THE CRAMPS LIVE AT NAPA STATE MENTAL HOSPITAL - 1978



E o que é um “verdadeiro louco”? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito (que nunca é o sentido real e vivo, instrínseco das coisas), em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade manda estrangular em seus manicômios todos aqueles dos quais queira desembaraçar-se ou defender-se porque se recusam a ser seus cúmplices. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.
Antonin Artaud

MANIFESTO UTÓPICO-ECOLÓGICO EM DEFESA DA POESIA & DO DELÍRIO




Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.

Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro.

Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:

1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.

2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.

3 - Saunas para o povo.

4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé) & espelhos.

5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trancadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.

6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.

7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.

8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital

9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.

10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".

Roberto Piva


ERIC B & RAKIM - PAID IN FULL (THE PLATINUM EDITION) - 1988 (1998)
http://depositfiles.com/files/v6c9r4bnk













Em uma sociedade que confunde trabalho e produtividade, a necessidade de produzir sempre foi antagonista do desejo de criar. O que resta de centelha humana, de criatividade possível, em um ser privado do sono às seis horas a cada manhã, que se equilibra nos trens suburbanos, ensurdecido pelo ruído das máquinas, lixiviado, cozido a vapor pelas jornadas, controlado, os gestos privados de sentido, e jogado ao fim do dia nos saguões das estações, catedrais de partida para o inferno das semanas e o ínfimo paraíso dos finais de semana, onde a multidão comunga a fadiga e o embrutecimento? Da adolescência à aposentadoria, nos ciclos de vinte e quatro horas ouve-se o uniforme estilhaçar de vidraças: rachadura da repetição mecânica, rachadura do tempo-é-dinheiro, rachadura da submissão aos chefes, rachadura do tédio, rachadura da fadiga. Da força viva esmigalhada brutalmente ao rasgo escancarado da velhice, a vida se racha por todos lados sob os golpes do trabalho forçado. Jamais uma civilização atingiu tal grau de desprezo pela vida; afogada no desgosto, jamais uma geração experimentou tal raiva de viver.

O tripalium era um instrumento de tortura. Labor significa "tormento". Há uma certa leviandade no esquecimento da origem das palavras "trabalho" e "labor". Os nobres tinham ao menos a memória de sua dignidade, assim como da indignidade que afligia os seus servos. O desprezo aristocrático pelo trabalho refletia o desprezo do senhor pelas classes dominadas; o trabalho era a expiação à qual foram condenadas por toda a eternidade por um decreto divino, que os queria, por razões impenetráveis, inferiores. O trabalho se inscrevia, entre as sanções da Providência, como a punição do pobre, e, uma vez que ela era também meio de salvação futura, uma tal punição podia se revestir de satisfação.

Raoul Vaneigem



PIERO UMILIANI & CHET BAKER - ITALIAN MOVIES - 1958~1962
http://www.mediafire.com/?tm9pahwekzjzypx





HONDURAS - 2009








As fotos e o vídeo acima mostram protestos do povo Hondurenho e a forte repressão do exército após o golpe militar que em 29 de junho de 2009 depôs o presidente Manuel Zelaya e instaurou um regime de exceção no país. Roteiro repetido muitas vezes na América Latina nos últimos 50 anos, a ação golpista foi orquestrada pelos Estados Unidos da América, a exemplo do que ocorreu no Brasil em 64, no Chile em 73, na Argentina em 76 e na Venezuela em 2002. O torrent abaixo traz documentário sobre o terrorista cubano Luis Posada Carriles, que trabalhou durante décadas para o governo dos EUA e em seu serviço deixou um rastro de terror e morte por diversos países da América Latina. Carriles, ex-funcionário da CIA, teve papel fundamental na implantação e na manutenção dos regimes antidemocráticos que assolaram a região. Junto a outros criminosos, como Orlando Bosch, cometeu atentados, assassinatos, torturas e ilegalidades variadas. O filme é quase todo falado em espanhol com legendas em inglês. Clique aqui quem preferir assisti-lo agora via Youtube.



