cozinheiro de um convento, e os anjos mexiam as panelas enquanto ele rezava suas preces.

Santo Antônio é o preferido dos amos. Santo Antônio ostenta galões militares, recebe soldo e é especialista em vigiar negros. Quando um escravo escapa, o amo joga o santo no canto das escórias. Santo Antônio fica em penitência, de boca para baixo, até que os cães agarrem o fugitivo.


TUA OUTRA CABEÇA, TUA OUTRA MEMÓRIA

Do relógio de sol do convento de São Francisco, uma lúgubre inscrição recorda aos caminhantes como a vida é fugaz: Cada hora que passa te fere e a última te matará.

São palavras escritas em latim. Os escravos negros da Bahia não entendem latim nem sabem ler. Da África trouxeram deuses alegres e brigões: com eles estão, com eles se vão. Quem morre, entra. Soam os tambores para que o morto não se perca e chegue à região de Oxalá. Lá na casa do criador dos criadores, espera por ele sua outra cabeça, a cabeça imortal. Todos nós temos duas cabeças e duas memórias. Uma cabeça de barro, que será pó, e outra invulnerável para sempre às mordidas do tempo e da paixão. Uma memória que a morte mata, bússola que acaba com a viagem, e outra memória, a memória coletiva, que viverá enquanto viver a aventura humana no mundo.

Quando o ar do universo se agitou e respirou pela primeira vez, e nasceu o deus dos deuses, não havia separação entre a terra e o céu. Agora parecem divorciados; mas o céu e a terra voltam a se unir cada vez que alguém morre, cada vez que alguém nasce e cada vez que alguém recebe os deuses em seu corpo palpitante.

Eduardo Galeano, sobre a Bahia de 1763



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CONTRA A UNIVERSIDADE





Desde há bastante tempo tinha vontade de escrever algo sobre a Universidade, as universidades, essa poderosa instituição tão pouco conhecida no seu funcionamento interno. Das universidades saem os líderes políticos, os professores, os juristas, economistas, doutores...: praticamente todo o tecido de grupos e interesses que mantém a sociedade de classes.


Lealdade.
O objetivo principal da Universidade não é contribuir para a formação intelectual das pessoas nem fazer pesquisa para criar, promover e distribuir um "saber" supostamente neutro que ajudará ao "progresso". O "saber" é simplesmente o veículo simbólico que maneja a instituição. O objetivo da Universidade é contribuir para manter os pressupostos ideológicos do Estado, sustentar a sociedade de classes e libertar o aparelho militar de certas das suas funções. Por isso a universidade precisa dum tipo de lealdade (também militarista) camuflada sob os amuletos ideológicos da "pesquisa", a "tradição disciplinar", as "escolas de pensamento", a "missão da Ciência", etc. O que está em jogo é a formação de elites técnicas e intelectuais leais ao Estado, mas dum modo que ao mesmo tempo ofereça aos membros dessas elites a miragem internamente cômoda da "liberdade de expressão", "liberdade de cátedra" ou "liberdade de pesquisa".

Mediocridade. Mas para os membros destas elites, em conjunto, o que está em jogo no fundo não é a "qualidade" dessa pesquisa, nem as suas metas, interesse objetivo, transcendência universal ou "nacional", etc. O que está em jogo é, singelamente, um posto de trabalho melhor remunerado do que a média do país, uma série de recursos econômicos (bolsas de pesquisa que permitem realizar viagens profissionais, fundos para equipamento, grandes projetos), e uma série de recompensas simbólicas: reconhecimento público, visibilidade, pelo menos um minuto de TV dos 15 de que falava Warhol, prestígio social, ou essa auto-satisfação de "sermos escutados" nas aulas ou de "sentirmo-nos úteis" que apaga temporariamente a nossa mediocridade generalizada. O professor ou professora de universidade típico é um ser medíocre, sem imaginação, rotineiro, conservador (quando não patentemente reacionário), medroso das mudanças, inseguro - e por isso distante dos alunos e colegas de profissão -, zeloso da propriedade das "suas idéias", insolidário com os "inferiores", competitivo com os "iguais" e submisso aos "superiores". O objetivo final do professor típico é chegar "o mais alto" que puder consoante às suas capacidades e, sobretudo, consoante à rede de alianças pessoais e de grupo que possa ter criado em anos de manobras incertas. Grande parte da vida universitária perde-se então, não no "cultivo do pensamento" ou da técnica, mas em críticas pessoais, burocracia, traições e o estabelecimento das lealdades necessárias para progredir. Periodicamente, numa mímese dos parlamentos políticos, o corpo professoral e os manipulados estudantes votam democraticamente os seus Altos Cargos para que tudo fique igual.