- Angel Palacios - 2007 - 86 min - 708 Mb .avi -

MEDO



O medo e a insegurança permitem ao Estado medidas simbólicas cada vez mais autoritárias, leis cada vez mais punitivas, legitimidadas por demandas sociais de proteções reais e imaginárias, principalmente da elite. Além disso, justificam a criação de empresas de segurança e o apoio à privatização da polícia. Criam, ainda, uma indústria de segurança - grades, seguros, alarmes - que, na maior parte das vezes, fornece mais proteção simbólica do que real. Por fim, legitima discursos oficiais de políticos, da imprensa, de chefes religiosos, de "personalidades" diversas, sobre o aumento da violência e da criminalidade como resultado de uma sociedade em decadência. Como resultado, tem-se, por um lado, o fortalecimento de um imaginário da ordem, justificando uma dominação autoritária em potencial, uma diminuição dos espaços sociais, um isolamento gradativo e voluntário das vítimas prováveis, cujos resultados podem servir tanto como incentivador do individualismo, característico das sociedades contemporâneas, ou para a organização de grupos fechados, que, muitas vezes, tomam o aspecto de gangues.

Débora Regina Pastana



Viver em uma atmosfera de medo perene, apoiado em uma suposta ameaça constante, pode ser considerado tão terrível ou mesmo pior que a própria catástrofe que se supõe iminente.

Slavoj Žižek



DOWNLOAD: DAVE HAMILTON
- DETROIT CITY GROOVES - 2005 (60's & 70's unreleased tracks) - 320 Kbps

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MEMES & MESMERISMO


Cada religião, cada partido político, cada sistema de produção, cada casta tem de produzir memes, que são como os nossos genes. Você pega uma determinada cor, um perfume, um símbolo, palavras de ordem, de incentivo, de produção e distribui os complexos de culpa. Adota cores, perfumes típicos, bombardeia todo esse conjunto de práticas na cabeça das pessoas horas e horas por dia. As pessoas deixam de ser indivíduos (é preciso ter muita coragem para ser um indivíduo hoje em dia) e passam a obedecer esses memes. Vivem em função deles e depois pagam um psicanalista para tentar suportar a ação dos memes. Temos de estar em vigilância constante, para, pelo menos, tentarmos saber quem controla a luz de nossas retinas. O discurso farsesco conquista mais pessoas pela telinha da TV. O discurso banhado de luz nos mesmeriza. É por isso que eu pergunto sempre: você sabe quem controla suas retinas? Cyber, em grego, quer dizer luz e também timoneiro. Os papas da cibernética e da televisão controlam nossas mentes. Quem comanda a luz nos controla.

Dr. Timothy Leary
poucos dias antes de sua morte, em conversa com Claudio Tognolli, que a retrata em seu livro "Mídia, Máfias e Rock'n'Roll"



DR. JOHN - DESITIVELY BONNAROO - 1974
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A nossa vida social é agora dominada por restrições que o medo e a raiva impõem à liberdade. O medo e a violência restritiva podem tornar-se prazeres viciantes, reforçados por dirigentes esquizofrênicos e um sistema econômico que depende da restrição da liberdade, da produção de medo e do incitamento ao comportamento violento.

Dr. Timothy Leary




PHILIP COHRAN AND THE ARTISTIC HERITAGE ENSEMBLE - 1968
http://www.mediafire.com/?2l3n3ognw40

SOBRE A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA




Que nome se deve dar a esta desgraça? Que vício, que triste vício é este: um número infinito de pessoas não somente a obedecer, mas a servir, não governadas mas tiranizadas, sem vida a que possam chamar de sua?


Mas o que acontece afinal em todos os países, com todos os homens, todos os dias?

É o povo que se escraviza, que se decapita, que, podendo escolher entre ser livre e ser escravo, se decide pela falta de liberdade e prefere o jugo, é ele que aceita o seu mal, que o procura por todos os meios.

Assim são os tiranos: quanto mais eles roubam, saqueiam, exigem, quanto mais arruinam e destroem, quanto mais se lhes der e mais serviços se lhes prestarem, mais eles se fortalecem e se robustecem até aniquilarem e destruírem tudo.

Onde iriam eles buscar os olhos com que vos espiam se vós não lhos désseis?

Onde teriam eles mãos para vos bater se não tivessem as vossas?

Como ousariam eles perseguir-vos sem a vossa própria conivência?

Que poder têm eles sobre vós que de vós não venha?

Semeais os vossos frutos para eles pouco depois calcarem aos pés. Recheais de mobílias as vossas casas para eles virem saqueá-las, criais as vossas filhas para que eles tenham em quem cevar sua luxúria.

Criais filhos a fim de que eles, quando lhes apetecer, venham recrutá-los para a guerra e conduzi-los ao matadouro, fazer deles acólitos da sua cupidez e executores das suas vinganças.

Matai-vos de trabalhar para que eles possam regalar-se e refestelar-se em prazeres vis e imundos.