Rivalidade. O longo processo para a reprodução da elite universitária começa já no primeiro ano de estudos. Como instituição gremial, é já nessa altura que os alunos mais adaptados começam a compreender os protocolos do jogo. Eles (e, menos, elas) são os que substituirão os seus mentores. É aí onde começam a perceber as injustiças das notas, as arbitrariedades do cômputo quantitativo do "saber" (um "saber" que deveria estar, por definição, sujeito ao seu derrubamento pela História), as teimas e graças dos professores, as suas inconfessadas preferências pessoais e os seus inconfessados aborrecimentos. Muitos alunos escolherão assim as matérias optativas em virtude das graças do professor ou professora ou da sua generosidade com as notas (muitas vezes falsa, demagógica). Como reprodução da estrutura familiar, cada aula fornece diariamente um Pai ou uma Mãe e muitos filhos e filhas dos quais sairão os favoritos: aqueles que conhecem já desde o início as leis, regulamentos, oportunidades de avanço profissional, esquemas de afiliação. Os poucos jovens clarividentes que querem escapar a esta tortura auto-imposta costumam acabar sem trabalho, ou com maus trabalhos, e perenemente frustrados da sua experiência. Ao final de quatro ou cinco anos repete-se o infortúnio massivo que, embora conhecido, precisa ser lembrado: milhares de jovens acabam transmudados em pequenas fotografias, uniformes e uniformizados, simetricamente dispostos e dispostas no Museu do Desemprego, com um sorriso forçado e um vazio ainda maior na cabeça.

Dominação. Onde fica o "saber", a circulação das "idéias", a altruísta exploração do pensamento? Fica na falsa superfície deste sistema injusto, opressor e mesmo doente. O saber fica como simples escusa da maquinaria da dominação. O motor e objetivo da Universidade é singelamente a distribuição grupal dos recursos materiais e simbólicos, a distribuição do poder. Como um engenho do movimento perpétuo, a Universidade reproduz a si própria para refinar o princípio patriarcal da obediência, base da moral e da estrutura capitalista de classes. E a cada poucos anos, como no Mundo Real, a Universidade recria-se, fagocita alguns dos seus próprios filhos e filhas, e vota, democraticamente, os seus próprios líderes, os seus próprios monstros.

Celso Álvarez Cáccamo


RACIONAIS MC'S - RAIO X DO BRASIL - 1993


Katmandu, 1973


Roubada dos Marron Nyamen




ALTON ELLIS - ARISE BLACK MAN - 1968~1978
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Tudo o que pode ser dito a respeito do sufrágio pode ser resumido em uma frase:

Votar significa abrir mão do próprio poder.

Eleger um senhor, ou muitos senhores, seja por longo ou curto prazo, significa entregar a uma outra pessoa a própria liberdade.

Chamado monarca absoluto, rei constitucional ou simplesmente primeiro ministro, o candidato que levamos ao trono, ao gabinete ou ao parlamento sempre será o nosso senhor. São pessoas que colocamos "acima" de todas as leis, já que são elas que as fazem, cabendo-lhes, nesta condição, a tarefa de verificar se estão sendo obedecidas.

Votar é uma idiotice.

É tão tolo quanto acreditar que homens comuns como nós sejam capazes, de uma hora para outra, num piscar de olhos, de adquirir todo o conhecimento e a compreensão a respeito de tudo. As pessoas que elegemos são obrigadas a legislar a respeito de tudo o que se passa na face da terra: como uma caixa de fósforos deve ou não ser feita, ou mesmo se o país deve ou não guerrear; como melhorar a agricultura, ou qual deve ser a melhor maneira para matar alguns árabes ou negros. É muito provável que se acredite que a inteligência destas pessoas cresça na mesma proporção em que aumenta a variedade dos assuntos com os quais elas são obrigadas a tratar.

Porém, a história e a experiência mostram-nos o contrário.

O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade.

Nas assembléias acaba sempre prevalecendo a vontade daqueles que estão, moral e intelectualmente, abaixo da média.

Votar significa formar traidores, fomentar o pior tipo de deslealdade.

Certamente os eleitores acreditam na honestidade dos candidatos e isto perdura enquanto durar o fervor e a paixão pela disputa.

Todo dia tem seu amanhã. Da mesma forma que as condições se modificam, o homem também se modifica. Hoje seu candidato se curva à sua presença; amanhã ele o esnoba. Aquele que vivia pedindo votos, transforma-se em seu senhor.

A atmosfera do governo não é de harmonia, mas de corrupção. Se um de nós for enviado para um lugar tão sujo, não será surpreendente regressarmos em condições deploráveis.

Por isso, não abandone sua liberdade.

Não vote!

Em vez de incumbir os outros pela defesa de seus próprios interesses, decida-se. Em vez de tentar escolher mentores que guiem suas ações futuras, seja seu próprio condutor. E faça isso agora! Homens convictos não esperam muito por uma oportunidade.

Colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelas suas ações é covardia.

Não vote!

Elisée Reclus


DOWNLOAD: MOLOKO - DO YOU LIKE MY TIGHT SWEATER? - 1997
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VOTE E CONFIRME


1) Aceito a competição como base do nosso sistema social e econômico, mesmo se tenho consciência que o seu funcionamento gera frustração e cólera por entre a esmagadora maioria dos perdedores;

2) Aceito ser humilhado ou explorado na condição de também eu humilhar e explorar quem quer que se encontre abaixo de mim na hierarquia social;

3) Aceito a exclusão social dos marginais, desadaptados e dos fracos em geral, uma vez que a integração social deve ter limites;

4) Aceito remunerar os bancos a fim destes investirem o meu salário conforme as suas conveniências, mesmo sem receber qualquer dividendo pelos seus gigantescos lucros. Aceito igualmente que os bancos me exijam uma comissão elevada para me emprestarem dinheiro que não é outro senão o dos seus clientes;

5) Aceito que permanentemente sejam congeladas e sejam lançadas fora toneladas de alimentos para que os preços não baixem, o que é preferível a dá-los às pessoas necessitadas, o que permitiria salvar algumas centenas de milhões de pessoas da fome;

6) Aceito que seja expressamente proibido pôr fim aos nossos dias, mas que seja perfeitamente tolerável que se vá morrendo aos poucos ao inalar-se ou ingerir-se substâncias tóxicas autorizadas pelos Estados;

7) Aceito que se faça a guerra para fazer reinar a paz. Aceito que em nome da paz a primeira despesa pública dos Estados seja para o orçamento do exército. Aceito igualmente que os conflitos sejam criados artificialmente a fim de garantir o escoamento dos estoques de armas e de fazer girar a economia mundial;

8) Aceito a hegemonia do petróleo sobre a nossa economia, muito embora se trate de uma economia de elevado custo e geradora de poluição, pelo que estou de acordo em travar (e mesmo impedir) qualquer substituição, mesmo se se vier a descobrir um qualquer meio gratuito e ilimitado de produzir energia, o que seria uma grande perda e prejuízo elevado para o nosso sistema econômico;

9) Aceito que se condene a morte do próximo, salvo se o Estado decretar que se trata de um inimigo, caso esse em que devemos então encorajar a que seja morto;

10) Aceito que se divida a opinião pública criando partidos de direita e partidos de esquerda, que passarão o seu tempo a combater-se entre si, dando a impressão de fazer avançar o sistema. Aceito, além disso, todas as divisões possíveis e imagináveis, visto que elas me permitirão canalizar a minha cólera para os tais inimigos citados, e cujo retrato será agitado perante os meus olhos;

11) Aceito que o poder de moldar e formatar a opinião pública, outrora entregue às religiões, esteja hoje nas mãos dos negociantes, não eleitos democraticamente e que são totalmente livres de controlar os Estados, já que estou plenamente convencido do bom uso que não deixarão de fazer daquele poder sobre a opinião pública;

12) Aceito a idéia que a felicidade se resume ao conforto, amor ao sexo, e à liberdade de satisfazer todos os desejos, pois é isso que a publicidade não se cansa de me transmitir. Quanto mais infeliz, mais eu hei de consumir, e ao desempenhar com competência este meu papel, estou contribuindo para o bom funcionamento da nossa economia;

13) Aceito que o valor de uma pessoa seja medido em função da sua conta bancária, assim como a sua utilidade social esteja dependente da sua produtividade, e não tanto das suas qualidades, pelo que será excluído do sistema quem não se mostre suficientemente produtivo;