BLACK CHILDREN SLEDGE FUNK GROUP - LOVE IS FAIR - 1976
http://www.mediafire.com/?easn9cojjlg

NÓS



Hugo Pontes



AFRIQUE - SOUL MAKOSSA - 1973
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TERRORISMO POÉTICO

  • Dançar bizarramente a noite inteira em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém & o faça feliz. Escolha alguém ao acaso & o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna - digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário & talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.
  • Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.
  • Fique nu para simbolizar algo.
  • Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência & beleza espiritual.
  • A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô & sóbrios monumentos públicos - a arte - TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques & restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...
  • A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.
  • O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas & previsíveis.
  • Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.
  • Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.
  • Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

Hakim Bey



GV



HISTÓRIA

a a História é o discurso burguês por excelência, básico discurso do capital, disciplinamento do tempo como ex-pressão viva do disciplinamento ritualizado das produções.

b – resultante e produtor dos poderes hierárquicos, funcionalizadores dos ritmos corporais: um tipo de corpo cria a História (o corpo-servo-das-cortes, o corpo-servo-dos-mercadores, o corpo-servo-dos-letrados) e a História cria um tipo de corpo (o corpo-trabalhador, o corpo-consumista, o corpo-despolitizado).

c – a função básica da História é criar uma cortina de fumaça, um ofuscamento, sobre a máquina tribal, escondendo q o tempo não é uma dimensão do passado, q nada está no passado, nada aconteceu, q as explorações, q o horror, não está no passado, essa ficção despolitizada, essa zona morta de todas as metafísicas, mas q o horror está, sempre, no imediato: q toda politicidade é uma dimensão imediata de luta, não um rememorar reacionário: nada mais reacionário, doente, adoecedor, ressentido q a memória.

d – a função-missão da História é despolitizar o imediato (único lócus da politicidade), esvaziá-lo de poder, tornando-o apenas o lugar dos fluxos de informação, o lugar das mídias, a resultante esvaziada de um longo chegar q não chega.

e – as imensas e extensas redes temporais q são o passado, estendidas todas antes do imediato, se abrem cada vez mais e mais “longe”, afastando a politicidade de sua ação, o corpo da sua atividade política: a História é essa estratégia de nunca chegar ao agora. no agora, ela gagueja, titubeia, balbucia, se remete à mídia, a opinião, ao senso comum.

f – pra História a única realidade são as cinzas e os historiadores, e todos os produtores e reprodutores das funções estatais do conhecimento, do saber, da beleza, não passam de cães de guarda da máquina tribal e seu bom funcionamento. fora desse protecionismo, nem a História nem nenhuma Ciência, consegue justificar sua existência, ideologia das produções, das despolitizações, dos disciplinamentos. há muito tempo não conseguimos viver fora da História: já somos dóceis demais pra ousar viver fora do tempo, viver contra o tempo.

Alberto Lins Caldas
extraído de Diálogos Entre História e Literatura

Na foto, estátua em homenagem a Getúlio Vargas, localizada em seu memorial no bairro da Glória, Rio de Janeiro. O CMI Brasil disponibiliza um registro em vídeo da intervenção sendo realizada.



MINNIE RIPERTON - PERFECT ANGEL - 1974
http://www.mediafire.com/?h5awxhud2h6sori

SOBRE A TORTURA NO BRASIL

BRAZIL - A REPORT ON TORTURE
- Saul Landau & Haskell Wexler - 1971 - 60 min. -

Documentário rodado no Chile, traz depoimentos de exilados brasileiros sobreviventes de práticas de tortura cometidas pelo Estado durante a ditadura militar instituída em 1964 no Brasil. Tratam-se de alguns dos prisioneiros libertados em troca da também libertação do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado em 1970 por guerrilheiros brasileiros. Situações absurdas são descritas, como pessoas que eram imobilizadas nuas e tinham um jacaré caminhando por seus corpos, prisioneiros que tinham esposas e filhos pequenos torturados em sua presença para que delatassem ações e companheiros, e o relato de uma ex-prisioneira afirmando que os dias em que só comiam merda eram os bons dias, de torturas mais brandas. A ação sanguinária do Estado não se dirigia apenas a criminosos, o que já é inadmissível, mas também a estudantes, intelectuais, artistas e religiosos, muitos deles inocentes, e não se limitava à tortura, inúmeras pessoas foram mortas por esse regime de exceção. A tomada do poder pelos militares foi justificada como forma de combater a ameaça comunista. Todos os criminosos foram anistiados por lei de 1979 muito contestada e que vem sendo derrubada lentamente. O crime de tortura, por ela considerado um crime político, é na verdade um crime contra a humanidade, como são o genocídio, a limpeza étnica e a esterilização forçada. Crimes contra a humanidade são imprescritíveis e não podem ser objeto de anistia, podendo inclusive serem submetidos a jurisdição internacional ou universal. Muitos daqueles que atuavam criminosamente em nome do Estado ainda ocupam cargos públicos nos dias de hoje, assim como políticos que colaboravam com o regime. A tortura ainda é cometida por agentes do poder público de forma sistemática e generalizada Brasil afora, principalmente em carceragens e penitenciárias. O uso da tortura na atividade policial também é prática corrente e diária, sendo as vítimas, em sua maioria, jovens moradores das áreas mais pobres.