14) Aceito que os industriais, os militares e os políticos se reúnam regularmente para tomar decisões, sem nos consultar, sobre o futuro da vida e do planeta;

15) Aceito que os políticos possam ter uma duvidosa honestidade e, por vezes, sejam corruptos, perante as fortes pressões de que eles são alvos, desde que para a maioria dos cidadãos a regra seja a tolerância zero;

16) Aceito que a procura do lucro seja o fim último da Humanidade, e que a acumulação das riquezas seja realização efetiva da vida humana;

17) Aceito a destruição das florestas, a quase destruição da fauna marítima dos rios e oceanos. Aceito o aumento da poluição industrial e a dispersão de venenos químicos e de elementos radioativos na natureza. Aceito a utilização de todas as espécies de aditivos químicos na minha alimentação, porque estou convencido que, se aí são introduzidos, é porque são úteis e desprovidos de risco;

18) Aceito a guerra econômica que se alastra pelo planeta, mesmo se sinto que ela nos conduz para uma catástrofe sem precedentes;

19) Aceito esta situação e admito que não posso fazer absolutamente nada para a mudar ou melhorar;

20) Aceito ser tratado como besta, pois feitas as contas, penso que não valho mais que isso;

21) Aceito não levantar qualquer questão, fechar os olhos a tudo isso e não me opor a nada, uma vez que estou demasiado ocupado com a minha vida e já tenho preocupações que me cheguem. Aceito mesmo defender até à morte este contrato se mo pedirem;

22) Aceito pois, consciente e voluntariamente, este meu triste destino contratual que me colocaram à frente dos olhos e que vou assinar, apesar de tal me impedir de ver a realidade das coisas.

ORAÇÃO

Capital nosso que estais neste mundo, Deus todo-poderoso, que altera o curso dos rios e fura as montanhas, que separa os continentes e une as nações, criador das mercadorias e fonte de vida, que comanda os reis e os súditos, os patrões e os assalariados, que vosso reino se estabeleça sobre toda a terra;

Dai-nos muitos compradores que adquiram nossas mercadorias, tanto as más como as boas;

Dai-nos trabalhadores miseráveis que aceitem sem revolta todos os trabalhos e contentem-se com o mais vil salário;

Dai-nos tolos que creiam em nossos anúncios;

Fazei com que nossos devedores paguem integralmente suas dívidas e que o banco desconte nossos papéis;

Fazei com que
Mazas* não se abra jamais para nós e afastai-nos da falência;

Concedei-nos rendimentos perpétuos.


Amém

Paul Lafargue
*Mazas: nome de uma prisão francesa no século XIX.



MF DOOM - SPECIAL HERBS


1 & 2 - 2002
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OBRIGADO A VOTAR



ser obrigado a votar (não é votar), obrigado a opinar (não é opinar), a fazer parte (é não fazer parte), obrigado a escolher (não é escolher), obrigado a compartilhar (não é compartilhar), obrigado a ir a uma urna (tumba da liberdade), obrigado a todo um conjunto ridículo e torturante do espetáculo dessa "democracia" ridícula, é não saber o que é democracia nem o que é viver em uma. todas as obrigações (votar, alistamento, alfabetização, fumo, prostituição) são sintomas explícitos de uma semi-ditadura (são a maneira inventada pelos brasileiros para exercerem uma ditadura sem parecer: todos os ditadores entre vocês são "presidentes da república"), de um fascismo de imaginário e comportamento, de pressão dos poderes contra as mais elementares liberdades conquistadas tão arduamente e com tanta ingenuidade e sangue.

Alberto Lins Caldas






PHARAOHS - AWAKENING - 1971
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Afirmamos que o plágio é o verdadeiro método artístico moderno. O plágio é o crime artístico contra a propriedade. É roubo, e na sociedade ocidental o roubo é um ato político.


Stewart Home









BLACK NASTY - TALKING TO THE PEOPLE - 1973
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EL CHICANO - VIVA! THEIR VERY BEST - 1976







Por que deveríamos estar tão desesperadamente apressados para ser bem-sucedidos e em empreendimentos tão desesperadores? Se um homem não acompanha o passo de seus companheiros, talvez seja porque ele ouve tambores diferentes. Deixe-o marchar de acordo com a música que ouve, por mais compassada e distante que seja.

Henry David Thoreau









RICO RODRIGUEZ - MAN FROM WAREIKA - 1976
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Nós não lutamos por um mundo no qual a garantia para não se morrer de fome troca-se pelo risco de morrer de tédio.

Raoul Vaneigem







DOWNLOAD: MANFRED HÜBER & SIGFRIED SCHWAB -


Eu também sou candidato a deputado. Nada mais justo. Primeiro: eu não pretendo fazer coisa alguma pela Pátria, pela família, pela humanidade.
Um deputado que quisesse fazer qualquer coisa dessas, ver-se-ia bambo, pois teria, certamente, os duzentos e tantos espíritos dos seus colegas contra ele.
Contra as suas idéias levantar-se-iam duas centenas de pessoas do mais profundo bom senso.
Assim, para poder fazer alguma coisa útil, não farei coisa alguma, a não ser receber o subsídio.
Eis aí em que vai consistir o máximo da minha ação parlamentar, caso o preclaro eleitorado sufrague o meu nome nas urnas.
Recebendo os três contos mensais, darei mais conforto à mulher e aos filhos, ficando mais generoso nas facadas aos amigos.
Desde que minha mulher e os meus filhos passem melhor de cama, mesa e roupas, a humanidade ganha. Ganha, porque, sendo eles parcelas da humanidade, a sua situação melhorando, essa melhoria reflete sobre o todo de que fazem parte.
Concordarão os nossos leitores e prováveis eleitores, que o meu propósito é lógico e as razões apontadas para justificar a minha candidatura são bastante ponderosas.
De resto, acresce que nada sei da história social, política e intelectual do país; que nada sei da sua geografia; que nada entendo de ciências sociais e próximas, para que o nobre eleitorado veja bem que vou dar um excelente deputado.
Há ainda um poderoso motivo, que, na minha consciência, pesa para dar este cansado passo de vir solicitar dos meus compatriotas atenção para o meu obscuro nome.
Ando mal vestido e tenho uma grande vocação para elegâncias.
O subsídio, meus senhores, viria dar-me elementos para realizar essa minha velha aspiração de emparelhar-me com a deschanelesca elegância do Senhor Carlos Peixoto.
Confesso também que, quando passo pela Rua do Passeio e outras do Catete, alta noite, a minha modesta vagabundagem é atraída para certas casas cheias de luzes, com carros e automóveis à porta, janelas com cortinas ricas, de onde jorram gargalhadas femininas, mais ou menos falsas.
Um tal espetáculo é por demais tentador, para a minha imaginação; e eu desejo ser deputado para gozar esse paraíso de Maomé sem passar pela algidez da sepultura.
Razões tão ponderosas e justas, creio, até agora, nenhum candidato apresentou, e espero da clarividência dos homens livres e orientados o sufrágio do meu humilde nome, para ocupar uma cadeira de deputado, por qualquer Estado, província ou emirado, porque, nesse ponto, não faço questão alguma.
Às urnas.

Lima Barreto


OUELELE - 2001
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Deverá ser o panfleto a forma literária de uma época como a nossa.
Vivemos tempos de paixões políticas acesas, em que os meios de livre expressão se apresentam cada vez mais raros, e reina a mentira organizada a uma escala até hoje nunca vista. Para preencher as lacunas da história, afigura-se o panfleto o utensílio ideal.

George Orwell


SUPERFUNK - RARE FUNK FROM DEEP IN THE CRATES
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FORMAS DE PROTESTO NÃO-VIOLENTO





- greve (em muitas modalidades: greve de zelo; greve de fome; greve ao trabalho)

- desobediência civil

- objeção de consciência (que tem também diversas modalidades, como a objeção fiscal)

- obstrução civil

- boicotes sociais

- embargos

- realização de manifestações de rua ou cortejos

- realização de marchas

- realização de assembléias públicas

- sit-ins, sit-down

- ocupações de vias públicas ou de certos locais

- não-cooperação (legal ou ilegal)

- mediação

- discussão e negociação

- informação

- teatro de rua e representações públicas

- atos públicos simbólicos

- vigílias

- concertos, canções de rua (ou atos)

- cartas abertas

- petições e abaixo-assinados

- cartazes, panfletos e «picho» nas paredes e ruas

- publicações periódicas e não-periódicas

- realização de contra-cimeiras ou de conferências paralelas.

- emigração ou exílio


BUTTHOLE SURFERS - PIOUGHD - 1991
http://www.mediafire.com/?7c4kedt4kxuznze