TOM ZÉ - 1970
http://www.mediafire.com/?d48rrq4yyvo555b



Nós vos pedimos com insistência:

Nunca digam - Isso é natural

Diante dos acontecimentos de cada dia,

Numa época em que corre o sangue

Em que o arbitrário tem força de lei,

Em que a humanidade se desumaniza

Não digam nunca: Isso é natural

A fim de que nada passe por imutável.



Berthold Brecht



DAJLA - SOUL POETRY - 2006
http://depositfiles.com/files/lv7yfwk3z













Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Eduardo Alves da Costa



BIG BLACK - LION WALK - 1968

SOBRE O TRÁFICO ASSASSINO


Entre 1500 e 1867, cerca de 12,5 milhões de africanos foram sequestrados e enviados às Américas.
Destes, perto de 10 milhões chegaram ao seu destino.



Cerca de 5,5 milhões de africanos deixaram forçadamente seu continente para trabalhar no Brasil.
Aproximadamente 4,9 milhões chegaram vivos.



Entre 1800 e 1850, ápice do tráfico, quase 2,3 milhões de africanos foram enviados ao Brasil.
775 mil deles eram crianças.





Em "Uma história de liberdade", José Reis & Flávio Gomes afirmam que 15 milhões de africanos chegaram vivos à América; 6 milhões ao Brasil.



THE INVADERS - SPACING OUT - 1970
http://www.mediafire.com/?3zioeqgtykj

O MEDO



Em verdade temos medo.
Nascemos no escuro.
As existências são poucas;
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
Este célebre sentimento,
E o amor faltou: chovia,
Ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
Nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
Meu companheiro moreno.
De nós, de vós, e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses.
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
Vem ó terror das estradas,
Susto na noite, receio
De águas poluídas. Muletas
Do homem só.
Ajudai-nos, lentos poderes do
Láudano.
Até a canção medrosa se parte,
Se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo,
Medrosos caules, repuxos,
Ruas só de medo, e calma.
E com asas de prudência
Com resplendores covardes,
Atingiremos o cimo
De nossa cauta subida.
O medo com sua física,
Tanto produz: carcereiros,
Edifícios, escritores,
Este poema,
Outras vidas.
Tenhamos o maior pavor.
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
Recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
Eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
Dançando o baile do medo.

Carlos Drummond Andrade


NIRVANA - FROM THE MUDDY BANKS OF THE WISHKAH - 1996

MONUMENTALISMO



1. Monumentos funcionam como símbolos concretos de uma memória reconstituída e imposta.

2. O monumentalismo é uma tentativa concreta de deter a proliferação de significados relacionados à interpretação de acontecimentos convulsivos. Os monumentos não são os símbolos de liberdade que muitas vezes aparentam ser, mas exatamente o oposto. São sinais de aprisionamento, sufocando a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento e a liberdade de recordar. Como supervisores na prisão panóptica da ideologia, gente demais obedece de forma masoquista a sua exigência de submissão.

3. Em seu manto de silêncio, o monumento pode facilmente reprimir contestações. Para aqueles cujos valores eles representam, os monumentos oferecem um espaço tranquilo por meio da familiaridade e da tradição cínica. No monumento, os cúmplices não são sobrecarregados com a alienação que se origina na diversidade de opiniões, nem com a ansiedade das contradições morais. Estão a salvo da perturbação causada pela reflexão. Os monumentos são as casamatas ideológicas definitivas - as manifestações concretas da mentalidade de fortificação.

Critical Art Ensemble


Na foto, estátua em homenagem ao bandeirante Borba Gato: assassino, estuprador, símbolo da violência e da falta de caráter - como quase todos os bandeirantes. São Paulo é um estado que homenageia e exalta os bandeirantes em estátuas, monumentos, nomes de ruas, avenidas e estradas; em seu próprio hino: "Norte - Sul - Este - Oeste / em 'bandeira' ou 'monção', / doma os índios bravios". O enorme Borba Gato fica na zona sul da capital, entre a Granja Julieta e Santo Amaro, próxima ao Jardim Ângela e ao Capão Redondo. Capataz de arma em punho, genocida, o capitão do mato ainda vivo: sempre de olho no povo pobre. Por tudo isso, quando nos deparamos com um monumento pixado, queimado, mijado, cuspido, depredado ou destruído, entendemos muito bem a motivação de quem o fez, ainda que possa tê-lo feito de forma puramente instintiva.



DR. LONNIE SMITH - RISE UP! - 2009
http://lix.in/-470532




Imagens, milhões de imagens, eis o que eu devoro... Já procurou abandonar esse vício com morfina?

William Burroughs


DOWNLOAD: THE RESIDENTS -
- COMMERCIAL ALBUM - 25th ANNIVERSARY EDITION - 1980


Sim, meu caro, é pelas crianças que meu coração mais se interessa neste mundo. Quando me ponho a examiná-las, e vejo nessas criaturinhas o gérmen de todas as virtudes, de todas as energias que logo haverão de lhe ser tão necessárias; quando descubro na sua pertinácia a gutura, inteireza e solidez de caráter; quando verifico na sua petulância, e até nas suas astúcias, o humor jovial e a agilidade para saltar por cima dos perigos do mundo; tudo isto de modo tão incorrupto, tão íntegro... E pensar que, caríssimo, logo a eles, que são nossos iguais, tratamos como se fossem nossos vassalos. Não, eles não devem ter vontades! Nós não temos nós as nossas? E onde reside nosso privilégio? No fato de sermos mais velhos e sensatos?!

Goethe


ROY LEE JOHNSON AND THE VILLAGERS - 1973
http://www.mediafire.com/?qedddredm2g

THEREMIN - AN ELECTRONIC ODYSSEY







Documentário sobre o inventor russo León Theremin e sua principal invenção: o Theremin. O filme traz depoimentos de Robert Moog, Brian Wilson e Clara Rockmore, dentre outros. Disponível para download via torrent abaixo, com legendas em espanhol embutidas
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THEREMIN - AN ELECTRONIC ODYSSEY
- Steven M. Martin - 1994 - 83 min. -


Sobre seu rosto, uma sucessão de imagens da história do homem do século 20. A Segunda Guerra Mundial, a chegada à Lua. Burroughs com um terno negro e um chapéu. Uma figura sinistra.

Pouco antes de sua morte, dizia adorar apenas os gatos que circulavam por sua casa e pensava profundamente sobre caviar.

Sentia horror por uma sociedade que criava estado policial para controlar o desejo de fumar um cigarro no trabalho, bar e restaurante. Duvidava da qualidade de vida. Tinha fé apenas em si mesmo.

Aqueles répteis asquerosos, dedos-duros do congresso, andam falando imbecilidades sobre uma américa livre de drogas até o ano 2001. Perspectiva deprimente!

É claro que não estão incluídos álcool e cigarros, cujo consumo vai aumentar vertiginosamente. Como se pode ter um estado livre de drogas? Simples. Uma operação pode remover os receptores de drogas do cérebro.

Quem se recusar a fazer a cirurgia será privado de todos os seus direitos. Eles não vão poder alugar casa, os restaurantes e bares vão se negar a atendê-los. Não terão passaporte, nem benefícios sociais, nem cobertura médica, nem direito de comprar armas de fogo.

Como odeio os que se dedicam a gerar conformismo. Com que objetivo? Imagine a banalidade estéril de uma américa livre de drogas.

Nada de drogados, apenas bons e decentes americanos de vida limpa, de uma costa brilhante à outra. Toda a área da dissensão extirpada, como um furúnculo.

Nada de favelas. Nada de regiões de operações clandestinas vagas. Nada de nada. Ali fora, nas ruas impiedosas do meio-dia. Nada de cartas.

Até que ponto será bom ter conformismo total? Que lugar vai sobrar para a singularidade? E a personalidade? E você e eu?

William Burroughs
(texto & pintura)



BOSCOE - 1973







PHILIP COHRAN AND THE ARTISTIC HERITAGE ENSEMBLE -
- THE MALCOLM X MEMORIAL (A TRIBUTE IN MUSIC) - 1968

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